As quatro fadas caminhavam em silêncio pelos campos musicais, ali costumava ser o local favorito de Musa no reino de Melody, ela dizia que cada pedra colorida daquela estrada tinha um som e que juntos formavam uma linda canção, a canção do coração, mas que agora havia se perdido, isso aconteceu antes da guerra, antes dos elfos, aconteceu de repente e quando se deram conta, já haviam deixado de ouvir a canção que tanto alegrava seu coração.

— Onde pode estar a chave? – Stella pergunta olhando para os lados, Melody havia virado um reino fantasma, não havia elfos ali, eles eram sensíveis a música, mas os habitantes dali viviam com medo suficiente para se trancarem em suas casas e evitarem sair.

— A dica diz que a chave pinta nossas almas com cores, para o grito que aquece a melodia do coração e grava a voz interior – Musa diz pensativa, fazendo Flora e Tecna se olharem confusas, que tipo de dica era aquela? Todas as outras haviam sido simples, diretas, porque só a de Melody pedia licença para a poesia e complicava suas vidas? – eu também não entendi muito bem, mas tem algo a ver com a canção do coração, eu só lembro a melodia, era linda, falava de amor de uma forma profunda e mágica.

— Violetta – Stella diz de repente e todas olham para ela como se ela fosse louca – pensem, a canção do coração é uma música de amor, quem melhor que a fada do amor para saber sobre isso?

Valia a pena tentar certo? Por isso Stella usou o comunicador de Tecna para ligar para Violetta que logo atendeu e surgiu por meio de um holograma.

— Olá meninas – Violetta diz sorridente, logo dando espaço para Leon.

— Como estão as buscas? – Flora pergunta curiosa.

— Limpamos o caminho de Lynphea, lutamos com uns vinte elfos, mas estamos prontos para irmos em busca das fadas – Leon conta e a fada da natureza assente – do que precisam?

— A canção do coração – Stella fala apresada – Musa só conhece a melodia, mas não a letra, e precisamos saber qual é, será ela que nos guiará por esses ladrilhos – Stella aponta e os dois viram o rosto para ver as pedras coloridas.

— Eu não sei sobre a canção do coração, desculpa meninas – Violetta diz meio triste – queria poder ajudar mais.

— Não acredito – a voz de Clarissa é ouvida e logo a castanha surge ao lado de Violetta – Vilu, foi Leon quem a compôs.

— O que? – Violetta parecia surpresa e Clarissa olha para Leon com deboche.

— Não mostrou a ela? – Clarissa pergunta indignada e o amigo nega – mais é um tapado mesmo – Clarissa olha para as meninas – Musa, a melodia, vamos lá, toque-a.

Musa franze o cenho, mas logo faz aparecer um piano mágico, ele era guiado por magia e as outras três se sentaram no banco junto a azulada, logo eles seriam encaminhados ao local exato da chave.

— Leon – Clarissa chama e o loiro apenas assente, começando a cantar.

Não sou um pássaro para voar, não sei pintar um quadro, não sou poeta, escultor, apenas sou o que sou.

Violetta arregalou os olhos surpresa, ela conhecia aquela música, dos sonhos dela, e mais uma vez, ali estavam eles, conectados com a magia mais linda que podiam evocar, a magia do amor.

Não sei ler as estrelas, não posso te dar a lua, não sou o céu, nem o sol, apenas sou.

O piano começou a ser guiado pela magia, em cada um dos ladrilhos, e Musa já não precisava mais toca-lo, pois a canção já era reproduzida sozinha.

Mas existem coisas que eu sei, venha aqui e te mostrarei, consigo ver nos seus olhos, você é capaz, tente imaginar.

E como em um passe de mágica, as pessoas começaram a sair de suas casas, admirando a canção, recuperando para si e para seu reino, a magia que lhe foi tomada a força, a mesma magia que iluminava aquele lugar.

Podemos pintar a alma com cores, podemos gritar, sim, podemos voar sem ter asas, ser a letra da minha música e me gravar na sua voz.

As quatro foram guiadas até as portas do castelo, que se abriram para ela e brilhou com uma figura bonita, uma fada da música.

— Galatea? – Musa chama chorosa, vendo a imagem da irmã – você...

— Eu defendi os nossos portões, eu defendi o nosso reino e utilizei aquilo que tinha de mais forte para combatê-los – a loira diz com lágrima nos olhos – me perdoe minha irmã, mas eu não podia deixar o nosso povo à mercê daquelas criaturas.

— Você está perdoada princesa – um camponês disse se curvando perante ela e olhando para Musa – obrigada por trazer a nossa canção de volta Rainha Musa.

Musa apenas sorriu, se sentia feliz por finalmente encontrar os seus, feliz por tudo estar voltando aos eixos e aquilo lhe deu forças para continuar. E foi por isso que a chave apareceu em seu pescoço, brilhante, melódica e bonita.

— Volte para cá, iremos recuperar Lynphea e encontrar as fadas lendárias – Clarissa diz e as outras apenas assentem.

Musa se despediu da irmã, que agora era uma guardiã dos portões de Melody, prometeu prosperidade aos seus súditos e partiu, eles precisavam finalizar de uma vez aquela missão, só assim podiam prosperar.

As quatro desceram no solo de Solaria e Musa foi a primeira a correr em busca de algo, aquilo que seu coração gritava.

Não sou o sol que se põe no mar, não sei de nada do que vai acontecer, não sou um príncipe encantado, apenas sou.

Ela freou os pés ao ver o ruivo conversando com a loira, os dois pareciam estar discutindo estratégias importantes.

— Riven – ela chama incerta e ele a olha confuso.

Mas existem coisas que eu sei, venha aqui e te mostrarei, consigo ver nos seus olhos, você é capaz, tente imaginar.

— Eu te amo.

O sorriso que brotou no rosto dele foi confuso, mas definitivamente era um sorriso positivo, ele parecia surpreso por ouvir aquilo.

Podemos pintar a alma com cores, podemos gritar, sim, podemos voar sem ter asas, ser a letra da minha música.

— Musa, o que está havendo? – Riven pergunta finalmente.

— Não temos tempo para nada, nem sabemos se estaremos vivos amanhã, mas eu quero garantir que independente do que nos aconteça, que você saiba que você foi a melhor coisa que me aconteceu – Musa diz firme e Ice dá um empurrãozinho no ruivo para ele andar, fazendo-o caminhar até Musa e a abraçar com força – nos conhecemos, e tivemos os nossos momentos, mas eu tive medo de você não gostar de mim dessa forma e por isso preferi que ficássemos escondidos, mas eu não posso mais, eu preciso deixar claro o quão importante você é para mim, o quanto...

E Riven a calou com um beijo.

Não foi o destino, nem a sorte que chegou para mim, nós imaginamos isso, e a magia te trouxe até aqui.