Arquivo A-637 escrita por Gabriel Nunes


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Olá! Ficou comprovado que eu sou um escritor da madrugada, pois meus melhores trabalhos são produzidos sempre numa noite de insônia. Peço a vocês que leiam com atenção, tem uma surpresinha no final. Espero que gostem!



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Ele se cansou de ficar em casa parado, de ficar remoendo aqueles acontecimentos ruins em sua mente várias vezes ao dia até adormecer e, por fim, ter pesadelos com aquilo. Está cansado de simplesmente aceitar o fato de terem lhe tirado aquilo que mais importava em sua vida. Chega de pensar, é hora de fazer algo a respeito.

Invadir um prédio do governo é uma tarefa mais problemática do que parecia. Ele contou com um agasalho escuro e capuz para não ser identificado pelas câmeras de segurança do estabelecimento. Em poucos minutos encontrou a sala que procurava, adentrou o ambiente sem dificuldades e foi em direção a ala de arquivos. Checou várias seções em busca do nome do responsável por seu sofrimento, ele estava começando a se sentir frustrado, questionava a si mesmo se havia entrado na sala certa quando finalmente reconheceu o nome na parte superior da ficha que buscava, era o arquivo A-637.

Chegou em casa tão rápido quanto tinha saído. Não havia mexido na pasta de modelo suspensa com cor amarronzada que envolvia um aglomerado de papéis brancos. Segurando a pasta com as mãos trêmulas, ele foi em direção a escrivaninha que há muito estava abandonada. Sentou-se na cadeira e depositou a pasta na mesa á sua frente, após longos minutos encarando o arquivo A-637, finalmente decidiu abrir a pasta e olhar seu conteúdo. Havia várias fichas de exames médicos, alguns eram psicológicos, foi quando reconheceu um recorte de jornal local entre os papéis, recorte de jornal que ele também tinha em sua posse, dizia o seguinte:

Madrugada violenta no subúrbio da cidade

Uma noite trágica assolou a vizinhança do bairro General Addison. Sete pessoas foram assassinadas na madrugada de ontem, sendo três da mesma família. O assassino, que não teve o nome divulgado por medo de linchamentos, foi responsável pelos crimes.

Entre as 2 e 4 horas da madrugada, o acusado, armado com uma arma equipada com silenciador, invadiu quatro casas diferentes, os atos foram todos semelhantes: arrombou a porta de três das casas e quebrou a janela da quarta, disparou contra os moradores que dormiam e saiu sem roubar nada. Ao invadir a última casa, de uma família de quatro pessoas, as duas crianças do casal foram baleadas juntamente com a mãe, o pai conseguiu desviar do tiro e dominou o invasor.

Foi descoberto que o criminoso tinha problemas mentais, nos próximos dias ele será encaminhado para um hospital psiquiátrico para tratamento. A decisão revoltou o público. Mais informações em breve.

Frustrado, amassou o recorte e atirou-o longe. Continuou a revirar as dezenas de papéis que estavam lá, o homem havia sido tratado por quatro anos após os crimes. Segundo o documento que pareceu ser o mais recente, hoje o assassino estava curado e em liberdade. Tal informação fez seu sangue ferver, era um absurdo saber que alguém que acabou com várias vidas estava agora vivendo a sua própria sem nenhum problema, não podia aceitar! Lembrou-se de seu objetivo inicial ao roubar o arquivo, revirou mais alguns papéis mais novos e encontrou uma ficha preenchida a mão, datada de três semanas atrás, havia um endereço que não era longe de sua casa, o homem que lhe causou tanta desgraça vivia a poucas quadras de sua casa.

Agora decidido do que faria, pegou uma caixa que estava embaixo da cama, espalhou seu conteúdo no chão e encontrou o que buscava, sua arma. Devia tê-la pego e usado naquela noite em que sua família foi morta, mas não o fez, foi fraco, achou que a justiça seria feita. Mas o que é justiça? Ajudar e tratar alguém que havia matado sete pessoas era justo? Não fazia sentido para ele, então ele faria sua própria justiça, iria fazer com o assassino o que ele havia feito com sua família.

Era noite, uma chuva torrencial caia na rua escura, havia apenas uma pessoa viva lá, era ele. Caminhava torto e rápido, com a arma em mãos, poucos minutos depois ele encontrou a tal casa, era uma das poucas com luzes acesas. Esgueirou-se silenciosamente até uma das janelas, forçou a vista para ver dentro da casa e notou que havia três pessoas na sala, brincando. O responsável por seus demônios estava lá, com um sorriso alegre no rosto, o mesmo sorriso estampado no rosto de uma mulher e criança que estavam juntos dele. Ele, por sua vez, não sentiu raiva ao vislumbrar a cena, ele sentia nostalgia. Após longos minutos visualizando a cena, pareceu finalmente entender que um ato não molda o resto de sua vida, que todos mereciam uma segunda oportunidade de sorrir novamente.

Largou a arma ali mesmo, ficou de pé com a cabeça baixa, parecendo refletir sobre algo. Por fim, virou-se, olhou para mim e sorriu. Seus olhos estavam diferentes, haviam voltado a ser os mesmos do tempo em que era feliz, finalmente ele entendeu, esteve tanto tempo envolto em seu sofrimento que nem notou que nós continuávamos ali com ele. Sorriu novamente, então foi embora, passando ao meu lado, metros a frente, deu-nos uma última olhada e partiu, finalmente poderíamos descansar.


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Notas finais do capítulo

Descobriram quem está narrando? O que acharam? Vou adorar ler seus comentários.