Eu acabei mesmo de convidar Ethan para entrar na minha casa? Meu Deus, eu realmente estou ficando doidinha, será que é caso de internação convidar o ex cunhado para entrar na sua casa? Com um cachorro. O que eu tenho na cabeça? minhoca? Meus neurônios queimou depois de um abusivo uso de bebida alcoólica quando mais nova? Só o que posso afirmar é que estou mais confusa ainda, se é que é possível.

Dave realmente perdeu o resto de vergonha na cara que lhe restará, mandar o irmão para pedir desculpas é simplesmente patético.

Olho para Ethan sentado no sofá da minha sala, segurando aquele lindo filhote, me observando com um olhar constrangido e preocupado, só então lembro do estado vergonhoso em que minha roupa está, e cacete, eu acho que corei.

Olhando para Ethan todo constrangido e tímido fico com um pouco de dó, mas logo essa dói se vai quando lembro que ele está fazendo serviço de mensageiro para seu irmão que não teve um pingo de vergonha para ele mesmo se desculpar. Babacas.

– Olha, esse não é o meu melhor momento Ethan - digo, e ele levanta o olhar de minha camisa sem alguns botões, mostrando levemente os meus seios e olha em meus olhos - e eu realmente não quero saber do seu irmão traidor - arrumo a camisa e me abraço - e não quero nenhum presente dele, então, não precisa se esforçar para me suportar - digo andando para ir abrir a porta para ele ir embora.

– Eu não... hm... vim... ér, hm.. - escuto Ethan gaguejar antes de abrir a porta - o filhote, hm... - me viro e vejo Ethan abrindo a boca várias vezes - é meu. - ele termina de dizer, então eu o encaro.

– Seu? - pergunto, indo me sentar - Está bem, Legal.

Ficamos em um desconfortável silêncio, estou realmente confusa, Ethan segura o pobre filhote como se fosse sua vida, sentada ao seu lado, fico sem saber o que fazer, e o que falar.

– Eu... eu não quero falar de Dave - Ethan murmura - eu juro que não sabia, e o acho um idiota por ter feito o que fez, não sou conivente com seus atos - termina Ethan rápido e seguro de suas palavras, não gaguejando mais.

– Hm, tudo bem - murmuro e percebo que ele está me olhando - o que veio fazer aqui então? - pergunto meio rude.

Eu não sou assim sempre, as vezes sou simpática até demais. Mas Ethan sempre demonstrou que não suporta minha presença, então, assim do nada ele aparece em minha casa querendo ser simpático, logo quando não estou em meu melhor momento para me forçar a ser simpática.

– É; é, é te ajudar - murmura - digo, Dave não te merece Emma. - olha diretamente em meus olhos.

– O que quer dizer Ethan?

– Quero dizer que você é melhor que isso tudo, melhor que Dave - ele diz de um modo sério, parecendo preocupado - você tem que superar. - Ethan diz me olhando de cima a baixo.

O que ele planeja afinal? O cara nunca olhou direito em minha cara, em cinco anos que namorei seu irmão, essa é uma das poucas vezes em que ele olha diretamente em meus olhos e que temos um diálogo.

No primeiro ano em que estive com Dave, Ethan era mais agradável comigo, conversávamos sobre livros e seriados, ele sempre fora muito tímido mas sempre gentil e divertido, então houve o dia que ele viu Dave e eu em uma situação, hm... digamos, constrangedora. Então depois dessa constrangedora cena Ethan mudou comigo, deixando de ser o cara gentil e divertido, apenas comigo, quando estávamos no mesmo ambiente, não houveram conversas agradáveis. Sempre que tentei conversar com Ethan ele se mostrava desinteressado, as vezes eu o pegava me observando, mas quando via que o peguei me olhando ele desviava o olhar, nunca suportou minha presença, e agora está aqui, conversando comigo, sendo gentil, e dizendo que quer me ajudar, tem jeito de ficar mais confusa? Acho que não.

– Quero te ajudar Ems. - ele afirma.

Ems. Na época em que conversávamos ele me chamava de Ems, foi então que Dave começou a me chamar de Ems também. Nunca entendi porque Ethan se afastou, mas tenho minhas teorias.

No dia em que Ethan pegou Dave e eu transando, estávamos no sofá da sala, (como eu já lhes disse nada muito, como posso dizer? nada muito selvagem.) nus, Dave fazendo os movimentos e tudo aquilo que vocês já sabem, ficar contando detalhes é constrangedor, ah, e os sons e nesse vai e vem, vai e vem Ethan chegou, abriu a porta ficou alguns minutos olhando e saiu novamente. No dia eu queria bater nele, e cavar um buraco para me enfiar. Foi difícil convencer Dave a usar o sofá do antigo apartamento e o seu irmão aparece.

Tinha nomeado Ethan mentalmente de Empata Foda.

Agora lanço minhas teorias de " Porque Ethan ficou anti-social com Emma":

Primeira - Ele viu meu delicioso corpo nu, e não achou nada delicioso, então toda vez em que olhava em minha cara lembrava do meu terrível corpo. (Eu realmente não acredito nessa).

Segunda - Ethan olha em minha cara e lembra de Dave e eu transando.

Terceira - Ele nunca foi com a minha cara.

Quarta - Ele é apaixonado pela namorada de seu irmão. Na época, Eu.

Quinta e não menos importante - Ficou com nojo pois sujamos o sofá com porra. (Tenho certeza que é essa.)

Teorias certas ou não, não importa mais. Não sou mais a sua cunhada. E não sei porque estou me importando com isso, realmente não sei. Ethan gostar ou não de mim é irrelevante.

– Ems - percebo que me perdi em pensamentos com o olhar em Ethan - Tudo bem?

– Oh sim. - respondo desviando o olhar.

– Porque não vai tomar um banho? - Ethan pergunta se levantando - Vou ligar para pedir comida, está bem - mexe no celular e segura o pequeno filhote.

Sigo para o meu quarto, planejando tomar um banho mas quando dou dois passos sinto sua mão quente em meu braço, me segurando, impedindo-me de continuar.

– Emma.

– O que foi Ethan? -me viro e o vejo com um olhar constrangido quando pergunto.

– Hm. O filhote - Ethan murmura - eu o trouxe para você, mas se você não quiser ...

Sabe quando tudo para e você não sabe o que fazer? Então, eu estou assim.

Ethan trouxe um filhote para mim.

Simples, o cara que não vai com minha cara trouxe um filhote para mim. O irmão do meu ex noivo canalha traidor. Será que agora minha vida vai virar um conto de fadas, como na Branca de Neve? Mas ao invés de uma bruxa malvada é Dave e ao invés de uma velinha indefesa dando-me uma maça é Dave se passando por Ethan (nada) indefeso dando-me um filhote muito fofo mas que pode se transformar em uma fera. Agora por favor me internem. Depois dessa...

Se eu não sou louca eu vou ficar.

– O que? - pergunto com um olhar desconfiado. Já lhes expliquei, mesmo com uma pontinha de insanidade na teoria da branca de neve, tudo isso está muito suspeito, e oras, como não desconfiar?

– Porque Ethan? - pergunto novamente alterando o tom da voz - Porque tudo isso? Você aqui na minha casa, você nem vai com a minha cara - mexo os braços e o olho nos olhos, olhos tão verdes e tristes? Tristes. E me senti arrependida por ter sido grosseira.

Afinal, Ethan me trouxe um filhote, um filhote de Golden retriever, e com um lacinho vermelho. Um lacinho vermelho. Isso é inacreditável.

– Olha, eu... - resolvo reformular meu pensamento de maneira mais, hm, amigável - Eu, não queria ter sigo rude, mas desculpa, é estranho!

Por mais estranho que seja devo me retratar, poxa o cara me traz um filhote, é uma fofura. Ele poderia ter trazido uma garrafa de conhaque, whisky, vodca, até cerveja, mas ele trouxe um filhote e eu realmente achei bonito esse ato. Não que as bebidas fossem atos feios, iriam ser lindos atos de compaixão também, e eu poderia aproveitar mais...

Melhor esquecer as bebidas.

– Desculpe Ems, eu pensei no filhote pra' você não se sentir sozinha - Ethan diz acariciando o filhote - Mas se você não quer, tudo bem - ele dá um pequeno sorriso triste - eu já estava pensando em alguns nomes mesmo - ele dá de ombros e me olha novamente com um semblante triste e magoado - Eu só quero te ajudar, não sabia e nem gostei das atitudes do meu irmão - vejo em seu olhar raiva, e decepcionamento - e você tem que comer e eu tenho que pedir comida, depois resolvemos sobre o filhote, vá tomar um banho - ele me olha dos pés a cabeça e me sinto corar - está lastimável. - termina de dizer rindo pondo o filhote no chão, pegando seu celular e discando algo.

Porra, eu corei.

Não fico mais um segundo naquela sala e corro para o quarto e indo para o banheiro. Minhas bochechas ainda queimam, eu corei por causa de Ethan O'Brien? irmão de Dave? Meu Deus, onde esse mundo vai parar? Reformulando: Onde eu vou parar?

Com a toalha no banheiro, começo a me despir, meu estado é realmente é lastimável, mas estou ou estava em crise emocional, eu sei que não é justificativa para não tomar banho, mas é a vida. Não me julguem.

Quando a água cai sobre minha cabeça e ombros e escorre pelo meu corpo, meus pensamentos voltam para Dave e o simples peso de uma pergunta cai sobre meus ombros, o que o levou a me trair? Desço meu olhar para meu corpo, será que é isso? Não estou mais magrinha? Meus seios caíram? minha bunda está gorda e com celulites? Então observo meu corpo atentamente, e não noto diferença, continuo com o mesmo corpo que estava aos meus ilustres 20 anos quando conheci Dave.

Escorrego pelo azulejo do banheiro e me sento no chão, apoiando meus braços nos joelhos, apoio minha cabeça nos braços, chorando, penso no motivo de Dave ter tido um caso com a pirralha.

Íamos nos casar em quatro meses, e se chegasse a nos casar ele continuaria com seu sortido caso ou ele nem mesmo ia se casar comigo, talvez ele fosse me abandonar no altar da igreja.

Isso é tudo muito frustrante, saber que o homem que eu considerava ser o homem da minha vida estava me traindo a seis meses com a pirralha/menina/mulher que eu considerava ser uma amiga de confiança e que eu só soube do caso porque os peguei no flagra, na cama que Dave e eu dividimos por anos.

Sei que chamar Lidia de pirralha, é infantil e fútil, mas pensar que eu era amiga da mulher que transava com meu noivo é demais. Me sinto uma idiota.

Vai que xingar alivia um pouco a minha idiotice.

Muitas vezes Alisson falou que Lidia não prestava, houve várias vezes que protegi a garota. Alisson sempre disse que não podemos confiar em pessoas que se mostram boazinhas demais, gentis demais, delicadas demais e era exatamente assim que pirralha se mostrava. Mas para Alisson a máscara de menina boazinha da pirralha nunca funcionou, ela sempre dizia para não confiar em Lidia. E eu sempre dizia que a garota era só um menina nova na cidade, sem muitos amigos, querendo curtir, e ainda afirmava: Prima de Melissa, qual mal pode ser? Agora eu vejo um grande mal.

E aprendi algo: Não devemos julgar as pessoas pelos parentes.
Nesses últimos tempos, Lidia nunca podia sair, era sempre estudos, grupo de estudos, e as vezes, encontros românticos com um carinha do campus e agora eu sei qual é o carinha, e não é do campus, e que os estudos, eram na verdade transar com Dave.

Alisson falará a verdade, Lidia é uma vadia.

Olhem que engraçado, vadia rima com Lidia.

Riu sem humor, como fui parar aqui, como eu fiquei assim?

Sentada nua no chão do banheiro chorando, completamente vulnerável. Em uma rídicula situação. Oras, meu noivo me traiu, só isso. Ninguém morreu, ninguém se transformou em zumbi e eu não tenho nenhuma doença ou algum tumor no cérebro. Não posso mais me lamentar por algo que não tenho culpa. Não posso mais me destruir e faltar ao emprego como fiz nesses últimos dias, também não posso recusar a ajuda de meus amigos, como fiz com Alisson e Melissa, que me ligaram diversas vezes e eu me recusei a atender.

Dave não merece isso. Dave não merece minhas lágrimas.

Consigo me firmar em um pontinho de coragem e auto estima que surge em mim e percebo que fiquei tempo demais no banho lembro que Ethan está na sala, me esperando para comer com um lindo filhote que ele trouxe pra' eu não ficar sozinha e isso é realmente fofo. Até me arrependo um pouco de ter sido um pouco rude com o coitado, mas também não posso dar muita confiança, ele ainda é o irmão de Dave, o bonito e tímido Ethan, será que é errado achar meu ex cunhado bonito? E hm, digamos que sexy?

Vaaaaamos lá!

Ethan é sexy! Falei.

O corpo mais musculoso que de seu irmão, os olhos mais verdes, e ele não parece um anjo como seu irmão, mas ele tem um sorriso malicioso igual ao de seu irmão, e porque eu estou os comparando? Dave já era. Não quero mas olhar para a cara de anjo traidor dele, e Ethan, bem... Ethan.

Não!

Eu não estou interessada nele. Mas seria errado estar interessada nele? Ou pensar que ele está interessado em mim. Não me culpem e nem me julguem, o cara que está na minha sala me esperando é muito gostoso, e fofo, e está me esperando, e eu fui traída, estou triste e carente. Estou carente a muito tempo antes de saber das escapadas de Dave.

Depois de colocar uma roupa confortável e arrumar meu cabelo volto para sala onde encontro caixinhas de comida chinesa no balcão que serve de divisória para dividir a cozinha da sala, o filhote está está deitado confortavelmente em algumas almofadas no chão e Ethan está sentado largado no sofá com uma expressão de pensativo, o vendo assim meus pensamentos maliciosos voltam a minha mente, e reparo em como Ethan está mais másculo e como seria estar entre os braços fortes dele.

Resolvo bloquear esses pensamentos pervertidos da minha mente.

– Ems - Ethan diz se levantando e indo em direção ao balcão - venha vamos comer. - abri as caixinhas de comida e vai colocando em dois pratos - tenho certeza que não teve uma alimentação saudável - diz sorrindo e olhando na direção de minhas garrafas de vodca e os pacotes vazios de chocolates jogados no lixo.

Sorrio envergonhada.

Olho em volta no meu apartamento e percebo agora que está organizado, sem minhas garrafas de vodcas jogadas pelo chão e pacotes de chocolates vazios, não há nada. Está tudo limpo e organizado.

Lembro-me de Ethan, que foi ele que limpou minha bagunça, que ele está arrumando comida para mim agora, que ele veio me salvar de mim mesma, quando não era ele quem deveria estar cuidado de mim agora, e sim seu irmão, o cara com quem fiquei cincos longos anos. O cara que eu pensei ser o amor da minha vida. E onde ele está agora? Ele não veio me ver, não me ligou e não mandou mensagens. Ele sabe onde estou, ele sabe meu numero. Ele nem tentou mostrar que estava arrependido tirando as palavras que ele proferiu em seu apartamento. Aquilo não era verdadeiro, Dave não me ama mais, não me deseja mais. Mas ele estava acostumado a mim, estava acostumado a me ter, acostumado a eu sempre ir ao seu favor, acostumado com o fato de eu sempre estar lá por ele quando à muito tempo ele não esteve lá por mim.

Dói tanto, me sinto uma tola.

Como não percebi antes? Como fui cega ao ponto de não ver o que esta na minha cara? Eu não quis enxergar o que sempre esteve na minha frente e isso dói tanto, é tão frustrante e me deixa tão triste, zangada e perdida.

Sinto lágrimas escorrendo de meus olhos, e lembro de Dave, quando ele me acordava aos beijos e eu não queria me levantar ele começa a fazer cócegas e então já estávamos nus, um amando o outro. E isso tudo acabou não vai existir mais, por causa de uma tremenda traição, porra. Meu coração está em frangalhos, está todo despedaçado, fragmentado.

Sinto braços me rodearem e eu não me afasto, agarro-me a Ethan como a única luz que me resta, o abraço forte, aconchegando minha cabeça em seu peito másculo molhando sua cara camisa com minhas lágrimas, sinto seu queixo em minha cabeça, e sua mão cariciando meu cabelo.

Quando me acalmo olho para cima e vejo seu rosto bonito e preocupado, olho em seus olhos e tenho medo de ver pena neles, mas naqueles lindos olhos não á nenhum sentimento de pena, tudo que eu vejo é carinho e algo mais que não sei reconhecer.

Estamos disputando em que vai desviar o olhar primeiro. Eu perco.

Vou me afastando devagar de seu corpo, me sinto envergonhada, mas nada que me faça correr para o quarto então meu estômago ronca, e ai sim eu quero correr para o quarto, o quão constrangedor essa cena pode se transformar? Sinto meu rosto queimar e acho que estou vermelha como uma pimenta.

Olho novamente para ele e vejo que está sorrindo e me oferecendo o prato. Ethan é realmente fofo.

Sento no tapete do chão da sala e começo a comer, Ethan se senta ao meu lado e começa a comer também.

Silêncio.

Um confortável silêncio.

– Qual vai ser o nome? pergunto olhando na direção do filhote que estava dormindo encostado na minha perna.

– Você escolhe - Ethan desvia os olhos da Tv agora ligada e olha para mim.

Volto meus olhos para tv, está começando um filme. Thor. Sorrio.

– Thor.

– Sim? - responde confuso a minha afirmação.

Pego o pequeno Thor, o considerando como um filho e sorrio para ele.

– Sim, ele vai chamar Thor - Ethan sorri doce e passa a mão em Thor.

– Meu filho.

Ethan da uma gargalhada e faz uma cara de pensativo, passando os dedos no queixo.

– Então ele é meu afilhado. - Confirmo balançando a cabeça em afirmativo e sorrindo.

O silêncio volta a reinar na sala, nada desconfortável.

Assim se passa o dia, silencioso. Com Ethan ao meu lado as vezes comentando algo, ou as vezes rindo dos meus comentários. Não me senti tão sozinha como estava antes, me senti feliz.

Mas ainda sentia a dor, a dor que destruiu meu coração.