Amor y Nada Más escrita por Verônica Souza


Capítulo 3
Capítulo 3




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Aos domingos, Rodrigo, irmão de Carlos Daniel, ia almoçar na casa dos Bracho, junto com Patrícia, sua esposa. Ao conhecê-los, os dois me trataram muito bem, assim como toda a família. Enquanto os homens conversavam na sala, Patrícia e eu conversávamos sobre as crianças, no jardim. Ela dizia como tinha o sonho de ser mãe, mas que nunca conseguia engravidar. Me identifiquei um pouco com sua vontade, já que eu também tinha o sonho de ser mãe, mas nunca tive a oportunidade.

Depois que nos tornamos mais próximas, levamos as crianças para o almoço. Os domingos pareciam diferentes naquela casa. Eram mais animados, já que Patrícia e Rodrigo sempre levavam presentes para as crianças. Durante o almoço, vovó Piedade insistiu para que eu me sentasse a mesa com eles novamente. Carlos Daniel dessa vez fez questão que eu me juntasse a eles. Não pude negar, e mais uma vez fiquei envergonhada de participar de uma refeição de família. Willian e Stephanie não participaram pois estavam almoçando fora, e ao contrário deles, Patrícia e Rodrigo pareciam felizes com minha participação no almoço.

– Está se lembrando da festa de aniversário da fábrica não é vovó? - Rodrigo perguntou durante a refeição.

– Oh, já é essa semana?

– Sim, no sábado.

– Estou um pouco indisposta esses dias. - Ela disse olhando para mim, e eu não entendi o porque daquele olhar.

– Mas a senhora sempre me acompanha nas festas, vovó. - Carlos Daniel disse.

– Bem, parece que vai ter que levar outra pessoa no meu lugar.

A mesa silenciou-se. Ouvia-se apenas o barulho dos talheres de encontro com a porcelana dos pratos.

– Paulina, você gostaria de me acompanhar na festa?

Ao ser pega de surpresa, me engasguei com o suco que estava acabando de beber. Vovó Piedade me olhava animada e Rodrigo olhava estranhamente para Carlos Daniel.

– Eu? - Perguntei ao recuperar o folego.

– Sim. Rodrigo levará Patrícia, e depois de tudo o que aconteceu, vovó tem sido o meu par nas festas. Mas nessas circunstâncias...

– Eu concordo plenamente! - Vovó disse animada. - Acho que Paulina serviria perfeitamente para te acompanhar, Carlos Daniel. Ela ia adorar!

– Eu... Eu não sei... Já estou abusando demais me sentando à mesa com vocês e...

– Isso não é problema algum! Já dissemos que você é convidada a sentar nessa mesa conosco. - Vovó sorriu para mim. - Por favor, Paulina. Aceite.

Olhei para Carlos Daniel e ele tinha um certo brilho nos olhos, que eu nunca tinha notado antes. Rodrigo e Patrícia olhavam ansiosos para mim, e eu não tive outra alternativa a não ser concordar com o pedido. Carlos Daniel pareceu satisfeito, como se fosse algo que ele esperasse a algum tempo. Apesar de saber que estava apenas sendo uma “substituta”, me alegrava a ideia de que ele me queria ao lado dele para uma festa da fábrica, onde todos os seus funcionários e amigos estariam.

1 SEMANA DEPOIS

Eu estava empolgada e ao mesmo tempo amedrontada. Seria a primeira festa que iria na vida, e eu não tinha a mínima ideia do que vestir. As únicas roupas que levei para a casa dos Bracho foram as que couberam nas malas. Não tinha nenhum vestido de gala ou algo parecido. Eu estava pronta para me desculpar com Carlos Daniel e dizer que não poderia acompanhá-lo, quando Adelina bateu em minha porta.

– Boa tarde, Adeline. - Tentei parecer o mais normal possível.

– Olá, Paulina. - Ela sorriu de um modo diferente. - Vim aqui porque vovó Piedade pediu para que eu a levasse para fazer compras.

– Compras? Para ela?

– Não... Para você. - Ela sorriu.

– Para mim? - Perguntei assustada.

– Sim, para você. - Vovó Piedade apareceu logo depois. - Imagino que está procurando um vestido perfeito para usar hoje a noite, não é?

Não respondi. Apenas olhei para minha cama, que estava lotada de roupas.

– Então por isso resolvi pedir para Adelina te ajudar a escolher o vestido perfeito. Como estou velha demais para isso...

– Vovó... Eu não posso aceitar.

– Não só pode, como deve. Considerarei um descaso se não aceitar.

Olhei novamente para as roupas em minha cama, e percebi que não tinha outra opção.

– Então está bem... Mas só irei com uma condição. A Senhora terá que me ajudar a escolher o vestido.

*****

Logo depois do almoço, aproveitamos que Carlos Daniel levou as crianças para passear no parque e fomos até o shopping escolher um vestido perfeito. Como eu não tinha muita experiência nesse assunto, deixei que Adeline e vovó Piedade me apresentassem as lojas. Cada uma mais chique do que a outra. Não fazia idéia de qual vestido escolher, pois todos que eu experimentava eram maravilhosos. Porém quando experimentei um vestido longo, de cor azul bebê, com várias pedras espalhadas por ele, nós três nos encantamos tanto que não tivemos coragem de procurar por outro.

Eu estava empolgada por ter encontrado o vestido perfeito, e de brinde, um sapato que combinava. Vovó me emprestou algumas de suas joias que ela insistiu para que eu as usasse, e Lalinha me ajudou com a maquiagem. Ao fim da tarde, eu já estava pronta para a festa. Ao olhar no espelho, me senti diferente. Diferente da Paulina que saiu de sua cidade natal cheia de problemas e com o coração machucado. Eu me sentia uma nova mulher, pronta para ter uma vida nova.

– Você está linda! - Lalinha disse me olhando.

– Obrigada. - Respondi com um sorriso.

– Eu vou ver se Carlos Daniel precisa de ajuda com a gravata. - Vovó disse saindo do quarto. Ela estava mais a vontade em andar pela casa sozinha, e quase não precisava mais da ajuda de Adelina, apesar de considerá-la uma grande amiga e inseparável.

– Não sei se o que estou fazendo é certo. - Eu disse olhando para meu reflexo no espelho.

– O que está dizendo? - Lalinha perguntou.

– Eu não sou da família. Sou a babá dos filhos dele. Não posso simplesmente ir à uma festa da fábrica com ele. Várias pessoas importantes estarão lá.

– E é por isso mesmo que você tem que ir! Tem que mostrar para todos que você é muito mais do que uma babá! - Lalinha disse empolgada. Adeline balançou a cabeça negativamente e sorriu.

– O que a Lalinha quer dizer, é que ele a convidou por conta própria. Ele deve considerá-la mais do que uma babá para os filhos, se não ele não teria convidado para uma festa tão importante.

– Adeline tem razão. Para ele convidá-la assim, ele só pode querer alguma coisa.

– Não diga isso, Lalinha. As intenções do Senhor Carlos Daniel são puras.

As duas começaram a “discutir” e eu não conseguia parar de pensar que as duas tinham razão. Ele havia me convidado por vontade própria, para uma festa tão importante. Talvez ele não me considerasse uma simples babá dos seus filhos. Talvez ele pudesse sim sentir algo a mais por mim, assim como eu sentia por ele.

– Paulina! - Vovó Piedade voltou para o quarto. - Ele está pronto. Está te esperando na sala.

As três olharam empolgadas para mim, e então respirei fundo. Saí do quarto me despedindo delas e desci as escadas tremendo, mal conseguindo parar em pé. Cheguei ao topo da escada e Carlos Daniel se virou para me olhar. Estava de camisa social, segurando seu paletó em suas mãos. Temi sua reação ao me olhar com um vestido tão caro e elegante, porém ao ver o seu sorriso e seus olhos brilhando olhando para mim, toda a tensão desapareceu.

– Estou atrasada? - Perguntei tentando puxar assunto.

– Não. - Respondeu segurando minha mão me ajudando a descer a escada. - Você está muito bonita.

– Obrigada. Você também. - Disse sem saber exatamente o que falar naquele momento. Ainda sorrindo ele continuou segurando minha mão e me olhando. - Então... Podemos ir?

– Claro. - Ele soltou minha mão e posicionou o braço para que eu o acompanhasse. Olhei para o topo da escada e Lalinha, Adeline e vovó Piedade nos olhavam sorrindo, acompanhadas de Carlinhos e Lizete, que estavam do mesmo jeito. Dei um breve aceno para eles, e então saímos de casa.

Como um perfeito cavalheiro, Carlos Daniel abriu a porta do carro para que eu entrasse. Ficamos em silêncio durante todo o caminho até o salão de festas. Não sabia ao certo o que conversar com ele, por isso preferi não arriscar.

Ao chegarmos em frente o salão, ele desceu do carro me ajudando a descer do carro. Seguimos em direção à festa e mais uma vez ele posicionou o seu braço para que entrássemos juntos.

– Olha ele aí! - Um homem se aproximou apertando a mão de Carlos Daniel. - Pensei que não viria mais. - Ele olhou para mim e abriu um sorriso. - Oh... Olá.

– Essa é Paulina... - Ele parou de falar e imaginei que ele diria que eu era a babá de seus filhos. - Minha acompanhante. - Sorriu segurando minha mão. - Paulina, esse é Jaime, um dos sócios da empresa.

– Muito prazer. - Apertei a mão do homem.

– O prazer é todo meu. Uma bela acompanhante, se me permite dizer.

– Obrigada. - Sorri envergonhada.

– Bem, mas fiquem à vontade. A festa está maravilhosa.

– Obrigado.

Seguimos no meio dos convidados e todos pareciam nos olhar. Provavelmente imaginando quem era a acompanhante misteriosa de Carlos Daniel. Eu estava envergonhada, não estava acostumada com tantos olhares em minha direção.

– Parece que todos estão curiosos para conhecê-la. - Ele disse sorrindo.

– Eu estou morrendo de vergonha, Carlos Daniel.

– Por que, Paulina?

– Bem, não estou acostumada a vir em festas como essas e principalmente em ser o centro das atenções.

Ele soltou uma gargalhada e então apertou minha mão.

– Não se preocupe, logo você vai acostumar com tudo isso.

O que ele queria dizer com aquilo? Será que ele pretendia me levar a mais eventos como aquele?

– Ah, ali está Rodrigo e Patrícia.

Nos aproximamos dos dois e nos cumprimentamos.

– Paulina, você está encantadora. - Rodrigo disse educadamente.

– Obrigada, Rodrigo. - Sorri.

– Realmente. Está muito linda.

– Obrigada Patrícia, você também está linda.

– Fico feliz por meu irmão ter finalmente encontrado alguém para acompanhá-lo.

Carlos Daniel sorriu para mim e eu sorri de volta. Parecia que ele realmente pretendia me convidar para mais eventos como aquele.

Fui apresentada para todos os funcionários da fábrica, inclusive os sócios. Todos me trataram extremamente bem, e já no meio da festa eu estava a vontade. Uma festa bastante agradável e que eu me senti feliz por ter participado. Carlos Daniel não soltou minha mão em nenhum momento, e eu já estava me acostumando com aquilo. Mas eu não poderia.

Mais ao fim da festa, Carlos Daniel me levou para um local mais tranquilo e sem muitas pessoas. Era um jardim iluminado e tranquilo, como uma cena de filme de romance. Tentei parecer calma, mas a verdade é que estava nervosa por estar ali sozinha com ele.

– Obrigado por ter aceitado o meu convite, Paulina. - Ele me olhou.

– Eu agradeço pelo convite. Nunca havia participado de uma festa tão bonita e elegante.

– Verdade?

– Sim.

– Então se depender de mim, você participará muitas vezes.

– Como?

– Paulina, desde que você chegou a minha casa eu percebi que havia algo diferente em você. No modo como cuida dos meus filhos como se fossem seus, de como tenta ajudar a minha família sem ao menos conhecê-la muito bem. Todas essas qualidades fizeram com que eu... Tivesse um carinho muito grande por você.

Meu Deus. Eu não estava acreditando no que estava ouvindo.

– Quando vovó me disse para me aproximar de você eu...

– Vovó? Ela pediu isso?

– Sim. Me desculpe por não ter dito isso antes. Quando lhe convidei para tomar o vinho comigo, vovó tinha me aconselhado. Ela gosta muito de você, Paulina, e posso ter certeza de que já te considera da família. No início confesso que achei aquela ideia um pouco estranha, afinal não havíamos conversado muito bem desde que chegou. Mas depois daquela noite percebi que me sinto bem com você. Como se perto de você eu pudesse ser eu mesmo, transparente, sem precisar esconder minhas dores e alegrias.

Meu coração estava disparado, como se fosse pular pela boca.

– Você me faz bem, Paulina.

Ele se aproximou e eu pude sentir sua respiração. Fechei os meus olhos esperando que ele se aproximasse ainda mais, e então tudo veio em meu pensamento. Laura. Eu não poderia tomar o seu lugar. Não poderia me entregar para Carlos Daniel. E se ele apenas gostasse de mim por eu ser parecida com ela? E o meu passado... Segredos que eu escondia, e Carlos Daniel não merecia ser enganado. Eu não estava preparada para contar toda a minha vida, e por isso, não poderia ter nada com ele.

– É melhor entrarmos. - Me afastei um pouco, virando o rosto.

– É... Melhor. - Ele suspirou e segurou minha mão carinhosamente.

Voltamos para a festa e Carlos Daniel não parecia ter se irritado por eu ter me afastado. Por sorte. Mas eu não estava bem. Não poderia gostar ainda mais dele e acabar me apaixonando. Não era para ser assim. Prometi a mim mesma que não me apaixonaria por ninguém por um bom tempo. Tudo ainda estava muito recente, e eu estava confusa. Mesmo que eu quisesse muito. Meu Deus... Como eu o queria.

******

Parei na porta do quarto e Carlos Daniel me olhou. Segurou minha mão e abriu um largo sorriso. Minhas pernas ficaram bambas e eu temi o que ele faria logo em seguida. Talvez não tivesse tanta força para me afastar dessa vez.

– Boa noite, Paulina.

– Boa noite.

– Foi uma noite maravilhosa.

– Foi sim. Obrigada pelo convite.

Ele se aproximou e beijou meu rosto carinhosamente. Abri a porta do quarto e entrei. Antes de fechar a porta, ele sorriu mais uma vez, e continuou parado me olhando. Depois que fechei a porta, fui até a janela e olhei para a lua. Eu adorava olhar para ela e pensar em tudo o que estava acontecendo em minha vida. Como poderia mudar de uma hora para outra? A pouco tempo atrás eu era infeliz, amargurada, e agora eu estava me sentindo bem, completamente feliz.

******

~ POV CD ~

Não sabia ao certo a sensação que estava sentindo. Só sei que não me sentia daquele jeito há muito tempo. Quando Laura morreu, achei que nunca mais sentiria por outra pessoa o que eu sentia por ela. Fiquei devastado com sua morte, e por muitas vezes pensei em fazer uma loucura. Mas fui forte por meus filhos, por minha família. Prometi a mim mesmo que ninguém nunca tomaria o seu lugar em minha vida. E por todos esses anos têm sido assim. Não conseguia sentir carinho por nenhuma outra mulher, e não queria.

Mas quando Paulina chegou em minha casa, senti coisas inexplicáveis. Eu a observava cuidar dos meus filhos, e ela era tão doce, tão bondosa. Por muitas vezes ela me lembrava Laura. O modo com que tratava as pessoas, com tanta delicadeza. Mas agora percebo que ela tem suas próprias qualidades que me encanta.

Vovó Piedade me aconselhou a me aproximar dela, e eu achava que seria uma loucura. Sim, foi uma loucura, mas uma das melhores loucuras que fiz em minha vida. Ao aproximar de Paulina pude perceber que eu me sentia bem perto dela. Me sentia completo, me sentia mais leve. Ela me transmitia calma e todas as vezes que estávamos juntos, parecia que todos os meus problemas desapareciam.

Sim, eu prometi que não me apaixonaria por outra pessoa e que ninguém tomaria o lugar de Laura em meu coração. E ninguém tomará. Mas talvez eu esteja preparado para amar de novo. O carinho e admiração que eu sinto por Paulina está crescendo mais a cada dia. E se ela for a mulher destinada a viver comigo? Eu não sei, mas pretendo descobrir. Paulina Martins esta definitivamente tomando conta do meu coração.


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