Rosas de seda escrita por Charlotte


Capítulo 18
Capítulo 18




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Depois de nove vídeos de passo a passo de maquiagem, e umas duas tentativas falhas de passar delineador havia terminado de me arrumar. Vestia um lindo vestido beje com bordados pretos, achei-o ideal por serem cores clássicas e ter um modelo sexy mas nada vulgar, sendo ainda bem elegante. Coloquei meus sapatos, era a última coisa que eu fazia pelo fato de morarmos em um apartamento e o meu chão ser o teto de alguém. Bê estava já pronto vendo alguma coisa aleatória na TV. Ele estava deslumbrante, sapato social, calça social e camisa preta, o perfume dele contaminava o ambiente de um modo inebriante.
—Você está uma deusa!
—Nem chego a seus pés!
Ele me puxou para mais perto e me deu um beijo, calmo e prolongado, o clima era tamanho que podia ouvir uma música romântica em minha cabeça como nos filmes de romance mais clichês.
Ele roçou as bochechas nas minhas e me deu mais um selinho antes de eu notar que uma parte da boca dele estava coberta de um vermelho queimado.
—Vou ter que retocar meu batom, um minuto!! E trago um pouco de demaquilante para você!
Ele pareceu não perceber até ver no espelho, após só piorar a situação tentando tirar esfregando as costas da mão, dei um chumaço de algodão com um líquido que para ele pareceu mágica a facilidade com que a tinta vermelha saiu.
—Como isso faz uma meleca!!
—Você quem foi impaciente e não esperou secar na minha boca!
—Quem mandou ser tão linda!
—Vamos! Não quero que falem que eu te atrasei!-Disse tentando disfarçar que estava vermelha.
—Eu sempre enrolo para aparecer nessas festas, até estarem bêbados não há um assunto interessante.
Não demoramos para chegar, apesar do trânsito. Era uma boate que eu nunca havia ido antes, parecia ser bem animada, pois estava com uma fila até que grande para entrar.
Fui me dirigindo para a fila, porém Bê com destreza e cuidado por causa do meu salto desviou minha rota para ir direto para a entrada.
Ele deu nossos nomes ao segurança e me senti muito importante quando nossa entrada foi autorizada. A boate estava extremamente lotada, fiquei aliviada quando subimos para uma área que imaginei ser a “vip” que estava bem mais vazia.
—Você veio Bê!!!-Disse uma ruiva muito bem vestida e com um copo de bebida na mão que não deveria ser o primeiro. Ela olhou para mim e sorriu-Oi!! Sou Teodora, muito prazer!! Você é a Mel não é?
—Sim! Prazer em conhecê-la também!!
—Vão cumprimentar os outros e depois voltem aqui para nos falarmos mais!!!-Teodora falou preocupada em encontrar alguém no ambiente escuro com luzes inconstantes.
—Você podia ter me dado umas dicas né!!! Falou de mim para elas e não delas para mim? Não tenho ideia de como me portar!!
—Você não precisa de dicas!! Se dá super bem em qualquer ambiente!!
Cumprimentamos mais oito pessoas que achei serem bem simpáticas, assim como Teodora, eles não pareciam me julgar muito, estavam animado por Bê ter vindo, claro que eu via olhares de avaliação dos homens, mas por incrível que parecesse, sentia uma cumplicidade com as mulheres e não a competitividade perversa que eu havia imaginado.
—Não se acanhe por estar entre estranhos, coma e beba à vontade! Dance também!!- Disse a aniversariante a mim, ela tinha lindos olhos azuis e um cabelo degradê em branco de dar um tapa na cara de tanto estilo, fiquei com uma vontade imensa de sair dali e ir direto para um salão pintar meu cabelo igual ao dela.
—Obrigada!- Sem que eu quase percebesse, um amigo de Bê o chamou para ir à rodinha que estavam só os homens, ele me deu um beijo nos cabelos e me olhou dizendo “confie em você!”.
Que legal, pensei de modo irônico, minha única proteção achava que eu não precisava dele. A aniversariante, que eu não havia guardado o nome, me olhava como se agora eu quem devesse puxar a conversa. Falei do único assunto que parecia existir na minha vida, fora Bê.
—Você está cursando faculdade?
—Sim, engenharia química, e você?
—Estou no cursinho- Disse com uma dor no coração que só quem já passou pelo limbo entre escola e faculdade entende- presto Med
—Que legal!! Que drink você quer? Pego para você!
—Algo fraco por favor, não sou acostumada a beber muito!
Ela puxou-me para uma roda em que estavam as meninas e saiu em busca do meu drink
—E então? Como você conheceu o Bê?
—Cursinho- Disse quase gritando devido a música alta
—Você não começou a beber ainda?-Disse uma das meninas para mim, já não lembrava o nome quase de nenhuma
Nesse momento a aniversariante surgiu ao meo lado me dando um drink azul que de tão lindo não me fazia querer bebê-lo.
—Obrigada!!
A bebida estava fraca, assim como eu havia pedido, conversamos e as meninas faziam questão de não me deixar de fora, elas pareciam não se importar de não me conhecerem direito quando falavam umas histórias pessoais. Fiquei bem entretida, porém uma hora percebi que fazia muito tempo mesmo que não via Bê e resolvi dar uma andada para o procurar.
Era péssimo procurar alguém ali, a área vip também acabou lotando e a luz precária me fazia ter um campo de visão bem reduzido.
A maioria das pessoas ali já estavam bem bêbados, o que atrasava meu percurso, pois a todo momento tinha que fugir de investidas ou levava uma batizada de alguma bebida de pessoas que esbarravam em mim. Resolvi aproveitar que estava perto e ir para o banheiro. Odiava banheiro de bares, porém preferia eles do que os de balada, havia papel higiênico e bebida por todo o chão, achava que os modos seriam melhores na área vip, mas quando bêbados não existem etiquetas que contenham, todos viram os mesmos extravagantes e desengonçados. Mal via a hora de sair daquele cômodo claustrofóbico, porém vi que tinha que retocar o batom, fiz o máximo que pude tendo em vista o espelho super ensebado em minha frente. Olhei para minha imagem e comecei a me sentir incomodada por estar ali, estava com uma sensação ruim, saí antes que me perdesse totalmente nos pensamentos.
Vi uma porta que dava para um ambiente aberto e decidi que precisava tomar um ar. Mal cheguei à grade da pequena varanda e me senti em uma chaminé, o ar que deveria ajudar a me acalmar estava totalmente sob domínio dos fumantes. Tentei achar alguma brecha, mas a fumaça contaminava tudo, desisti do ar puro e me virei para voltar para dentro, passando por uma pessoa agachada no chão que eu achei familiar.
—Bê??-Disse agachando-me e tentando virar o rosto dele para mim.
—Estou bem-Disse ele parecendo um pouco chapado e colocando sua mão sobre a minha.
—O que aconteceu?
—Estou bem- Disse e começou a rir se divertindo, depois pareceu olhar para o nada e ficar incomodado
—Bê?? Você está sob efeito de álcool ou drogas??
—Álcool é uma droga- Ele ria novamente.
Ok, Bê estava tão alterado que provavelmente erraria seu nome, olhava para a situação e não entendia como ele podia se deixar a levar a esse ponto, não que ele não pudesse curtir sem se preocupar, mas ele não parecia ser disso.
—Bê, vamos para o sofá aqui ao lado, venha, eu te ajudo a levantar- Abracei-o e o puxei para cima, ele desequilibrava muito e eu não era a melhor base com os saltos que calçava, por sorte o sofá era a poucos passos dali e estava com pouca gente, em estado tão ruim quanto o meu namorado.
—Eu deixo você me carregar também, até uma cama!!-Disse um bêbado sentado no sofá.
—Bê, eu vou buscar água para você, fique aqui!!
Fui buscar água e na volta encontrei um dos amigos de Bê e expliquei a situação.
Retornando, agora com apoio, fiquei feliz que o bêbado de antes não estava mais lá. Entreguei a água a Bê que demorou a entender que não era apenas para ele segurar e sim beber.
—Acho melhor você levá-lo para casa, ele ficou bem mal mesmo.
—Você me ajudaria a levá-lo para um táxi?
—Claro!
O amigo de Bê apesar de um pouco alto também mantinha a compostura, ele me acompanhou na despedida de todos, que não se surpreendiam ao ver Bê naquele estado. Fiquei brava por ter que no fim bancar a sociável sozinha, porém mesmo sendo este, foi bom ver um lado de Bê que eu não conhecia.
Descobri que o amigo do Bê se chamava Nathan prestando atenção quando os outros dirigiam a palavra a ele enquanto eu me despedia. Ele era bem bonito, mas também parecia um pouco arrogante.
Ele me ajudou a por Bê no táxi, e fui agradecer e me despedir dele:
—Não precisa agradecer, de certa forma sou parte culpado, era o mínimo que eu podia fazer!
—Parte culpado? Então sabe porque ele ficou assim?
—Sim, é uma história antiga que pegamos no pé dele, infelizmente, ele não se recuperou pelo visto.
—Que história é essa?
—Infelizmente não deve ser eu a contar a você, não seria muito adequado de minha parte.- Disse ele inquieto, sua postura mostrava desconforto e desviava o olhar tentando evitar a conversa.
—Mas se deixou ele nesse estado, é algo que o perturba, ele anda estranho ultimamente, talvez...-Agora eu era quem estava desconfortável, o que iria dizer era muito profundo para ser dito a um estranho- eu quero poder ajudá-lo!
Nathan me avaliou, pensou um pouco e por fim disse:
—Imagino que o que você está dizendo tem algo a ver com o péssimo sono dele, isso é algo em respeito à família dele, houve uma situação trágica que atormenta o subconsciente dele e se manifesta nos sonhos. Não é o mesmo problema que o atormentou hoje, apesar de eu achar que talvez as duas coisas juntas o fizeram usar a bebida como válvula de escape.
—Se você sabe que aquilo que você não quer me contar o atormenta, porque você então insistiu em falar disso para ele, ou seja lá o que você fez?
—Por que você parece uma boa pessoa
Fiquei atônica. Tentava ligar as coisas que ele disse, a primeiro momento pareceu uma resposta totalmente fora do contexto. Depois comecei a relembrar da conversa e ligando aos poucos as peças. Antes que eu tivesse alguma chance de reação Nathan se despediu e fugiu de mim quase correndo em direção à boate.
Bê tinha um problema, ou melhor, dois. Um deles é um trauma, imagino que de infância, o outro ele teve que levar um sermão, porque sou boa pessoa.
Eles me acharam uma garota legal, então tiveram que falar de um assunto incômodo ao Bê. Incômodo por que? Medo? Talvez culpa?...
Em toda a confusão que estava minha mente, uma lembrança veio à tona, uma mensagem no meu celular: “viva esse falso conto de fadas enquanto dura”.
Respirei fundo, olhei para Bê dormindo no banco do Táxi. Havia um total estranho do meu lado, eu deveria temer algo?


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