Fragmentos de Lembranças escrita por Yume Celestia


Capítulo 8
Ela quer te conhecer


Notas iniciais do capítulo

Olá, como vai você? Espero que bem. Boa leitura, e espero que gostem do capítulo (:



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Novamente, acordei gritando, desesperado e suando frio. Isso geralmente acontecia quando eu estava sofrendo com os ataques devido ao estresse pôs-traumático que adquiri. Tia Luíza e Caroline apareceram em meu quarto logo em seguida, certamente porque acordaram com meus gritos. Minha camisa estava completamente suada, assim como meu cabelo, que estava grudando em minha pele. Minha respiração estava acelerada e eu sentia muita dificuldade para respirar.

– O que aconteceu, Eric? - Tia Luíza perguntou ao entrar em meu quarto.

– Não se preocupe, acho que foi apenas um pesadelo. - Falei tentando acalma-la.

– Tem certeza? Isso está me parecendo outro ataque.

– Não, foi apenas um pesadelo.

– Então conte-me, o que atormentou seu sonhos? - Ela perguntou sentando-se à cama.

– Não lembro. É como um apagão. - Expliquei.

– Eric, estou preocupada com você. Ao amanhecer vou marcar outra consulta com a doutora Eduarda.

– Não precisa, tia. Eu juro, foi só um pesadelo. - Tentei convence-la. Eu não queria voltar de jeito nenhum a ter que frequentar o psicologo novamente.

– Não importa, vou marcar e você vai queria ou não. - Ela disse assumindo seu tom autoritário.

Despertei às onze da manhã, depois de ter acordado de madrugada não consegui voltar a dormir, e quando finalmente adormeci, já passavam das cinco da manhã. Tia Luíza e Caroline estavam no sofá assistindo à um programa de culinária quando desci as escadas procurando o que comer. Ignorei o fato de ter visto as duas ali, e dei passos lentos até a cozinha. Café frio, torradas e um único pedaço de bolo, foi tudo que encontrei sobre a mesa. Desta vez, preferi tomar achocolatado ao invés de café. É detestável tomar café frio, eu precisava ver a fumaça saindo da xícara.

– Eric, está se sentindo melhor? - Tia Luíza perguntou entrando na cozinha, enquanto eu despejava o leite em um copo. Apenas assenti com a cabeça, continuando a despejar o leite no copo.

– Falei com a doutora Eduarda, ela tem um horário vago amanha às duas e quinze.

– Que ótimo. - Ironizei revirando os olhos.

A tarde do dia seguinte estava perfeita para apenas caminhar sob a sombra das árvores ouvindo o canto dos pássaros. Infelizmente, eu não estava caminhando, e sim indo ao consultório da psicologa Eduarda, que ficou responsável pelo meu trauma e analisou minhas emoções durante seis meses. Durante os primeiros meses, eu detestava ir ao psicologo e as coisas só pioraram quando ganhei novos apelidos no colégio. Mas depois do quarto mês, eu percebi que eu precisava me abrir com alguém, e que não haveria ninguém mais perfeito pra compreender o que eu sentia do que alguém que estudou a mente humana. Apesar disso, consultar um psicologo não era um dos meus hobbies favoritos, e continuei insistindo que nada me faria superar a trágica morte de meus pais.

A sala de espera do consultório, era preenchida por pessoas mentalmente perturbadas, e eu era uma dessas pessoas. Geralmente, a consulta durava o tempo que a pessoa em questão determinava, julgando de acordo com suas necessidades. Tia Luíza, na época sempre determinava que deveriam durar pelo menos meia hora, já que eu não gostava de me abrir com a psicologa Eduarda.

– Eric Portinatt? - A assistente chamou. Levantei-me da cadeira e dei passos longos até a porta onde eu iria me encontrar novamente com a doutora Eduarda. Entrei na sala, e como de costume, me confortei sobre o divã de cor branca. Eduarda segurava em suas mãos uma prancheta e uma caneta, a fim de anotar o que ela deduz sobre a consulta.

– Luíza disse que você voltou a ter ataques, isso é verdade, Eric? - Ela perguntou depois de perceber que eu não iria dar a primeira palavra.

– Eu já disse à ela que foi apenas um pesadelo. Você sabe, ela é exagerada.

– Ela disse que você acordou gritando e suando.

– Bem, isso é verdade, mas não significa que tenha sido um ataque.

– Certo. Então conte-me sobre o tal pesadelo.

– Eu não sei se tia Luíza chegou a comentar, mas eu disse que não me lembro, foi como um apagão.

– Interessante. E tem algo mais que deseja me contar? - Ela perguntou batendo em um certo ritmo sua caneta na prancheta.

– Sim. Eu acho essa consulta desnecessária. Eu já superei, estou aceitando.

– O que te fez mudar de ideia, já que em nossa última consulta você insistia em dizer que nada te faria superar? - Ela tentou arrancar de mim a verdade de forma amigável.

– Conheci uma garota. - Respondi seco.

– E essa garota te fez superar?

– Sim, quer dizer, não exatamente. Ela também perdeu os pais de forma trágica e acabou falando que meus pais estão em algum lugar do céu observando meus passos e que querem me ver feliz. E isso meio que me fez enxergar que eu já passou da hora de aceitar que meus pais estão mortos.

– Isso é ótimo para sua saúde mental. Se apaixonar é ótimo. - Ela concluiu.

– Eu não diria que estou apaixonado, mas ela faz com que eu me sinta bem, e eu gosto disso.

– Fico muito feliz em saber disso, Eric. Você não tem ideia do quão prazeroso é ver um paciente superando seus traumas. - Ela disse entusiasmada.

Ela conseguiu, fez o que sempre fazia. De alguma forma ela me fez conversar com ela, e quando notei, o meu horário já tinha acabado. É, ela tem vocação.

– Eu adoraria conversar mais sobre essa garota, mas está na hora de atender outro paciente. - Ela disse, fazendo com que eu me levantasse do divã que eu repousava.

– Saiba que essa é a última vez que você me vê em seu consultório. - Falei expressando certeza. - A gente se esbarra na rua, Eduarda. - Eu disse saindo pela porta. - Que assim seja, Eric. - Ela disse antes que eu me afastasse por completo.

Voltando para casa, não senti vontade de fumar, como eu sempre sentia. Era uma sensação ótima. A única coisa que eu sentia era vontade de ver o rosto angelical de Anabell novamente, de ver seus olhos claros e seu cabelo ruivo.

Em casa, tia Luíza insistia em fazer perguntas intermináveis sobre a consulta. Será que ela não sabe que tudo que se diz no consultório, fica no consultório?

– Sobre o ataque que não foi um ataque, e sim um pesadelo aleatório. E sobre uma garota que me fez enxergar que eu tenho uma vida para viver. - Falei depois de tanta insistência.

– Uma garota? Quem é essa garota? - Ela questionava curiosa.

– Não me diga que essa garota é a Anabell? - Caroline se intrometeu perguntando.

– Sim, é a Anabell. - Declarei orgulhoso.

– Anabell? É sua namorada, querido? - Tia Luíza perguntou.

– Não tia, ela é apenas uma amiga.

– E o que acha de traze-la aqui para eu conhece-la? - Ela sugeriu.

– Não sei se é um boa ideia..

– Vamos, querido. Eu preparo um almoço, prometo que não vou te envergonhar, e faço seu prato favorito. - Ela insistiu.

– Tudo bem. - Disse vencido.

Ao anoitecer, pra ser mais exato, ás oito horas da noite, depois de hesitar, decidi ligar para Anabell e convida-la para almoçar em minha casa, como tia Luíza sugeriu.

– Alô? - A voz doce dela atendeu.

– Anabell? - Perguntei procurando ter certeza.

– Sim?

– É, eu só queria perguntar se você aceita almoçar com minha família amanha..

– Almoçar? Sim eu adoraria. - Ela respondeu de imediato.

– Ótimo. Você sabe o caminho ou prefere que eu te busque em algum lugar?

– Não precisa, tenho certeza de que Sebastian decorou o caminho aquela noite.

– Certo, então até amanha.

– Até. - Ela disse, em seguida desligando o celular.

Ansioso para o almoço no dia seguinte, não consegui dormir, a insônia me domava fazendo com que eu perambulasse o quarto sem saber o que fazer. Estava nervoso e preocupado com o que ela iria achar de Tia Luíza, e se Caroline faria perguntas que a constrangeria. Se ela notaria que minha casa é tão minuscula comparada á sua, e coisas do tipo.

Caroline me acordou com um empurrão, o que fez com que eu caísse da cama.

– ESTÁ FICANDO LOUCA? - Gritei indignado levantando-me do chão. As cortinas estavam abertas, permitindo que a luz atravessasse os vidros da janela. Meus olhos estavam pesados e com dificuldade para se manterem abertos. Eu pude ouvir o canto dos pássaros de fora, e as risadas das crianças felizes que certamente brincavam na calçada da rua.

– Me desculpa. - Ela disse tentando não rir. - Estou tentando te acordar mas parecia que você estava morto, ou era esse empurrão ou aguá fria. Já passam das onze horas, Anabell vai chegar logo logo, precisamos de ajuda na cozinha.

– Oh, é verdade. Anabell vem almoçar aqui. - Falei recordando instantaneamente. A insônia fez com que eu dormisse tarde.

Tomei um banho rápido e coloquei a roupa mais agradável que encontrei, descendo as pressas para ajuda-las na cozinha. Ao chegar onde desejava, me deparei com uma bagunça. Haviam legumes, verduras, frutas, massas, tudo estava espalhado pela mesa. Tia Luíza parecia estar nervosa sem saber que fazer, e posso dizer o mesmo a respeito de Caroline, as duas pareciam nunca ter cozinhado antes.

– O que aconteceu aqui? - Perguntei ao ver aquela bagunça.

– Não sabemos o que fazer, de que tipo de comida ela gosta? - Tia Luíza perguntou desesperada, caçando com seus olhos algo que à chamasse atenção.

– Pra ser sincero, eu não sei. Prepara o que você sabe de melhor. - Exclamei. - Enquanto isso, vou tentar organizar um pouco essa bagunça. - Falei recolhendo as coisas que julguei não necessárias no almoço, perguntando para Tia Luíza o que ela usaria e o que ela deixaria de usar.

Minutos depois, a campainha tocou e meu coração gelou, aposto que o de Caroline e Tia Luíza também, não havia quase nada preparado. Corri para atender, e era quem esperávamos. Anabell usava um vestido florido de cor azul e sapatilhas que lembravam o tom do azul de seu vestido. Seu cabelo estava preso em um trança um tanto frouxa, e seu rosto estampado com seu belo sorriso.

– Eu disse que ele decorou o caminho. - Ela disse sorrindo.

– Vantagens de se ter um mordomo. - Eu disse sorrindo de volta. - Entre por favor. - Falei dando espaço para sua entrada.

Levei-a até a cozinha, onde ela deparou com a mesma bagunça de antes, só que um pouco melhorada. Caroline mexia uma das panelas, enquanto Tia Luíza limpava sua mão suja de farinha em seu avental dando passos apressados em direção à Anabell

– É um prazer conhece-la, Anabell. - Tia Luíza declarou estendendo sua mão.

– O prazer é todo meu. - Ela apertou a mão de tia Luíza como cumprimento.

– Sinto muito pela bagunça, estamos um pouco atrasados. Se quiser pode ir assistir um filme com Eric enquanto preparamos o almoço.

– Se quiser, posso ajudar a preparar algo. - Anabell disse.

– Seria ótimo. - Tia Luíza exclamou contente.

Caroline e tia Luíza preparavam o almoço, enquanto eu e Anabell preparávamos a sobremesa. Ela parecia ser experiente, preparava a massa do bolo sem ajuda de receita, acrescentava a quantidade perfeita dos ingredientes, e tudo parecia estar ficando apetitoso. Anabell picou os morangos em pequenos pedaços e os jogou na massa de cor rosada que preparou com suas próprias mãos. Despejou a massa em uma forma, e aqueceu o forno à cento e vinte graus.

– Você parece saber bem como preparar bolo de morango. - Tia Luíza disse à Anabell.

– Aprendi algumas coisas com meu mordomo Sebastian e com o antigo cozinheiro da família, George. Eu costumava ficar na cozinha enquanto ele preparava doces, e acabei decorando.

– O que mais sabe fazer na cozinha, querida? - Tia Luíza perguntou enquanto despejava a macarronada que fez em uma travessa de vidro.

– Além das sobremesas, sei prepara alguns pratos típicos de Londres.

– Agora sei que meu querido sobrinho está em boas mãos. - Tia Luíza declarou contente.

Os pratos estavam prontos, assim como o bolo que Anabell preparou. Os quatro assentos da mesa estavam preenchidos, e a mesa ocupada pela culinária de Tia Luíza. Caroline foi a primeira a se servir, seguido por Tia Luíza, e só depois que vi Anabell colocando o garfo em sua boca e saboreando sua panqueca eu pude me servir também. Todos pareciam estar gostando, inclusive Anabell, o que me acomodava muito. Uma vez ou outra, Tia Luíza fazia perguntas para Anabell, todas das quais eu já sabia a resposta, como de onde ela veio, e porque ela veio pra cá, e acabou tocando no assunto que eu temia que ela tocasse: os pais dela.

– E seus pais, querida? - Tia Luíza perguntou levando com a ajuda de um garfo um pedaço do bolo que Anabell preparou.

– Eles morreram há três anos. - Ela respondeu séria.

– Sinto muito. - Tia Luíza disse parecendo se arrepender de ter feito a pergunta. - Eu não sabia.. - Ela continuou constrangida.

– Não precisa se preocupar, não teria como você saber. - Ela sorriu amarelo, voltando a comer de seu bolo.

Um silêncio extremamente constrangedor parecia não ter fim, ninguém disse mais nenhuma palavra. Dava para ouvir a respiração de todos, e o barulho que o garfo fazia quanto tocava o prato de porcelana.

Caroline levantou-se da mesa, recolhendo os pratos e copos vazios e colocando-os na mesa, mas o silêncio ainda permanecia.

– Não precisa fazer isso, filha. Pode deixar que eu lavo a louça. - Tia Luíza disse levantando-se da mesa também.

Anabell levantou-se também, colocando seu prato na pia.

– Eu sou a convidada aqui, e o mínimo que posso fazer para retribuir é lavar a louça. - Ela disse colocando o avental que Tia Luíza costuma usar.

Foi um perfeito trabalho em equipe, enquanto Anebell lavava com cuidado as peças de porcelana que tia Luíza tanto amava, Caroline secava e eu as guardava. Num piscar de olhos, a louça que parecia não ter fim já estava completamente limpa, e a cozinha estava do jeito que tia Luíza sempre deixa. Ela merecia uma folga.

Caroline foi para seu quarto após receber uma ligação, tia Luíza estava sentada no sofá assistindo seu programa de culinária, e eu, por minha vez, levei Anabell para conhecer o resto da casa. Guiei-a até o andar de cima, onde mostrei a varanda e a vista que ela proporcionava. O sol estava enfraquecendo devido ao horário, e no lugar do calor, um vento forte fazia com que as folhas das árvores voassem em sua direção. As crianças brincavam juntas na calçada, e os carros passeavam pela rua. Anabell debruçou-se sobre o a grade, parecendo admirar o que estava cima dela, e não o que estava abaixo. Com sua cabeça inclinada para cima, ela observava as nuvens viajarem pelo infinito céu azul, enquanto os pássaros voavam livremente. O cabelo dela balançava conforme o vento gelado batia em seu rosto, e ela parecia gostar muito do que via. Ela suspirou, voltando sua atenção à mim novamente. Flagrando-me enquanto eu à admirava.

– Realmente, aqui é lindo. - Ela finalmente disse.

– Sim, mas você parecia admirar mais o céu do que a terra.

– A terra é sem graça, Eric. Imagina as aventuras que poderíamos viver no céu? Imagina se pudéssemos tocar uma estrela...

– Confesso que eu sempre quis fazer isso, tocar um estrela, mas é quase um sonho impossível. - Suspirei decepcionado.

– Nada é impossível, Eric. Nada é impossível. - Ela repetiu com um tom convincente.

Passamos o restante da tarde jogando conversa fora, eu à conhecia cada vez mais. Eu sentia um sentimento de vazio e ao mesmo tempo um sentimento de esperança e recomeço. Não conseguia entender o que estava acontecendo comigo, mas sabia que tinha alguma coisa a ver com ela. Já passavam das seis horas quando ouvimos uma buzina que parecia vir de frente à casa. Anabell levantou-se, limpando delicadamente seu vestido assim que ouviu a buzina.

– É o Sebastian, preciso ir. - Ela disse.

Levei-a até a porta, e realmente era o Sebastian que esperava por ela fora do carro.

– Obrigada pelo almoço. - Ela disse sorrindo.

– Eu que agradeço por ter vindo. - Retribui seu sorriso. - Anabell, antes de ir, eu queria ter perguntar uma coisa.. - O nervosismo tomou conta de mim e quase não consegui terminar de dizer. Anabell me encarava esperando pela pergunta.

– Você quer sair comigo esse fim de semana? - Até que enfim eu consegui dizer, gaguejando quase que retardadamente.

– Claro, seria ótimo. - Ela respondeu sorrindo novamente. Beijou-me na bochecha permitindo que eu sentisse de perto seu cheiro doce e suave, e caminhou lindamente até o carro que esperava por ela.

Era oficial, eu tinha um encontro com Anabell Moore.


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Notas finais do capítulo

Desculpem qualquer erro ortográfico, se encontrarem um, por favor ignorem rs. Até segunda que vem.
xoxo, YC



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