Achei que tudo fosse voltar ao normal, e que a felicidade fosse voltar a fazer parte de todos a minha volta. Mas parece que a vida tinha que manter um equilíbrio, e enquanto eu estivesse feliz, Caroline iria estar para baixo, e vise versa. Era difícil vê-la daquele jeito, logo ela que vivia reclamando que eu não saia do quarto, que eu não sabia aproveitar a vida e que tinha que dar um jeito de matar a tristeza.

Na noite em que ela descobriu que Josh estava à traindo, seu mundo desabou, e a vida que ela julgava ser perfeita, de repente, passou a ser uma droga e sem sentido. Ela se sentia humilhada, principalmente depois que Josh deixou de procura-la como ela pediu, e assumiu um novo namoro com Victória. Ela passava suas tardes assistindo novelas, devorando barras de chocolate e sorvete. Ela não sabia como reagir à aquilo, muito menos eu. Anabell, porém, era quem mais dava apoio à situação delicada de Caroline. Ela se mostrou ser uma grande amiga, estava sempre fazendo discursos de apoio e superação.

– ... Muito, muito obrigada mesmo pelo apoio de vocês, mas eu realmente não quero sair. - Ela confessou.

– Tem certeza? Vamos à aquele parque novo que abriu recentemente. - Falei.

– Tenho, Eric. Não se preocupem, vou ficar bem. - Ela disse convincente.

– Então tudo bem. - Aceitei. - Vamos? - Anabell assentiu com a cabeça e tomou a frente.

– Divirtam-se. - Caroline gritou antes que a porta se fechasse.

–-x--

Aquele parque apesar de diferente, me fazia recordar do meu primeiro encontro com Anabell. Cada detalhe era revivido como se fossem acontecimentos recentes. Mas aquele parque de diversões, sem dúvida, era melhor que o outro. Além da diversidade de opções de divertimento, tinha também novas atrações, como o Ilusionista, o Circo do Horror, e a Cartomante.

O Ilusionista foi uma atração barata. Não conseguiu me convencer, não valeu o preço do ingresso. Tinha apenas truques baratos, não passava de um amador. O Circo do Horror, era uma substituição das famosas casas assombradas. E ao invés de assustar com fantasmas, vampiros, zumbis, e demônios, ele procurava assustar com atrações aberrante de um circo.

Diferente da primeira vez, quando fomos à Casa do Horror, desta vez, Anabell não mostrou se assustar com nada. Mas estava estranha quando à um mimico que fazia parte das atrações do circo. Ele tinha um corte que ia de seu supercílio até sua bochecha, e atravessava seu olho esquerdo. Ele parecia ter um olho de vidro um pouco mal colocado. O mimico encarava Anabell e sorria de uma forma assustadora, ela também o encarava, e pareceu ter esquecido o restante do mundo.

– Anabell, você está bem? - Perguntei acenando a mão frente à seu rosto. Ela deu algumas piscadelas, e voltou ao normal.

– O que? - Ela perguntou. - Desculpe, não ouvi.

– É, percebi. Aquele mimico lhe chamou atenção?

– Sim, ele é o.. - Ela fez uma pausa e olhou para mim. - Esquece. - Completou estranha.

– Tudo bem, então vamos visitar a Cartomante e depois comemos algo, pode ser? - Sugeri.

A cabana da Cartomante ficava a alguns passos do Circo de Horrores, e rapidamente chegamos lá. O ingresso para consulta-la era mais caro do que as de outras atrações, pois ela jurava fazer previsões certas. Na entrada, havia um segurança, que barrou a entrada dos dois.

– Só é permitida a entrada de um por vez. - Ele disse.

– Tudo bem, você pode entrar primeiro. Espero aqui fora. - Anabell falou.

– Tem certeza? Podemos ir na montanha russa, ou na roda-gigante, aposto que essa Cartomante não acerta uma.

– Não, estou curiosa sobre isso. Pode ir primeiro, te espero aqui. - Ela insistiu.

– Tudo bem. - Concordei. Entreguei o ingresso ao segurança, e entrei.

Estava tudo completamente escuro. Acabei esbarrando em alguns objetos jogados no chão. Mais a frente, encontrei uma mesa e o rosto de uma senhora de idade iluminado pela luz de velas. Ela fez um gesto indicando a cadeira. Sentei à cadeira, e esperei que ela fizesse sua famosa previsão. Ela espalhou cartas por sua mesa, ficou em silêncio durante um tempo, e finalmente se manifestou. De olhos fechados, ela pediu para que eu lhe desse as mãos.

– Vejo muita solidão.. - Ela disse. - Vejo em sua alma um passado doloroso, e no fundo, bem no fundo de sua alma, um passado esquecido que deseja ser lembrado. Lembre-se garoto, lembre-se. - Ela gritou histérica. De certa forma, ela me assustou mais que o Circo dos Horrores.

Levantei da cadeira tentando procurar por uma saída, mas ela me impediu.

– Espere, ainda tem mais coisas. - Ela falou.

– Não quero saber. - Falei dando as costas à ela.

– É sobre uma gravidez inesperada.. - Ela confessou. O que ela disse me interessou. Voltei à cadeira e me sentei novamente.

– Um alguém muito próximo de você espera um bebê. - Ela previu. - Posso pedir as cartas o nome da futura mãe, se você colaborar. - Ela disse fazendo um gesto com as mãos.

– Não precisa pedir ajuda as cartas, sei bem quem está esperando um bebê. - Falei saindo dali perplexo.

Completamente sem reação ao que ela disse, saí dali sem saber o que fazer. Finalmente um feixe de luz voltou a atravessar minhas pupilas. Procurei por Anabell aos arredores da barraca da Cartomante, mas não à encontrei.

– Sabe em que direção a garota que estava comigo foi? - Perguntei ao segurança.

– A ruivinha? Sei sim. Ela viu um mimico sinistro e o seguiu. Depois disso ela sumiu da minha vista. - Ele respondeu.

Procurei por ela por todos os cantos, menos no lugar mais óbvio. Preocupado, caminhei até o circo. Pronto para entregar outro ingresso ao segurança, vi o cabelo de Anabell em movimento indo para trás da barraca do circo. Corri para tentar alcança-la, e como já previa, encontrei ela com o mimico.

– Anabell, o que faz aqui? - Perguntei. Ela virou-se assustada em minha direção, e o mimico, fugiu pela entrada dos fundos.

– Nada, eu só.. resolvi perguntar como ele deixou aquela cicatriz tão real. - Ela falou desconfiada. - O que a cartomante disse? - Ela perguntou.

– Nada de mais, bobagens. - Respondi. - Você não disse que esperaria por mim do lado de fora da barraca da Cartomante?

– Sim, me desculpe. É que aquele mimico.. ele.. esquece. Vamos até a farmácia? - Ela sugeriu nervosa.

– Farmácia? O que quer na farmácia?

– Preciso comprar um remédio. Podemos ir lá depois que sairmos daqui. - Ela falou desviando o olhar.

– Não precisamos esperar. Vamos agora. - Falei convencido.

–-x--

Foi difícil, mas achamos uma farmácia aberta as nove e meia da noite. Haviam poucas pessoas, apenas um casal de idoso e uma moça acompanhada de uma criança que talvez viesse a ser sua.

– Procura naquela prateleira, que procuro nessa. - Ela propôs. Fui até a prateleira que ela recomendou, e à deixei na prateleira do lado oposto. O nome do remédio que ela sugeriu era difícil, procurei atentamente até que encontrei.

Ao voltar para a prateleira que ela estava, já era tarde de mais. Ela já estava no caixa, e a atendente colocando algo em um saco de papel.

– Achou? - Perguntei.

– Achei. - Ela respondeu. - Vamos? - Ela assentiu com a cabeça, e antes de sair, pagou a caixa.

–-x--

Caroline estava um pouco melhor quando voltamos. Contávamos sobre as atrações que vimos, e eu tentava inventar uma mentira qualquer para não ter que comentar sobre a gravidez que a Cartomante comentou. Após uma longa conversa, fui tomar banho em meu quarto, e as deixei conversando na sala sozinhas.

Não demorei muito tempo. Quando voltei à sala, Caroline estava no sofá, e nenhum sinal de Anabell.

– Ela foi embora? - Perguntei.

– Não. Está no banheiro. - Ela respondeu calma.

Subi as escadas correndo. Finalmente os pontos estavam se ligando. Esbarrei com ela saindo do banheiro.

– Tá tudo bem? - Perguntei preocupado.

– Tudo. - Ela respondeu rindo.

– Sério mesmo? - Repeti.

– Sério. Porque não estaria?

– Ah, por nada. Posso usar o banheiro?

– Você não acabou de sair do banheiro? - Ela perguntou desconfiada.

– É, mas.. preciso usa-lo urgente. - Falei entrando depressa.

Trancafiei a porta, e não fiquei muito surpreso com o que vi. Havia um teste de gravidez mal escondido no lixo, e do pouco que entendo, aquele era positivo.