And if escrita por Deschain


Capítulo 17
Capítulo 16


Notas iniciais do capítulo

Para compensar a falta de "emoção" do capítulo anterior.



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Capítulo 16

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Ele retirou a espada da bainha, mas não houve qualquer transformação: a arma manteve a aparência velha e enferrujada de sempre. Ignorando esse detalhe, continuou atacando os kumogashiras.

— Kagome, Shippo, saiam daqui agora! Eu vou conseguir dar um jeito neles!

Os demônios-aranhas, percebendo que não conseguiriam aproximar-se do meio-youkai, resolveram lançar ao mesmo tempo jatos brancos de suas bocas, encobrindo-o em uma grossa camada de teia. A garota viu com surpresa parte da teia se desfazer ao entrar em contato com a Tessaiga: embora o corpo de Inuyasha estivesse todo coberto por elas, sua mão continuava intacta enquanto segurava fortemente a espada.

Kagome correu até o meio-Yokai e arrancou de sua mão a arma. A mudança na aparência da espada não tardou a acontecer, mas ela não chegou a esperar, pois assim que agarrou a arma tinha se jogado sobre o grupo de demônios que os cercavam. Eram yokais fracos, talvez um dos mais fracos que tinham encontrado até então, por isso tinha facilidade em acabar com eles; a Tessaiga obviamente contribuía bastante durante o processo.

Era a primeira vez que ela colocava a prova a sua versão da arma. A lâmina era muito afiada e mais leve do que aparentava: o equilíbrio e peso eram ideais para a garota, parecia ser feita especialmente para ela. Não queria admitir, mas estava se divertindo com a luta.

No começo decidiu apenas atrasar os monstros para que Inuyasha conseguisse se libertar, entretanto tinha se entregado durante o combate e esquecera completamente do rapaz. Quando começou a sentir o braço cansado foi que percebeu que tinha abusado demais: os Yokais era fracos, mas estavam em grande quantidade e ela não tinha a estamina que o hanyo possuía.

Olhando para trás, viu que o hanyo continuava lutando contra as teias. Ele já deveria ter se soltado, aquilo ali não era nenhum problema para suas garras, então por que ele ainda estava preso?

— Shippo! – chamou. – Liberte o Inuyasha e corra para fora do templo, eu vou seguir vocês!

O garotinho, que a tudo assistia de um ponto mais afastado, concordou relutante e soltou seu fogo de raposa, desfazendo parte das teias que cobriam Inuyasha, o suficiente, pelo menos, para que ele conseguisse se movimentar.

— Vamos! – Ela gritou, guardando a retaguarda deles enquanto corriam para fora do templo e se embrenhavam na floresta.

Kagome pensou por um momento na garota e no monge, sentindo vontade de voltar e procurá-los, mas sabia que seria suicídio: estava cansada e o hanyo não parecia estar em seu estado normal. Se prometeu que voltaria assim que recuperasse o fôlego e deixou o assunto de lado, preocupando-se em achar um lugar seguro para que pudessem descansar.

Inuyasha corria ao lado de Shippo a sua frente, sem dizer coisa alguma; o único som na floresta era o de suas respirações pesadas.

— Eles não estão mais nos seguindo... – comentou com curiosidade. O que teria feito os yokais pararem de segui-los?

O meio-Yokai desabou ajoelhado e ela correu até ele.

— Maldição... – sussurrou.

— Inuyasha? O que aconteceu?

Estendeu a mão para tocar em seu ombro, mas o hanyo se retraiu.

— Fique quieta! – disse nervoso.

Mais uma vez tentou tocá-lo e dessa vez não parou quando ele tentou se afastar dela. Agarrou parte da teia que ainda o cobria e espantou-se ao ver Darsh ajoelhado no lugar onde deveria estar o companheiro meio humano.

— Vocês têm que se preocupar mais com vocês do que comigo... – murmurou.

Não era Dash afinal, aquele tom de voz era o de Inuyasha, então por que ela continuava vendo o garoto que amava a poucos centímetros dela? Inconsciente do que fazia, levou a mão até o rosto dele, tocando-lhe gentilmente a bochecha e engolindo-o com os olhos. O cabelo continuava do mesmo comprimento, mas agora era negro, não havia sinal das presas ou das orelhinhas no topo da cabeça. E os olhos... Tinha algo diferente neles e não era só a cor negra que assumiram, era como se estivessem mais suaves, mais sensíveis.

— Mais humano... – Ela completou num sussurro.

Percebeu o silêncio anormal ao seu redor e só então se deu conta do que estava fazendo. Inuyasha tinha as bochechas vermelhas, fitava-a fixamente enquanto ela ainda mantinha a mão no seu rosto. O senhor Myoga e Shippo observavam os dois com expectativa.  

— Desculpe – pediu sem jeito, colocando certa distância entre eles. – O que aconteceu?

Ele a encarou por mais um tempo, parecendo avaliá-la. Depois levantou-se, caminhou até uma árvore de tronco grosso e sentou, recostando-se nela.

— Se vocês acham que vão estar protegidos como sempre, estão muito enganados.

— Um meio Yokai, como o senhor Inuyasha, às vezes perde temporariamente todo o poder de Yokai do seu corpo.

O senhor Myoga finalmente apareceu, pulando sobre o ombro de Kagome, tentando explicar a situação.

— Como isso é uma questão de vida ou morte para os meio-Yokais, eles nunca revelam quando isso acontece. Eu não fazia ideia que para o senhor Inuyasha era durante a noite de lua nova... – dizia, observando o céu sem lua. Pulou para o ombro de Inuyasha e, num tom irritado, continuou. – Ora, senhor Inuyasha, mas por que o senhor pelo menos não contou para mim?!

— Se eu tivesse contado você já teria fugido – resmungou.

O senhor parou de pular e virou o rosto ofendido.

— Isso quer dizer que o senhor não confia mesmo em mim?

— E dá pra confiar numa pulga covarde como você? – gritou, perdendo a paciência.

— E em mim, não confia? – Kagome se intrometeu na discussão, irritada. – Depois de tudo, você não pode confiar mais em mim?!

— Sabe que eu não confio em ninguém! – rugiu.

Kagome encolheu-se como se tivesse sido estapeada, fitando em choque Inuyasha. Sua reação não se devia pelas palavras que ele tinha dito, embora a tivessem incomodado, mas sim o olhar e o tom de voz. Era quase como se ele a odiasse.

Inuyasha percebeu que tinha machucado a garota. Virou o rosto para o lado oposto, para que ela não visse o quanto ficava embaraçado ao tentar explicar sua explosão anterior.

— Eu tenho vivido sozinho com esse segredo até agora, você não tem o direito de reclamar...

A garota nada disse. Desviou o olhar e o fixou em Shippo, que tocava uma de suas pernas observando-a com preocupação. Ela sorriu e o apanhou no colo.

— Estou bem, Shippo, não se preocupe.

Ela sentiu o olhar de Inuyasha, provavelmente esperando que ela dissesse o mesmo para ele, mas não conseguiria, não naquele momento. Sabia que não podia ignorá-lo, não queria dar razão para sua falta de confiança nela, então o encarou.

— Me desculpe.

O meio-yokai pareceu aliviado, mas ela não teve tempo de analisá-lo direito, pois a garota Nazuna surgiu de dentro de um arbusto machucada e ofegante.

— Ainda bem que vocês estão salvos... O senhor Osho... Salvem o senhor Osho, por favor! – pediu em sofrimento. – Esse Yokai de vocês é forte, não é? – perguntou diretamente a Kagome, que tinha corrido até a garota para ampará-la quando esta desabou cansada.

Kagome lançou um olhar rápido para Inuyasha e Nazuna finalmente percebeu o problema.

— Mas o que aconteceu com você? – perguntou espantada.

— Eu só me tornei humano temporariamente – resmungou.

— Tudo bem, Nazuna. – Kagome disse docemente chamando a atenção da garota. – Inuyasha é forte o suficiente para protegê-la, mesmo sendo humano.

O hanyo a fitou surpreso, observando a garota levantar.

— Ei, Kagome, como assim protegê-la? Onde você pensa que vai?

Tinha se levantado ao ver Kagome andar até ele. A garota entregou-lhe a Tessaiga.

— Meu arco e flecha estão no templo, junto com os nossos mantimentos. Proteja Nazuna. Shippo? – chamou o garoto. – Você pode ir comigo? – O garoto assentiu, temeroso. – Vou precisar de suas ilusões.

Sentiu Inuyasha agarrá-la pelo pulso quando virou-se.

— Você não vai até lá. – Empurrou a Tessaiga para ela mais uma vez. – Venha, pirralho. – Apanhou Shippo e o levou com ele.

Quando o hanyo finalmente desapareceu entre as árvores ela voltou-se para Nazuna e o senhor Myoga.

— Vamos.

— Mas o Yokai disse... – Nazuna começou.

— Esqueça o que ele disse. – Kagome sorriu, ajudando a garota a se levantar e guiando-a de volta para o templo.

Kagome mantinha a Tessaiga firmemente segura e os ouvidos atentos, mas não houve nenhum problema durante o caminho. Achou aquilo estranho. Toda aquela história era estranha, agora que tinha tempo para pensar. O monge tinha mentido sobre sua barreira espiritual e o templo tinha sido invadido logo depois, mesmo que isso nunca tivesse ocorrido até então. Por que agora? O que de tão valioso teria no templo para que o invadissem apesar dos kumogashiras nunca terem demonstrado interesse? Não era apenas para matá-los, porque se assim o fosse não teriam parado de persegui-los.

Então lembrou-se.

Sentindo o coração falhar, ela levou a mão até a cintura e sentiu o alívio dominá-la. O frasco com os fragmentos estava ali, em seu bolso.

Acelerou os passos, sabendo que estava forçando Nazuna, mas sem realmente se importar. Inuyasha fora resgatar o monge, mas algo dizia que ele não precisava de resgate algum. Se o homem se atrevesse a fazer algum mal a Inuyasha ou Shippo, ela o mataria.

— Kagome, o que há? – O senhor Myoga perguntou, percebendo sua aflição.

— Estou com um mau pressentimento... – sussurrou de volta, para que a garota não a escutasse.

Chegaram ao templo esperando a comitiva de recepção, mas não havia sinal dos kumogashira. Caminharam cuidadosamente até o lugar onde Nazuna dissera ter visto o monge pela última vez antes de ter fugido. Kagome a alertou para que se preparasse pra fugir novamente se algo ocorresse quando lá chegassem, mas até mesmo ela, que já esperava que o tal monge não fosse boa pessoa, assustou-se com o que viu.

A primeira coisa que viram foi o monge, o tal do senhor Osho, flutuando no ar, exatamente no centro do quarto; só registraram sua falta de membros superiores ou inferiores depois. A boca do homem rasgara de um lado ao outro do rosto graças a duas enormes presas que projetavam-se de suas extremidades. O pescoço crescera quase ao ponto de dobrar a altura do seu corpo. Tudo aquilo causara tanta estranheza que elas não se preocuparam com o fato de que o senhor Osho estivesse desafiando a gravidade, isso até que viram Inuyasha.

O meio-Yokai estava preso em grossas camadas de teias que imobilizavam seus braços e suas pernas. Seu corpo era mantido na mesma altura que o monge por fios grossos que se desprendiam desse conjunto de teias e se firmava numa espécie de cúpula. Apesar de seu tamanho monstruoso, foi só nesse momento que ela finalmente "viu" a cúpula e entendeu como o monge "levitava": era mantido no ar pela tal cúpula que tinha como ponto de origem as costas do monstro. Dentro dela estavam Inuyasha e Shippo: o primeiro preso e o segundo ajoelhado no chão, aterrorizado e a ponto de fugir.

Kagome sentiu uma pedra de gelo alojar-se em seu estômago, estava paralisada de medo, as pernas como chumbo a fixavam no chão. Inuyasha não tinha como se defender e o filhote de raposa parecia ser o próximo alvo do demônio. Só voltou a ter controle do corpo quando ouviu a voz de Nazuna ao seu lado.

— Senhor Osho... Por quê?

O filhote de raposa finalmente viu as duas garotas e correu até elas, jogando-se nos braços de Kagome assim que pôde. A colegial sentiu o coração doer, percebendo que se não fosse por Nazuna ela provavelmente teria visto o monstro machucar o menino sem conseguir fazer coisa alguma.

— Kagome! O Inuyasha...! – Shippo apontou para o meio-Yokai que tombava para o lado entre as teias, como um corpo sem vida.

Kagome colocou o menino no chão.

— Fique aqui, tudo bem? Eu já volto.

Correu para a cúpula, mas o monge a avistou e lançou um jato de teias pela boca. Kagome levantou a Tessaiga, ainda na bainha, sem nem pensar no gesto e observou, com alívio, o jato se desfazer antes mesmo de entrar em contato com a arma. Continuou correndo e, com um impulso, pulou para a cúpula, agarrando-se e escalando até onde Inuyasha estava preso.

— Eu injetei bastante veneno nele, logo ele vai começar a derreter de dentro para fora. – O monge ria vendo o esforço da garota para chegar até o hanyo.

— Kagome... Tem que fugir daqui... – Inuyasha sussurrou num fio de voz assim que ela se içou para perto dele.

— Não.

— Sua idiota. Me escute!

— Não, o idiota aqui é você e é você que vai me escutar. – Ela o encarou irritada. – Não vou deixar você. De jeito nenhum.

Ela pulou em direção às teias que o prendiam e as cortou com facilidade. Durante a queda abraçou o hanyo, colando seu corpo ao dele enquanto esperava o impacto. Foi muito pior do que esperava.

A batida contra o chão já seria dolorosa por si só, mas ainda tinha o peso de Inuyasha sobre ela. Por um momento pensou que iria morrer: não conseguia respirar, por mais que forçasse seus pulmões, eles simplesmente não respondiam. Uma dor aguda a cegava, não conseguia enxergar nem mesmo o rosto de Inuyasha que estava ao lado do seu. Sentiu-se ser puxada e então estavam todos num quarto.

Inuyasha respirava com dificuldade, quase inconsiente, Nazuna observava a porta aflita, Shippo e o velho Myoga a encaravam preocupados.

— Eu... Eu estou bem. – Tentou acalmá-los, conseguindo respirar normalmente.

Apontou para a Tessaiga cravada na porta do quarto.

— A espada vai impedir que entrem por enquanto. – O senhor Myoga falou aliviado.

Kagome acariciou a cabeça de Shippo, analisando a criança para ver se tinha se ferido. Ao notar que estava bem, caminhou até Inuyasha e segurou sua mão.

— A mão dele está muito fria... Inuyasha? – chamou, sem ter resposta.

— Eu vou sugar o veneno, não se preocupe.

O velho pulou para o pescoço de Inuyasha parecendo mais feliz do que deveria; pela expressão de deleite no seu rosto ao sugar o sangue de Inuyasha, Kagome já imaginava o porquê. Inuyasha gemeu assim que a pequena pulga afastou-se dele, deitando ao lado de Nazuna e Shippo, que estavam sentados descansando.

— Bom, o resto depende do organismo do senhor Inuyasha.

Kagome observou a aparente melhora no hanyo: respirava com mais facilidade e não parecia estar com tanta dor. A garota ficou ajoelhada ao lado dele, mesmo depois de todos os outros terem se entregado ao sono; ela também estava cansada, mas a preocupação tomara o lugar da adrenalina e não conseguia deixar de se sentir alerta. Em um determinado momento da noite Inuyasha começou a suar bastante, então ela apanhou um lenço no bolso e tentou secar-lhe a testa, mas isso acabou acordando-o.

— Me desculpe, não queria acordá-lo.

Ela puxou o lenço de volta, esperando que ele reclamasse.

— Kagome... Por que você... Por que você disse aquilo? – A voz dele estava fraca.

— Aquilo?

— Que não ia me deixar.

— Porque eu não vou. Me incomoda que você sempre tente me afastar, mas eu não vou. – Ela suspirou e segurou-lhe a mão. – Você pode não confiar em mim, mas isso não muda o fato de que me preocupo e que quero estar ao seu lado.

Ela viu o leve arregalar de olhos de Inuyasha e sorriu. Então ouviu o som de algo se movimentando do lado de fora do quarto. Levantou com a intenção de ir até a porta, tentar ouvir direito, mas viu o rapaz erguer a mão em sua direção.

— Fique.

Tinha a impressão de ter ouvido alguma coisa quebrando naquele momento, conseguiu ouvir com clareza. Ajoelhou-se novamente, segurando-lhe a mão enquanto puxava a cabeça dele para o seu colo. Acariciou os cabelos negros.

— Não se preocupe, ficarei sempre, pelo tempo que desejar.

Se dissesse que não sabia o porquê de dizer aquelas palavras exatamente naquele momento, estaria mentindo. O olhar que ele lhe lançou e o desespero velado em sua voz, quando a viu caminhar para longe, tinham-na lembrado da criança agarrada a bola olhando tristemente para as costas dos adultos. O sentimento de abandono e solidão, sabia, acompanhara o meio-Yokai desde a infância e o forçara a criar uma barreira ao seu redor. Talvez, se não fosse muita prepotência da parte dela, o que ouviu quebrar fora parte dessa barreira; a parte que ele usava com ela.

Inuyasha a observava atentamente, os olhos cada vez mais lúcidos, substituindo o cansaço e moleza que tomara seu corpo junto com o veneno. Ainda digeria o que ela falara tão sinceramente. Kagome viu os olhos dele refletirem tudo o que ele sentia enquanto absorvia o peso das palavras dela e de seus gestos: confusão, medo, alívio e algo mais. Ela decidiu se agarrar ferrenhamente nesse "algo mais", mesmo que fosse um engano da parte dela, porque sabia que era algo que também sentia no momento. Era egoísta afinal.

Com calma, aproximou seu rosto ao dele, permitindo que ele a negasse se assim desejasse, mas ela sabia que ele não o faria, não depois do que disseram. Os olhos dele percorriam-lhe o rosto inquietamente, a expressão fixa em uma mistura de expectativa e curiosidade. Ela deixou-se ficar naquela posição, observando-o enquanto era observada de volta, talvez tentando se convencer que era melhor não fazer aquilo, mas no final acabou colando seus lábios aos dele.

Pelos olhos semicerrados viu-o arregalar os olhos e sentiu-o endurecer o corpo. Por dentro riu com o pensamento de que só Inuyasha mesmo poderia se surpreender com um beijo depois de toda aquela tensão entre eles. Como se não soubesse que era exatamente isso que ela tinha em mente quando aproximou-se dele. Acreditava que ele realmente não sabia; no fundo ele era tão inocente quanto qualquer garoto.

Manteve o lábio pressionado ao dele com delicadeza, a mão esquerda pousada carinhosamente em seu rosto enquanto a direita acariciava sua cabeça. Aos poucos sentiu-o relaxar sobre seu toque, então terminou o toque.

— Abra a boca, sim? – pediu com gentileza.

Apesar de ter visto a confusão e incerteza no olhar dele, quando ela voltou a beijá-lo, Inuyasha fez como ela pediu. Com cuidado, tentando não assustá-lo novamente, passou a língua sobre os lábios entreabertos do hanyo. Percebendo que ele não voltara a se retrair, ela aprofundou o beijo.

Era a primeira vez que beijava alguém daquele modo que não fosse Darsh e sabia que deveria se sentir culpada em algum nível, mas não conseguia. Queria aquilo, provavelmente desde o dia em que vira Inuyasha preso à árvore sagrada; que outro motivo haveria para todas as vezes que o beijara?

A respiração dele batia na bochecha dela fazendo cócegas e aquilo tinha algo de tão doce que acabou quebrando o beijo para rir. Ainda sorria quando esfregou a ponta do nariz no dele.

— Deveria descansar agora.

Inuyasha concordou, mas parecia um pouco decepcionado. Kagome sentiu-se feliz por isso, era bom saber que não era a única a gostar do que tinha acontecido.

— Está melhor?

— Sim. – A resposta dele saiu sonolenta. – Você tem um cheiro muito bom... – sussurrou.

Pouco tempo depois o hanyo dormia e Kagome percebia o problema em que se metera: estava apaixonada por ele.

Ruminava a nova informação quando sentiu a construção tremer. Shippo acordou de supetão, a cauda arrepiada.

— O que é isso?! – gritou assustado.

— Isso é o Osho! – respondeu o senhor Myoga. – E o amo Inuyasha, como está?

— Ainda não está bem.

Assim que Kagome tinha terminado de responder, a Tessaiga caiu no chão e as paredes e o teto do quarto vieram abaixo. A garota só teve tempo de agarrar Shippo e colocá-lo sob si, enquanto se jogava em cima de Inuyasha, de modo a proteger os dois. Então sentiu algo agarrá-la pela cintura e puxá-la.

— Solte a Kagome! – Shippo gritou, vendo o Yokai aranha sacudir Kagome no ar.

— Os fragmentos da jóia! Quero todos!

O frasquinho caiu de seu bolso com a movimentação e assim que o viu, o Yokai aspirou-o pela boca, descartando Kagome de qualquer jeito no processo. A garota caiu pela segunda vez em apenas um dia de uma altura razoavelmente grande, Shippo correu até ela preocupado enquanto Nazuna agarrava a Tessaiga em meio aos escombros e corria em direção ao Yokai.

— Não... – Kagome murmurou para a garota, mas apenas Shippo conseguiu ouvi-la.

— Ei, você! Saia já do corpo do senhor Osho! – Nazuna gritou para o Yokai que já tinha passado pelo processo de transformação ao absorver o poder dos fragmentos.

— Nunca existiu um senhor Osho – disse ele rindo. Se assemelhava ainda mais a uma aranha: o corpo peludo e negro, os olhos vermelhos penetrantes. – Foi tudo um golpe para atrair o meio-Yokai que tinha os fragmentos da Shikon no Tama.

— Então foi você que matou meus pais e as outras pessoas do vilarejo?

— Você me ajudou muito acreditando que o assassino era o seu salvador – disse rindo, em um claro tom de deboche.

— Seu maldito!

Nazuna tentou atacá-lo, mas a espada era apenas uma peça enferrujada e velha. O Yokai a agarrou, assim como tinha agarrado Kagome anteriormente.

— O que aconteceu com o seu medo dos kumogashira? Quando você morrer vai virar um deles.

— Seu cretino... Como fui burra...

O Yokai pressionava o corpo da garota entre as mãos, tirando-lhe toda a força. A Tessaiga era muito pesada para que o corpo fraco conseguisse mantê-la segura, então deixou que caísse; não conseguiria ferir o monstro mesmo que tivesse oportunidade. Antes que a espada chegasse ao chão, Inuyasha a agarrou.

— Até que você é bem corajosa para uma humana.

Assim que o viu, o Yokai aranha soltou a menina e lançou suas garras em direção ao hanyo. Inuyasha não fez qualquer movimento para impedir que fosse pego e isso sobressaltou Kagome, que sem se conter acabou gritando o seu nome.

— Você é um humano agora, não é? – disse o monstro.

— Não tenha tanta certeza disso.

Inuyasha sorria enquanto o sol nascente inundava suas costas com os primeiros raios. A cor de seu cabelo já voltara ao branco.

— Você está voltando ao normal! – gritou o demônio em desespero. – Vou acabar com você antes do sol nascer!         

— Tire todas essas suas mãos sujas de cima de mim! A noite de lua nova terminou!

Com um movimento da espada, Inuyasha cortou todos os braços que ainda o agarravam.

— Agora vou mostrar quem eu sou.

E diante dos olhos assustados do demônio, a Tessaiga se transformou no canino gigante.

— A espada também?!

Kagome quase riu com o comentário do Yokai, vendo Inuyasha lançar-se sobre ele e, com três golpes certeiros, matá-lo. A força dos golpes foi tamanha que todo o templo foi destruído, junto com os kumogashiras.

Ela viu algo brilhar nos escombros e, com um Shippo preocupado agarrado a perna, andou até o lugar para investigar. Achou um pedaço da Shikon no Tama.

— Os fragmentos se fundiram dentro do corpo do Yokai... – comentou enquanto analisa o pequeno pedaço.

— O quê?! Mas nós achamos só isso até agora?! – disse Inuyasha incrédulo.

— Achei bastante... – sussurrou colocando o pedaço dentro do frasquinho e escondendo-o no bolso.

Procurou pela mochila e seu arco e flecha enquanto Nazuna agradecia Inuyasha, sem jeito, por tê-la salvado. Quando voltou para perto do grupo, já com suas coisas, Nazuna tinha oferecido uma canoa para ir até o próximo vilarejo.

Inuyasha evitava olhar para a colegial a todo o custo, mas ela já esperava por isso. À luz da verdade, também não sabia como agir ao lado dele depois do que tinha acontecido durante a noite. Mas quando quase perdeu o equilíbrio enquanto subia na canoa, Inuyasha prontamente a estabilizou, puxando-a para si, antes que a garota caísse no rio. Segurou-lhe a cintura até o barco parar de se movimentar, então a soltou e voltou-se para o lado contrário, olhando fixamente para lugar nenhum, as bochechas rosadas.

— Obrigada.

O agradecimento aprofundou a cor no rosto do meio yokai para tons de vermelho vivo. Kagome segurou o riso.

— Tem uma cidade logo a frente. – Nazuna começou, chamando a atenção dos dois. – Inuyasha... Também existem alguns yokais muito bons... – Ela empurrou a canoa, deixando que o rio a levasse, e voltou para a margem. – Não vou me esquecer disso. Obrigada.

— Bobagem. Pode esquecer. Nenhum yokai é bonzinho. – O hanyo comentou de soslaio, alto o suficiente para a garota ouvir já que a distância entre eles e a margem aumentava.

— Eu nunca vou me esquecer de você - Nazuna gritou como resposta.

Inuyasha bufou e com relutância levantou uma mão, como se dizendo adeus. Kagome observou as costas eretas do meio-yokai, ele estava claramente desconfortável e sem graça, ainda assim... Prontamente tinha a ajudado e, mesmo sem precisar, se despedia de Nazuna, ao seu próprio modo.

— Senhor Myoga...

— Senhorita? – A pulga pulou para o ombro dela, interessado.

— O senhor não acha que o Inuyasha amadureceu bastante esses últimos tempos?

Antes que o idoso pudesse responder a sua pergunta, Inuyasha voltou-se furioso.

— O que é que vocês estão falando?! Tem alguma coisa errada comigo?!

— Acredito que seja apenas impressão sua, Kagome.

A garota concordou com o idoso.

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[Ainda assim...]


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