O príncipe, a cientista e o plebeu escrita por Vanessa Sakata


Capítulo 30
Depois da explosão, a decepção




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Bulma estava de volta à prancheta de desenho depois de muito tempo. A última vez que estivera sentada diante dela fora há meses. O que estivera desenhando antes?

Ah, sim, o novo uniforme de Vegeta...

E era por causa do saiyajin que estava ali de novo, e para fazer dois projetos desta vez. Um, de curto prazo, para recuperar e aperfeiçoar o computador central da Cápsula 3 bem como os dispositivos que regulam a gravidade dentro dela, além de procurar descobrir um modo de aumentar a resistência aos impactos do treinamento que estava cada vez mais puxado. O outro projeto, a médio-longo prazo, dependia muito do primeiro, principalmente no quesito resistência.

Enquanto começava a fazer cálculos e a dar os primeiros rabiscos, pensava se a última manutenção seria forte o suficiente para resistir aos treinos de Vegeta e para adiantar o primeiro projeto.

“Já vi que esses projetos, sim, é que vão ser o meu maior desafio...”, pensou enquanto batia levemente a lapiseira na mesa.

Levantou-se e foi até o armário, onde encontrou o projeto original da Cápsula 3, feito por seu pai. Para poder pensar mesmo nas melhorias a serem feitas, teria que estudar esse projeto original primeiro. Aproveitou e pegou também a régua “T”, os dois esquadros, além do compasso e do escalímetro*. E por último, mas não menos importante, a sua calculadora científica.

Inevitavelmente olhou para a janela e nessa hora ouviu um forte estrondo que fez tudo estremecer fortemente e ela quase se desequilibrar com o material que tinha em mãos. Já angustiada com o que poderia ter acontecido, saiu correndo para fora e deu de cara com muita fumaça e pó, que a fizeram tossir convulsivamente. Lembrou-se de imediato da primeira vez em que isso aconteceu, coisa de mais ou menos um ano atrás.

Bulma já previa o pior. Chegava a imaginar que Vegeta estivesse mais uma vez entre os escombros, cheio de ferimentos e teimando em se levantar. O Sr. e a Sra. Briefs já estavam lá, também devido ao forte estrondo.

― Oh... Será que o pobre Vegeta se feriu?

― Não dá pra saber, querida... – respondeu o cientista. – Ainda tem muita poeira por aqui.

Logo se ouviu o som de alguém tossindo feito louco e um vulto surgir em meio à fumaça que já estava se dissipando.

― Maldição...! – era a voz de Vegeta, que estava com o uniforme um pouco danificado. – Pensei que essa porcaria de nave fosse suportar mais tempo!

Bulma estava muda. Todas as suas previsões estavam completamente erradas. Ele estava inteiro, em pé e quase ileso a não ser por alguns hematomas e arranhões superficiais típicos de seus treinamentos, além do uniforme que estava com alguns rasgos.

― Você... – Bulma balbuciou ao se recuperar do choque. – Você não se feriu com essa explosão?

O saiyajin sentiu gosto de terra na boca e cuspiu para o lado.

― Esqueceu que não me machuco à toa?

Assim que a fumaça desapareceu, foi possível visualizar a nave parcialmente destruída. A cientista logo ficou desolada com tal visão.

― Ah não, Vegeta... Você deixou a nave ainda pior do que estava...!

― Então conserta. Amanhã quero fazer mais uma sessão de treino.

Bulma logo ficou muda. Seu rosto começou a ficar vermelho escarlate, mas não era de outra coisa a não ser muita raiva!

Foi quando ela explodiu e agarrou-o pela gola alta do collant azul:

― VOCÊ É LESADO, OU O QUÊ? É IMPOSSÍVEL FAZER ISSO DA NOITE PARA O DIA, VEGETA!! SERÁ QUE OS TREINOS ANDAM AFETANDO O SEU CÉREBRO??

― Você que é a “cientista genial” aqui. – disse o saiyajin, fazendo aspas com os dedos em “cientista genial”. – Se vira, você não é quadrada!

Logo que disse isso, foi para dentro da casa como se nada tivesse acontecido. Deixava no quintal um casal Briefs pasmado e uma Bulma aparentemente desolada, embora quase espumando de raiva.

Sentiu alguém tocar-lhe o ombro.

― Não se preocupe, filha... Minhas férias já começaram e vou ter mais tempo pra te ajudar nos dois projetos.

A cientista suspirou após ouvir o pai. Ele voltou a comentar:

― E o Vegeta realmente se fortaleceu muito. Saiu praticamente ileso, diferente da primeira vez que a nave explodiu.

Ela arregalou os olhos ao ouvir esse comentário. Seu pai estava certo, Vegeta estava mesmo mais forte. Dava para se perceber, não só pelo o que acabara de ocorrer, mas também prestou mais atenção no saiyajin, que se dirigia rumo à porta da casa.

Percebeu que não era só a resistência física que estava mais aprimorada. O corpo dele havia mudado também, ela notou.

 

*

 

“Não é o bastante.”

Chegou ao seu quarto e se desfez das luvas e da armadura, tão empoeiradas como o restante de seu traje de luta. Apesar de sair ileso da nave, estava bastante cansado. Havia dado o seu máximo nessa última sessão.

“Não é o bastante.”

Tirou as botas também e deixou escapar um suspiro igualmente extenuado. Precisava relaxar, tinha que descansar para o dia seguinte.

“Não é o bastante.”

Já no banheiro, abriu a ducha que jorrava água morna. Deixou aquela água cair por cima de seu corpo por alguns segundos, sem mover sequer um músculo de seu corpo. Mas não conseguia relaxar de todo. Seu corpo estava mais relaxado, mas sua mente, não. Algo martelava sua cabeça sem parar.

“Não é o bastante.”

Fechou a ducha e passou a olhar para o espelho, fitando longamente seu próprio reflexo.

Comparado ao início de seu treinamento na Terra, seu poder de luta havia aumentado muito. Era infinitamente superior ao poder que possuía naquele tempo. O último acontecimento era a melhor prova disso, já que, diferentemente da primeira explosão da nave, saíra quase ileso da segunda explosão.

Realmente estava mais forte, mas...

“Não é o bastante.”

... Mas não conseguia nem ao menos sentir que estava próximo de se transformar em um Super Saiyajin.

Era decepcionante. A pior sensação que poderia ter era justamente a decepção. A decepção de treinar e treinar sem parar, sem chegar ao seu objetivo máximo. Nunca conseguia alcançar a sua transformação por mais que tentasse.

Ainda fitando sua própria imagem desiludida no espelho, Vegeta suspirou.

― Não é o bastante... – murmurou. – Nunca é o bastante...! Maldição! O que ainda tenho que fazer pra poder me transformar em Super Saiyajin e superar Kakarotto? Por que tudo é mais difícil pra mim enquanto aquele débil mental ganha tudo de bandeja? Isso é tão... Tão humilhante para mim!

 

*

 

― “Se vira, você não é quadrada!”... – Bulma repetiu revoltada as palavras de Vegeta. – Você acha que tudo é tão fácil, não é mesmo?

Ela começou a se lembrar com mais calma da cena no quintal. Ao fazê-lo, logo percebeu que a cara que ele fazia naquele momento não era a carranca habitual. Não, não era seu mau humor costumeiro. Era decepção. Parecia muito com a decepção que ela tivera quando vira a nave parcialmente destruída. Até então jurava que a explosão fora por uma possível transformação em Super Saiyajin. Agora tinha certeza de que isso não havia ocorrido.

Se tivesse ocorrido, a essa altura Vegeta estaria se gabando e até mesmo falando em uma revanche contra Goku. Ele estaria insuportável de tão confiante. Não foi o que aconteceu. Ele até havia tentado ser sarcástico, mas Bulma notou que fora uma tentativa inútil. Ela o conhecia o suficiente para saber que ele estava decepcionado.

E não era pouco.

“É, nem tudo é tão fácil...”, refletiu. “Há coisas muito mais difíceis do que consertar uma nave danificada.”

 

*

 

Mais uma vez seu orgulho fora duramente golpeado. Fora mais um duro golpe para sua coleção de fracassos. Desta vez estava extremamente decepcionado consigo mesmo. Como não estaria depois de meses treinando com afinco, chegando até a obsessão e à exaustão e, no fim das contas, descobrir que tudo o que havia feito até então não era o bastante para chegar ao seu objetivo?

Como não se decepcionaria consigo mesmo depois de tudo isso?

Sentia-se a vergonha de seu sangue real, de sua família e até mesmo de toda a sua raça. Era vergonhoso para ele o fato de seu poder de luta continuar inferior ao poder de um “terceira classe”. Era realmente humilhante. Perguntou-se por várias vezes a razão de ele ainda não conseguir a tão desejada transformação em Super Saiyajin. A resposta era sempre a mesma: “Não é o bastante.” Nada do que fizera até então era o bastante para isso.

Agora lhe parecia um sonho tão distante, mas tão distante, que parecia impossível de se alcançar.

E a possibilidade de ver, de camarote, Kakarotto derrotar os tais androides parecia aumentar cada vez mais. Sentado sobre a balaustrada da sacada do quarto, seu olhar estava muito distante. Suspirou ainda desanimado.

― O que ainda me falta para poder me transformar em um Super Saiyajin? – perguntou-se. – Será possível que nunca vou alcançar esse poder?

― Não se você não tentar de novo, Vegeta.

O saiyajin olhou para trás, de onde vinha aquela voz inconfundível.

― Você...? O que está fazendo aqui?


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Notas finais do capítulo

*Escalímetro: tipo de régua usada em desenho técnico, para fazer projetos em escala, convertendo-se algumas medidas.

Bom, como eu prometi, este capítulo tá beeeeeeeeem melhor do que o anterior...

Logo, sai o próximo capítulo, ok? É que ele tá me dando mais trabalho pra escrever... Depois eu explico o porquê.

Um abraço a todos e até a próxima!



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