Fragmentos de Lembranças escrita por Yume Celestia


Capítulo 7
O barulho e a cor da trovoada


Notas iniciais do capítulo

Oi olá, hi, hello, aloha, yo, como vai? Primeiramente, eu queria agradecer por você estar lendo isso, porque se está lendo isso é porque provavelmente pretende ler o capítulo, então, obrigada. E eu queria agradecer também pelas leitoras, que são poucas, muito poucas e pra completar, não se manifestam, mas mesmo assim, obrigada por ler. Boa leitura.

1. Ternure é a cidade fictícia onde a história se passa.




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Eu mal conseguia conter o sorriso bobo em meu rosto, pela primeira vez eu tinha vontade de sair por aí dando bom dia e distribuindo flores para estranhos. Tudo estava perfeito por mais que fosse errado, eu estava enxergando o lado bom das coisas. Caroline me flagrava sorrindo para o nada, e questionava o porquê. O porquê? bem, eu finalmente sai da escuridão, eu finalmente estava bem, finalmente havia superado, afinal de contas, tudo acontece por um motivo, não é mesmo? O fato de eu não poder mais abraçar meus pais novamente iria ser para sempre algo que me parte o coração, mas eu sabia que um dia, distante ou próximo eu voltaria a ver eles.

Nas duas semanas seguintes, Anabell se mostrou ser um gênio, uma espécie de Albert Einsten com longos cabelos e uma aparência mais agradável, na verdade, muito mais agradável. Ela sabia resolver qualquer tipo de equação, entendia muito sobre a literatura medieval, sabia citar todos os países e suas capitais, entrou em um debate amigável sobre biomedicina com a professora de biologia, resumindo: ela acabou chamando uma atenção em especial de praticamente todos os professores. E é claro, o que eu já esperava que acontecesse, as pessoas comentavam entre si o fato impressionante de eu ter feito uma amiga, e o mais incrível, uma amiga bonita e inteligente, duas categorias que raramente se encontram em uma só pessoa.

Caroline dedicava seu precioso tempo à Josh, o que me fazia ficar sozinho com Anabell, me permitindo conhece-la cada vez mais e mais, e à permitindo me conhecer também. Ela adorava Shakespeare, o que fazia com que ela citasse alguma de suas frases inspiradoras. Gostava de teatro e odiava o mar apesar de achar ele encantador - como pode? - Sua cor favorita era azul bebê, seu sabor predileto era coco. Tinha um metro e cinquenta e dois de altura, nasceu no dia oito de agosto de mil novecentos e noventa e sete, era do signo leão. Acreditava em destino e carma. Acabei confessando sobre meu sonho de infância de conhecer a lua, sobre meu medo de pavão por conta de um trauma que adquiri ao visitar o zoológico. Que eu gostava de noites de chuva e trovões, e que apesar de fazer muito barulho, aquilo me tranquilizava. Ela acabou descobrindo que odeio esportes, e que talvez seja por esse motivo que eu não tenha um corpo muito atlético, mas tudo bem para ela, pois ela detestava caras bombados. Também que o que eu mais odeio em uma pessoa é o egocentrismo.

Foram as duas semanas melhores semanas que eu já vivi. Estava cansado de manter as longas conversas apenas no colégio, decidi então que ela merecia conhecer meu lugar favorito da pequena Ternure, o Moonlicious. Eu sugeri que fossemos lá, e ela gostou da ideia.

Eu já me sentia livre o suficiente para gargalhar minha risada mais estranha, ou até mesmo para expor minhas manias mais estranhas. Eu já não sentia mais a necessidade do cigarro para fugir da realidade, porque naquele momento eu estava vivendo outra completamente diferente da realidade de duas semanas atrás, quando eu era um estranho para Anabell, e ela era uma estranha para mim. Foi extremamente rápida a forma que me apeguei a ela, e talvez eu quebre a cara no final, mas vai valer a pena, vai valer porque pela primeira vez me sinto vivo.

O Moonlicious ficava em uma rua não muito distante do colégio, e não muito distante de casa, portanto não chegávamos a cansar. Eram intermináveis os assuntos entre eu e ela, tanto que nem reparei quando chegamos. Não estava muito vazio apesar do horário, afinal de contas, talvez seja o lugar mais criativo e competente que conheço, e talvez pensem como eu nesse caso.

Inspirei de olhos fechados o ar de café e bolinhos que havia lá dentro. Como era bom.

– Aqui é o meu lugar favorito. Tem cheiro e aparência de infância. - Eu fiz um gesto com as mãos apresentando o lugar.

– Não é uma surpresa, Eric. - Ela sentou-se em uma cadeira.

– Ora, e porque não Anabell? - Perguntei sentando ao lado dela.

– Porque este lugar tem como tema a lua, certo? E você tinha como sonho de infância visitar a lua, certo? Portanto, não foi difícil deduzir, sim? - Ela sorriu se gabando.

– Eric, meu querido! - A voz de Maria atravessou meus ouvidos. - Você costumava vir aqui com mais frequência, o que aconteceu? - Maria disse aproximando-se da mesa onde sentávamos.

– Ah, o mesmo de sempre Maria, tem aquela coisa de colégio, e.. enfim, como vai? - Tentei mudar de assunto.

– Vou bem, querido. E quem é sua amiga? - Maria disse analisando Anabell, que apenas observava os pequenos diálogos entre eu e Maria.

– Ah, sim. Maria, está e Anabell, e Anabell está é Maria, dona do Moonlicious.

– É um prazer conhece-la, Maria.

– O prazer é meu, anjo. Diga-me mocinha, eu já não te conheço de algum lugar? Seu rostinho me é familiar. - Maria disse encarando Anabell com seus olhos cerrados.

– Talvez, já vim aqui algumas vezes. - Ana respondeu.

– É, talvez seja isso. E então, o que vão querer?

– Bom, eu quero um café com com baunilha, caramelo e canela. - Anabell disse sem a ajuda de um cardápio.

– E.. eu.. o mesmo.. que ela. - Eu disse boquiaberto. Ela realmente pediu a minha bebida favorita sem a ajuda de um cardápio?

– Já fez lavagem cerebral na menina, Eric? - Maria perguntou.

– Porque? - Eu ri e perguntei.

– Ora, ela pediu a sua bebida favorita, e só você pede ela. - Maria explicou.

Caroline e Josh chegaram logo em seguida, de mãos dadas. Os dois fizeram questão de sentarem-se à mesa onde eu e Anabell estávamos. Maria foi até a cozinha preparar os pedidos.

– Oi, Eric. Não sabia que estaria aqui. - Caroline disse sentando-se á mesa. Josh fez o mesmo e sentou-se ao lado de Caroline.

– Vim apresentar o lugar para a Anabell, mas parece que ela já conhece, até pediu a minha bebida favorita. - Eu disse olhando para Anabell.

– Não acredito. Você não tem medo de ficar com diabetes? - Caroline perguntou sarcástica.

– Eu já havia pedido a bebida antes. Ela é perfeita. A combinação do amargo do café com o doce da baunilha e o mistério da canela formam a fusão perfeita de sabor.

– Incrível, você acabou de dizer o mesmo que Eric sempre diz. - Caroline disse boquiaberta, assim como eu que também estava impressionado com o que acabou de acontecer. The Shiver, Shadow, e agora isso, ela era minha alma gêmea.

– Amor, eu vou fazer o pedido no balcão, parece que nenhum garçom vem atender. - Josh disse olhando impaciente para todos os lados, provavelmente procurando algum garçom.

– Eu vou com você, acho que já saiu nosso pedido. - Anabell disse se levantando da mesa. Josh e Anabell foram juntos até o balcão. Caroline parecia observar tudo incomodada. Talvez ela fosse o tipo namorada ciumenta.

– E então.. vocês estão namorando? - Caroline perguntou ainda observando o que Anabell e Josh faziam no balcão.

– Não, somos apenas amigos. Sei lá, é difícil desvendar ela, não sei o que ela realmente sente. - Expliquei. Os imensos olhos azuis de Caroline se voltaram para mim, ela inclinou sua cabeça para sua esquerda, e sorriu como um sábio.

– Eric, eu só vou te dizer um coisa, é melhor você conquista-la logo, porque eu sinto que vocês foram feitos um para o outro. E você sabe que quando eu sinto, é pra valer. - Ela falou com convicção.

– E você sente o mesmo em relação ao Josh? Você acha que vocês foram feitos um para o outro? - Perguntei encarando-a.

Antes que ela pudesse responder, Anabell e Josh chegaram com os pedidos. Algo me dizia que Caroline não queria responder minha pergunta. Anabell se enturmava cada vez mais com Josh e Caroline.

– Você é naturalmente ruiva? - Josh perguntou enquanto fitava o cabelo dela.

– Sou sim. - Ela respondeu enquanto bebericava docemente seu café.

– Incrível. Sabia que ruivos são raros? Você tem alguém da família que é ruivo? - Josh perguntou. Caroline franziu o cenho estranhando a empolgação de Josh quanto a cor do cabelo de Anabell.

– Ah, sim. Na verdade a minha mãe era ruiva, dizem que eu me pareço muito com ela. Herdei muitos traços dela, como a cor do cabelo e dos olhos...

– E desde quando você se interessa tanto por essas coisas? - Caroline perguntou autoritária.

– Então sua mãe deveria ser linda. - Eu disse para tentar descontrair o clima de briga de casal que foi declarada.

– Nossa, cara. Você não tem cantada melhor? - Josh perguntou evitando a pergunta de Caroline. Caroline furiosa deu um tapa em seu ombro. Todos nós sabemos o que isso significa, certo? Confesso que fiquei um pouco envergonhado quando ele disse aquilo. Não queria que ela pensasse que eu estava dando em cima dela.

Caroline incomodada com o ocorrido, foi embora, e levou Josh junto. Eu não queria que uma guerra entre minha prima que é quase uma irmã e a única amiga que consegui fazer fosse declarada.

– Quer jogar um pouco no fliperama? - Perguntei depois de um tempo.

– Claro. - Anabell levantou-se. Caminhamos juntos até o fundo do estabelecimento, onde ficavam as máquinas. Estavam menos empoeiradas desde a última vez que estive ali. Ela escolheu justo a máquina que permitia jogar Block Blaster, o melhor jogo de fliperama que existe. Na máquina ao lado, o mesmo jogo. Foi declarado uma pequena competição entre eu e ela para decidir quem é o melhor jogador de Block Blaster. Ela dizia ser ótima no jogo, mas convenhamos, eu sou melhor. Ela subiu as mangas do casaco fino que ela usava, prendeu seus longos cabelos cor de fogo em um rabo de cavalo com a ajuda de uma fita da qual ela retirou de sua bolsa, e posicionou suas mãos na máquina. Esperou que eu fizesse o mesmo para poder dar inicio ao jogo.

Ela parecia estar decidida a ganhar, não tirava os olhos da tela da máquina, enquanto eu não tirava os olhos dela. Ela era uma distração perfeita. Eu quase não notei que ela já estava com a pontuação acima de mil, enquanto eu não conseguia concentrar minha atenção em outra coisa que não fosse ela. Eu estava fora de mim.

– Ganhei! - Ela gritou de repente, fazendo com que eu voltasse ao momento presente.

– Parabéns, senhorita Anabell Moore. Parece que você é a melhor nesse jogo. - Estendi a mão sorrindo. Ela sorriu de volta como agradecimento. Droga, ela tinha que ter um sorriso tão lindo?

– Não é verdade, você me deixou ganhar, quase não tocou na máquina. - Ela disse.

– Ah, então você reparou. - Eu disse corado com uma das mãos na cabeça. Eu costumava fazer aquilo quando estava envergonhado.

– Que tal uma revanche? - Perguntei.

– Eu adoraria, Eric. Mas que tal outro dia, está ficando tarde e o tempo parece estar fechando. - Ela disse olhando para o vidro.

–Tem razão. - Falei notando que o céu estava escurecendo rapidamente.

Nos despedimos de Maria e saímos de lá. Realmente, o tempo estava fechando. Enormes nuvens carregadas preenchiam o céu, que por sua vez estava cinza. Uma garoa começou a cair de lá. Nem eu, e nem ela tínhamos guarda-chuva, e já tínhamos andado muito para voltar para o Moonlicious. A garoa começou a engrossar, e virou chuva. Chuva grossa. Corremos até a cobertura de um loja e sentamos no chão. A chuva caía sobre o solo, fazendo com que ela respingasse em nossos pés. Ela só piorava cada vez mais e mais. Os relâmpagos e trovoadas começaram a fazer seu som e colorir o céu.

– Esse barulho é maravilhoso. - Eu disse ao ouvir o som da trovoada de olhos fechados, era como só estivesse presente naquele momento, eu, a chuva e o barulho da trovoada.

– Eu não diria o mesmo quanto a isso, prefiro sons mais calmos, mas eu gosto da cor que os relâmpagos deixam no céu. - Anabell disse fitando o céu.

Depois de um tempo apenas ouvindo o barulho da trovoada, ela levantou-se do chão, e saiu da cobertura puxando um de meus braços.

– Você já tomou banho de chuva? - Ela perguntou se esforçando para me levantar.

– Não. Resultaria em um resfriado depois. - Me levantei poupando ela de um esforço. Ela saiu completamente da cobertura, ergueu sua cabeça para o céu, e abriu seus braços deixando que a chuva caísse sobre seu corpo.

– Vem, Eric. - Ela gritou.

– Anabell, você vai ficar resfriada, volta pra cá. - Eu dizia preocupado.

Percebi que ela não mudaria de ideia, e que ela não liga para um resfriado. Sai da cobertura assim como ela fez, abri os braços e argui a cabeça para o céu.

– Grite, é relaxante. - Ela disse logo em seguida. Gritei, assim como ela disse. Era incrivelmente relaxante, como se eu estivesse jogando meus problemas para fora. Quando percebi, estávamos nós dois tomando banho de chuva, gritando feito dois loucos.

Um enorme carro parou ao nosso lado. A janela automática abriu. Era Sebastian. Ele saiu do carro segurando um guarda-chuvas, em suas mãos tinham duas toalhas. Ele entregou uma toalha à Anabell, e outra à mim. Entramos no carro logo em seguida. O cabelo dela pingava, suas roupas estavam encharcadas e ela tremia. Me pergunto como Sebastian sempre aparece quando precisamos, ou melhor, como ele sempre sabe onde estamos.

Ele me levou para casa, e entregou um guarda-chuva para que eu não me molhasse durante a caminhada para a porta de casa, o que não adiantou muito já que eu já estava encharcado.

– Eric. - Anabell disse antes de eu deixar o carro. - Eu me diverti muito. Obrigada. - Ela sorriu.

Deixei o carro com um sorriso estampado no rosto e um brilho em meus olhos. O sorriso dela não saia da minha cabeça, e aquela era a sensação mais incrível que já senti.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, os próximos capítulos vão começar a ficar emocionantes UAHEUSAHD Desculpem qualquer erro, esse capítulo tinha muitos erros de digitação porque eu tava sem meu notebook e tava usando teclados alheios, juro que tentei corrigir umas mil vezes, então se encontrarem erros, me desculpem KKK Até segunda que vem.
xoxo, YC



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