Leon Rider

Tudo bem, tudo bem, tudo bem.

Não, não estava tudo bem.

Eu estava passeando de um lado pro outro no meu quarto. Como eu queria que abrisse um buraco no chão que me engolisse e me levasse para Nárnia.

Annabella iria me matar.

— Hey, gente — Rory gritou lá de baixo — será que dá pra me ajudar com a janta?

Suspirei e desci as escadas de fininho. Percebi pela luz do quarto que Annabella ainda estava lá.

Tommy e Peter estavam brincando com os talheres na mesa.

Crianças.

Rory estava dobrando os guardanapos para colocar na mesa. Vi pela passagem da sala de jantar com a cozinha que Dylan estava separando os ingredientes para o jantar.

— Hey, Dyl — Tommy gritou, fazendo com que Peter, que estava ao seu lado, reclamasse — o que teremos de jantar?

— Ah, não sei ainda — ele deu uma risada leve — ainda estou decidindo.

Ouvi passos na escada e tive uma repentina vontade de me esconder debaixo da mesa. Annabella estava descendo como se nada tivesse acontecido. Relaxei um pouco. Será que ela não percebeu o que aconteceu?

Ela passou por nós e, depois de afirmar que gostaria de ajudar em alguma coisa, entrou na cozinha para ajudar Dylan com a janta.

— Leon — Tommy olhou para mim, um pouco preocupado — você está bem?

— Não! — eu sussurrei de forma bruta. Sussurrei daquela forma que dá a impressão que você está gritando — eu não estou bem! Eu fui fazer aquela merda do desafio...

— E aí? — Rory perguntou interessado.

— Eusemquererpegueiacalcinhadela.

— O QUE? — os três perguntaram em uníssono.

— Olha Peter, não me mate — respirei fundo — eu sem querer peguei a calcinha dela.

Cada um teve uma reação. Peter começou a rir, Tommy esbugalhou os olhos e Rory estava com uma careta de quem queria rir muito, mas estava se segurando por educação.

— Leon! — Tommy exclamou — eu não sabia que você era tão pervertido...

— Não é isso!! — eu disse exasperado — ela estava dormindo, então – no escuro devo adicionar – eu peguei a primeira roupa dela.

— Tá — disse Rory — você acabou pegando a roupa íntima dela, e daí?

— O problema é que eu fiquei nervoso e acabei fazendo barulho. Agora eu não sei se ela sabe o que aconteceu.

— Meu caro — disse Peter, colocando a mão em cima do meu ombro — se ela sabe, eu irei vê-lo em seu túmulo.

E com isso ele saiu.

Belo apoio moral. Empresário do caralho.

Antes que eu pudesse mandá-lo para aquele lugar, um Dylan um tanto quanto preocupado saiu da cozinha.

— Hey cara — Rory perguntou — o que aconteceu?

— Annabella queimou a mão. Onde fica o Kit de primeiros socorros? — ele perguntou para Peter.

Peter foi logo pegar no andar de cima do Kit e entregou nas mãos de Dylan.

— Precisa de ajuda? — perguntou Tommy preocupado com Annabella.

Ele assentiu sem dizer nada e foi ajudar Annabella.

***

A mão de Annabella estava enfaixada, mas ela disse que não era nada grave. Comemos trocando palavras, eu ainda hesitava um pouco para olhar pra ela e queria me chutar por isso.

Eu nunca fui desse jeito. Agora eu parecia uma porca no cio.

Voltei minha atenção na conversa.

— Então, Peter — disse Dylan — não tem problema Lola vir nos visitar?

— Mas é claro que não!

Sério, quem vê pensa que a casa desse homem é a casa da mãe Joana né?

Lola era a irmãzinha de Dylan. Ela tinha 8 anos e estava naquela fase de garotinha que quer usar tutus e comprar bonecas maiores que ela mesma.

— Quem é Lola? — Annabella perguntou curiosa.

Dylan começou a explicar pra ela e eu voltei a pensar nos dias em que a menininha ia nos visitar. Ela era bem fofa e – graças a Deus – não era mimada. Lola tinha o mesmo cabelo de Dylan, um loiro meio escuro, mas seus olhos eram castanhos. E ela sempre usava seu cabelo solto com uma tiara ou num rabo de cavalo preso com um lacinho.

— Aé, falando nisso, Peter, Henry e Jack estão vindo pra cá.

E assim, subitamente a conversa mudou para esses dois caras. Pelo que Annabella estava contando, eles eram amigos de infância dela. Iam passar uns dias em Londres também.

Eu apenas continuei a ouvir a conversa e a comer o frango com batatas.

Annabella Starks

No dia seguinte eu acordei num salto. Coisa que não acontece com facilidade.

Eu estava bem ansiosa para ver Henry e Jack. Seria um máximo ter eles comigo.

Fiz minha higiene matinal, tomei café-da-manhã. Joguei videogame e não arrumei meu quarto. O de sempre.

Aproximadamente 11 horas, ouvi a campainha tocar. Corri para atender. Do outro lado da porta, meus 2 patetas estavam parados com malas.

— HEEEY BELL!!!! — Henry gritou e me deu um abraço de urso.

Ele começou a me girar pela sala. Logo atrás veio Jack que bagunçou meu cabelo como ele sempre fazia e me deu um rápido abraço.

— Senti saudades — ele disse.

— Claro que sim — respondi com um sorriso divertido.

Eles apenas reviraram os olhos e entraram na sala.

Logo depois, os meninos apareceram e eles começaram a se apresentar.

Parei para olhá-los. Jack tinha seu cabelo preto como sempre bagunçado. Seus olhos eram dourados totalmente diferente dos de Henry que eram castanhos assim como seu cabelo. Henry era um pouco mais alto e musculoso que Jack. Ambos eram bem bonitos.

Só tenho companhias finas.

— A propósito — disse Jack depois de um tempo — hey Peter, tem problema a gente ficar aqui?

— Hm... Não, por quê?

— É que minha tia louca esqueceu que eu ia visitar ela e ela foi viajar pro México.

Silêncio na sala. Eu não sei se era porquê eles estavam bem chocados ou se era porquê não acreditavam. Eu não duvidava, a tia de Jack era bem louca.

Os meninos logo se instalaram e continuamos a conversar sobre coisas aleatórias. O que estava acontecendo em Cambridge e outras coisas. Eles, assim como eu, frequentavam aquela faculdade, mas Jack fazia Psicologia e Henry fazia Dublagem.

Eles subiram para o quarto e eu fui logo atrás, não calando a boca contando sobre tudo o que tinha acontecido. Não existia segredo entre nós três.

— Hm... Eu percebi que você está bem próxima daquele tal de... Dylan, né? — disse Jack.

Eu assenti com a cabeça e contei o restante da história.

— Então — falou Henry com a boca cheia de biscoitos — você gosta dele?

— É... Bem, eu acho que sim. Faz tempo que eu gosto de alguém, sabe?

Eles riram.

— Bem, realmente. Depois de Austin eu provavelmente também iria demorar pra gostar de alguém de novo — disse Jack. Henry fez um barulho de desgosto como se aprovasse.

Eles, assim como eu, odiavam o cara. Austin namorou comigo durante um ano. Ele vivia esquecendo-se de datas e sempre estava reclamando da família. Um ano depois, quando íamos sair para ver o jogo de Henry – ele fazia parte do time de basquete da escola – eu o peguei com uma menina. Não hesitei em terminar com ele. E até hoje me irrito pelo fato de eu ter chorado por aquele canalha.

Hoje eu estava de boa. Era só pensar nele sendo morto por zumbis ou então mastigado por canibais que eu me acalmava. Progresso.

— Sabe, Annabella — Jack disse com uma expressão de quem está pensando profundamente — eu acho que você está muito em dúvida.

— Como assim? — perguntei confusa.

— A maioria das pessoas sabe quando gostam de alguém — ele disse seriamente — quando realmente gosta de alguém. Talvez o fato de fazer muito tempo que você não tem ninguém esteja meio que nublando seu julgamento.

— O que quer dizer com isso?

— Eu quero dizer que existe uma profunda diferença entre o amar alguém ou o amar alguém como você nos ama, como irmãos, com muito carinho.