Fragmentos de Lembranças escrita por Yume Celestia


Capítulo 22
Gravidez


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura à todos.



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Mal dava para acreditar nas mudanças radicais que aquela garota trouxe para minha vida em tão pouco tempo. Era incrível o bem que ela me fazia, a felicidade que ela trazia. Era o enfeite mais belo que minha vida poderia carregar.

Ela não comentou nada sobre o teste de gravidez que encontrei no banheiro, muito menos sobre a possibilidade de isso ter acontecido. Era uma dúvida, mas a certeza era mais forte. As peças se ligavam umas as outras. Foi tudo tão rápido, tão inesperado. De fato, eu não estava preparado para aquilo tudo, mas não importava. Como ela sou capaz de tudo.

Nos dias seguintes ela continuou concentrada em sua paixão, o balé. E acabou revelando que naquela imensa mansão onde vivia, havia uma sala espelhada, parecida com a da Academia de Dança Clássica. Aquele espaço foi projetado exclusivamente para aquilo, era um lugar dela. Ela passava a maior parte de seu tempo naquela sala, com seus collants e sapatilhas. As vezes eu a flagrava chorando frente os espelhos. Ela secava seu rosto rapidamente, e inventava um desculpa esfarrapada. Se recusava a contar seus problemas, mas era evidente que tinha algo errado.

Depois de tanto observa-la dançando, notei que alguns dos passos além de exigir muita flexibilidade, eram também perigosos ao meu ver. Sismei que ela tinha que parar de praticar aquela arte por um tempo, ou ela iria acabar perdendo algo.

– .. Há riscos sim, mas somente pra quem não sabe o que está fazendo. Não se preocupe, sei que estou um pouco enferrujada, mas lembro claramente dos passos que tanto dancei, que tanto me esforcei para faze-los com perfeição. - Ela disse calma.

– Tem certeza que nesses saltos você não pode acabar quebrando uma perna, ou sei lá, perdendo algo? - Perguntei indiretamente.

– Perdendo o que? Eric, você está tão estranho ultimamente. - Falou me encarando, certamente esperando uma explicação para a tal estranheza que ela notou.

– Não sei, talvez algo que você tenha que me contar, por exemplo.

Ela ficou quieta por um tempo, seu rosto já pálido, ficou ainda mais. Me encarava sem respostas. Estava cansando de indiretas, eu só queria que ela me dissesse logo a verdade incerta.

– Anabell, deixe para conversar com Eric depois. Joseph está precisando da parceira. - Angelique gritou ao lado da barra.

Anabell sem escolha, voltou para o centro da sala, e voltou a dançar passos que para mim, ainda eram perigosos. Era um prazer vê-la dançar, ver sua delicadeza e dedicação, e sobretudo, sua paixão. Dava para ver em seus olhos o quanto ela gostava daquilo, ela parecia outra pessoa enquanto dançava. Eu não poderia priva-la daquilo.

Ela me arrancara sorrisos sem esforço algum. Só de vê-la, meu coração palpitava mais forte, suspirava indiscretamente. Não sabia como explicar aquela sensação de paz que ela trazia. Sentia como se ela fosse uma joia rara, e que eu deveria cuidar dela porque é preciosa. Ao mesmo tempo eu não entendia como ela foi parar em minha vida, como eu consegui ela. Era um turbilhão de emoções e sentimentos inexplicáveis. Me encontrei em um estado completamente confuso e sem rumo.

Haviam ainda muitas coisas nela que me intrigavam, coisas que eu sabia que ela escondia, e que não eram boas. E apesar da vontade de descobrir quais eram essas coisas, minha cabeça não me deixa pensar em outra coisa senão Anabell estar grávida.

–-x--

Os dias se passavam, e ela continuava sem dar pistas, sem comentar. Agia como se nada estivesse acontecendo, estava normal apesar das mudanças de humor constantes. Ora estava tão feliz, noutra se trancava em sua sala de dança, tocava seu piano e saia de lá com seus olhos inchados, quase irreconhecíveis.

Certa vez, a vi perante as brechas da porta tocando tão perfeitamente o piano de cor branca. Era uma melodia conhecida, famosa. Estava tão graciosa. E pela primeira vez, entrei naquela sala que costumava ficar trancada. As paredes eram brancas, o piso laminado. No teto, um lustre de cristal, e no canto da sala, um piano.

– Não sabia que tocava tão bem. - Falei enquanto dava passos lentos em sua direção. Ela me olhou sorrindo e respondeu:

– Sebastian quem me ensinou. Eu tinha uma caixinha de musica, da qual tocava uma canção que eu adorava, fiquei obcecada por ela. Sebastian me flagrava admirando aquela caixinha enquanto a bailarina girava e a música tocava. Eu não sabia seu nome, mas cantarolava cada nota perfeitamente. Um dia qualquer, pela primeira vez, vi o piano que antes era tão abandonado tocar essa melodia, quem a tocava era Sebastian. Foi aí que descobri que ele tocava tão bem, que poderia seguir carreira. - Ela sorriu novamente em meio suas lembranças. - O nome da música é Fur Elise, você deve conhecer, é uma das mais famosas melodias de Beethoven.

– Sim, conheço. Até então eu só não sabia o nome.

– As vezes Sebastian toca o piano enquanto danço. Não só essa, como também várias outras. Não sei o que seria de mim sem ele. - Ela disse passando os dedos entre as teclas do piano.

Ela retomou a canção do inicio. Desta vez, tocava com mais intensidade e concentração. Eu a observava tocar, tão admirado com sua beleza que parecia não cansar. Ela parecia um anjo caído do céu. Aquele era apenas mais um talento dela. A cada nota que ela tocava, eu tinha ainda mais certeza do quão incrível ela era.

Talvez por uma fração de segundos ou até mesmo minutos, imaginei Anabell ensinando balé a uma pequena garotinha que possuía o mesmo tom de cabelo que o dela. Não importa o que eu fazia, o que estivesse acontecendo, enquanto aquela história de gravidez não se esclarecesse, aquilo seria uma coisa fixa em minha cabeça. Vi uma família formada, e confesso, não foi uma coisa ruim. Muito pelo contrário, de tanto que pensei, passei a desejar.

Anabell sacudia sua mão de uma lado para o outro, repetindo meu nome diversas vezes. Não foram apenas segundos, foram minutos que estive fora.

– No que estava pensando? - Ela perguntou. - Estava sorrindo feito um bobo.

– Em algo que espero que venha a se tornar realidade. - Confessei.

– E posso saber qual esse seu desejo?

– Talvez esteja tão próximo de acontecer. - Falei voltando a sorrir.

– Vamos, não me deixe curiosa.

– Tudo bem. Mas antes, quero te perguntar algo.

– Vá em frente, pergunte.

– Você não tem nada para me contar?

Ela voltou a se silenciar. Fechou os olhos e respirou fundo respondendo:

– Você poderia ser mais claro quanto a isso?

– Bem, é que.. - Pronto para perguntar o que eu realmente queria, novamente fui interrompido. Sebastian entrou na sala nos convidando para tomar seu famoso chá. Anabell levantou-se, e eu fiz o mesmo. Aquele assunto teria que ficar para depois.

–-x--

Sebastian também possuía um comportamento muito estranho. Ele era misterioso, sabia de tudo que acontecia. Seu olhar era intimidador e sério. Na maior parte do tempo ele era apenas um mordomo, mas momentaneamente ele largava aquela função e agia de forma anormal. Me observava constantemente, e nem fazia questão de esconder isso. Por incrível que pareça, ele conhecia todos os meus defeitos, sem nem ao menos eu cita-los ou mesmo transparece-los. Trancafiava a maioria das portas, em especial uma da qual não consigo imaginar o que tem por trás.

Ele serviu o chá e se retirou da cozinha, mas antes curvou-se perante Anabell à chamando de senhorita, como sempre fazia. Aquele era o único chá que eu me atrevia a beber.

– Esse chá é muito bom, mas será que ele não é prejudicial a algo, ou alguém? - Falei indiretamente novamente.

– Não, ele não é prejudicial a nada, só causa coisas boas. - Ela respondeu.

– Então, se uma pessoa grávida tomar esse chá, ela estaria fazendo bem ao bebê?

– De certa forma, sim. - Ela fez uma pausa e me encarou por um tempo. - Eric.. você está sabendo de algo? - Ela perguntou.

– Na verdade, estou sim. Precisamos conversar. - Falei sério.

– Tudo bem, acho que esse é o momento certo. - Ela disse também séria.

Ela ficou em silêncio esperando eu falar algo, e eu da mesma forma esperava que ela contasse de uma vez por todas. Nos encarávamos, e hora ou outra ela sorria, me fazendo sorrir também. O momento foi interrompido pelo toque de seu celular. Ela olhou para tela antes de atende-lo, e ao conferir quem ligava, atendeu.

– ... Não, espere por mim, já estou indo. - Ela disse nervosa e desligou.

– Quem era? - Perguntei.

– Caroline. Ela esta prestes a fazer uma grande besteira. - Ela falou. - Vamos antes que ela acabe se machucando.

–-x--

Anabell pediu para que Sebastian acelerasse, pois Caroline poderia se arrepender amargamente. Ela não falava que besteira era essa da qual Caroline estava prestes a cometer, mas estava me deixando nervoso e preocupado.

Em menos de quinze minutos chegamos. Anabell desceu rapidamente do carro, e correu desesperadamente até a porta. Tentou abri-la, mas estava trancada.

– Rápido, Eric. - Ela gritava. - Abra depressa, antes que ela..

– Antes que ela o que? - Eu perguntava nervoso.

– Acho que tudo vai se explicar agora, Eric. - Ela falou.

Quando finalmente consegui abrir a porta, Anabell entrou depressa, e subiu as escadas correndo. Fiz o mesmo à seguindo. Ela nos levou até o quarto de Caroline, e abriu a porta sem mais nem menos.

Caroline estava no chão, chorando de uma forma que nunca vi. Nem mesmo quando ela descobriu a traição. Ela chorava desesperadamente, e ao seu redor estavam espalhados remédios e pílulas. Ela estava completamente descabelada, e em seu rosto marcas de dedos.

– Caroline, o que aconteceu? - Perguntei me agachando no chão.

– Por favor, Caroline. Me diga que você não tomou nada disso. - Anabell disse em um tom rígido e agachou-se ao chão como fiz.

Caroline estava sem condições de responder, não parava de chorar e soluçar. Balançou a cabeça negativamente em resposta a pergunta de Anabell.

– Não faça isso, tenho certeza de que vai se arrepender depois. É difícil sim, eu sei. Mas você vai ver que só vai trazer felicidade, pode ser um recomeço, Caroline. Por favor, pensa no que você está pretendendo fazer. - Anabell disse.

– Espera, isso quer dizer que.. - Falei espantado. - Isso quer dizer que.. aquele teste no banheiro.. o alguém próximo.. Caroline, você está.. você está grávida? - Perguntei perplexo.

Ela levantou-se do chão, e ainda chorando respondeu:

– Sim. Estou, Eric. E como se não bastasse, é do Josh. Anabell, sinto muito, mas não sei que felicidade isso vai trazer, estou carregando um bebê do meu ex-namorado que me traiu tão friamente. Toda vez que eu olhar para essa criança, vou lembrar dele, e do quanto eu sofri, e ainda estou sofrendo com o que ele fez. - Ela disse enquanto secava suas lágrimas.

– Se tem uma coisa da qual eu tenho certeza, é do quão terrível é uma perda. Lembre-se de que também é seu bebê, também carrega seu sangue.

– Mas, e quanto ao colégio? Vão tirar sarro de mim por ser a gestante traída. E esses não são os únicos problemas, minha mãe vai surtar quando descobrir, e as despesas? Ai meu Deus, está tudo dando errado de uma só vez. - Ela lamentava.

– Caroline, estou com a Anabell. Você está em seu último ano, pode terminar os estudos em casa. Tia Luíza vai surtar sim, você vai ouvir o maior sermão de toda sua vida, mas você sabe muito bem como ela é, vai dar bronca, mas no final, vai te apoiar com todas as forças. E fome essa criança não passa. - Falei.

Caroline sorriu, secou as lágrimas que ainda escorriam, e nos abraçou.

– Obrigada pelo apoio de vocês. - Ela disse. Agachou-se para recolher os remédios espalhados pelo chão enquanto algumas de suas lágrimas ainda pingavam no tapete.

– Isso quer dizer que você.. vai ter esse bebê? - Anabell perguntou.

– Vou. - Ela respirou fundo. - Conto tudo para ela amanhã. Vocês podem voltar a fazer o que estavam fazendo, se quiserem, claro. Vou descansar um pouco, o dia amanhã vai ser longo.. - Ela disse deitando em sua cama.

À deixamos só em seu quarto, se preparando para um dia longo, como ela mesma disse. Alguns míseros passos, e já estávamos em meu quarto. Ela sentou em minha cama, e sorriu dizendo:

– Então.. aquela conversa..

– Achei que fosse você. - Expliquei.

– Que fosse em quem estava grávida?

– Exatamente.

– Por isso estava tão estranho ultimamente?

– Isso. Achei que aqueles passos do balé poderiam fazer você perder o bebê do qual não estava esperando.

– Estava preocupado com o nosso bebê que nunca existiu? - Ela perguntou.

– É. E tenho que confessar, eu estava gostando dessa ideia.

– Sério? De verdade?

– Sério. - Exclamei. - Eu te amo, e se for para formar uma família, que seja com você.

– É um alivio que pense assim. - Ela confessou. - Eu também te amo, Eric. - Ela disse.


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Notas finais do capítulo

Awn, que fofos. Bem, esse foi o fim da primeira fase da fic, a fase do relacionamento de Eric com Anabell. A próxima fase vai ser curta, porém todos os mistérios da Anabell irão vir de uma vez. Espero que estejam preparados. Até logo.
xoxo, YC



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