A garota que me olhava no espelho, fez uma careta. Ela tinha cabelos castanhos e olhos verdes. Seu rosto tinha traços delicados e belos. Qualquer outra pessoa diria que ela é perfeita. Quem olhasse aceitaria que ela é bela. Por fora, não por dentro.

Virei-me contra o espelho. Quem se importava com o que os outros pensavam do meu caráter? Eu era bonita. Tinha mais beleza do que qualquer outra pessoa da minha idade e de mulheres mais velhas do que eu. Era uma modelo - As pessoas não viam como era por dentro, quando eu sorria para a câmera.

"Idiota. Você acha que pode ser melhor que alguém?! Não importa quanta beleza tem, isso não poderá apagar o quão podre é por dentro."

Peguei a primeira coisa que vi pela frente- uma escova - e a joguei com força. Ela bateu na parede, antes de cair no chão em um som oco. A voz de Marine ressoava em minha cabeça. Ela era apenas uma garota do meu colégio- antes minha amiga, mas agora ninguém importante. - Marine não gostava de mim, inveja eu presumo. Afinal, ela era uma garota tão sem graça e mal vestida. Eu era alguém melhor do que ela. Devia ser por isso que o namorado dela preferiu a mim.

"Amor? Como alguém poderia te amar?! As pessoas chegam para você por sua beleza e não tenho dúvida, se apaixonam. Mas, Nicole, você entende de amor, não é? Ser apaixonada por alguém e amar uma pessoa, são coisas completamente diferentes."

Sim, eu entendia de amor. Melhor do que ninguém, se me perguntasse. E, por mais que eu odiasse admitir, a dor que sentia em meu peito só me confirmava minhas dúvidas. As pessoas apenas se apaixonavam por mim. Não amavam. Nunca ficavam muito tempo. Nunca se importavam como deviam.

Sentei-me na minha grande cama, os olhos passando por meu quarto. Era grande, luxuoso e belo. Mas era vazio. Como tudo que te segue, sussurrou uma voz em minha cabeça. Minha única companhia constante. Sempre lá para apontar os defeitos e falhas que eu cometia. Se fosse uma pessoa, ela seria terrivelmente bonita e usaria vermelho, que combinaria com seu sorriso sádico manchado de sangue.

Uma risada saiu de meus lábios. Oh, Meu Deus. Eu parecia uma daquelas personagens bobas de livros românticos. Talvez agora aparece um príncipe, prometendo matar os monstros e exorcizar os demônios, para finalmente provar que eu não era tão ruim assim por dentro. Minha risada aumentou agora para uma gargalhada. Sim, oh, muito provável.

O relógio marcava três da tarde. Me levantei da cama e passei as mãos no corpo e cabelo, os arrumando. Uma sessão de fotos me esperavam em quarenta minutos. Caminhei até o espelho. Os passos eram hesitante, mas eu nunca admitiria isso, nem para mim mesma.

A garota no espelho agora sorriu, fofa e bela. Suas mãos foram para a cintura e ela se inclinou em uma pose, conhecida para fotos. Perfeita, incrível, magnífica e bela. Não havia o que temer todas a amariam, gostariam de ficar com ela para sempre e diriam que ela é a melhor. Alguns sentiriam inveja, mas isto era apenas para esconder seu grande respeito. Sim, não havia dúvidas. Nicole, a garota do espelho, era como... uma deusa.

Fechei meus olhos em apreciamento e vire-me indo embora. Não há problemas, a perfeição estava ao meu lado. Mesmo que aquela cruel voz, ainda sussurrasse em minha mente.

Uma deusa? Você não é como uma deusa, porque alguém que tenha tudo como elas, não tem que mentir para si mesma. Fechando os olhos para não ver sua alma tão podre por dentro? Impossível, querida. Você é e sempre será apenas como todas as outras. Sorrisos belos, almas negras e eternamente sozinhas. Qual é o gosto da solidão, minha doce Nicole?