Sigo o caminho até a casa de Juliet, tranquila e distraída. Meus pensamentos se resumem a se ela realmente falava a verdade - se ela realmente sabe tudo.

Bom, se souber, vai se encontrar com Lúcia lá em cima.

Vejo a porta da casa dela em poucos minutos, e bato quatro vezes, esperando uma resposta.

– Quem é? - a voz ainda trêmula de Juliet chega até meus ouvidos.

– Abre a porta, linda. - peço, forçando um pouco a voz. Posso ouvir os passos relutantes e hesitantes de Juliet chegando cada vez mais perto e ficando cada vez mais audíveis. Tento focar em cada coisa, como o som da fechadura e a chave ao se chocarem, e o click que elas fazem ao se abrirem.

Seu rosto perde a cor. Estou sorrindo, e pareço sínica. Coloco um pé na frente da porta para impedir que ela a feche, e fico parada.

– Como é, Ju. Não vai convidar sua amiga para entrar? Que falta de educação.

A empurro para dentro, e meu corpo vai junto. Fecho a porta, e ao perceber o menor sinal de que ela possa tentar sair, tranco a porta com a chave que está na fechadura, e a coloco no bolso.

– Ops. Que pena. Acho que estamos presas aqui dentro, só nos duas. Não se preocupe, eu te protejo.

Juliet vai tropeçando até a escada, e segura no corrimão para se apoiar.

– Qual é, Ju. Estávamos em um papo tão bom no telefone, mas você desligou na minha cara. Deve ter caído a ligação, não? Enfim, o que você dizia? Lembrei. Que eu era falsa e havia matado Lúcia. Continue a falar, por favor. Pensei que Márcia havia encontrado o corpo de Lúcia, mas tem alo errado, não é? Márcia está viajando faz um tempinho. Pois é. Falha. Então, eu pensei: de quem a Márcia é melhor amiga? Da Juliet.

Esses pensamentos surgiram na minha cabeça rapidamente, e na mesma hora viraram palavras. E pela expressão de ''Ju'', podia ver que estava acertando tudo.

As mãos dela tremem, e posso ver algumas lágrimas de medo rolarem pelo seu rosto.

– Sou mais inteligente do que você pensava? - pergunto a Juliet quando já estamos em seu quarto, e sento em sua cama depois de fechar a porta, esperando.

Ela se apoia na parede, como se tentasse se distanciar de mim o máximo possível.

– Sabe o quê acontece agora?

Ela assente com a cabeça, enquanto desliza pela parede, caindo sentada, se arrastando até o outro lado do quarto.

Uau, que garota esperta. É como se ela já esperasse a morte. Como se ela estivesse se sacrificando por Lúcia. Elas nem eram tão amigas.

Quando chego perto dela, é como se estivesse preparada para dar o bote, e pula em cima de mim, me derrubando no chão e tentando me sufocar. Chuto-a, fazendo Juliet sair rolando pelo quarto, e agora eu corro atrás dela, me levantando.

Agarro-a pelos cabelos, e a faço ficar parada, procurando algo no quarto que possa me ajudar, e encontro um estilete em cima da mesa. Arrasto Juliet junto comigo até a escrivaninha, e com o estilete faço um corte em seu pescoço.

Ela engasga, tosse, cospe, enquanto o sangue sobe pela sua garganta e a sufoca, e o sangue marca minhas roupas e o quarto. Já coloco o estilete no meu bolso para não deixar provas. Minha garganta está marcada pelas mãos de Juliet, e sinto tanta raiva dela, que a deixo ali, e nem vejo a sua morte.

Foi um erro grande demais.

Não conferir se estava realmente morta, e se o corte que fiz foi grande o suficiente para matar.

Minha vida anda cheia de erros, e só posso consertá-los. Matar para isso, ou morrer para isso.