Rosas de seda escrita por Charlotte


Capítulo 17
Capítulo 17




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A diferença foi nítida quando Bê acordou, era incrível como ele dormia bem ao meu lado. Gostaria de pensar que eu era quem o fazia ter uma boa noite de sono, mas sabia que se fosse qualquer outra pessoa com quem ele se sentisse bem, dormindo com ele no meu lugar, não teria nenhuma diferença.
E acho que ele percebeu que dormir com outra pessoa do lado o acalmava, pois logo falou:
—Sério!! O que você faz?? Me dopa, me hipnotiza? Não é coincidência as duas melhores noites de sono que eu tive nos últimos tempos serem com você! Existe uma alma gêmea de sono? Por que você é a minha!!
Fiquei vermelha com o comentário e o entusiasmo dele.
—Sinto informar, mas é segredo meu o que faço com você durante a noite!
—Olha, seja lá o que esta fazendo, tem toda minha aprovação para continuar!!
—Tudo bem, mas vamos falar algo serio agora...Por que você tem tido pesadelos de forma tão freqüente?
Ele começou a ficar desconfortável e um pouco surpreso. Havia acabado de tomar banho e estava com uma blusa branca de manga comprida e gola em “V” e uma calça jeans preta. Estávamos tomando café na cozinha, sentados na mesa. Ele soprou o seu café e hesitou em falar.
—Não sei, não quero te aborrecer com nada, esqueça isso, estou bem melhor hoje!
Fiz uma expressão de desaprovação e continuei a tomar meu café, estava bem preocupada agora, se fosse algo a toa ele não teria problemas em contar. Por que ele não se abre comigo? Será que ainda não confia em mim ou ele é assim mesmo? Eu não sou de me abrir muito também, será que devo me expressar mais para que ele se sinta a vontade de se expressar também?
Senti-me reprimida, pensei subitamente que a causa dele não falar seus problemas a mim é não termos intimidade suficiente um com outro. Será que ele só se aproximava de mim pelo contrato que fizemos, ou ele tinha algum sentimento, mesmo que mínimo, por mim?
Uma vertigem tomou conta de mim, após ter tal pensamento. E se acabasse tudo sendo uma farsa? Estou me apaixonando por ele, mas não sei se ele está só tentando e atuando ou se está sendo por vontade própria cada ação e gesto carinhoso que dirige a mim.
Fui trazida de volta à realidade por uma mão em meu ombro, Bê estava em pé ao meu lado, na posição em que estava, não via seus olhos. Não estava com seu ar pervertido de sempre ao me tocar, estava sério, como se tivesse lido todos os meus pensamentos e tentasse me transmitir alguma calma. “Tudo vai dar certo” era o sentimento que o toque dele transmitia a mim.
Não diria que ficamos muito tempo nessa cena, mas senti como se fossem longas horas, a insegurança havia ido embora. Senti-me acolhida, em casa. Mesmo que tudo até agora fosse uma atuação, iria aceitar meus sentimentos e lutar para estar ao lado de Bê a cada instante. Iria conquistar o amor dele.
Ele sentou em minha frente para tomarmos café, ele estava vendo as mensagens no celular, quando uma chamou a atenção dele.
—Parece que teremos uma festa para ir esse fim de semana!-Disse ele de um modo que não sabia identificar se era animação, indiferença ou irritação.
—Festa?
—Sim, você me acompanharia? Até porque, quero te apresentar à meus colegas.
Achei estranho ele usar a palavra “colegas” ao invés de “amigos”. Era só uma casualidade ou será que realmente Bê não possuía amigos próximos?
—Claro, espero não te fazer passar vergonha, sabe que sou um pouco socialmente desajeitada.
—O que está falando, você se deu super bem com os meus pais!!
—Mas eles tinham um interesse por trás né, queriam que eu aceitasse o casamento, agora com seus colegas, não faço ideia de como será.
—hahahaha, fique tranquila, seja você mesma e não leve nada para o pessoal, eles são um tanto...
Fiquei imaginando varias palavras assustadoras para aquela frase que ficou sem fim, “mesquinhos”, “arrogantes”, “cruéis”, “sádicos”. Que legal, pensei com ironia, pelo menos já me prepararia para o pior.
—Onde será essa festa, e como eu devo me vestir?
—Pelo que vejo aqui será em uma boate, quanto a roupa, acho que algo para a boate mesmo, não sei definir isso a você.
—Bom, só de saber que é em uma boate ajuda.
—Será nossa primeira festa juntos- Ele voltou a seu ar malicioso.-Vamos acabar bêbados na mesma cama!
Revirei os olhos falando que por mim isso não iria querer dizer nada.
A tarde sai com Bê para ver um vestido, ele ia aproveitar para comprar um presente para a aniversariante.
Não demoramos muito, insisti que já que fim de semana sairíamos, queria pegar firme estudando a noite.
De volta ao apartamento jantei quase que engolindo a comida e fui direto aos livros. Não sai da frente dele até o momento que as letras não faziam mais sentido juntas. Parei e fiquei um tempo olhando para a parede, depois para as fotografias. Não tinha forças para levantar da cadeira e ir tomar um banho. Me peguei pensando em Bê novamente, não haviam muitas fotografias em seu quarto. Não lembrava de nada muito pessoal dele exposto, o oposto de mim, era possível me ler inteira ao entrar no meu quarto. Fiquei com uma enorme vontade de revirar as coisas dele, estava sendo tomada pela curiosidade de uma criança.
—Está rindo sozinha? Aposto que está pensando em mim!
Quase pulei da cadeira com o susto que levei, Bê estava parado na soleira da porta com uma xícara e um prato com sanduíches.
—Nada convencido você!- Tentei disfarçar, contudo acho que o rubor em meu rosto me entregou.
Ele com todo aquele jeito convencido colocou ao meu lado o que carregava nas mãos.
—Será o melhor que vai comer em toda sua vida!
—Não gosto de peito de peru- Disse torcendo o nariz após analizar o sanduíche. Ele congelou meio sem reação, continuei quando achei que a punição havia sido boa- Estou brincando, mas sua cara foi ótima!!
—Então, para evitar erros futuros, diga-me o que gosta e o que não?
—hum...vejamos...-Disse entre uma mastigada e outra do sanduíche que estava um pouco lotado demais de requeijão- Gosto de salame, queijo, muito queijo, ah, frios no geral eu gosto, de refeição... mais fácil pensar no que eu não gosto, não sou fã de nada agridoce, e tenho certos problemas com salsinha e abóbora, é difícil listar tudo! E você??
—Bom...confesso que sou bem fraco com pimenta, e não consigo comer nenhum tipo de carne crua, nuggets para mim é uma das coisas mais nojentas, e sou super fã de coisas gordurosas e doces.
—Tirando o nuggets o que você falou sairia muito bem da boca de uma criança!!
Ele fez uma careta idiota para mim é eu ri muito.
Terminei o lanche que ele trouxe para mim e fui tomar banho, quando voltei Bê já estava instalado na minha cama.
—Que folga é essa? Nem pediu permissão!!
—Eu já sei que você sendo a pessoa mais linda e legal desse mundo não vai me despachar para o lugar frio e vazio que é meu quarto!
—Fazer o que né, sou mesmo linda e legal para te despachar!
—E pervertida!
—Esse é você!!- Deitei na cama com ele, ficamos deitados de frente um para o outro, infelizmente hoje ele estava descansado da última boa noite de sono, então estava com energia para ficar me encarando, primeiramente fiquei muito sem graça, entretanto...comecei a ser levada por aqueles olhos, eles me hipnotizaram totalmente. Só conseguia vê-lo, todo o resto do quarto estava desfocado, ele me olhava com a mesma concentração que eu também o olhava, era como se estivéssemos criando ali um outro tipo de comunicação, quando vi minha mão percorria o braço dele, ele se mantinha imóvel, nossas defesas se enfraqueciam. Minhas mãos subiram para o ombro, pescoço, mandíbula. Percorri o contorno do rosto dele com as pontas dos dedos, ele fechou os olhos nesse momento, em transe.
Subitamente, enquanto eu ainda estava dominada por um feitiço, ele simplesmente acordou me deu um beijo rápido de boa noite e se virou, como se lembrasse de algo super importante para fazer amanhã e tivesse que dormir o mais rápido possível.
Fiquei sem entender, não deixando de achar um pouco cômico. Achei melhor respeitar tal reação estranha e tentar fazer todo o calor do meu corpo se dissipar. Vi através dos olhos de Bê que havia algo real ali, se era amor não sei, mas percebi que poderia acalmar minhas tormentas por um tempo.


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