O príncipe, a cientista e o plebeu escrita por Vanessa Sakata


Capítulo 31
O desabafo de Vegeta




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― O que está fazendo aqui?

Nenhuma resposta imediata à pergunta do saiyajin.

― Vamos, desembucha! – ele insistiu já impaciente. – O que você quer aqui? Não percebeu que quero ficar sozinho? Está me incomodando!

― Você está parecendo uma criança emburrada, Vegeta. – Bulma observou.

― E você está me enchendo o saco.

― Não estou não! – a cientista protestou. – Vim ver se você precisava de alguma coisa.

― Não. Não preciso de nada, nem de ouvir a sua voz.

― Ah, para de bancar o birrento, Vegeta! Como você mesmo fala, isso não é atitude de um guerreiro saiyajin!

― Vai cuidar da sua vida. – ele disse sem alterar a voz. – Não preciso de ninguém enchendo meus ouvidos com sermão!

Ela revirou os olhos azuis. Já era de se prever que ele agiria como um garoto pirracento. Ele realmente não estava lá muito disposto a conversar com alguém, mas isso não a faria desistir de articular alguma conversa decente.

― Eu sei mais ou menos como você se sente. – ela disse.

― Até parece.

― Tudo bem, eu não sei lutar, mas... Já me aconteceu de estar muito decepcionada comigo mesma.

― Porque não se maquiou direito? – Vegeta perguntou com sarcasmo.

Sentindo-se ofendida com aquele deboche, Bulma logo acertou um tapa no rosto do saiyajin, que obviamente ficou surpreso com sua atitude.

― Deixa de ser infantil, Vegeta! Cresce de novo! Eu tô falando de coisa séria e você fica falando asneiras com esse seu sarcasmo irritante! Depois diz que Goku é retardado e imaturo!

Ele ficou completamente mudo, apesar de indignado. Depois desse tapa e dessa bronca, pareceu acordar e perceber que estava agindo como um pirralho emburrado qualquer. Onde já se viu... Um adulto na faixa dos trinta anos de idade e agindo como um menino birrento!

Percebeu que estava mesmo fazendo papel de ridículo.

― O tempo passa e eu não consigo nem mesmo sentir que estou perto da transformação em Super Saiyajin, se é isso o que quer saber.

― Então você acha que ainda está longe disso? – a cientista perguntou mais calma.

― Talvez sim, talvez não. Nem eu sei. Apenas sinto que continuo ficando para trás... – cerrou os punhos. – Como sempre.

― Deve ser uma sensação horrível...

― Você não está na minha pele pra saber. O que você pode entender de ter uma decepção por acaso?

― Por acaso já se sentiu inútil alguma vez?

De imediato, recordou-se de sua agonia nas mãos de Freeza em Namekusei, à beira da morte e chegando a implorar para que seu arquirrival o derrotasse porque ele não fora capaz de tal feito. Nunca em toda a sua vida havia se sentido tão... Tão... Inútil. Aquelas cenas de horror sempre voltavam à sua mente de forma furtiva, mas com força suficiente para incomodá-lo.

― Já. – ele respondeu mordendo o lábio inferior. – Uma vez.

― Bom, eu já me senti assim em várias.

― Você só pode estar brincando.

― Estou falando sério. Isso sempre acontece quando tem luta no meio. Sabe o que é a gente ter vontade de ajudar um amigo ferido e não poder fazer nada? Não precisa responder... Mas isso me faz sentir bastante inútil, porque sou uma pessoa que não tem grandes poderes ou habilidades em artes marciais. Eu, uma mera humana comum, me sinto assim quando as coisas envolvem algo do tipo... É uma sensação muito ruim.

O saiyajin refletia sobre essas palavras. Não estaria ele “reclamando de barriga cheia”?

Provavelmente sim.

― Ainda não consigo entender como idiotas como o Kakarotto conseguem se dar tão bem... – confessou. – Isso ainda não entra na minha cabeça.

Bulma agora tentava entender o lado do saiyajin. Esquecia por um momento a amizade com Goku para analisar imparcialmente o que Vegeta acabava de dizer. Analisando friamente, como uma cientista, ela percebia que a vida para ele parecia mesmo injusta.

― E você pensa em desistir assim de tudo? – ela indagou.

Ele não respondeu. Estava imerso em seus próprios pensamentos.

― Vegeta – ela disse. – Eu te conheço o suficiente pra saber que você não é do tipo que desiste de algo tão facilmente.

― Descobriu isso sozinha ou teve ajuda?

“Calma, Bulma... Não se enfeza de novo com o sarcasmo dele... Relaxa...”

― Por que está falando isso pra mim? – perguntou o saiyajin já sem parte de seu sarcasmo.

― Porque você está bem mais forte do que antes. Não é preciso ser um guerreiro pra perceber isso. – sorriu.

― O que quer dizer com isso?

― Você se lembra da primeira vez que a nave explodiu? Você aguentou a explosão mas ficou muito ferido. Nem se aguentava de pé e logo desmaiou.

― É... – ele cruzou os braços e disse pensativo. – Eu me lembro. E daí?

― Será que você ainda não percebeu? Hoje a nave explodiu e você saiu de lá andando e praticamente sem nenhum arranhão!

É claro! Estava tão decepcionado por ainda não ter mudado a aparência para a de Super Saiyajin, que nem se dera conta do tamanho da sua evolução durante o seu treinamento. Era óbvio que, diante disso, a transformação em Super Saiyajin passava a ser mera questão de tempo! Quanto tempo? Não sabia, mas se não tentasse não descobriria até onde seria capaz de chegar.

Um sorriso se desenhou em seu rosto. A conversa com Bulma lhe fizera bem. Mais uma vez tinha aquela sensação diferente. Não só no seu coração, mas agora tomava conta de seu corpo. Sentia uma vontade imensa de... Não, não acreditava nisso... Sentia vontade de agarrá-la e tê-la só para si. Estaria ficando louco? Dentro de si, tudo estava envolvido num violento turbilhão de sensações e sentimentos até então desconhecidos ou desprezados por ele. A violência era tamanha que não conseguiu se controlar:

― O que... O que é isso...? – sua voz refletia uma rara insegurança enquanto seus olhos negros buscavam respostas nos olhos azuis da mulher à sua frente. – O que é isso que estou sentindo toda vez que te vejo ou estou perto de você...?

― Hã? – Bulma fora pega de surpresa com a mudança brusca de assunto.

― Eu não vou repetir... Aposto que você sabe do que estou falando. Você é terráquea, sabe dessas coisas bobas de terráqueos!

― Hm... Se você explicar o que quer dizer com isso, posso tentar responder à sua pergunta.

― Explicar...? Eu...? – Vegeta ficou desconcertado.

― Tudo bem, então... Se você não quiser explicar – Bulma disse com um tom brincalhão. – Fica com isso te incomodando pelo resto da sua vida.

Ele sentiu um gelo correr pela sua espinha e aquele enorme frio na barriga. Tudo isso, sem contar que começava a suar frio. “Eu não acredito nisso! Pareço um idiota agindo desse jeito...!”, pensou, enquanto engolia em seco. “Pareço um desses terráqueos patéticos que ela vê na televisão...” Mordeu o lábio inferior ainda pensativo. Aquele monte de sensações nele ainda continuava a deixá-lo bastante desorientado.

Mas, explicar...? Explicar o que, se nem ele sabia ao certo o que acontecia consigo mesmo?

Bulma estava ansiosa para ouvi-lo e o encorajou:

― Vamos, Vegeta! Pode falar!

O silêncio tomou conta do local mais uma vez.

“Vegeta...”, ela pensou. “Por que você tem tanta dificuldade em se abrir?”

― Eu... – a voz do saiyajin ainda soava um tanto insegura e surgia um rubor em seu rosto. – Eu não sei o que acontece comigo desde que passei a ficar aqui... Antes daquela tal festa eu já não gostava de ver aquele verme com você. E depois que eu soube que ele te largou, eu simplesmente queria matá-lo... Desde aquele dia já comecei a me sentir meio estranho.

― “Meio estranho”?

― É. Comecei a me sentir assim. E eu não aguentava te ver derrotada do jeito que estava. E depois... Aconteceu... Eu abri a guarda e você... Me beijou... Depois eu fiquei confuso e saí voando... Não sabia onde estava com a cabeça.

O saiyajin olhava para o horizonte à sua frente, mas sabia muito bem que Bulma estava logo atrás dele. Respirou fundo, o coração continuava acelerado. Mesmo assim, prosseguiu:

― Depois, quando você resolveu me encher com aquela história de tirar as medidas do novo uniforme, não sei como eu consegui me controlar... Mas ainda não consigo entender mesmo por que não matei aquele seu ex-namorado idiota, quando apareceu pra encher a paciência no meio da madrugada... A partir disso foi cada vez mais difícil de manter o foco no meu treinamento... Muito mais difícil.

Mais uma vez houve um breve silêncio da parte de Vegeta. Começava a se sentir um pouco mais leve com esse desabafo, apesar de ainda se sentir desconfortável. Tornou a tomar ar e continuou a falar:

― E... Naquele dia... Naquele dia que aquele verme fez com que você se machucasse, eu fiquei à beira de um ataque de nervos e quase destruí tudo ao meu redor. Depois disso você sabe o resto... Já que a doida da sua mãe te contou, mas... Fiquei mesmo sem ação quando você me disse... Que me amava. Fiquei mesmo sem saber o que fazer, tanto é que mais uma vez eu treinei como um louco até me ferir, e não tirava você da minha cabeça. Por mais que eu tentasse... Eu não conseguia te tirar da cabeça.

A cientista nem ousava interrompê-lo. Principalment, porque parecia sem reação com tudo o que ele dizia e revelava; coisa que ela achava que seria impossível.

― Eu... – prosseguiu. – Eu não sei o que está acontecendo comigo, mas... Cada vez mais me sinto prestes a cometer uma loucura... E isso acontece quando você está por perto... E quando isso acontece... Nunca sei o que fazer. E às vezes não consigo controlar os meus impulsos.

Virou-se para ela, que já estava dentro do quarto. Encarou-a com ar cansado, parecia que o simples ato de fazer aquele desabafo havia lhe drenado todas as suas energias. Por fim, perguntou:

― Por que, Bulma...? Por que não consigo ter ódio de você, mesmo te achando irritante e insolente? Por que não consigo odiar você?

Ela se aproximou dele e sussurrou em seu ouvido:

― Porque, querendo ou não, você gosta de mim... E eu, de você... E você sabe disso muito bem.

Os dois começaram a se beijar e logo aprofundaram o beijo. Mas...

― Bulma, filhinha! – a Sra. Briefs abria a porta do quarto de supetão, flagrando os dois no maior agarra-agarra. – Ah, que bom que te encontrei aí com o bonitão do Vegeta... Oh, que lindo casal vocês formam! – exclamou.

A cara da cientista faltava cair de vergonha enquanto o saiyajin, após dar um facepalm, passava desolado a mão pelo rosto, não acreditando que a loira maluca estava interrompendo o seu “bem-bão”... O seu “momento de garanhão pegador”.

― Ah... – a mãe de Bulma retomou. – Eu só vim avisar pra você que o seu pai e eu já estamos saindo para uma confraternização da empresa. Mesmo com as férias, ele quis ir e eu vou junto. Boa noite e se cuidem!

A Sra. Briefs dirigiu uma piscadela marota ao casal e fechou a porta, deixando os dois “pombinhos” como estátuas. Bulma logo resolveu sair também. Sua mãe havia acabado com todo o clima. No entanto, algo a segurava pelo pulso. Algo, não, alguém...

― Ah, Vegeta, o que você quer agora?

― Nada. – ele respondeu de imediato. – Só você.

Ela ficou atônita, não conseguiu articular nenhuma palavra, apenas:

― O quê?

― Desta vez quero terminar o que começamos.

Foi quando ela captou a mensagem:

― Sério?

A resposta foi mais um beijo de ambos, que fez com que voltasse o clima que estavam tendo antes da interrupção brusca feita pela Sra. Briefs. Beijos, amassos, agarrões e tudo mais voltaram a ocorrer, agora com muito mais intensidade. Desta vez não iriam parar tão cedo. Principalmente porque peças de roupa começaram a voar e cair no chão.

Aquela noite prometia ser bem agitada.


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Notas finais do capítulo

Ufa... Finalmente, consegui postar este capítulo!

Este foi um dos que mais me deu trabalho pra escrever, principalmente em se tratando de tomar muito cuidado com a personalidade de Vegeta. Ele não é o tipo de personagem que expõe com facilidade o que sente, na verdade ele deixa tudo guardado em si, pensando ser apenas fraqueza. E o príncipe saiyajin acaba exigindo mais cautela, pra não cair nos extremos, dependendo da situação: nem muito rude, nem meloso. Mas acho que consegui equilibar a personalidade dele neste capítulo...

Vocês perceberam o que rolou no final, não é? Bom, agora, o que pode ter acontecido, aí vocês ficam à vontade pra imaginar as cenas... hm... "calientes"... Infelizmente, a fic não vai ter hentai, mas é porque quero manter a classificação para +13, em respeito a quem já está acompanhando a história, e pode não gostar muito de uma mudança brusca no ritmo e no estilo. Mas fiquem à vontade pra imaginar, ok?

Ah, e comentem à vontade... Espero que tenham gostado deste capítulo, apesar de tudo!