Os Cinco Filhos da Aflição : Nerlinir nas 8 Terras escrita por Raffs


Capítulo 10
Capítulo 10


Notas iniciais do capítulo

Tentei ser o mais verossímil possível quanto às batalhas e falas dentro d'água, mas prometo que tento melhorar na escrita desse tipo de situação. É desafiador :)



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/521585/chapter/10

Após mais de uma década, voltei a sentir a morte me observando de perto.

–Para trás! - Exclamou Pterois. A voz dele estava distorcida devido à dificuldade do som em se propagar na água.Na verdade, eu tive a impressão de que ele apenas movia a boca, sem som na água, pois o que ele falara não chegara aos meus ouvidos, tampados pela máscara protetora. Tive a impressão de que a ordem ecoava em minha mente.

Ele não falara sem motivo: após cerca de uma hora caminhando(ou nadando) pelo Bosque dos Corais, os piratas haviam nos achado, e não pareciam muitos felizes em nos ver. Usavam um instrumento estranho, com um tubo na extremidade e ligado a uma bolsa que parecia prestes a estourar como uma bolha. Devia haver ar puro ali dentro.

Sempre pensei nos piratas como idiotas completos(claro, existem exceções), mas aquilo mudou minha maneira de vê-los. Nunca mais subestimaria a inteligência de ninguém, pois a ideia do objeto de respiração subaquática era genial.

Havíamos subida uma colina de corais subaquática, então a pressão da água já não era tão grande, o que permitia aos criminosos se movimentarem livremente, melhor até do que eu, Gustaf e Lonpak.

Os bandidos haviam aprendido a usar espadas debaixo d'água. Até hoje me pergunto como.

–Formação dois dois três! - Gritou novamente o capitão telmarino para nós. Sendo um tritão, seu corpo funcionava muito bem debaixo d'água, mas eu já morria de frio(mesmo que o Bosque possuísse temperaturas amenas em relação ao mar aberto)e ainda não tinha conseguido me adaptar à resistência aquática, além de não poder falar com a máscara de algas cobrindo completamente meu rosto.

Obedecemos, afinal Splent era a voz da experiência ali.

Gustaf e o próprio Splent ficaram na vanguarda, com Pseph flutuando por todos os lados e atacando rapidamente, junto a Mljet que atraía os piratas para o ataque do mensageiro real. Eu, Lonpak e o príncipe Dyseus ficamos na retarguarda improvisada.

Os piratas eram maiores em número, por mais reduzida que fosse a batalha. Numa conta rápida, vi 15 deles. Pseph dissera "uma vintena". O jeito era torcer para que ele tivesse contado erradamente.

Logo eles se aproximaram. Estávamos numa área sem obstáculos no chão, mas rodeado de corais e esponjas das mais variadas cores e formatos. Centenas de metros à frente, era possível ver o arco de entrada do Domínio das Nereyds, onde várias conchas bivalves guardavam as protetoras de Telmar. Daquela distância, ainda não conseguia ver a Pérola Negra, nosso objetivo.

Quatro deles vieram em nossa direção, e mostravam uma assustadora capacidade de manusear as rapier que carregavam consigo.

Quando estavam ao meu alcance, tentei, embora inutilmente, atacá-los com o Machado do Amanhecer, mas meu braço se moveu tão lentamente que os piratas podiam ter desviado cinco vezes e ainda arrancado meu braço, mas Dyseus se moveu numa impressionante velocidade e, com uma adaga dourada semelhante às que Nept carregava, perfurou o estômago do inimigo.

Adagas!

Como eu não havia pensado nisso antes?

Adagas eram muito mais leves e fáceis de manusear do que um machado ou uma espada.

Até então, eu ainda não havia usado a adaga que Lonpak me dera ainda em Maali, que para minha sorte, era de titânio, mais resistente à ferrugem.

Era hora de testar o fio da lâmina.

Rapidamente apoiei o machado nas costas( o que prejudicou um pouco minha movimentação já limitada) e tirei a adaga do cinto. Eu ignorara a existência daquela arma durante um mês!

Percebi como conseguia atacar com mais agilidade e precisão(embora não tão bem quanto Dyseus) e voltei à cena da batalha.

Gustaf duelava com um último homem, que parecia ser o mais forte deles. Pelo que vi, o rusko já eliminara outros dois.

Pseph, o velocista, corria golpeando rapidamente, com a ajuda de Mljet, que dava o golpe de misrericórdia. Embora os cortes que causava fossem superficiais e imprecisos, eram muitos, pois ele dava dezenas de voltas (com as adagas à mão) ao redor do alvo, que logo sofria com uma saraivada de ferimentos. Também matara(ou talvez tivesse deixado inconsciente) dois criminosos.

Os outros tinham que se defender de múltiplos ataques. Dyseus conseguia se desvencilhar dos grupos que o tinham como alvo e ia atacando um a um, mas...

O príncipe não notara um corsário chegando por trás enquanto estava distraído se defendendo de outros três. Disparei naquela direção.

Impedi que o corsário conseguisse fincar a espada no coração de Dyseus, mas o homem não se deu por vencido e mudou de objetivo: eu.

Golpeou em curva, mas previ seus movimentos, e mesmo com uma arma muito mais curta, parava a rapier que ele utilizava, contragolpeando enquanto anulava o golpe dele, me direcionando à sua garganta. Por algum motivo, ele parecia estar mais lento que os outros, para minha sorte.

Repentinamente, o sujeito começou a me pressionar, golpeando com muito mais agilidade, o que me obrigou a andar cada vez mais para trás, onde pude notar que estavam outros quatro deles, junto a Lonpak e Pterois.

A formação estava desfeita.

Eu tinha que pensar rápido, ou logo seria atacado pelos dois lados. Era uma péssima previsão, afinal eu mal conseguia me defender de um único inimigo, imagine cinco(e correndo o risco de ser golpeado por um aliado acidentalmente).

Foi então que tive uma ideia tão óbvia que me perguntei como nenhum de nós havia pensado nisso.

A bolsa de ar ficava originalmente às costas dos piratas, mas com o balançar dos movimentos de esgrima nos duelos, ela agora estava completamente ao alcance de quem lutava com eles.

Sem bolsa de ar, sem respirar.

Tentei atingir o objeto no flanco dele, mas o bandido rapidamente recuou, e se eu não tivesse movido a mão, ele a teria cortado fora.

Era um trabalho mais complicado do que parecia. Minha adaga era eficiente, mas o alcance era curto demais para que eu tentasse perfurá-lo sem abrir brechas.

Tentei então trocar de posição com ele, girando para que quem estivesse mais próximo dos inimigos fosse ele. Felizmente, o sujeito não notou meu objetivo enquanto eu me movia formando um semicírculo a cada desvio das suas investidas.

Quando ele percebeu, era tarde demais. Percebi que ele não parava de andar, fazendo quase que um movimento involuntário, e quando dei a última investida antes de chegarmos na confusão afundei meu pé na areia úmida e fofa, freando, enquanto ele continuou a caminhar para trás.

A armadilha deu certo: o pirata estava no meio de uma chuva de golpes, tanto dos seus companheiros como de Lonpak e Pterois, tendo que desviar e abrindo a guarda.

Não hesitei, e me abaixando por alguns segundos(com certa dificuldade), perfurei a bolsa de ar dele e ainda a de outro transeunte que lutava com Splent.

Após alguns segundos, os bandidos perceberam a falta de ar e começaram a tentar respirar. O rosto deles estava roxo.

Tentaram nadar de volta à superfície, mas estávamos a 20 metros de profundidade, por isso os homens simplesmente perderam a consciência, com bolhas saindo de uma pequena fresta em suas bocas. Os últimos resquícios de ar que tiveram.

Mesmo distantes de mim, Dyseus e Gustaf assimilaram a ideia. Restavam agora apenas quatro.
Um minuto depois, eram dois.

Pterois golpeou um, enquanto Lonpak utilizava uma rapier(provavelmente tomada de algum adversário) para cortar numa linha horizontal o abdômen do último, distraído e assustado com tantas baixas em tão pouco tempo.

Todos estavam a salvo, e praticamente sem nenhum ferimento. O problema mais grave era o de Gustaf: um corte profundo no abdômen, próximo ao fígado, e dois novos cortes no torso e no braço,que embora superficiais, não cicatrizariam tão cedo. Pelo jeito, a armadura dele, mesmo sendo praticamente igual à nossa, possuía mais brechas,aberturas e frestas entre as placas de pedra, sabe-se lá o porquê. Nada que fosse complicado para o nosso médico Mljet, que mesmo debaixo d’água conseguiu enfaixar e estancar os ferimentos de Gustaf de forma improvisada.

Olhei para baixo, e felizmente, o Pêndulo ainda estava lá, agora amarrado com um cordão em meu pescoço, escondido por baixo da armadura. Tentei não observá-lo diretamente, pois ainda possuía o brilho hipnotizante.

Estávamos prontos para prosseguir.

Como apenas Pseph e Pterois, que não eram muito falantes, podiam se comunicar por voz, seguimos em silêncio na direção do centro do Bosque, onde estavam as nereyds.

Todos pareciam cansados da rápida batalha, mas eu tinha certeza que não haviam desanimado. Mal nos conhecíamos e havíamos vencido o dobro de homens sem nem nos falarmos! Talvez não fosse tão difícil cumprir o objetivo.

Dyseus estava à frente, junto de Splent. Apontava na direção do Domínio, gesticulando. O capitão parecia compreender perfeitamente tudo que o príncipe dissera, e gesticulou em resposta, fazendo um sinal de “espere” com a mão.

O príncipe, com a máscara, possuía um aspecto aterrador. Em meio ao aglomerado de algas verde-musgo e marrons, duas orbes verdes e brilhantes pareciam flutuar nas duas cavidades que abriam espaço para os olhos. Seus cabelos não pareciam se assustar com a imponência marinha, continuando por algum motivo da mesma maneira que estariam se estivessem em algum lugar seco.

Caminhamos por um terreno que, a cada passo, parecia possuir mais vida. Cardumes passavam comumente por ali, sempre desviando de nós, e corais laranja, vermelhos, azuis, além de serpentes marinhas de dezenas de metros de comprimento, entre muitas incontáveis formas vivas surgiam ao nosso redor. O grande arco, semelhante ao da entrada do palácio, porém feito de plantas subaquáticas e algas, se erguia alguns metros à nossa frente. Centenas de multicoloridas conchas bivalves(semelhantes às de ostras, porém gigantescas) se espalhavam por uma área quase que quilométrica, que se estendia a partir do arco. A maioria estava fechada, mas em algumas podíamos ver que algumas nereyds demonstraram interesse na nossa chegada, e nos observavam com olhos vazios. Algumas velhas, outras novas, mas todas tão belas quanto a própria deusa-mãe.

Ou até mais que isso.

Quando ultrapassamos a linha demarcada pelo monumento na entrada do Domínio das Nereyds, uma jovial e alegre fada se aproximou, vindo aparentemente de lugar nenhum.

–A que devemos suas ilustres presenças, capitão Pterois e príncipe Dyseus? – Estranho. Ela não parecia soberba, indiferente ou nada do que fora dito pelo rei Auratus.

–Apenas uma passagem rápida, Iaeto. Queremos falar com as senhoras deste território.

A fada pareceu pensativa. Vestia um vestido branco como a sua pele e simples, mas que por alguma razão que até hoje desejo saber qual, parecia cair perfeitamente junto de seus cabelos ruivos e esvoaçantes(ou flutuantes), cacheados de forma que pareciam ondas em um mar de fogo. Seus olhos eram azuis, mas estranhamente apagados, como se aquela não fosse a cor original deles.

Ela finalmente respondeu.

–Desculpe, mas por mais que eu goste de você, Pterois, você não possui permissão para isso que pediu. Além disso, elas não estão muito disponíveis. Senhora Calipso está com mais um de seus amantes, e a ordem é nunca desviar sua atenção nessas situações. Senhora Erato está pensativa, em seus aposentos, e a procedência para esse caso é a mesma de Senhora Calipso. Senhora Anfitrite...bem, não sei exatamente o que ela faz, mas após Jadir, creio que sabes bem que não é boa ideia tentar falar com ela.

–Ela ainda está nessa? Aquilo foi há milhares de anos!

–O corte de relações durará até que o Pêndulo retorne.

Era aí que eu entrava na história.

–Acontece, Iaeto, que é exatamente sobre isso que viemos falar. Talvez vocês não saibam, mas existe um grande perigo vindo de dentro do Bosque. E ele possui relação com o Pêndulo. E com a Pérola Negra. - Continuou o capitão Splent.

Iaeto de repente pareceu desanimada.

–A Pérola?

–Sim, Iaeto. A Pérola Negra.

–Tem a ver com as sombras?

Aquilo era uma novidade.

–Sombras? Do que está falando?

–Tenho sonhado. Sonhado que estou neste Bosque, junto às Senhoras. Sonho que uma sombra negra vem e as engole, e então me engole, e logo tudo está consumido pela sombra. – A nereyd parecia tão assustada que tive medo que ela começasse a chorar – E a senhora Anfitrite me disse, há algum tempo, que eu possuo o mesmo poder da Senhora Jadir. Tenho medo que meus sonhos se realizem.

Pterois agora estava com um misto de determinado e aterrorizado na face.

–Iaeto. Peço-te, leve-nos até uma de suas senhoras. E prometo que seus pesadelos irão acabar.

A nereyd assentiu.

...

Iaeto nos avisara que podíamos retirar as máscaras, pois aquele lugar era guardado pela magia das fadas.

Voltei a me sentir confortável após um bom tempo, mesmo que, como Dyseus avisara, tivesse me acostumado ao objeto.

Respirei profundamente. Era bom sentir o ar em meus pulmões à maneira comum, inspirando-o(embora, provavelmente devido ao efeito negativo da Pérola, o ar não fosse tão puro assim).

Andamos pelo Bosque, passando pelas centenas, talvez milhares de conchas que avistara antes. O lugar possuía um perfume indefinido, porém agradável. Embora estivéssemos sob a água, os raios de sol atingiam o Bosque numa proporção perfeita. Era como um paraíso subaquático. Exceto, é claro, pela energia negativa da Pérola que pude sentir assim que Iaeto, nossa guia, parou e chamou pelas suas senhoras.

–Sejam breves. Eu não gosto de levar broncas das Senhoras, e atrapalhei seus planos para que elas viessem até aqui. Então, por favor, tentem não irritá-las.

Nos aproximamos de três conchas enormes, ainda maiores que as outras. Uma era branca, a outra rosada, e a última, no centro(a maior delas), era dourada e ornamentada com safiras. Estavam abertas, o que me passou a impressão de estar em frente a três tronos elevados.

Mas o que chamou minha atenção foi a visão das três entidades sentadas nos "tronos".

Se eu me impressionara com a beleza e graciosidade de Iaeto, não haviam palavras para definir o aspecto das três nereyds.

Calipso utilizava um vestido semelhante ao de Iaeto, porém verde-claro e enfeitado com milhares de pequenos diamantes. Suas longas e volumosas madeixas negras contrastavam com sua pele quase tão alva quanto os seus globos oculares, que não possuíam íris. Esse detalhe em particular fazia com que eu nunca tivesse certeza se ela estava prestando alguma mínima atenção ou simplesmente fingindo que nos observa. No seu pulso esquerdo, um bracelete prateado com uma pedra perfeitamente redonda do que devia ser aquamarine incrustada na parte superior.

Erato utilizava a típica roupa das sereias, semelhante à roupa íntima porém feita de objetos marinhos. A vestimenta, pelo que pude perceber, atraiu os olhares de todo o meu grupo, à exceção de Pterois, que permaneceu com a expressão de antes. Talvez estivesse tão acostumado a ver as fadas que já não se impressionava com a magnificência delas.

Os cabelos da segunda Senhora eram mais curtos que os de Calipso, possuindo uma tonalidade dourada forte, assim como seus olhos que passavam a sensação de paz e calmaria, ainda mais com o discreto sorriso no rosto.

Anfitrite estava sentada no trono central, imponente como eu nunca vira igual.

Seu cabelo era castanho, com uma trança amarrada em flores rosadas(não compreendo como elas pareciam vivas debaixo d'água) que descia pelo seu corpo escultural. Usava uma tiara dourada com as mesmas safiras do trono onde se assentava, e um vestido bastante aberto no torso, com um decote em V descendo até o seu umbigo.

Fiquei tão pasmo com a aparência das três que, sinceramente, não lembro especificamente de mais detalhes do tipo. Mas se haviam deusas morando debaixo d'água, eram aquelas três.

–O que quer, Splent? Já dissemos que não ajudaremos enquanto não colaborarem com nossas propostas. - Disse Erato. Anfitrite permaneceu calada. Deduzi que ela prometera não se comunicar com os telmarinos até que o Pêndulo de Jadir retornasse ao reino. O que era uma boa notícia.

–O rei pouco me fala de tais propostas. Para ser franco, vossas magnificências estão sendo egoístas e mesquinhas. Nunca na história de Telmar as fadas nos cobraram nada que não fosse o respeito e a adoração para nos confiarem suas bênçãos.

–Tolas foram nossas antepassadas. Sempre fizemos tudo que podíamos para proteger vocês, telmarinos, e nunca recebemos uma recompensa à altura.

–As fadas foram designadas ainda no reinado dos Filhos dos Deuses para protegerem os povos.Continuamos adorando às senhoras, e seu poder continua crescendo. Diga-me então, o que querem, e eu farei uma contraproposta, que creio que será irrecusável.

Erato pareceu pensativa. Olhou para Calipso, totalmente desatenta à discussão. Anfitrite não parecia tomar nenhum partido.

–O que trazem?

–Direi o que trago se me ouvirem.

Calipso e Erato concordaram. Agora que eu observava com mais atenção, pude perceber que os olhos das três pareciam meio que sombrios. Meio escurecidos, assim como Ieato, porém ainda pior.

–A Pérola Negra. Precisamos que entregue-a a nós. - Dyseus falou, com uma expressão que denotava pavor sobre a resposta que viria a seguir.

–Falam sério? - Disse Calipso, de repente. Parecia zangada - Já não bastava não ouvirem ao que dizemos, quererem ser protegidos sem nada em troca, agora também querem o nosso maior tesouro? - Os olhos dela brilhavam numa tonalidade cinzenta assustadora.

Olhei para Iaeto. Parecia tão assustada quanto antes. Era aquilo que ela via nos sonhos?

Mljet fez um gesto quando me virei pra ele.

Ele apontava para a Pérola, que estava discretamente posta abaixo das conchas onde se assentavam as Senhoras das Nereyds.

Me aproximei de Pseph.

–Não quer resolver isso rapidamente? Você pode pegar a Pérola Negra e substitui-la pelo Pêndulo em um piscar de olhos. - Disse, sussurrando, embora desconfiasse que Anfitrite pudesse me ouvir.

–Isso é trabalho para você, segundo a profecia - Nept deu de ombros - Gostaria de tornar isto rápido, mas não posso ir contra a profecia, ou algo dará muito errado. É o que acontece quando se vai contra o que já está definido no destino.

Pterois se pôs entre nós, pedindo silêncio.

–A Rainha Anfitrite, por mais brava que esteja conosco, sabe que não é do nosso feitio fazer ou pedir algo sem motivo. Nós, o povo de Telmar, queremos ajudar a vocês, nereyds.

–E que tipo de "ajuda" vocês oferecem? Nos destruir por dentro? Tomar nosso tesouro?

–A Pérola corrompe quem a utiliza, e vocês sofrem desse mal! - Exclamou Dyseus, cansado da argumentação que parecia não levar a nada.

–Chega! Isto é o cúmulo! Vocês de Telmar acabam de cometer o mais grave ultraje que já ouvimos! - Disse Anfitrite, deixando todos mudos - Calei-me para vocês há milhares de anos, como bem disseram. Mas acharam que por isto vou permitir que ofendam a nós, nereyds? Pois então, quero que ouçam-me: a Pérola só nos deu poder desde que chegou aqui, e agora nos representa de uma maneira que ultrapassa qualquer contagem de tempo ou espaço. Não seguiremos mais a Telmar; onde a Pérola for, lá estaremos! Não contem mais com nossa ajuda, até porque não sairão daqui nunca mais!

Pegos de surpresa, ficamos estáticos, ouvindo a ordem dela. Só percebemos o perigo quando tentáculos disformes, negros e translúcidos surgiram por detrás da Rainha do Domínio, golpeando como chicotes contra nós.

Não houve tempo para raciocinar muito. O que me lembro é que as três fadas haviam acabado de se levantarem dos seus assentos, e seus olhos estavam completamente negros, como se a noite tivesse tomado controle sobre elas. De repente até mesmo Iaeto ficou contra nós, e seus olhos tomaram a mesma tonalidade.

–Vá para a Pérola! - Gritou Pterois, antes de ser puxado por um dos tentáculos até Anfitrite.- Salve a nós e às fadas!

Pseph, ou um vulto que deveria ser ele, me puxou pelo braço numa velocidade descomunal, desviando de todas as investidas dos chicotes de trevas, que agora vinham também de Calipso e Erato.

Mal tive tempo de pensar e só ouvi o mensageiro real dizendo:

–Você ouviu o que o capitão disse. - Falou, e avançou contra o caos que se desenrolava entre os três tronos. Mais nereyds vinham de todos os lados, todas com os olhos negros. Novamente tentei fazer um cálculo rápido, mas desisti: eram milhares contra sete.

Eu estava em frente à Pérola, que exercia um brilho quase tão atraente quanto o do Pêndulo, mas consegui desviar o olhar. Havia tanta energia negativa concentrada ali que tive um princípio de mal estar.

Ainda que hesitando, arranquei o Pêndulo do cordão no meu pescoço e o pressionei contra e enorme e maciça esfera. Rapidamente, a jade no item que eu tinha em mãos começou a brilhar, e a Pérola a rachar. Por entre as fendas que se formavam na Pérola, um brilho cinzento e sem vida surgiu.

Pude ouvir um barulho animal antes que soltasse o Pêndulo; quase queimara minha mão, pois o artefato se aquecera subitamente.

A Pérola explodiu, me cegando por alguns segundos devido à forte luz que se formara. Ou seria escuridão?

Olhei para cima.

Ainda com alguns pedaços da Pérola em si, um kraken tão escuro quanto as orbes oculares das nereyds surgiu na minha frente, quase me esmagando com um dos seus tentáculos. Em vez do olho possuía uma réplica em menor escala da Pérola Negra.

Corri. Sem saber para onde.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Kraken, caso não saibam( o que acho difícil '-') é basicamente uma lula gigante, só que mais assustadora ainda. Procurem Cthulhu na internet pra saberem o que eu quero passar com a definição do monstro(À exceção dos braços e asas da criatura) :))



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Os Cinco Filhos da Aflição : Nerlinir nas 8 Terras" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.