Nas suas lembranças escrita por dayane


Capítulo 16
Capítulo 16




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"Temos que abdicar de algumas coisas."

Eu estava sentada na cozinha. Pelo horário, quase todos tinham ido para casa e a editora estava quase toda apagada. Meu chá já tinha esfriado e eu tinha acabado de terminar a tradução de um livro e estava, naquele momento, digerindo toda a conversa, que tive mais cedo, com Michele.

Carlos entrou na cozinha me fazendo olhá-lo no exato momento em que entrou. Imaginava que ele já tinha ido embora.

Boa noite. - Ele saudou sorrindo. - Apenas gemi em resposta. - Tá tudo bem?

– Claro. - Recolhi minha bolsa, deixando claro que eu iria embora.

Eu raramente via Carlos. Raramente conversávamos e sempre usávamos o trabalho como desculpa.

– Bom retorno.

– Obrigada. - Agradeci sem muito entusiasmo.

Eu parei por um segundo, me perguntando quando foi que tudo mudou. Em que parte da vida eu aprendi a viver com aquela agonia de não ter a atenção de Carlos. De não ser mais chamada para ir ali e acolá com ele, de não receber mais suas ligações noturnas para conversarmos sobre banalidade e nem mesmo de escutá-lo dizendo que acharia algo que me faria mudar, algo que eu amaria.

Foi então que sorri. Ele tinha encontrado a coisa que eu mais amaria. A coisa que faria com que eu me sentisse completa e importante. Amada. Única.

– Eu te fiz algo? - Ele perguntou com receio.

O olhei.

– Como?

– Algo que te magoou, eu te fiz?

Olhei para o chão e umedeci meus lábios. O que ele tinha me feito? O que tinha feito com que eu desejasse ficar com a dor de não o ter em vez de ter a dor de caçá-lo?

– Fez. - Eu respondi. - Prometeu que estaria comigo e que acharia algo que eu amaria.

Os olhos de Carlos me encaravam curiosos e, também apavorados. Ele estava curioso e apavorado.

– Fez com que eu o amasse, quisesse e dependesse de sua companhia e partiu sem deixar rastros. Inventou uma desculpa qualquer e sumiu de minha vida por meses, voltando sabe-se lá por qual motivo.

– Não fiz por que quis!

– Isso importa? - Eu não estava irritada.

– Claro que importa! Estou sendo julgado sem chance de me defender!

– Não estou julgando. Foi isto que você fez, isso me que magoou. - Eu arrumei a bolsa em meu ombro. - Mas agradeço por isto. Por ter me dado a oportunidade de conhecer a dor e a saída. Por ter me dado as duas coisas que mais amei.

Ele entendeu. Eu sabia que ele tinha entendido, pois além de ter voltado a sentar, sorriu. E, acima de tudo, grandes amigos nem sempre precisam de palavras para se entenderem.



"Sentir a dor de não ter".

Eu segui o caminho até meu carro. No fim daquele dia, estava o fim de uma curta história de amor. Daquelas em que uma personagem sofre por não ser a companhia de outra. Mas, se um escritor não evolui a sua cria, talvez não tenha a oportunidade de ensinar algo aos leitores.

Quando cheguei à garagem, observei a vaga ao lado do meu carro. Carlos, de alguma forma, desde que comecei a trabalhar na editora, procura estar ao meu lado. As coisas mudam quando nos machucamos.

Era irônico, mas entre Carlos e eu, sempre teria alguém correndo até o outro.

Sem nunca ter a oportunidade de nos encontrar.


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Notas finais do capítulo

Há só mais uma coisa que está história tem para contar.
Então, em breve sairá o último capítulo.
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