Traidores Interativa escrita por Absolute Beginners


Capítulo 7
Katherine Wood - A dor enlouquece e é azul


Notas iniciais do capítulo

Postando rapidinho, porque tenho que ir. Não tenho muitas coisas para dizer, além de desculpe por ter deixado vocês com um capítulo à menos ontem. Acho que este é grande o bastante para fazer vocês conseguirem me perdoar. Beijos e espero que possam me dar sua opinião do que acharam. Até depois e Sayonara.



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O controle da tevê caiu de minhas mãos, atingindo o chão em um barulho alto. Uma sensação de queimação atiçava a parte de trás dos meus olhos e demorou alguns segundos para eu perceber que havia pequenos gotículas amargas escorrendo pelo meu rosto.

Eu não caí no chão. Não havia dor no meu coração, nem pensamentos tristes em meu cérebro. Tudo estava letárgico. Como se eu fosse uma máquina que alguém colocava em Espera. Observando ao seu redor, guardando as dores, mas não sentindo. Apática a queimação do fogo ao meu redor.

Onde papai está? Cadê ele? Ele sempre vêm quando eu estou com medo...mas ele não está aqui. O que era mesmo que aquela jovem mulher estava falando na televisão?

Pensamentos incoerentes assombravam minha mente. Sempre haviam me dito que eu era inteligente demais para a idade, percebia com facilidade a escuridão do mundo. Entendia bem as dores e sofrimentos que acontecem normalmente com as pessoas. Eu era uma criança com a mente de uma idosa, era o que sempre diziam.

Eles estavam errados, percebi enquanto na televisão cenas dos restos de um avião passavam. Completamente errados. Porque se eu fosse mesmo uma idosa, eu saberia dizer o que estava acontecendo. Eu entenderia e talvez, até mesmo conseguisse aceitar. Mas, eu não era alguém que conhecia a vida. Eu vivia neste mundo por apenas sete anos e não importa o quão bem eu entendia a teoria, na prática eu era iniciante.

Finalmente minhas pernas cederam, as palavras do noticiário da manhã finalmente entrando em meu cérebro. Pequenos pedaços de vidro entraram na minha pele descoberta, sangue manchando o vestido branco que eu vestia. Não percebi e nem senti aquilo. Tinha lugares mais importantes sangrando naquele momento.

Eu não aceito, murmurei para mim mesma. Uma mantra de mentiras que me protegeria da mesma maneira que o cobertor espantava os monstros. Apenas uma mentira, mas que diminuía as lágrimas de uma criança. Eu não aceito, porque não é verdade. Ele está bem. É uma mentira. Papai sempre disse que o povo da televisão mentia. Era uma mentira, uma cruel e sádica mentira...

Lágrimas e sangue se misturava. Era uma mistura que eu conhecia. Uma imagem de três anos atrás brilhava em minha mente. Naquele dia havia as mesmas gotas rubras e transparentes que tinha agora. Eu havia sido machucada por alguns meninos do maternal e estava triste. Meu pai havia enfaixado meu ferimento e limpado minhas lágrimas fora. Ele me deu sorvete depois que terminou e brincamos no parque a tarde toda. Eu nunca lembrei da dor que senti naquele dia, porque ele havia espantado ela.

Mas, agora ele não estava aqui. Meu pai não viria limpar o sangue e as lágrimas. Ele não sorriria daquela maneira que enrugava seus olhos e fazia seus dentes brilharem. Pelo que eu sabia dos livros na biblioteca, cadáveres não sorriam. Mortos não se mexiam... Nem tiravam suas filhas pequenas da dor.

O pensamento enviou bile para minha garganta e eu me curvei livrando-me de tudo que tinha comido no café da manhã. Morto. Ele estava morto. Tia Lilian disse que os cadáveres se decompõem com facilidade. O dele havia queimado, era o que dizia a jornalista. Ele não iria se decompor, nem viraria comida de larvas...Curvei sobre o vidro, tossindo violentamente. Percebi meus pensamentos e quase sorri. Fazia apenas dez minutos que eu havia descoberto sobre o incidente e já tinha uma nova descoberta para a ciência: Crianças enlouqueciam tão facilmente pela dor quanto adultos.

Passos foram ouvidos descendo a escada. Uma risada poderosa soando pelo ar. Fiz uma careta e olhei para a sala. Aquele deveria ser meu tio - Onde ele estava este tempo todo?

Seu corpo tremia pelos risos quando apareceu. Ele olhou para o meu corpo - pequeno, frágil, curvado no tapete branco, sobre sangue, lágrimas e vômito - e começou a gargalhar mais ainda. Seus passos para perto de mim eram como o caminhar da morte. Por que de repente eu sentia como se eu devesse ter percebido que meu tio tinha a aparência de um demônio? Ou talvez apenas da própria morte.

Ele se curvou para mim e me puxou pelos cabelos. Fiz uma careta e tentei perguntar o que ele estava fazendo, mas um olhar para o seu rosto me parou. Seus olhos castanhos já não possuíam o calor ou o amor, eles nem era mais da mesma cor. Não. Agora, eles era escuros, frios, cruéis e impassíveis. Azuis eletrizantes tão sádicos e mortais quanto... uma tempestade de raios.

– Katherine, minha querida. Espero que esteja preparada para os piores momentos de sua vida. Vou ter fazer pagar por ter este sangue maldito. - então ele sorriu loucamente e puxou-me para perto dele. - Você vai desejar morrer.

Engoli em seco e por algum motivo desejei a escuridão. Só a noite e as trevas para me salvarem do azul brilhante que me prendia.


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