Fragmentos de Lembranças escrita por Yume Celestia


Capítulo 27
Ponto Final


Notas iniciais do capítulo

O capítulo de hoje está um pouco fragmentado porque na verdade, eu juntei dois capítulos em um só por conta de um probleminha que tive, então me desculpem. Espero que entendam, e gostem. Boa leitura!



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Richard e seu motorista largaram Anabell a poucos metros de sua casa. Ela tratou de fazer o resto do caminho sozinha, mesmo tão tarde da noite, naquela rua espantosamente vazia. Ficou surpresa ao encontrar Eric e Sebastian no portão, esperando por ela.

Tentou esconder as marcas em seu pulso, pois sabia que caso alguém as visse, as coisas só iriam piorar. Eric correu até ela desesperado, também espantado.

– Você está bem? Ele te machucou? - Perguntou verificando-a dos pés a cabeça.

– Estou sim. - Ela respondeu. - Ele quem?

– Eu vi quando um homem te empurrou contra sua vontade para dentro de um carro.

– Ah sim, era o Richard. - Ela explicou. - Ele queria me dar um susto, e funcionou. Achei que fosse um sequestrador de verdade.

– Sério? Era mesmo só isso? - Ele perguntou desconfiado.

– Era. Ele viu que eu estava sozinha tão tarde nessa rua deserta, e resolveu fazer essa brincadeira de mal gosto. - Tentou disfarçar, mas confiante de que suas palavras funcionariam.

– Mas que cara problemático. Quase me matou de susto, e pra completar, Sebastian também.

– Me desculpem, não foi minha intenção deixa-los preocupados.

– Porque se desculpa? Não foi culpa sua. Richard vai ter que se explicar pra polícia.

– Isso não será necessário. Richard vai deixar a cidade em breve, talvez amanhã. Ele nunca mais vai voltar a nos atormentar. - Ela declarou com convicção. - Bom, está tarde. Acho melhor entrarmos antes que algum sequestrador de verdade acabe nos levando. - Ela riu discreta.

– Acho melhor eu voltar pra casa, saí sem avisar. Tia Luíza vai enlouquecer se ver que não estou lá.

– Saiu tarde da noite sem avisar? - Anabell perguntou.

– É, eu meio que senti que você corria perigo, segui a intuição e cheguei a tempo de vê-la sendo sequestrada. - Falou fazendo aspas com os dedos.

– Sendo assim, Sebastian pode te levar. - Anabell sugeriu.

–-XX--

Após levar Eric até sua casa, Sebastian entrou pela porta, ainda apreensivo pelo ocorrido. Ele tinha motivos o suficiente para não acreditar na história que Anabell contou.

– O que ele queria? - Perguntou.

– A mesma coisa que eu: por um fim nessa história. - Falou enquanto encarava o vazio, como sempre costumava fazer quando pensativa. - Ao amanhecer, ligue para Richard e peça para que ele venha jantar aqui. - Ela ordenou.

– Sim, senhorita. - Ele respondeu curvando-se perante à ela.

–-XX--

Ao anoitecer daquele mesmo dia, Sebastian havia preparado diversos pratos típicos de Londres. Era uma verdadeira fartura de comidas que se espalhavam pela extensa mesa de mármore. Anabell agudava a chegada de seu convidado sentada a cadeira da ponta, enquanto acariciava os pelos de seu gato.

Ouviu a campainha tocar, e Sebastian, no mesmo instante correu para atende-la. Era Richard, ele usava terno e gravata. Entrou cambaleando, mal se sustentava em pé.

– Acha que pode chegar à cozinha sem cair? - Sebastian perguntou zombeteiro.

– Meu caro, eu posso tudo. - Ele respondeu.

– Se é assim, então me acompanhe. - Sebastian sugeriu. Tomou a frente, fazendo com que Richard o seguisse.

Richard sentou-se ao outro lugar na ponta. Sebastian posicionou-se ao lado de Anabell, aguardando uma nova ordem. De ponta à ponta, encaravam-se. Richard de um lado, feliz por finalmente ter convencido Anabell à dar o que ele tanto queria. Anabell do outro, disposta a fazer de tudo para se livrar do homem que nos últimos dias, foi motivo de tormenta.

– Posso me servir, meu doce? - Richard perguntou, beliscando uma coisa ou outra.

– A vontade. - Ela respondeu séria. - Aproveite.

Observava da outra ponta da mesa os movimentos de Richard, desprezando-o com os olhos.

– Está estranha. O que aprontou? - Ele perguntou notando a diferença.

– Nada. Só estou feliz por finalmente me livrar de você, e é justamente por isso que está aqui. Mas vejo que não veio em boas condições. - Ela notou.

– Só quis comemorar a minha vitória. - Falou travando entre as palavras.

– Não me importo. - Ele declarou. - Aqui está todo o dinheiro que pediu, o suficiente para você viver bem o resto da sua vida. - Disse ela estendendo no ar uma maleta de cor preta. - Espero que desta vez, não o gaste com tantas besteiras, como deve ter feito com a outra maleta que ofereci.

– Oh, era disso que eu estava falando. - Falou alegre. Levantou-se da cadeira, e mesmo tropeçando em si, deu passos lentos até a outra ponta, onde estava a sua vista o que ele tanto esperava. - Não gastei com besteiras, gastei com necessidades. - Arrancou da mão de Anabell a maleta, abrindo-a depressa.

Conferiu todo o dinheiro que aquela maleta carregava. Anabell aguardava paciente.

– É, esta tudo aqui. - Garantiu. - Isso era tudo que eu precisava. Não tenho mais nada o que fazer aqui.

– Espero não precisar voltar a vê-lo, Richard. Pegue essa maleta, e suma de uma vez por todas de minha vida. - Pediu ameaçante. - Sebastian, leve-o até o hotel onde ele está hospedado. - Ela ordenou.

– Não. Posso dirigir sozinho. - Falou agarrando a maleta contra seu peito.

– Se é assim, não vou insistir. Consegue chegar até a porta, ou Sebastian vai ter que se dar o trabalho?

– Não se preocupe quanto á isso, meu doce.

– Não estou preocupada, só quero que saia o quanto antes de minha casa.

– Não precisa ser grossa, meu bem. - Ele debochou. - Foi um prazer refazer negócios com você, queridinha de Londres.

Caminhou até a porta, e de lá saiu satisfeito, agarrado a maleta de dinheiro oferecida pela garota de cabelos ruivos. Aquela, de fato, seria a última vez que os olhos cor-de-mel dela veriam aquele médico.

–-XX--

Ela havia se livrado de um fardo, mas saiu derrotada. Estava com insônia, e portanto não conseguia pregar seu olhos para desfrutar de um novo dia. Vestiu-se do pescoço à cintura com um sobretudo preto, e calçou sapatos da mesma cor. Prendeu seu longo cabelo em um rabo-de-cavalo.

Caminhou pelo corredor, e por entre as brechas da porta, avistou seu mordomo em um profundo sono. Desceu as escadas, e do porta-chaves pendurado logo atrás da porta de entrada, pegou a chave do carro.

Sabia dirigir tão bem quanto um motorista experiente. Dirigia por entre as ruas como quem procurava por algo. Praticamente toda a cidade estava deserta. Todos dormiam, havia pouca luz.

Alguns quilômetros depois de seu bairro, encontrou um carro capotado completamente destruído. Havia vidros espalhados pelo chão, e sangue fresco escorrendo. Foi um acidente recente. Um pouco a frente, um corpo ensanguentado se encontrava.

Desceu do carro, e caminhou até o local de onde o sangue escorria. Ela sabia de quem era aquele sangue, e por incrível que pareça, sabia que aquele acidente aconteceria. Balançou a cabeça negativamente.

– Ah, se tivesse aceitado minha gentileza. - Falou agachando-se perto do corpo. - E isso, me pertence. - Disse enquanto puxava a maleta debaixo do corpo.

–-XX--

– Como já devem saber, Richard Alouise morreu em um acidente de carro. - O policial Jones pronunciou.

– E o que temos a ver com isso? Somos suspeitos de algo, ou coisa assim? - Eric perguntou sem entender o proposito do interrogatório.

– Na verdade, vocês são sim. - Jones confirmou. - No notebook de Richard foi encontrado pesquisas relacionadas a vocês, em especial à você Eric. Richard estava te estudando. O histórico de chamadas telefônicas do hotel onde ele se hospedava registrou um grande número de ligações à você, Anabell. E por fim, no dia de sua morte, ele esteve em sua casa cerca de uma hora antes do acidente.

– Sim, isso é verdade. Richard esteve me ligando constantemente. Foi logo quando ele chegou a cidade, ele queria marcar um encontro, mas eu estava recusando, ele ligava insistindo. E quanto ao dia do acidente, ele estava sim em minha casa, ele jantava lá já que no dia seguinte iria partir e não vou mentir, eu estava muito feliz por isso.

– E quanto a sua explicação, Eric? - O policial perguntou anotando todas as palavras dos dois principais suspeitos.

– Eu realmente não tenho explicação. Nem ao menos imagino o porquê de sua pesquisa sobre mim.

– É isso que queremos entender. Richard tinha uma relação com Anabell, ele foi médico da família dela durante anos, não é isso, senhorita, Moore?

– Exatamente. - Ela confirmou.

– Mas, e a relação dele com você, Eric? Quais eram seus interesses em você?

– Olha, eu já disse que eu não sei, não imagino.

– O acidente foi proposital? - Anabell perguntou de um jeito intimidador.

– Não há rastros de que tenha sido proposital. Foi encontrado em grande quantidade bebidas alcoólicas no sangue dele. Ao que tudo indica, o acidente foi causado por embriaguez.

– Certo. E porque estamos sendo interrogados? - Ela perguntou um tanto alterada. O policial a encarou durante um tempo para finalmente dizer:

– Xavier, leve Eric para tomar um café, por favor. - Ele pediu ao homem de cabelos completamente grisalhos que observava o interrogatório.

– Não, também faço parte dessa interrogação, não vou deixa-la sozinha.

– Eric, preciso ter uma conversa em particular com Anabell. Não discuta, ou vou considerar desacato a autoridade.

Eric respirou fundo, não iria contra a lei. Acompanhou o senhor de cabelos grisalhos, e abandonou aquela sala.

– Você conhece um moça de nome Audrey Roberts? - Ele perguntou.

– Não. - Ela respondeu instantaneamente.

– Richard não tinha nenhum familiar por aqui, e precisávamos avisar sobre sua morte à alguém próximo. No registro de chamadas de seu celular, havia chamadas para essa moça, Audrey Roberts. Ligamos para avisar sobre a morte, e ela ficou pasma, tanto que já está a caminho para o enterro. Ao que parece, Audrey era a namorada de Richard, e sabe o que ela disse?

– Não imagino.

– Ela disse que antes de partir, Richard avisou que se algo de ruim lhe acontecesse, como um coma, ou até mesmo sua morte, era para que investigássemos você, Anabell, pois você poderia ser a causa. Não acha estranho ele ter falando algo do tipo, e morrer logo após sair de sua casa?

– Acho. Como toda a certeza acho. Se eu fosse policial, eu também suspeitaria.

– Entende o porque do interrogatório?

– Entendo, só não entendo o porque de Eric estar envolvido.

– Eric pode não ter sido citado por Audrey, mas também é suspeito já que faremos uma investigação. Tem algo a dizer em sua defesa, senhorita Moore?

– A primeira reação de um suspeito e jurar que não cometeu o crime, portanto não irei jurar, de nada vai adiantar. Eu só lamento você acreditar em uma barbaridade dessas.

– Sinto muito, mas não haveria motivos para Richard pedir que investigassem você caso algo lhe acontecesse senão suspeitar.

– Enquanto não houver provas de que tive algo haver com a morte de Richard, vou me calar. Não direi uma palavra sequer a respeito disso, sobre o jantar, ou sua relação comigo.

– Pra uma garota de dezessete anos você sabe muito sobre crimes e defesa, não acha?

– Eu sei muito sobre muitas coisas, e até onde os estudos me levaram, não se exige uma determinada idade para entender dessas coisas, senhor Jones. Agora, se não for pedir muito, poderia me liberar dessa interrogação desnecessária? Tenho ainda muito o que fazer.

– Garota esperta, acho bom ninguém te subestimar. Detesto dar razão aos suspeitos, mas você está certa e enquanto não houver provas, você está livre. Mas não se empolgue, senhorita Moore, iremos investigar com mais cautela. - O policial declarou, liberando-a do interrogatório.

–-XX--

Na tarde do dia seguinte, algumas pessoas e um padre reuniam-se de preto em um cemitério local, para que pudessem enterrar o corpo de Richard Alouise. Apesar de suas desavenças, Anabell também marcou presença junto de seu fiel mordomo, Sebastian. Tão diferente do que eram acostumados a vê-la. Estava vestida completamente de preto, dos pés a cabeça. Cobria seus olhos com óculos escuros, enquanto observava cada pessoa presente naquele enterro.

Os funcionários daquele cemitério cavavam um buraco, enquanto o padre celebrava uma missa pedindo perdão pelos pecados cometidos por Richard enquanto ela ainda vivia. Uma mulher loira chorava histericamente abraçada ao caixão, enquanto os demais concentravam-se no padre e suas orações.

– Você deve ser Audrey, acertei? - Anabell tocou-a no braço perguntando. A mulher virou-se procurando ver o rosto de quem perguntava, e rapidamente reconheceu.

– Rosto pálido, olhos cor-de-mel, cabelo de cobre. Você deve ser a infame Anabell. - Ela falou. - Como teve coragem?

– Coragem? De quê? - A ruiva perguntou confusa.

– De mata-lo. - Audrey respondeu fria.

– Não sei se chegaram a te informar, mas Richard morreu em um acidente de carro causado pela embriaguez.

– Você pode ter enganado os polícias, mas a mim você não engana. Vou provar à todos que você não é quem parece.

– O que quer dizer com isso?

– Antes de partir, Richard além de avisar a problemática que você é, ele também disse ter escondido uma carta onde conta toda a verdade sobre você.

– Uma carta?

– Exatamente, e quando eu encontra-la, vai pagar por ter matado Richard. - Ameaçou raivosa. - Você é um mostro, sabia que daqui seis meses ele seria pai?

– Richard ia ser pai? Está grávida? - Perguntou.

Antes que pudesse responder, Audrey sentiu um mal estar, e colocou para fora toda a comida que havia engolido horas atrás. Incapaz de se sustentar em pé sozinha, uma equipe de enfermeiros foi chamada, para que pudessem leva-la a um ambiente mais agradável a seus hormônios de gestante.

Quatro funcionários juntos, cada um segurando uma ponta do caixão, colocaram-no delicadamente no túmulo que cavavam. Antes de partir, Anabell jogou uma das rosas que cultivou dizendo:

– Eu escolho o meu jeito, Richard. - Deu as costas ao túmulo e partiu.


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Notas finais do capítulo

Acho que com isso da pra entender um pouco do segredo de Anabell, certo? Sabemos que ela esconde algo terrível, e temos a plena certeza de que Richard sabia esse segredo. E aí, o que acham? Acham que Anabell realmente está envolvida com a morte de Richard? Acham que Audrey vai conseguir encontrar a carta e revelar o segredo para todos? Descubram continuando a ler. Espero vê-los aqui nos próximos capítulos.
xoxo, YC



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