Nas suas lembranças escrita por dayane


Capítulo 8
Capítulo 8




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Quando Carlos chegou em Chicago, me mandou uma mensagem mostrando o quarto onde ficaria hospedado. Comentei o quão incrível era e mudei o assunto, o questionando sobre as expectativas dele para o projeto. Nas primeiras semanas de sua viagem, eu me pegava indo dormir tarde ou tendo que ir trabalhar sem dormir. Mas para mim as longas horas de conversa com Carlos, via Skype ou mensagens de texto, eram quase tão prazerosas quanto ter sua presença ao meu lado. Nunca sabíamos quem iniciaria a conversa, mas sabíamos que um de nós dois cairia no sono e o outro finalizaria.

Minha agonia começou quando eu percebi que Carlos demorava demais para responder minhas mensagens. As conversas ficaram sem assunto e Carlos nunca mais me fez a mais básica das perguntas. Raramente conversávamos e mais raros eram os momentos em que falávamos de mim.

A presença de Rusk, que só conseguia dormir quando estava deitado no meu quarto, me fazia pensar em Carlos e na falta que eu sentia dele. Era estranho, mas ler as mensagens dele já não tinham mais o mesmo efeito. Eu já não queria mais ter nossas conversas via Skype e nem mesmo saber como era Chicago.

Eu queria manter a distancia do tempo em que estávamos longe um do outro e da saudade que tanto eu quanto Rusk, sentíamos. Mergulhei em meu TCC, mas depois de defende-lo, depois que terminei a faculdade e passei a somente aguardar a formatura, percebi que já não havia mais o que me salvaria da saudade.

Vez ou outra, permitia que Rusk dormisse em minha cama, tentando buscar as sensações da única noite que passei com Carlos. Infelizmente a única coisa que o pequeno cachorrinho conseguia me passar era a saudade de Carlos.

Dediquei-me a caminhar com Rusk e passar mais tempo na empresa em que eu trabalhava. Criei milhares de projetos novos – o qual somente um foi aceito – e passei a conhecer novos lugares de minha cidade. Evitei caminhos que me levavam próximos a casa de Carlos e, somente uma vez, me encontrei com Daniel – A mínima demonstração de carinho que irradiou do abraço apertado dele, foi o bastante para levar um pouco de paz ao meu corpo.

Carlos estava me enlouquecendo e não havia nada no mundo que conseguia ocupar minha mente e desligar-me da tortura que eu estava vivendo.. Estranhamente tornei-me dependente da presença dele e de seu cheiro. Dos momentos que passamos juntos – e que muitas vezes eu fugi – e dos planos de dominação mundial que bolamos enquanto tomávamos sorvete.

– Rusk, há quanto tempo conheço Carlos? - Ao escutar o nome do dono, o pequeno vira-lata me encarou. - Acho que foram sete meses.

Eu soquei o ar e suspirei. No Skype – que eu sempre deixava aberto – apareceu uma mensagem. Carlos perguntava se eu estava disponível e logo depois uma chamada foi iniciada. Eu não pude negá-la, pois precisava de um breve alívio.

– Tudo bem? - Perguntei com pouco ânimo.

– Claro. - E sua voz demonstrava que tudo estava ótimo. - As coisas estão maravilhosas! Já tenho propostas para mais dois novos projetos e meu inglês está melhor do que o de qualquer outra pessoa que conheço. Também conheci diversas pessoas incríveis.

Houve um breve silencio. Meu peito doía como se fosse apertado por mãos de fogo.

– Rusk está com saudades. - Comentei baixo. Minha garganta passou a arder.

– Mesmo?

– Anda deprimido. Só sai da caminha para ir ao banheiro e comer. Não quer, nem mesmo, caminhar comigo.

– Ele vai ficar bem?

– A veterinária disse que é uma depressão forte, mas que passará quando você voltar.

– Que bom.

Outro silêncio. Ele não iria perguntar.

– Eu, preciso desligar. - Comentei.

– Tudo bem, tchau.

Eu esperei alguns segundos e desliguei a chamada. Uma lágrima escorreu por minha bochecha e Rusk suspirou. Nem mesmo ele, o pequeno vira-lata, sentia que Carlos realmente esteve naquela ligação.

– Talvez ele apenas quisesse contar a novidade para alguém. Vai que ele precisasse espalhar sua felicidade e ignorar o restante do mundo. - Comentei com Rusk, enquanto acariciava seu pelo.

Rusk ergueu a cabeça e me olhou. Os olhos preguiçosos ganharam um pouco de ânimo e rapidamente o Rusk ergueu-se nas patinhas traseiras, tocando meus ombros e lambendo as lágrimas que escorriam por meu rosto.

E depois de um latido baixo e um choramingar preocupado do pequeno animalzinho, respondi:

– Não Rusk, não está tudo bem. Obrigada por ter se preocupado em perguntar.

Eu espero que a saudade não doa.

Apesar de que , infelizmente não é só a saudade que dói. Dói quando param de perguntar a você se está bem, quando param de lhe mandar um oi e quando começam a ignorar sua existência, alegando que estão sem tempo.


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