Uma Nova Chance escrita por Elvish Song


Capítulo 1
prólogo


Notas iniciais do capítulo

Nossa história começa às vésperas da partida de Eragon da Alagaësia: Arya não consegue se conformar com a perda de seu melhor amigo - e possível amor.



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Arya se levantou de um salto; inútil tentar dormir! A partida de Eragon se daria em poucas horas, e aquilo a perturbava mais do que a morte de sua mãe o fizera. Em sua mente, ouviu a voz de Fírnen:

A partida do Matador de Espectros a perturba, não é, pequenina?

Indo até a janela de seu quarto, sentou-se no batente e encarou os olhos muito verdes e redondos que a fitavam.

Voltou mais cedo da caçada. – Comentou ela, para seu dragão – Por quê?

Saphira. – Foi a resposta do macho cor de esmeraldas.

Queria se despedir dela.

Sim. Assim como você quer se despedir de Eragon-Matador-de-Espectros, mas não tem coragem de ir até ele.

Fírnen... Irei me despedir de Eragon pela manhã.

Na frente de todos? Algumas coisas que vocês viveram juntos, ninguém mais pôde compartilhar. Nem mesmo eu ou Saphira, que compartilhamos de suas mentes. Por isso, acho que deveriam conversar a sós, para poderem falar sobre o que quiserem.

Eu sou a rainha dos elfos! Não posso simplesmente ir entrando no quarto de Eragon!

Então, sinta-se feliz. Ele não está no quarto. – Retrucou o dragão – Também não conseguia dormir. Está nervoso demais para isso... Foi para a floresta.

Aquelas palavras acenderam uma esperança no coração da elfa, que se alegrou em poder falar com o guerreiro antes de se separarem definitivamente. Com o coração aos pulos – por que, raios, estava tão ansiosa? -, subiu no focinho de Fírnen, que a colocou gentilmente no chão. Com um olhar de puro amor para seu dragão, correu em direção à região mais densa da floresta. Seus instintos lhe diziam onde encontraria Eragon, e, mais uma vez, tal intuição se mostrou correta.

O Cavaleiro fora ao mesmo lugar em que ela o levara, anos atrás, para ensinar-lhe as regras básicas de cortesia dos elfos. Sentado sobre a rocha alta, onde ninguém poderia vê-lo, se não soubesse onde procurar, ele fitava as estrelas, tão imóvel quanto a pedra em que estava.

No mais absoluto silêncio, ela subiu a rocha até ficar imediatamente atrás de Eragon, quando então se ajoelhou e, cedendo a um ímpeto inexplicável, o abraçou fortemente. Com uma exclamação de surpresa, o jovem se lançou para trás, a fim de evitar uma queda, e esse movimento o lançou sobre a elfa. Ainda sem saber sobre quem caíra, ele girou para longe e, ao se levantar, já empunhava a espada. Sem se dar ao trabalho de se levantar do chão, a rainha élfica inclinou a cabeça para trás e emitiu uma sonora gargalhada ao ver a expressão de surpresa de seu amigo.

- Arya! Está tentando nos matar!? – Exclamou ele, guardando a espada e estendendo-lhe a mão.

Aceitando a ajuda oferecida, a mulher sorriu e falou:

- Pensei que tinha sentido minha presença.

- Eu estava justamente pensando que irei sentir muita falta de tal presença. – Respondeu Eragon. Com um suspiro, continuou – Eu sei qual será sua resposta, mas minhas esperanças me permitem perguntar: não quer vir comigo?

O semblante de Arya obscureceu-se quando ela baixou o rosto, e lágrimas afloraram em seus olhos. Eragon nunca a vira chorar! Nem mesmo nas sombrias catacumbas de Helgrind, quando ela quase amputara a própria mão, ao tentar se soltar das algemas que aprisionavam a ambos, ele a vira derramar uma lágrima sequer! E agora, entretanto, duas gotas brilhantes escorriam pelas bochechas alvas, que pareciam mais pálidas ainda sob a fraca luz das estrelas. Ele pensou no que dizer, mas foi impedido de falar o que fosse pelo olhar e pelas palavras dela:

- Eu amo você, Eragon.

Eragon emudeceu, atônito antes o que acabara de ouvir; sim, ele sabia que Arya nutria grande afeição por sua pessoa, mas ouvi-la dizer tais palavras fora completamente inesperado!

Tomando o silencio dele por pena ou desprezo, a elfa ergueu os olhos marejados d’água e exclamou:

- Por favor, diga alguma coisa!

Após um instante de hesitação, o humano estendeu o braço na direção da rainha, receoso de que ela o rejeitasse; como isso não ocorreu, sentiu-se confiante para abraçá-la de verdade, trazendo-a contra seu peito. Quando se haviam conhecido, ela era muito mais alta que o Cavaleiro. Agora, o jovem a ultrapassara em vários centímetros, o suficiente para poder beijar-lhe a fronte (nunca pensara que ela, um dia, permitiria) antes de responder:

- Eu também amo você, Arya Svit-Kona. E por isso lhe peço para vir comigo!

Ela aninhou o rosto na curva de seu pescoço, e murmurou:

- Você não abriria mão de criar os jovens dragões e seus Cavaleiros. Nunca abandonaria sua intenção de ir para Vröengard, porque sabe que é seu dever, assim como o meu é ficar aqui, com meu povo, cuidar de minha raça e zelar para que Nasuada não se deixe cometer excessos em sua política pacificadora, tornando-se uma nova tirana.

Eragon se irritou a menção do nome de Nasuada:

- Eu preferia que ela tivesse morrido. Os magos e feiticeiras não estariam enfrentando os problemas que agora têm com a repressão feita aos utilizadores de magia.

- Preferiria que o fraco rei Orrin estivesse no trono? Ou que uma guerra interna fosse travada entre os pequenos reinos pela sucessão?

- Claro que não. – Respondeu o guerreiro – Apenas queria que houvesse uma chance de ficarmos juntos, e a política de Nasuada torna isso verdadeiramente impossível!

Com um suspiro triste, a mulher respondeu:

- Não pense mais nisso, Eragon-finiarël. Não quero desperdiçar nossas últimas horas juntos falando de assuntos desagradáveis.

Os dois se sentaram lado a lado, abraçados. Arya experimentava uma sensação jamais vivida sem ser com Fírnen, um calor que não era físico: amar e ser amada na mesma medida; ter o coração preenchido e aquecido por alguém que era parte de si mesma.

Ficaram juntos, silenciosos, observando o céu enquanto uma Lua minguante pálida surgia no horizonte, não mais que um filete de luz. Contra o brilho prateado, o casal pode divisar a silhueta de seus dragões voando juntos para longe. Um vento frio começou a soprar, e sentindo a elfa estremecer ao seu lado, o Cavaleiro dividiu sua capa com ela, que sugeriu:

- Por que não vamos a um lugar mais quente, beber algo? Tenho faëlnirv comigo.

Eragon sorriu, lembrando-se da última e única vez em que haviam bebido juntos: fora a única vez em que vira Arya rir e dançar, ligeiramente embriagada, logo antes de um ataque de Thorn e Murtagh ao acampamento militar em que se encontravam. Ela se recuperara imediatamente dos efeitos da bebida, enquanto ele precisara utilizar magia para isso. Dando de ombros, o jovem declarou:

- Estou hospedado fora da cidade, num chalé perto do rio, porque Saphira já é grande demais para andar pelas ruas, e eu não queria me separar dela.

- Perfeito – sorriu a guerreira. Há poucos minutos dissera a Fírnen que não era adequado uma rainha entrar no quarto de um Cavaleiro daquele modo; agora, aquelas palavras pareciam distantes e vazias, e todos os sentidos de conveniência se entorpeceram ante a dor da separação iminente.

Os aposentos de Eragon eram pequenos o bastante para que Saphira, adormecida, pudesse envolvê-los no círculo formado por seu pescoço e cauda ao se tocarem, mas eram quentes e aconchegantes, como qualquer casa de elfos. Sentando-se juntos no tapete de lã macia que cobria o chão, à luz do fogo que crepitava na lareira, serviram-se de faëlnirv em duas taças, e entre um gole e outro, começaram a falar. Falaram sobre tudo o que haviam passado, sobre as experiências vividas e adquiridas, a esperanças que haviam tido. Riram do passado, de situações que pareceram terríveis enquanto vividas, mas que agora eram apenas lembranças. Mas de modo algum suas palavras tocaram no futuro.

Haviam bebido mais de metade da terceira taça consecutiva de licor quando a conversa silenciou. Seus rostos estavam perigosamente próximos, e então, num gesto lento, mas impossível de deter, seus lábios se colaram um ao outro. Eragon envolveu sua amada num abraço apertado, e ela a ele enquanto trocavam beijos sôfregos, famintos, ansiosos; beijos desesperados de quem não queria que o momento terminasse. Eles se ajoelharam, e seus corpos próximos se ajustaram como se houvessem sido moldados um para o outro.

De repente, Arya se viu erguida nos braços de Eragon e levada para o leito macio, mas não teve a menor vontade de protestar, nem mesmo quando as mãos masculinas deslizaram até suas costas e começaram a abrir o corpete de seu vestido. Mas quando suas roupas caíram ao chão, ela fechou os olhos ao se lembrar de que seu corpo era inteiramente marcado pelas cicatrizes deixadas pelo cativeiro; constrangida, virou o rosto para o lado e sussurrou:

- Meu corpo já não é bonito... Não como antes.

Segurando-lhe o queixo e fazendo-a olhar para seu rosto, Eragon respondeu:

- Quando eu me apaixonei por você, na primeira vez em que a vi diante de meus olhos, seu corpo inteiro estava marcado e sangrando, lembra-se? Fui eu que curei as feridas. Essas linhas? – perguntou, correndo a mão por uma marca mais escura no colo da elfa – São as insígnias de honra de uma vitoriosa. Aos meus olhos, nada diminui sua beleza, Arya. – E assim dizendo, tomou-lhe os lábios num beijo profundo e apaixonado.

Já sem reservas, ela, por sua vez, escorregou as mãos por sob a camisa do homem – cinco anos haviam tornado o menino um verdadeiro guerreiro – e a puxou por sua cabeça. Afinal, ele já a vira seminua antes, quando curara suas feridas após o cativeiro em Gil-Ead; ela, ao contrário, sempre o vira vestido dos pés a cabeça, e estava curiosa para saber se o corpo sob as vestes era tão bonito quanto o rosto que a fitava. Foi um deleite esperado constatar que sim, enquanto o Cavaleiro deslizava para cima dela, entrelaçando suas pernas nas dele e provocando-lhe arrepios de prazer.

Não tardou para as vestes de ambos jazerem espalhadas pelo chão. Daquele modo, completamente livres de aparências externas, de aparatos ou adornos, revelavam-se um ao outro tal como eram, e nesse momento, amaram-se mutuamente por tudo o que fazia parte do outro, e também por aquilo que não fazia. Juntos, tornaram-se um só por algum tempo.

*

A manhã pegou o casal ainda adormecido, aninhados um no outro. Arya despertou primeiro, e por alguns segundos, sentiu-se confusa, sem saber se o que vivera na noite passada fora realidade ou sonho, e mesmo se estava ou não acordada naquele momento; fitou Eragon, tão tranquilo no sono como ela jamais o vira desperto, e então a realidade se abateu sobre si com a violência de uma tempestade. Não fora um sonho!

Erguendo-se da cama de um pulo, a elfa respirou fundo para se recuperar da surpresa: ela, uma rainha dos elfos, se esgueirara em meio à noite para dormir com um Cavaleiro! Eragon partiria em breve, e jamais voltariam a se ver! Além disso, era dia, e Blödgharm logo viria buscar o jovem para irem juntos até a barca que os levaria para Vröengard! Mas o que ocorrera com seu bom-senso?! Por outro lado, jamais trocaria a doce lembrança da noite passada por qualquer coisa no mundo! Já havia passado algumas noites com Faölin, quando mais moça, mas geralmente depois de batalhas sangrentas, quando procuravam um ao outro mais em busca de conforto e esquecimento de que de qualquer outra coisa. O amor que tinha pelo elfo morto era uma enorme amizade, não uma paixão – ou melhor, uma ligação – como a que desenvolvera pelo Cavaleiro. Fora tão maravilhoso o que vivenciara nos braços do humano... Um belo sonho, mas já era hora de acordar.

Tocando o ombro do guerreiro, que ainda dormia profundamente, ela o chamou com um sussurro. Ele acordou sorrindo e a beijou, mas a rainha se afastou, recuperando subitamente a frieza e a distancia que costumava manter, e falou:

- Melhor nos prepararmos. Blödgharm virá logo, e não seria, bem... Adequado que soubesse do que passou entre nós.

- É claro – respondeu o humano, seu semblante subitamente obscurecido ao perceber que sua amada recobrara a frieza habitual.

Vestiram-se rapidamente, e Eragon observou encantado o longo cabelo da elfa, uma verdadeira cascata de ônix que lhe caía até os quadris – nunca se esqueceria da imagem daqueles fios espalhados pelos lençóis, emoldurando seu ato de amor -; ele amava cada simples fio daquelas melenas. Com habilidade, a rainha trançou os próprios cabelos, e virando-se para Eragon, sorriu por um momento ao dizer:

- E melhor dar um jeito em seus cabelos. Parecem uma moita de sarças, de tão emaranhados. – e com mãos hábeis, desfez entre os dedos os nós dos cachos grandes e arruivados da cabeça do humano, pondo-os em alinho em alguns minutos. Eragon a segurou pela cintura, tomando-lhe os lábios num beijo intenso, que ela retribuiu sem pressa. Logo depois, entretanto, a rainha voltou a se afastar, e recuperou o ar austero e distante. Quando Blödgharm bateu à porta do quarto, encontrou a elfa sentada à mesa, conversando com Eragon como se houvesse acabado de chegar aos aposentos.

- Veio cedo para cá, Arya Dröttning. – Comentou o elfo – Atra esterní öno thëlduin, Arya Dröttning e Eragon-ëlda.

- Atra Du evarinya öno varda, Blödgharm-elda. – Respondeu a soberana, com um sorriso – Mas por que ainda repetimos as mesmas formalidades de nosso povo, meu amigo? Após tanto tempo que nos conhecemos, creio que elas sejam totalmente dispensáveis.

- Creio que sim, Arya Svit-kona. – Sorriu o feiticeiro. Voltando-se para Eragon – Pronto para partir, Argetlam?

- Acho que nunca estarei realmente até que o tenha feito, então, agora é um momento tão bom quanto outro qualquer. – Respondeu o jovem.

- A barca está pronta, e sua família aguarda para dizer adeus.

- Então – suspirou o Cavaleiro – Chegou a hora.

Saíram os três do chalé e rumaram para o cais, seguidos de perto por Saphira e Fírnen, que só há pouco haviam retornado do voo noturno. Para Arya, cada passo dado tornava o dia um pouco mais sombrio.


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Notas finais do capítulo

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