Em um campinho de futebol, no subúrbio do Rio de Janeiro, um menino jogava bola para uma única torcedora. O menino tinha as roupas sujas e largas pingando de suor, assim como o rosto e o cabelo preto. A bola de futebol, presente do pai antes do mesmo morrer, quicava nas chuteiras surradas. Na arquibancada, a menina gritava incentivos ao amigo enquanto o cabelo ruivo voava pelo rosto.

Tiffany Harrison e Daniel Cardoso eram melhores amigos desde que se conheceram no jardim de infância. Sempre se apoiavam em tudo que precisavam, apesar de serem bem diferentes.

Daniel morava com a mãe e duas irmãs mais novas, em um barraco na favela da Rocinha. Assumira o papel de homem da casa aos 10 anos, depois que o pai morreu vítima de um traficante. Ele nunca perdoou o homem culpado pela desgraça, Jairo dos Santos, que nunca foi pego pela polícia. Trabalhava duro para sustentar a família na venda do seu Bento, mas tinha um sonho de se tornar um grande jogador de futebol e dar uma vida melhor a seus entes queridos.

Tiffany era filha de um famoso empresário com uma bela modelo. Sempre viveu recebendo do bom e do melhor, mas não era feliz. O pai raramente estava em casa e a mãe mal olhava na sua cara. Os dois acreditavam que pagar várias coisas caras era o melhor jeito de demonstrar amor. Sua maior felicidade era o curso de teatro que frequentava, sonhava um dia se tornar uma grande estrela de cinema.

O Sol já se punha quando Daniel finalmente parou de jogar.

- E aí? – perguntou – O que achou, Tiff?

- Você foi incrível! – a menina respondeu, enquanto descia as arquibancadas

- Seus pais já te ligaram?

- Não – respondeu enquanto olhava para o celular de última geração na mão dado pelo pai, ou melhor, pela secretária do pai – Provavelmente ainda não se deram conta que eu saí ou não se importam o bastante pra ligar.

- Bom... É... Amanhã é apresentação da sua peça, né? – perguntou Daniel, tentando mudar de assunto

- É, é sim. Você já falou com o seu Bento para te liberar?

- Já. Há mais de um mês.

- HAHAHAHA Só você mesmo, Dani. Bom, é melhor eu ir pra casa e repassar as falas. Te vejo amanhã?

- Pode deixar.