Os Cinco Filhos da Aflição : Nerlinir nas 8 Terras escrita por Raffs


Capítulo 4
Capítulo 4




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Os Per Petuum nunca foram conhecidos pela hospitalidade. Uma família de linhagem pura, com sangue de reis. Lordes e cavaleiros dos mais vastos reinos no mundo conhecido surgiram deste nome, considerado abençoado pelos seus e uma praga para os inimigos.

Eu já havia conhecido alguns Per Petuum, mas o mais fascinante e surpreendente deles até hoje foi Marhmed Per Petuum, um agradável e hospitaleiro monge, que nos serviu um banquete ao achar-nos na entrada do Templo do seu deus sem nome. -Tenham uma boa refeição, todos.- Não parava de repetir mantras quase inaudíveis, o que me lembrou da doce Niara, princesa do Reino Aurora nas terras do Norte.A tal princesa fora uma sacerdotisa que salvou seu povo através de orações e por isso é dito que se transformou numa constelação no norte.Mas isso não vem ao caso.

Apesar de olhar torto para Essen, o que não era de se estranhar, Mahrmed deixou todos entrarem e se saciarem com o pequeno banquete.

Deuses, o que estava acontecendo com o mundo nos anos anteriores? Se achei que Gustaf mudara, o que falar de Mahrmed? Um dos nossos piores inimigos e ao mesmo tempo grande amigo estava nos servindo um banquete oferecido a algum deus desconhecido num templo no meio de uma ilha deserta.

–Deserta? Longe disso-Eu indagara o monge sobre isto-Esta ilha é povoada até demais, de certa forma. Vocês apenas...-Ele riu, sabe-se lá o porquê-deram o azar, ou a sorte, de acharem o lugar mais calmo e silencioso desta ilha.

–Então, se este lugar é habitado, onde exatamente estamos?-Lonpak questionou.

–Achei que soubessem! Vocês estão em Elnet!-Mahrmed abriu um largo sorriso, o que não era muito conveniente por dois motivos : Primeiramente, um homem de 2,10m com cabelos roxos presos à uma trança e vestindo uma túnica escarlate repleta de símbolos que mal chega nos joelhos sorrindo enquanto anuncia a um grupo de náufragos que eles estão numa ilha recheada de piratas definitivamente não era algo muito bom de se ver.

–Elnet?Essa ilha não havia sido destruída?-Gustaf apenas observava pelas sombras, mas notei que, como eu, estava olhando fixamente para Mahrmed. Era estranho...o Lýsiheno agia como se não nos conhecesse, e eu estava tentando fazê-lo se lembrar das nossas antigas batalhas.Embora não fosse lá uma ideia muito boa.-Junto com todos os piratas.

–Piratas não são muito inteligentes, mas possuem sentimentos.Sempre consideraram Elnet seu lar, e em alguns meses a reconstruíram.

–Temos que sair daqui.Estávamos a caminho do porto de Aen.

–As Oito Terras?- Mahrmed olhou de forma traiçoeira para Lonpak.-Não importa o que pretendem fazer lá...não farão mais.Não pelos próximos meses, a não ser que tenham um grande plano para fugir do cerco dessa ilha.

Antes que qualquer um pudesse falar, Mljet se pronunciou.

–Esperem, esperem-O Westesi interrompeu alguns homens que abriram a boca para falar, ou simplesmente lamentar o fato de estarem presos e desarmados numa ilha cheia de criminosos-O que exatamente acontece dentro dessa ilha?Quero dizer, que tipo de piratas vivem aqui, e onde eles vivem?

Estava aí uma boa questão.Nem mesmo eu sabia : haviam muitas lendas em torno da origem dos piratas de Elnet, afinal eles formavam milhares de gangues diferentes, das mais diversas raças, há literalmente dezenas de eras.

–A resposta para a primeira pergunta não é muito simples.Muitos bandos diferentes moram aqui, com origens variadas, mas supostamente, o primeiro grupo de piratas a desembarcar aqui foi um grupo de homens vindos das Ilhas do Norte, em dracares monstruosos que cuspiam fogo da sua proa.-Surpreendentemente, quem dissera aquilo foi Kalysa.

Até mesmo Hvar e Mljet arregalaram os olhos frente à esperteza da moça.Mahrmed sorriu.

–Como você...

–Arkhang é a terra de onde mais vêm piratas e mercenários.Elnet é quase que cultuada como paraíso na minha nação, que tem um grande litoral.Além disso, somos o continente mais próximo às Ilhas do Norte.Todos sabemos alguma coisa sobre o assunto por lá.-Ela mostrava confiança.

Todos estavam boquiabertos, e um silêncio de certa forma constrangedor se instaurou no local, até que o sacerdote Per Petuum tomou as rédeas da situação.

–Bem, eu sou totalmente neutro entre vocês e os piratas, não quero este templo destruído.Mas darei liberdade para que desenvolvam um plano pacífico de fuga.Além daquele corredor no fundo da caverna, há um corredor com quartos.São simples, mas têm roupas limpas e uma cama.O jantar está encerrado.-Como sempre, o maldito sorriu.

Os náufragos se direcionaram ao local que Mahrmed indicara, restando apenas eu, Lonpak, Hvar e Mljet no salão, pois Gustaf afirmou estar com mais sono que o deus Desperto.Essen também estava no local, mas não parecia querer interferir no assunto.Estava testando seus truques, e a cada cerca de 30 segundos uma pomba voava acima das nossas cabeças, provavelmente saindo das mangas do ilusionista.

–Então...Mahrmed.Existe alguma rota de fuga conhecida nessa costa, alguma espécie de brecha no cerco dos Espadas Vermelhas ou dos Ursos do Mar?

–Talvez.-Agora ele mostrava um tom sério-O mais importante, de onde vocês me conhecem?Falo de você, com o cabelo vermelho e daquele espadachim rusko.

Era o que faltava.Eu já estava suspeitando que Mahrmed talvez tivesse perdido a memória, ou talvez tenha sofrido uma lavagem cerebral religiosa, e por isso tornara-se um sacerdote.

–Não nos reconhece?Lutamos lado a lado na Batalha de Alpeak, fomos adversários na Tempestade, há 15 anos.O que houve após o Dia?

O resto dos presentes não parecia entender do que eu falava, e isso incluía o sacerdote.

–É claro que me lembro de ter lutado em Alpeak, mas não me lembro de você, ou do Gustaf, ou sequer de ter estado na Guerra da Tempestade!-Agora Mahrmed parecia confuso-15 anos atrás, um homem me salvou do afogamento no Rio Nova e me ensinou sobre os mistérios e poderes de Ckao’ner, o deus desconhecido.Ele me deixou aqui, afirmando que eu deveria converter os piratas vivenciando com eles, e nunca mais voltou.

De repente, tudo ficou claro.Rio Nova?Foi onde meus irmãos jogaram o que deveria ser o cadáver de Mahrmed, mas ele estava vivo.Mais importante, quem foi o homem que o resgatou e como ele conseguiu apagar as memórias de um Per Petuum?

Ou talvez fosse amnésia pós-trauma.Não tinha nada a dizer, tudo que pude fazer foi ficar em silêncio.

–Entendo como tentar descobrir o passado de velhos conhecidos pode ser interessante, mas é necessário lembrar que estamos aqui para discutir um plano de fuga desta ilha perigosa.Acho que todos temos nossos próprios problemas para resolver, e a maioria deles estão nas Oito Terras, não num covil de piratas.-Mljet falou tão rápido que seu rosto ficou vermelho por não respirar.-Agora, voltando à primeira pergunta, caro sacerdote, existe alguma maneira de escapar sem fazer alarde?

–Caso não haja, creio que teremos que causar uma pequena confusão por aqui, não?-Afirmou o velho Hvar.

–Os Espadas Vermelhas não pecam nas forças de defesa.Os Ursos do Mar podem deixar vocês passarem, mas alguma hora irão notar vocês escapando e atacarão.-Mahrmed assentiu-Basicamente, o único jeito de sair daqui pacificamente é voltando por onde vocês vieram.

–Bem que gostaríamos de saber qual é a direção disso.-Hvar falou baixinho.

–Talvez devêssemos falar com alguém que entende os piratas, que compreenda a comunicação deles.

–Com aquela moça de Arkhang, você diz?-Eu apenas disse o óbvio.

–Não duvido que quando entremos no seu quarto ela esteja fazendo uma criança com outro de nós.-O velho Westesi aparentemente não conseguia parar com as piadinhas.

–Esse tipo de coisa é proibida sob os domínios de Ckao’ner.-Mahrmed não parecia estar para brincadeirinhas.-Esperem um pouco, irei buscá-la.-O Per Petuum passou atravessando o corredor e dobrou à esquerda.Deviam haver muitos quartos ali.

Esperamos alguns minutos, e ouvimos alguns gritos de tom duvidoso.Mahrmed a trouxe puxando-a pelo braço.Definitivamente não estava feliz.

–Definam logo como vão fugir daqui, antes que eu mate mais alguém.-Andou até o canto do salão, sussurrando para si mesmo “quem faz esse tipo de coisa no templo alheio?” com uma expressão de repulsa.

–Kalysa, não é?-A garota concordou com a cabeça-Sabe de alguma falha no sistema de defesa das frotas piratas?Isto é, por dentro?

A garota não parecia ter prestado muita atenção à pergunta, pois estava distraída com as pombas voando no teto do templo.

–Desculpe - disse, após um olhar de desaprovação de Lonpak –Bem, eu apenas sou conterrânea a eles, não sou uma especialista em piratas.Mas...- palavra que ela só disse após perceber que tinha destruído o olhar esperançoso do jovem Mljet-acho que há uma maneira de enganar ambos Ursos do Mar e Espadas Vermelhas.

–E qual seria esse método?-Perguntei.

Antes que ela pudesse abrir a boca para falar, ouvimos gritos e algo semelhante a estalos, ou pequenas explosões, em direção ao céu.Vimos cerca de três dezenas de silhuetas adentrarem o salão anterior ao nosso.

Em meio aos gritos e vozes esganiçadas dos piratas, só pude ouvir uma em especial, vinda do que parecia ser o capitão.

–Hora de pagar a conta aos Espadas, Monge Sem Nome!


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Notas finais do capítulo

Caso não tenham entendido(o que espero que não tenha acontecido, procuro ser direto e não enrolar nos ~~mistérios~~ da história para facilitar o entendimento e a leitura), Mahrmed Per Petuum é a silhueta alta que disse "Bem vindos" no capítulo 3, ok? ;) Desculpem a demora, passei por uma pequena crise criativa...



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