Fragmentos de Lembranças escrita por Yume Celestia


Capítulo 5
Campos e Jardins, parte I


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo é duplo porque ele ficou muito grande, e acho que fica muito cansativo ler um capítulo muito grande, então ele foi dividido em duas partes, como eu já disse HAUDHSUDH
Boa leitura.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/520073/chapter/5

"Echo, echo is the only voice coming back. Shadow, shadow is the only friend that i have” (JASON WALKER - ECHO)

As vezes quando se perde alguém importante, você acaba se tornando mais forte ao superar, outras vezes você só fraqueja mais e mais. É o meu caso, infelizmente. Eu já deveria ter superado e aceitado que talvez aquele fosse o destino deles, mas algo me prende a toda esse tragédia. Minha vida já era uma droga antes de perder meus pais, e depois então.. parece que tudo só piorou. A tristeza parecia ter virado rotina, e a única solução que encontrei foi o cigarro, o que só piorava as coisas mais ainda.

O tempo que Caroline passava com Josh era precioso. O que me deixava cada vez mais só. Acabamos chegando cedo de mais no colégio, o que foi bom para Caroline, que poderia passar mais tempo com seu novo namorado, e o que foi péssimo pra mim, que além de detestar o colégio, tinha que aguentar um tempo extra lá. Com os fones no ouvido ao som da minha música favorita da minha banda favorita, caminhei com passos lentos até a classe, onde por coincidência, estava lá a garota nova, sozinha. Parei alguns instantes na porta antes de entrar e respirei fundo, aquela era minha chance de falar com ela, se algo de ruim acontecesse pelo menos não iria ter ninguém por perto para presenciar a cena. Mas afinal de contas, porque esse minha sisma de falar com ela? Justamente com ela. Eu poderia sentir essa vontade incontrolável de falar com qualquer outra pessoa, mas tinha que ser ela?

Me aproximei lentamente com a respiração um pouco acelerada, acho que ela acabou percebendo, me encarava como se já soubesse o que estava por vir. Ao ficar frente ao lugar onde ela sentava, reuni toda a coragem existente em mim e…

– Er.. oi, Anabell.. é Anabell, certo? - Falei com a voz falhada, sem jeito e desengonçado.

– Oi, Eric. Sim, é Anabell, mas se quiser pode me chamar de Ana. - Ela sorriu.

– Tudo bem então.. Ana. É, ontem eu.. eu vi que você usava uma camisa da banda The Shiver, e.. e eu queria saber se você.. se você gosta. - Eu disse com muita, mais muita dificuldade. “Mas é claro, Eric. Se ela estava com uma camisa da banda é porque ela gosta, que pergunta mais idiota” completei em pensamento.

– Oh, sim. Um alguém muito importante me apresentou a banda alegando ser a melhor banda existente, e acabei gostando.

– Diga a esse alguém que acho a mesma coisa. - Eu sorri. Estava tentando puxar assunto, mas definitivamente aquilo não era comigo.

– Irei dizer. - Ela sorriu novamente, mas desta vez ela olhava em meus olhos, o que fez com que eu reparasse que ela possuía um tom de verde em seus olhos além da cor de mel. Seus olhos eram incrivelmente apaixonantes. Eu quase não conseguia acreditar que ela era real, parecia até uma boneca de porcelana.

– Ei ruivinha gata, não chega perto desse garoto esquisito não. - Vince disse ao entrar na sala e ver que eu estava perto dela. Maldito. E se foi toda a confiança que eu estava sentindo aquele momento. Vince era alto, moreno, tinha olhos azuis, era capitão do time de basebol do colégio, e é claro, atraia a atenção de todas as garotas do colégio e inclusive de quase todas da cidade, tinha uma ou outra que não dava bola, mas era quase que raro. Vince conquistava qualquer uma que ele quisesse sem se esforçar, e sempre conseguia não importa quem fosse. E, de certa forma eu sabia que ele iria tentar algo com Anabell, ela era o tipo “perfeita” para ele. Me senti desconfortável com o que ele disse, e fui imediatamente para meu lugar de costume, isolado. Eu havia gostado dela, eu realmente havia gostado dela, pela primeira vez em tempos eu desejei ter a amizade de alguém, mas Vince era um obstaculo invencível. Os alunos começaram a chegar em grupos, duplas, até mesmo sozinhos, e a classe estava começando a encher cada vez mais. Abaixei a cabeça deitando em meus braços, tentando ignorar tudo.

– Eric? - Uma voz doce e suave atravessava meus ouvidos. Eu não queria saber quem era, não estava nem ligando, eu só queria ficar daquele mesmo jeito até que todas as aulas se encerrassem, mas a voz insistia.

– Eric? - A voz dizia novamente. Não era Caroline, sem chances de ser Caroline. Aquela voz me era familiar, vasculhei os fundos da minha memória auditiva, mas não consegui lembrar. Vencido pela curiosidade, levantei a cabeça novamente.

– Desculpe por aquela grosseria. Ele é um babaca. - Era ela. Era Anabell. E o que diabos ela estava fazendo ali após ser alertada de que eu era um esquisito? E o que diabos ela estava fazendo ali depois de ser flertada pelo garoto mais cobiçado do colégio? E será que eu ouvi direito ou ela realmente chamou Vince Blake de babaca?

Eu realmente, realmente tentei dizer algo a respeito, mas todos que estavam na sala começaram a cochichar uns com os outros, e nem faziam questão de disfarçar. Até que alguém gritou “Fique longe desse garoto estranho e depressivo, Ana” Aquilo me deixava realmente para baixo. Meus olhos se enxeram de lágrimas, não consegui evitar, antes que ela ou alguém me vissem chorando, abaixei a cabeça novamente, e tentei o máximo que pude segurar as lágrimas.

– Não é verdade. - Ela disse ainda perto de mim. - Não é verdade, você não é esquisito, você é interessante. - Ela completou. Fiz com que as lágrimas voltassem para as profundezas do meu sistema lacrimal e levantei a cabeça novamente.

– Sim, é verdade, Anabell. Eu sou um estranho depressivo, e estou longe de ser uma pessoa interessante. - Eu disse à encarando.

– Você gosta de The Shiver, qualquer pessoa que gosta de The Shiver é uma pessoa interessante para mim. E você não deveria se rotular desse jeito, Eric. - Sua voz soava moralista e decidida.

– Posso te levar a um lugar por um instante? - Ela me encarava. - Prometo que não vai se arrepender.

– O que? Pra onde? A aula já vai começar. - Eu estava preocupado com aulas? Ela segurou em minha mão me puxando. Não teve sucesso, já que ela era pequena de mais e acho que fraca de mais também. Franzi o cenho rindo ainda á encarando. O que eu tinha a perder afinal?

– Tudo bem. Pra onde vamos? - Eu disse aceitando seu convite.

– Apenas pegue suas coisas e venha comigo. - Ela caminhou até sua mesa e pegou sua mochila. Fiz o mesmo e me aproximei dela. Todos da classe nos encaravam sem entender o que estava acontecendo. Ela segurou novamente minha mão ao ver que eu estava pronto para segui-la, e assim ela me levou para fora da sala. Caminhávamos em passos acelerados contra todos, que caminhavam na direção oposta.

– Ande depressa, antes que a diretora nos pegue. - Ela dizia enquanto me guiava, ainda segurando minha mão. Ela estava na frente enquanto eu à seguia sem entender o que eu estava fazendo. Eu realmente estava indo para um lugar com um garota da qual gostei?

Ela me levou para fora do colégio. O portão se fechou logo em seguida, o que significa que não iriamos poder voltar para colégio.

– Tá legal, pra onde iremos? O portão se fechou. - Eu dizia curioso e assustado.

– Confia em mim? - Ela me encarou. - Ah que pergunta idiota, você acabou de me conhecer, mas é claro que não confia. - Ela completou logo em seguida, antes mesmo que eu pudesse abrir a boca para responder.

– Não é isso, é só que.. sei lá, você chegou de repente e está sendo tão amigável assim, isso não é normal. Não para alguém como eu. - Desabafei.

– Só venha comigo. Vamos ter que pegar um ônibus. - Ela disse me puxando pelo braço.

E sem pensar no que viria a seguir, apenas deixei as coisas acontecerem. Pegamos um ônibus, que nem tive tempo de notar para qual lugar ele nos levaria, em seguida pegamos outro, que demorou bem menos do que o outro para chegar no destino final. Em seguida caminhamos até chegarmos em um lugar quase que deserto, havia apenas vegetações. Comecei a ficar desconfiado.

– Você não pretende me sequestrar, matar ou coisas do tipo, certo? - Perguntei sarcástico, mas no fundo foi uma pergunta séria. Ela riu, e voltou a me puxar pelo braço.

– Mas é claro que não. Estamos quase chegando. - Ela tomou a frente. Ficamos em silêncio durante um tempo, até que finalmente chegamos aonde ela queria. Era o topo de uma colina, onde dava a visão de um imenso campo de flores azuis e violetas. Ela sentou-se na beira da colina, deixando seus pés para fora da enorme pedra da qual sentou. Fiz o mesmo. Observamos por bastante tempo aquela maravilhosa visão do campo, até que ela começou a explicar o porque de tudo aquilo.

– A cor azul representa a esperança e a alegria. E flores azuis representam o infinito inalcançável, assim como simbolizam a gratidão, respeito e admiração. A cor violeta representa a calma, dignidade, orgulho e mistério. Esse campo tem diversos significados, e é um ótimo refugio da realidade de tão belo que é, não é mesmo? - Ela dizia enquanto encarava o azul e o lilás daquele campo.

– É sim, um poderia passar horas e horas aqui somente para admirar esse campo. - Concordei. Eu nunca fui de admirar flores, mas aquele campo foi a coisa mais bonita que já vi naquela pequena cidade. E de certa forma, ela tinha razão, era um ótimo refugio da realidade.

– Sei que não é da minha conta, e vou até entender se você quiser ser grosso comigo, mas porque te chamam de garoto depressivo? E porque você aceita isso? - Ela deixou de olhar as flores, e fixou seu olhar ao meu de um jeito sério. Hesitei em contar ou não à ela minha história, mas ela se deu o trabalho de me levar a um lugar tão bonito, o mínimo que eu poderia fazer para retribuir era contar. Encarei o infinto campo azul e violeta da mesma forma que ela fez quando explicava o que aquelas flores e cores simbolizavam.

– Perdi meus pais em um incêndio há dois anos atrás, e sabe, não foi muito fácil de superar, alias, ainda não superei. Eles eram tudo para mim. Fui obrigado a frequentar um psicólogo quando minha tia descobriu que eu estava me afogando em depressão. Minha fama no colégio nunca foi uma das melhores, e depois disso, só piorou e acabei ganhando o apelido de garoto depressão. - Me abri com ela da mesma forma que me abria com a psicóloga.

– Eu te entendo, meus pais também faleceram de forma trágica. Mas não deixei que isso acabasse comigo. Antes de se considerar um garoto esquisito ou deixar que a depressão te consuma, lembre-se que seu pais estão naquele infinito céu azul observando seus passos. Eles estão com você, Eric. Não estão de carne e osso, mas estão de alma e sentimento. E eu sei que eles não querem te ver assim. - Ela colocou sua mão sobre a minha e fitou meus olhos.

– Sinto muito por seus pais. - Eu disse. Eu sentia de verdade, pois eu como ninguém sabia o que era perder os pais. - E obrigado pelo discurso, de verdade, foi inspirador e eu acredito mesmo que eles estejam observando meus passos. Você conseguiu fazer nascer uma esperança em mim, e olha que nem a psicóloga conseguiu - Eu ri em seguida.

– É ótimo saber disso. - Ela sorriu expondo novamente seus dentes brancos e perfeitamente alinhados.

– Mas afinal de contas, Ana, o que você quer comigo? Sério, não entendo o porque de uma garota como você se aproximar de um cara como eu. - Eu finalmente me senti livre o suficiente para perguntar o que estava me martelando.

– Eu vi uma luz em você. - Ela riu.

– Uma luz? - Me assustei.

– Sim, eu vi que você era diferente. - Ela continuou. O que me acalmou. Imagina se ela tivesse visto realmente uma luz em mim.

– Então, você veio de onde? - Puxei assunto. É motivo de comemoração, para mim, claro.

– Londres.

– Londres? E o que diabos você veio fazer no Colorado, e o pior nessa cidade que ninguém conhece?

– Me parecia ser uma cidade interessante. Gosto de coisas interessantes.

– É, acho que reparei nisso. - Eu sorri.

– Minha vez de perguntar, Eric. Você sempre morou aqui e nunca soube da existência desse lugar?

– Como sabe que sempre morei aqui? E se eu tiver vindo do Canadá, ou de Nova York, ou sei lá, do Japão? - Brinquei.

– Porque sei quando a pessoa é habitante de nascença, é um dom.

– É, pode ser. E não, nunca soube da existência desse lugar. Eu sempre fui uma pessoa caseira. Caseira até de mais. - Suspirei ao lembrar que nunca tive oportunidade de conhecer um lugar maravilhoso como aquele campo. Na verdade, oportunidade eu sempre tive, mas nunca aproveitei.

– Mas que vergonha, Eric. - Ela balançou a cabela negativamente e sorriu, desta vez sem mostras os dentes.

– Agora vamos a minha pergunta: você é, claramente uma habitante de mudança para cá. Então, como você conheceu rapidamente esse lugar?

– Ora, gosto de explorar. E eu sou apaixonada por flores, eu não poderia deixar de procurar um lugar com flores por aqui, certo?

– Certo. - Concordei. Ana pegou seu celular do bolso e fixou seu olhar na tela. Ouvi um grito de espanto.

– Oh meu Deus. Olha a hora. Sebastian deve estar procurando por mim. - Ela disse se levantando da pedra da qual sentava. Rapidamente ela discou um número em seu celular e o colocou perto de seu ouvido.

– Sebastian? Estou com um amigo na colina dos campos de flores, volto para casa sozinha, okay? - Ela dizia preocupada através de um telefone celular. Logo em seguida ela desligou.

– Temos que voltar. - Ela disse decepcionada. - Desculpe fazer você matar aula. - Ela riu.

– Sem problemas, foi a melhor aula que já matei. - Ela tomou a frente, e fizemos o mesmo caminho para voltar. Uma longa caminhada, e dois ônibus.

Enquanto o ônibus fazia seu caminho, acabei descobrindo que ela tinha um pequeno jardim de peônias, lírios e rosas em sua casa, que amava balé e chegou a praticar até seus dez anos, que gostava do cheiro de doce, e que Sebastian era seu mordomo e também amigo. E por fim, eu acabei contando um pouco sobre mim também, que eu amava morangos e café, que eu morava com minha tia e minha prima, e que eu não era uma pessoa muito interessante.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, até segunda que vem com a parte dois do capítulo.
xoxo, YC



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Fragmentos de Lembranças" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.