Realidade Imaginária escrita por Duda Mockingjay


Capítulo 33
Segredos revelados por um fóssil de carne e osso.


Notas iniciais do capítulo

My little Jujubas aqui estou eu no mesmo BatNYAH para trazer mais um cap para vcs!
E, pasmem, mas tem mais de 10000 palavras! É isso mesmo! Então acho que minha demora está perdoada né?
Então corram, corram pq o cap revela grandes surpresas!



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Como sempre tudo começou com a imensidão branca e antes que qualquer imagem se formasse gemi comigo mesma e fechei os olhos.

— Não, de novo não!

Meu corpo brilhava em dourado, a única luz naquele vazio sem cor, até que de repente o mundo começou a tomar forma e as cores preencheram o vazio. Pisquei e ao abrir os olhos novamente percebi que estava em uma quadra de esporte. Logo atrás da quadra uma mansão se erguia repleta de janelas e sacadas. Olhei confusa para a cosntrução, não se parecia em nada com as mansões modernas ou com os templos gregos e romanos. Lembrava um prédio na parte de baixo, porém degraus se uniam na parte de cima lembrando vagamente uma pirâmide. Algumas luzes refletiam nas janelas e sombras se moviam lá dentro.

— Onde é que eu vim parar?

Olhei para o céu que já começava a anoitecer e girei no lugar. Do outro lado da quadra, a alguns metros de distância do terreno se encontrava uma enorme ponte que começava a se iluminar com o anoitecer. Forcei a mente a pensar em todos os filmes que já assistira sobre Nova York até me lembrar o nome da ponte. Era óbvio, aquela era a Ponte do Brooklin! Mas o que eu fazia no Brooklin? O rio corria por baixo da ponte e tentei notar algo de diferente, algo que realmente me fizesse saber o que fazia ali, quem sabe uma sombra esquisita e mortal ou algum deus escrevendo historinhas, mas nada. Tudo estava completamente normal.

— Porque vim parar aqui? - Olhei pro céu esperando alguma resposta divina. Como sempre, nada aconteceu. Bufei. - Ok então. Acho que vou voltar pra minha linda e confortável cama já que essa droga de sonho não serviu para nada. Só não sei como...

Minha tentativa de voltar ao mundo real foi interrompida por um barulho de vozes que se aproximava. Olhei para o lado da mansão e de uma porta estreita saiu três pessoas. Eles caminhavam lado a lado e ao se aproximarem mais pecebi serem dois garotos e uma garota. Os meninos riam abertamente enquanto a menina parecia se segurar para não bater nos dois. Um dos garotos, um moreno de olhos chocolate e cabelos enrolados passou por mim ainda tentando segurar o riso. Quando sua mão me atravessou enquanto ele a erguia para limpar os olhos percebi que mais uma vez estava invisível e intocável. Suspirei e segui os grupo até chegarem ao outro lado da quadra. O moreno respirou fundo e encarou a garota. Sua voz soou rouca em meus ouvidos.

— Mas você tem que admitir que esse seu cabelo muda mais de cor do que você muda de humor. - Ele sorriu e a garota bufou. - E olha que não é pouco!

— Vocês não tem nada a ver com o meu cabelo! - Ela explodiu e apontou um dedo para o moreno. - Eu tenho a necessidade de mudança constante. Me sinto bem assim, será que dá pra respeitar? Não fico zoando seu fetiche de escavar qualquer pedra que vê pela frente!

— Eu não escavo qualquer pedra que...

— Nehabet, - O segundo garoto interrompeu a discussão com sua voz grave, porém suave. Ele se dirigiu a garota com tanto afeto que me senti envergonhada por presenciar toda aquela intimidade mesmo que nenhum deles me notasse ali. Ainda tentava saber o que significava Nehabet quando o garoto de cabelos negros tocou o rosto da menina e continuou. - Você é linda, não importa de que cor seu cabelo esteja. Entendo suas necessidades de mudança e as aprecio bastante. É isso que me faz apaixonar por você cada dia mais.

Corri para a frente do grupo para poder ver melhor cada uma das pessoas quando eles pararam em frente aos bancos da quadra. O moreno parecia entendiado com as declarações do casal. Os braços cruzados mostrava uma pele bronzeada e musculosa e suas roupas eram cumuns a não ser pela espada que trazia presa a calça. Diferente das espadas de Percy, Nico ou qualquer um do acampamento a do garoto era curva na ponta fomando uma espécie de ponto de interrogação completamente afiado. Voltei minha atenção para o casal quando o moreno seguiu para o banco. A garota era um pouco mais alta do que eu e seus cabelos loiros estavam repletos de mechas laranjas vivas, sua pele clara destacava os olhos azuis que brilharam ao ouvirem as palavras do garoto a sua frente assim como um sorriso branco surgiu em seus lábios. Mas o que mais me assustou foi o garoto que alisava o bochecha da loira com carinho. Ele era a réplica perfeita de Nico. Os cabelos negros chegavam ao queixo e eram açoitados pelo vento frio que vinha do rio, a pele era clara e contrastavam com as roupas negras que ele usava, os olhos negros eram vivos e galanteadores e seu sorriso de canto quase me vez cair para trás. A única diferença daquele garoto para o filho de Hades era a altura, o garoto a minha frente era centímetros mais alto que Nico e isso fazia a garota erguer a cabeça para encarar as orbes negras. Ainda atônita com as semelhanças, mal pude ouvir as novas palavras do garoto. Mas sua voz grave era impossível de não ser ouvida.

— Perdão por comparar seus cabelos com os pêlos dos camelos viajantes do deserto. - Ele parecia envergonhado e não se importava com isso, coisa que o di Angelo nunca deixaria transparecer tão facilmente. Pegando uma mecha laranja do cabelo da loira ele beijou a testa dela. - Não achei que fosse levar como ofensa, já que é um dos meus melhores elogios. Não irá se repetir.

— Tudo bem. Você ainda tem muito o que aprender sobre como elogiar uma garota do mundo real! - A loira sorriu para o sósia de Nico e enlaçou seu pescoço deixando um beijo casto nos lábios dele. - Ainda bem que esse seu físico e rosto perfeito já são um bom começo! E você. - Ela apontou para o moreno que a encarou espantado enquanto treinava com a espada. - É melhor controlar seus acessos de risos da próxima vez ou não vai sobrar irmãozinho para contar história!

— Calminha aí camelo. Prometo nunca mais rir de seus belos pelos brilhantes. - E o moreno voltou a rir abertamente sem se controlar. A loira se preparou para pular sobre ele, mas o Nico número 2 a impediu com um abraço enquanto também segurava o riso.

— Ok agora que tal começarmos o treino? - O garoto de cabelos negros deixou a namorada no banco, dando-lhe um selinho, e foi em direção ao moreno na quadra, já segurando uma espada afiada e curva como a do outro garoto. Me dirigi para o banco ao lado da loira que tirou de sua bolsa um livro. Tentei ler a capa, mas não reconheci a língua e resolvi voltar a encarar os rapazes na quadra.

O moreno já estava em posição de batalha com sua espada esquisita erguida e pronta. O de cabelos negros parecia relaxado, como se já fizesse isso há anos e anos e soubesse que não seria vencido, e ergueu sua espada também preparado.

— Pronto?- O moreno perguntou concentrado e o 'quase Nico' sorriu de lado e tirou os cabelos dos olhos.

— Não sei porque ainda pergunta isso.. - E partiu para o ataque.

O som de lâminas se chocando só era interrompido pelos conselhos do garoto de cabelos negros como “Levante a guarda!” ou “Seu braço não está firme o bastante!” e as vezes pela queda do moreno no chaõ. Bem, as vezes seria elogio já que ele foi derrotado mais vez do que pude contar. O sósia de Nico parecia ser indestrutível e não importava onde o moreno atacasse ele estava preparado e seu oponente ia ao chão novamente até se levantar bufando e voltar a lutar. Era um ciclo vicioso e a garota loira ao meu lado parecia se divertir abertamente com as derrotas do moreno e interrompia sua leitura quando via o namorado derrubar seu irmão de novo e de novo.

Irmão... eles eram irmãos...

Encarei a garota que agora ria abertamente e percebi que aquele trio não eram tão estranho para mim. Não sabia explicar, mas eu senti que já os conhecia... mas de onde?

Meus pensamentos foram interrompidos quando a garota arfou e arregalou os olhos para além da quadra em direção ao rio escuro que corria ao longe. O livro caiu de sua mão e também olhei para o rio. A menos de dois metros do grupo um enorme monstro avançava com as narinas saindo fumaça e os olhos vermelhos de fúria. Ao chegar mais próximo das luzes da quadra pude discenir seus chifres gigantescos e o corpo peludo e musculoso. Sua cara deformada de touro e seu corpo de homem eram uma combinação bizarra para alguém que só o conhecia pela mitologia. Mas quem não reconheceria um...

— Aquilo é um minotauro? - Ouvi a garota ao meu lado arquejar e se erguer em um pulo quando os dois garotos se aproximaram dela já encarando a criatura que vinha em velocidade máxima na direção deles. - Por favor me digam que não estou vendo um monstro saído direto da mitologia grega invadindo nossa quadra!

— Mas essa criatura não existe! - O moreno suava e sua espada estava firme nas mãos enquanto a garota corria para a porta da mansão.

— Diz isso pra ela! - O garoto de cabelos negros correu em direção a criatura e pulou. Minha boca se abriu ao ve-lo dar um mortal no ar e parar sobre a criatura enfiando sua espada nas costas dela e escorregando pelo corpo dela, fazendo a espada partir o minotauro ao meio. Mas ao cair no chão atrás do mosntro percebeu que ele ainda estava muito vivo e suas costas completamente saradas. Na verdade elas não pareciam nem mesmo terem sidos feridas. Ele pareceu confuso e a criatura aproveitou para jogar o garoto longe.

Ouvi o grito de loira e olhei para a porta da mansão onde uma multidão de pessoas saía para a quadra, cada uma com suas armas erguidas e prontas para a batalha. A loira correu em direção ao namorado enquanto o minotauro estava ocupado atacando as pessoas que lutavam ao seu redor. Mas nada parecia feri-lo. As espadas entravam em seu corpo e saíam, mas nem mesmo uma gota de sangue do monstro ela derramada, as flechas não faziam nem cócegas ao encostarem na criatura e os chicotes não o seguravam por muito tempo.

— Porque esse monstro não está ferido? - Ouvi o grito de frustração do moreno que atacava as pernas do monstro e este nem ao menos sentia a lâmina afiada. Ele bufou e olhou ao longe vendo a loira ao lado do garoto de cabelos negros já recuperado. Correu para o lado da irmã. - Nossas armas são inúteis. O que vamos fazer?

Ele não esperou resposta e voltou a enfrentar o minotauro junto com a sósia de Nico que já parecia completamente sarado. Mas a loira continuou observando a batalha e olhou para o céu estrelado. Chegeuei ao lado dela a tempo de ouvi-la sussurrar.

— Minotauro... monstro grego.. - E nesse momento seus olhos se arregalaram brilhantes. Ela encarou o irmão que a olhou de volta e ele pareceu lembrar de algo assim como ela. Ele encarou a mão discretamente enquanto ela tirou um celular rosa da bolsa e gritou para o moreno e o namorado. - Segurem ele o quanto puderem, tenho uma ideia, mas é arriscado e não sei se vai dar certo, mas acho que é nossa única chance.

— Faremos o possível! - O garoto de cabelos negros piscou para a namorada e desviou de uma das patas do mosntro que foi em sua direção. - Só se apresse querida!

Ela correu para trás do banco e digitou freneticamente no celular. Depois guardou-o na bolsa e pegou uma lança saindo de trás do banco e seguindo para a batalha como uma guerreira.

— Está feito. Só precisamos esperar. - Ela gritou para o grupo e correu para a batalha, mas antes de sumir entre os guerreiros pude ouvir sua voz suplicar. - Por favor Annabeth, não me deixe na mão...

E aos poucos a imagem da batalha se borrou diante dos meus olhos e voltei para o vazio branco ainda me perguntando o que tudo aquilo significava e porque aquele trio me parecia tão familiar. Mas ao longe ouvi um som que foi aumentando aos poucos até se tornar um grito e me despertar de vez.

— Duda, levanta!

Gemi fechando os olhos pela claridade e virando para o outro lado da cama. Quem sabe agora o sono viria sem sonhos estranhos pra me atormentar?

— Mais cinco minutos mãe. - Enfiei a cabeça nos travesseiros macios me escondendo sob a corberta.

Até ela ser arrancada de mim com violência e me fazer encolher com o vento frio que lambeu meu corpo descoberto. Ouvi uma risada gostosa do outro lado da cama e logo soube quem eu deveria matar por ter me acordado.

— Pijama de ursinhos, quem diria? - Me virei de bruços e abri um olho vendo Percy enrolar minha coberta nas mãos e jogar em sua cama e voltando a me encarar. - Tá na hora de levantar Bela Adormecida. Sabia que deveria ter ido te trazer nos braços, com certeza ficou até tarde batendo papo com aqueles dois e acabou dormindo tarde, não é?

Suspirei lembrando o motivo de eu ter ficado até tarde fora do chalé e me virei na cama olhando para o teto com um braço sobre os olhos.

— Quem derá fosse culpa do bate papo... - Sussurrei e abri lentamente os olhos, com a claridade ainda borrando minha visão, e encarei meu irmão. - E você me trazer nos braços? Duvido já que quando cheguei você estava no quinto sono com o travesseiro todo babado!

— Eu não faço mais isso! - Ele bufou e eu ergui uma sobrancelha questionadora. - Ok, não sempre. Mas chega de tentar me enrolar e vamos saindo da cama antes que te derrube com colchão e tudo.

Gemi e levantei a cabeça para o relógio do outro lado do quarto. Quase gritei com Percy quando vi as horas.

— Seis horas! Você me acordou seis horas da manhã! - Me deitei com força e coloquei a cabeça embaixo do travesseiro. - É você que tem que dar aula cedo, não eu. Entao se me der licença vou voltar para meu querido sono e acordar lá pelas nove horas, sem interrupções eu espero. Boa noite.

— Ah de jeito nenhum. - Ouvi os passos dele sobre o chão e logo senti duas mãos se enroscarem eu meus tornozelos. - Minha aula é só as oito horas, mas o café começa a ser servido as sete e como sei que você é garota e passa uma hora pra se arrumar decidi te acordar as seis.

— Nossa quanta estratégia! Aprendeu com a Annie? - Murmurei, já fechando os olhos enquanto ele mexia nas minhas pernas. - Porque todo esse plano em plena seis horas da matina?

— Porque eu gostaria muito de tomar um bom café da manhã ao lado de minha irmãzinha para começar o dia bem. - Pude ouvir o sorriso em sua voz mesmo ainda com a cabeça sob o travesseiro. - Será que é pedir demais?

— Às seis da manhã, com certeza é sim!

— Então você não me deixa escolha...

Antes que pudesse protestar Percy puxou minhas pernas rapidamente o que me fez deslisar sobre a cama e quando me virei pronta pra gritar com ele senti algo gelado cair sobre meu corpo e encharcar minha cama. Sentei em um pulo e senti água escorrer por meu corpo direto para a poça que já se formava embaixo de mim. Cruzei os braços e encarei Percy que ria abertamente com as mãos sobre a barriga.

— Essa cena.. - Ele suspirou e voltou a rir quando meu cabelo grudou na testa e eu o empurrei de lado irritada. - Essa cena merecia uma foto!

— Perseu Jackson isso não teve nenhuma graça!

— Ah teve sim! - Ele respirou gundo, ainda limpando as lágrimas nos olhos, e me estendeu a mão que aceitei contrariada. - Um bom banho de água fria sempre ajuda a levantar nosso ânimo, heim?

— Ha ha, super hilário. É bom você parar de andar mais com o Leo! - Torci o cabelo o que criou uma poça no tapete aos meus pés e tentei torcer a blusa, já sentindo calafrios arrepiarem minha pele. - Como vou tirar toda essa água daqui?

— Simples.. - Percy ergueu as mãos e toda a água sobre a cama e o tapete pareceu se desgrudar deles e flutuou se unindo em uma bolha e seguiu até o banheiro sendo despejada na pia. Olhei admirada, eu sabia o que Percy podia fazer, mas ver assim pessoalmente era fantástico! Percy sorriu e se aproximou de mim. - Agora vamos dar um jeito em você... - Ele esticou as mãos para tocar meus ombros, mas mudou de ideia e cruzou os braços nas costas me encarando desafiador. - Melhor, vamos começar suas aulas. Primeira lição: se secar usando se poder.

— O que? Percy não sei nem por onde começar.. - Olhei para meu pijama encharcado e Percy sorriu carinhoso.

— É fácil. Primeiro respire fundo e feche os olhos. - Obedeci e ele continuou. - Agora imagine gotas de água saindo de sua pele, de suas roupas, de seu cabelo. Pequeninas gotas se unindo em sua frente e formando algo maior.

— Ok, imaginei. - Continuei de olhos fechados, mas senti algo diferente em meu corpo. O frio que a água me causou já desaparecia e meus cabelos já não grudavam na testa. Sorri comigo mesma quando uma gota fez cócegas em minha bochecha. - E agora?

— Agora abra os olhos. - Obedeci e me assustei ao ver em minha frente uma grande bolha d'água identica a que Percy fizera minutos atrás. O susto me desconcentrou e ela quase caiu no chão, mas Percy ergueu as mãos e a fez flutuar para o banheiro e sumir na pia. Ele me encarou com um sorriso orgulhoso. - Foi ótimo para uma primeira tentativa. Se continuar assim logo logo será tão boa quanto eu!

— Eu fiz isso? Eu me sequei? - Um sorriso admirado se abria em meus lábios enquanto olhava meu pijama completamente seco e meus cabelos soltos e sem uma gota d'água. Soltei um gritinho satisfeito e abracei Percy que riu de minha felicidade. - Percy eu usei meu poder! Isso foi fantástico!

— Foi sim. - Ele riu e me afastou fazendo uma careta. - Mas você ainda precisa de um banho. A água não tirou esse cheirinho...

— Mas o que? - Cheirei meu braço enquanto Percy sorria de lado. - Eu não tô fedendo!

— Isso é o que as pessoas que fedem dizem.. - Ele pegou a toalha pendurada no meu guarda roupa e jogou em mim e eu me encaminhei para o banheiro. - É bom se apressar já que hoje também começa seus treinos oficiais!

— Nem me lembre disso. - Gemi e entrei no banheiro com a toalha sobre os ombros, mas antes de fechar a porta Percy gritou.

— Hey vou me encontrar com Annie e quero te ver em frente ao chalé de Atena em.. - Ele parou por um tempo e imaginei que estivesse vendo as horas. - trinta minutos. Sem atrasos!

— Ta bom papai! - Revirei os olhos já tirando o pijama e ouvi a gargalhada dele enquanto batia a porta do chalé.

Tomei um banho rápido, porém relaxante enquanto pensava sobre o sonho. O que aquilo poderia significar? E porque eu sentia que já vira aqueles garotos em algum lugar? E aquela garota, ela falou o nome de Annie antes de tudo sumir. Como ela poderia conhecer a filha de Atena? As perguntas rondavam minha cabeça e comecei a fazer uma lista mental de tudo que me acontecera no dia anterior, no caso os acontecimentos bizarros. E a lista ficou bem grande até para um semideus! Sai da banheira e enxuguei os cabelos me olhando no espelho sobre a pia. E aquela que vi não parecia nada com a Duda Swan. Aquela garota estava com a aparência cansada e destruída, e não era pra menos depois de enfrentar um espírito que toma corpos três vezes no mesmo dia e ainda ter um sonho estranho que tomou quase minha noite inteira!

— Acho que paguei todos os meus pecados ontem, até aqueles que nem cometi ainda! - Limpei o rosto e me enrolei com a toalha. - Por favor que hoje seja apenas um dia de treino, treino e muito treino, nada de batalhas que realmente possam causar danos permanentes a minha amada vida.

Caminhei até o guarda roupa e vesti minha roupa íntima e um short jeans, mas olhei para as blusas e lembrei de algo que trouxera na mochila. Mas onde minha mochila tinha ido parar? Sentei na cama e ao olhar embaixo dela vi minha mochila desbotada com todas as minhas coisas ainda guardadas nela.

— Ah caramba como eu queria ter desfeito tudo ontem! - Comecei a tirar as coisas da bolsa até que ela começou a brilhar e com um gritou joguei-a no chão.

Num piscar de olhos vi a mochila vazia pousada ao meu lado e tudo que estava dentro dela organizado sobre meu criado mudo. Admirada toquei meu caderno e estojo para ver se eram reais.

— Nossa, essa mágica-faxineira é cada vez mais eficiente. Obrigada. - Agradeci ao que quer que organizou minha bolsa e procurei minha blusa preferida.

Ao lado da bolsa sobre a cama uma blusa azul com detalhes preto e branco e os dizeres “Garota de Ipanema” estava pousada e eu a peguei e vesti. Suspirei aliviada por não ter esquecido o presente mais valioso de minha mãe na casa de meus tios. Me olhei no espelho e gostei do que vi. Pentei os cabelos colocando uma fita branca entre os fios e deixando parte dele solto. Peguei a pulseira de ondas sobre o criado mudo, mas antes que saísse percebi que meu colar dourado e o anel de minha avó também estavam repousados ali.

— Ah vamos completar o momento nostalgia com estilo. - E peguei os dois objetos passando o colar por meu pescoço e colocando o anel no dedo anelar. Foi reconfortante sentir o peso dourado do pingente com meu sobrenome sobre o peito e encarei o anel com um sorriso. Minha avó me derá em meu aniversário de 12 anos dizendo que era uma importante relíquia familiar sempre passada de avós para netos. Nunca entendi porque não ser de mãe para filho, mas aceitei feliz e desde então carreguei o anel onde ia. Era simples, dourado com o desenho de uma ave prateada no meio. Minha avó disse que a ave era uma íbis, simbolo da sabedoria e das palavras. Não tinha tanto valor material, mas o valor sentimental era enorme. No fim foi o único presente que sobrou de minha avó além do livro...

O livro. Olhei ao redor e lembrei que em minha bolsa também havia uma certa coleção roubada além do meu livro sobre Oz. Mas nenhum dos dois se encontrava mais lá e bufei, nunca ficará tanto tempo assim sem ler, precisava começar algum novo livro nem que fosse pra acalmar meus nervos a flor da pele. Abri a porta e me deparei com olhos verdes mar me encarando entendiados.

— Pensei que tivesse morrido lá dentro! - Percy revirou os olhos e enlacei meu braço ao seu descendo as escadas.

— Voce é exagerado demais! - Pulei o último degrau e caminhei lado a lado com Percy. - Só passei cinco minutos além do seu tempo estimado. Não foi tanto atraso assim!

— Mas foi atraso. Temos que te deixar mais pontual. - Ele me olhou de cima abaixo como se analisasse formas de melhorar meu tempo e eu revirei os olhos o empurrando de lado. Até que ele sorriu e apontou para minha blusa. - O que diz aí?

— Ah, nada demais! - Olhei para a blusa e sorri. - “Garota de Ipanema”. As garotas que moram em uma certa cidade do meu país são conhecidas por esse nome que é logo ligado a sua beleza e quando minha mãe viajou para lá resolveu trazer uma camiseta dessas para mim. Ela não é tão espetacular assim já que existem várias e várias iguais, mas o que a torna diferente é por ela me fazer lembrar das palavras de minha mãe. - Uma lágrima solitária rolou por minha bochecha e encarei Percy ao recitar a fala de minha mãe ao entregar minha blusa. - “Quem são eles para pensar que minha filha também não é uma Garota de Ipanema? Ela é muito melhor do que essas magrelas que andam por aí em suas pernas de palito!”

— Sua mãe estava certa! - Ele riu de minha imitação e o acompanhei. Até ele respirar e me apertar mais forte contra si. - Não sei se é certo perguntar, mas o que aconteceu com ela?

— Um acidente de carro. - Eu respirei fundo e resolvi omitir várias partes, algo que vinha fazendo com muita frequencia. Percy me olhou de lado esperando que eu continuasse. - Estavamos no carro e uma árvore surgiu. Minha mãe não percebeu e acabou batendo o carro. Não sobreviveu...

— Duda eu sinto tanto. - Senti os dedos dele alisarem minha pele e me agarrei ainda mais a blusa de meu irmão. - Mas sei que ela estaria orgulhosa de quem você se tornou.

— Obrigada. - Olhei em seus olhos calorosos e sorri espantando as lágrimas. Já estávamos chegando ao Pavilhão onde muitos semideuses tomavam café da manhã e não queria meus olhos vermelhos e inchados. Respirei fundo enquanto sentava com Percy na mesa de Poseidon. - Mas o que preparou para nós hoje senhor Jackson?

— Quem sabe pães fresquinhos com presunto e ovos fritos? - Minha boca salivou e minha barriga roncou. Percy riu e sentou ao meu lado. - Além de um suco de laranja geladinho.

— Eu quero café! - E como sempre nossa comida apareceu em um passe de mágica. O aroma do café era viciante e não perdi tempo.

Enquanto comia em silêncio olhei ao redor. A nossa esquerda a mesa de Hefesto estava agitada e acenei quando Leo piscou para mim. Olhei mais um pouco e vi Annie na mesa de Atena que sorriu ao me ver. Mas meus olhos só pararam ao ver uma mesa no canto direito. Ela estaria vazia se não fosse o garoto de cabelos negros sentado desleixadamente comendo um sanduiche. Ele pareceu sentir meu olhos sobre si e se virou me encarando com um sorriso de lado. Na mesma hora lembrei do sonho, mas não deixei transparecer e pisquei para Nico que sorriu ainda mais e voltou a comer. Olhei para Percy que parecia bem interessado em seu sanduiche. Limpei a boca ao terminar de comer e me apoiei na mesa.

— E então, quais atividades temos para hoje senhor professor?

— Bem, as suas você vai descobrir quando falar com Quíron. - Ele terminou seu sanduiche e deu um gole no suco. - Mas eu tenho aulas de espada para dar até a hora do almoço, além de provavelmente ter que te ensinar sobre os poderes de Poseidon à tarde.

— Já tô me sentindo quase uma dobradora de água! - Meus olhos brilharam e Percy me encarou confuso.

— Dobradora de água?

— Ahn, esquece! -Sorri e ele ergueu uma sobrancelha, mas mudei de assunto. - Bem, acho que antes de ir na Casa Grande vou falar com Annie. Preciso voltar a ler algum livro, já tô com abstinência! Acho que ela pode me ajudar!

— Com certeza! - Percy revirou os olhos quase gemendo por ter mais uma vicida em livros na sua vida. Ele limpou a boca e suspirou. - Ela tem diversas coleções, você vai encontrar alguma coisa que goste por lá. Mesmo eu achando isso uma perda de tempo...

— Melhor não terminar a frase. - Olhei séria para ele que riu e ergueu as mãos em rendição. Olhei para a mesa de Atena, mas Annie já havia sumido de lá. - Mas cadê a Annabeth?

— Ela me disse que voltaria cedo pro chalé. Algo sobre uma pesquisa que estava fazendo sobre os tais Língua Encantadas. Você sabia que os poderes deles eram passados de avós para netos e não de pais para filhos?

— Nã-ã-ão. - Guaguejei, mas agradeci internamente por Percy não ser tão perceptível. Engoli em seco e tentei controlar a voz. - Sério? Porque?

— Annie não descobriu e eu sei disso porque ela não para de falar sobre suas descobertas um minuto sequer! - Ele gemeu frustrado passando as mãos nos cabelos. - Não consigo nem beija-la de tanto que ela está falando!

— Calma, isso vai passar. Duvido que ela consiga resistir tanto tempo aos seus beijos! - Ri da cara triste de Percy e tentei soar o mais desinteresada possível ao perguntar para ele. - Mas ela já descobriu mais alguma coisa sobre esse povo?

— Não. Acho que foi a única coisa que descobriu até agora. - Ele coçou o queixo pensativo e eu suspirei de alívio. - E ela não vai parar até encontrar mais. Ela não aceita que um povo tão poderoso tenha sumido assim tão rapidamente. Ainda acha que alguns deles sobraram...

— Quem sabe a ofensiva dos filhos de Apolo não tenha sido mais forte do que eles estavam esperando? - Eu falava calmente por fora, mas meu coração disparou. Annie tinha suspeitas de que ainda existiam Línguas Encantadas. E se ela descobrisse? - E se acabaram sendo realmente exintos?

— É, quem sabe... - Ele olhou em meus olhos e se calou. Um silêncio reinou por minutos enquanto eu pensava freneticamente sobre meus atos ao chegar ao acampamento. Será que deixará rastros para que descobrissem quem eu realmente era? Mas só Nico sabia e eu confiava que ele não contaria a ninguém até que eu deixasse. Mas Annie era esperta, e se...? Meus devaneios foram interompidos por uma mão quente pousada sobre meu ombro. Percy sorria e beijava minha bochecha. - Mas agora preciso ir antes que me atrase. Desculpe não poder te acompanhar até a Casa Grande, mas nos vemos no almoço.

— Prometo não me perder no caminho! - Sorri e pisquei para ele que me abraçou de lado e se levantou. - Boa aula.

— Para você também. - E ele segurou meus ombros e me olhou profundamente nos olhos. - E não se esqueça: Ainda tô de olho no di Angelo. Não caí naquele papo de 'apenas amigos'.

— Você faz isso só pra me irritar, né? - Bufei e cruzei os braços enquanto ele ria e beijava minha testa.

— Está dentro das minha funções de irmão mais velho. - Ele piscou e saiu em direção a arena.

— Isso não é uma profissão! - Gritei e o vi dar de ombros enquanto seguia seu caminho.

Me levantei do banco e segui em direção aos chalés. Os pássaros cantado e os sons de risadas e conversas já eram familiares para mim. Sorri comigo mesma, nunca me sentira tão em casa depois da morte de minha mãe como me sentia no acampamento. Em pouco tempo eu criara uma família ali e tinha um irmão que me amava incondicionalmente como se me conhecesse a anos. E eu estava mentindo para ele. Respirei fundo ao perceber que estava mentindo para todos a não ser Nico. Ok, sobre o espírito eu pretendia realmente contar ainda naquele dia, mas sobre minha parte Língua Encantada? A verdade é que não pretendia contar tão cedo sobre essa parte de mim. Principalmente por medo. Medo de não me aceitarem pelo histórico de meu povo com os semideuses, medo de me olharem diferente e medo de não conseguir controlar meus poderes e acabar causando mais uma tragédia. Olhei para o céu azul e pensei em tudo que poderia dar errado, mas em como eu me sentia mal por omitir essas coisas dos semideuses, principalmente de Percy. Eles precisavam saber e eu precisava de coragem para contar. Acelerei o passo. Quem sabe se contasse eles não pudessem me ajudar com meus poderes, me ajudar a controla-los? Quíron poderia fazer isso e eu sabia que podia confiar nele e nos semideuses para guardarem meu segredo. Sim, eles tinham que saber e eu estava pronta para contar. Na reunião eu abria o jogo, quem sabe até não ajudasse nas investigações sobre o sumiço dos livros?

Sorri com o mais novo plano na mente e cheguei ao chalé de Atena. Bati a porta e a loira de olhos cinza abriu depois de algum tempo. Ela sorriu e me abraçou.

— Duda, o que faz aqui?

— Bem, é. - Cocei a nuca, encabulada. - Eu gosto muito de ler, porém estou sem livros já que , como você sabe, minha coleção inteira sumiu em um passe de mágica e tudo mais. Então queria saber se você poderia me emprestar algum? Preciso mesmo esfriar a cabeça e um livro sempre me ajuda com isso!

— Seria uma honra! Quem diria uma filha de Poseidon leitora! - Ela sorriu com os olhos brilhando e me puxou para dentro do chalé. - Não poderia pedir cunhada melhor. Queria ver a cara de Percy ao perceber que a irmã é tão louca por livros quanto a namorada.

— Ele fez uma careta de desagrado do tamanho do mundo! - Nós duas rimos e ela me ofereceu uma poltrona que sentei. - Como sempre, um Cabeça de Alga.

— Finalmente alguém me entende! - Ela ergueu as mãos para o céu como se agradece por eu ter surgido em sua vida e ri abertamente. Ela sentou em minha frente e me encarou. - Mas me diz, qual gênero te agrada mais? Romance, drama, terror, aventura? É só dizer!

— Nada que me leve aos prantos e nem algo tão real como terror já que basicamente vou viver isso no dia a dia. - Dei de ombros e Annie concordou com um sorriso. Alisei o queixo olhando as estantes lotadas de livros. - Não estou no clima para romance então temos um campeão! Aventura, quem sabe algum do Julio Verne?

— Não poderia sugerir melhor autor! - Annie correu para uma das estantes e subiu na cadeira observando os exemplares enquanto eu admirava o chalé por dentro. Era simples e rústico e como esperado repleto de livros e computadores. As estantes iam do chão ao teto e tomariam todas as paredes se não fosse as camas interceptando-as. Era organizado e iluminado, tudo o que esperei de um chalé de Atena. Encarava as escrivaninhas quando Annie me chamou me mostrando um livro entre os dedos. A capa era cinza e o titulo brilhava em branco e vermelho. Suspirei ao rever aquela obra prima que lera há tantos anos.

— Viagem ao Centro da Terra! - Corri em direção a Annie e peguei o livro delicadamente. - Há quanto tempo, estava precisando mesmo rele-lo!

— Então você já leu? - Ela voltou a subir na cadeira tentando achar outro livro. - Quem sabe algum outro que ainda não tenha lido..

— Não Annie, esse é perfeito! Amo reler meus livros preferidos e esse está na lista! - Sorri e Annie desceu da cadeira dando de ombros e sorrindo. - Muito obrigada mesmo! Prometo cuidar dele e te trazer sem um arranhão.

— Não se preocupe! - Ela alisou meu braço e piscou. - Despois de ver sua reação confio em seus cuidados. Este também é um dos meus favoritos!

— Sério, eu...

Um grito estridente pareceu encher o chalé de Atena e Annie arregalou os olhos já correndo em direção à porta. Segui atrás e quando abriu a porta a loira pareceu paralisar no lugar. Passei por baixo de seu braço tentando ver porque o acampamento começava a ficar mais barulhento do que o normal e quase não contive o grito ao ver o que surgia por entre as árvores da floresta.

Arrancando troncos pelo caminho e deixando um rastro de destruição onde passava um crocodilo gigante invadia o acampamento. E quem chutou que era meu jacaré pré-histórico acertou em cheio! Ali, ao ar livre e em terra firme, percebi que ele era ainda maior do que imaginava. Parecia mesmo um dinossauro saído direto de um dos Jurassic Park para atormentar minha vida pela segunda vez. Ele se aproximava da área dos chalés em uma velocidade quase impossível para um animal daquele tamnho e o pânico se alastrava entre os campistas que corriam de um lado a outro, alguns se escondendo dentros dos chalés, principalmente os mais novos, e outros pegando armas de diversos tipo e correndo para a batalha contra o fóssil de carne e osso. Annie prendeu os cabelos e entrou no chalé voltando rapidamente com uma espada longa e afiada. Encarei-a enquanto ela começava a descer as escadas.

— Onde está sua adaga? - Eu estava atônita enquanto voltava a olhar para o crocodilo que já começava a ser combatido por vários semideuses. - E como diabos esse bicho conseguiu entrar no acampamento?

— Acho que para aquele bicho vou precisar de algo maior, mas em todo caso.. - Ela apontou para o cós de sua calça onde sua adaga pendia brilhante. Ela começou a descer a escada e viu que eu a seguia de perto então estancou no lugar e me olhou séria. - Não, de jeito nenhum. Você ficará bem, bem longe daquela criatura, sã e salva aqui no chalé. Não faço ideia de como esse jacaré conseguiu entrar aqui, mas parece que as magias de proteção não fazem nenhum efeito nele. Se ele se aproximar daqui corra o mais rápido que puder para os fundos e se esconda. E nada de correr para onde estamos!

— Mas, Annie eu..

— Duda, é sério – Ela me pegou pelo braço como uma criancinha e me colocou no canto da sacada do chalé, próxima a porta. Bufei enquanto ela apontava um dedo em minha direção. - Nada de tentar dar uma de super heroína. Você não tem treino e nem habilidade suficiente. Vai acabar se matando e nem imagino como Percy ficaria se isso acontecesse! Então, por mim e por Percy, fique aqui como uma boa garota, sim?

— Au au.. - Cruzei os braços imitando um cachorro bonzinho e soprei um cacho que caía por meus olhos. Annie riu e beijou minha testa.

— Boa garota! - Ela desceu as escadas rapidamente e acenou como se fosse sair para um passeio agradável no parque e não para enfrentar um réptil dez vezes maior e mais forte que ela. Normal! - Logo logo estaremos de volta, você vai ver!

— Espero mesmo! - Gritei quando ela se virou e correu para o olho do furacão. Suspirei e me encostei nas grades do chalé observando a luta como uma espectadora. - Se soubesse o tanto que enfrentei ontem não diria que não tenho habilidade...

Mas mesmo assim continuei lá, com o coração na mão quando vi Leo correr com um martelo de ferro e acertar o rosto do crocodilo em cheio e quando Jason usou sua espada para furar a pata do animal. Mas nada conseguiu feri-lo, sua pata continuou intacta e seu rosto quase não se moveu com a pancada. Admirada me ergui e cheguei mais perto das escadas. Muitos semideuses já se juntavam a batalha, mas nenhum dos ataques pareciam fazer efeito na criatura e ela continuava avançando para os chalés. Meu corpo queria correr e fazer alguma coisa, nem que fosse gritar com aquele bicho que parecia indestrutível, mas meu coração me prendia ali. Eu prometera a Annie que ficaria ali, sã e salva, e se fosse para a batalha poderia até atrapalhar ou distrair Percy. Não podia correr esse risco e continuei a roer as unhas enquanto via alguns semideuses serem levados para a enfermaria com braços e pernas sangrando.

— Ah Duda, sua inútil! - Gritei frustrada e comecei a andar de um lado a outro sem tirar os olhos da batalha que se movera para perto do chalé de Hécate. Avistei Percy ao longe, sua testa sangrava e minha respiração falhou ao ver Nico mancar enquanto ainda tentava combater a criatura. Todos pareciam exaustos e a batalha se prolongou por mais tempo do que Annie esperará. Até Quíron surgiu, mas mesmo suas investidas não faziam efeito. Apenas o fato daquele monstro ter conseguido entrar no acampamento já era preocupante e unindo-se a sua capacidade de sobreviver a qualquer ataque deixava a situação apavorante. E ele continuava a seguir em frente como se os semideuses joagassem bolinhas de papel em vez de lâminas afiadas. Bufei e passei as mãos nos cabelos. - Se ao menos pudesse fazer algo....

Parei por um instante e observei melhor o monstro. Porque ele estaria aqui? Ele andava rapidamente e mexia a cabeça de um lado a outro pondo a língua para fora de tempos em tempos. Ele procurava algo, com certeza! Mas o que seria? Lembrei de suas palavras em minha mente: “Não tem para onde correr semideusa e, se o mestre não quisesse você viva, você já seria meu almoço a muito tempo! Mas isso não quer dizer que eu não possa brincar um pouco.e entendi na hora como se uma lâmpada se acendesse em minha mente.

— Ele está me procurando! - Arquejei e abracei o livro mais forte contra meu peito. - É isso! Seu mestre me quer e ele veio terminar o trabalho que a droga do espírito não conseguiu. Mas isso não explica o fato de ele ter conseguido entrar no acampamento. Como você conseguiu isso monstrengo?

Sorri de lado satisfeita por ter descoberto o objetivo daquela invasão, mas isso não mudava o fato de ele estar quase em frente ao chalé de Atena e nenhum semideus ter conseguido dete-lo ainda. Minhas pernas começaram a tremer quando ouvi o monstro urrar e abrir a boca tentando abocanhar Jason que subira em suas costas e enfiara a espada em sua cabeça. Mas nenhum ferimento surgiu no lugar e ele pareceu apenas irritado por ter alguém sobre si. Se balançou violentamente e Jason voou longe em direção a uma árvore. Mordi os lábios e pensei freneticamente em uma solução, não tinha muito tempo. Nenhuma arma conseguia ferir o fossil gigante e nem as mágicas e encantamentos conseguiam interromper seu avançou ou causar danos nele. Nico fez a terra se abrir sobre o animal, mas habilmente ele escalou e voltou ao seu caminho, nem mesmo Percy com suas ondas e Jason com seus raios conseguiu machucar o monstro. Ok, isso já era bem sério! Nada adiantava e se continuasse assim não sobraria acampamento para contar a história.

— Mas isso não pode acabar assim! - Vociferei apertando ainda mais o livro contra mim. O livro... Ergui as mãos encarando a capa dura e a imagem em preto e branco. O cheiro de folhas antigas invadiu meu nariz quando folheei as páginas até chegar no capítulo que imaginei. Nele Hans, o caçador de gansos, explode a entrada interditada para o centro da terra e isto faz ocorrer uma erupção vulcânica que acaba expelindo ele, professor Otto e seu sobrinho, Axel, para fora do vulcão. Uma erupção vulcânica...

E naquele momento eu descobri o que deveria fazer. Mas lembrei das palavras de minha avó e travei no lugar. Fazer aquilo era revelar não apenas para algumas pessoas, mas para todo o acampamento o que eu realmente era, era mostrar meus outros poderes, aqueles além dos deuses, e sofrer as consequências que eles poderiam me trazer. Olhei novamente para o monstro que pareceu sentir um cheiro diferente e se tornou mais determinado. Ele sentiu meu cheiro! Olhei para o livro novamente e supirei. Sim, era uma grande revelação e um grande risco, mas eu não tinha mais tempo! Era bem provável que aquilo não funcionasse já que nenhum dos ataques funcionou, mas se não tentasse e deixasse que o acampamento fosse destruído, nunca me perdoaria. Eu tinha mais uma carta na manga e tinha que usa-la, enfrentaria as consequências depois de ver todo o acampamento salvo, ou a parte dele que sobrou. Respirei fundo e apertei os cadarços dos tênis.

— Desculpe Annie, mas eu vou fazer isso por você e por Percy. E por todo o acampamento. - Marquei a página do livro, mesmo que me doese o coração amassa-lo, e corri para os fundos do chalé seguindo em direção à floresta de onde o crocodilo surgira. Eu corria freneticamente por trás dos chalés e pude ver flashs da batalha percebendo que o crcodilo já chegará em frente ao chalé de Atena e cheirava o ar ao redor. Sorri comigo mesma. Vai ter que se esforçar mais do que isso, Jurassic Park ambulante!”. A poeira subia ao meu redor e suspirei quando vi o último chalé surgir e a floresta se aproximar cada vez mais. Olhei para o céu rapidamente. - Desculpe vovó, mas eu preciso tentar salvar minha família. Mesmo que isso quebre nossa promessa. Espero que entenda...

E cheguei ao início da floresta. Me virei olhando ao longe o jacaré enfiando a cabeça na sacada onde minutos antes eu estava. A floresta às minhas costas me fazia sentir o aroma de pinheiro e isso me acalmava em meio ao que eu estava prestes a fazer. Mexi as pernas inquieta e respirei o mais fundo que pude.

— Ok, é agora ou nunca. Vamos, Duda, você pode fazer isso. Você precisa fazer isso! Mesmo que depois Percy, Annie, Nico e Leo te matem por ter tentando dar uma de super heroína. Mas se eu conseguir afastar aquele bicho dos campistas valerá a pena. - Então preparei os pulmões e gritei o mais alto que consegui com as mãos ao redor da boca para dar mais ênfase. - HEY SEU RÉPTIL IDIOTA, EU ESTOU BEM AQUI! VENHA ME PEGAR SE FOR CAPAZ!

Naquele momento descobri que os répteis não enxergam bem, mas tem uma ótima audição. No instante que gritei o crocodilo virou a cabeçorra em minha direção e urrou, provavelmente de felicidade por finalmente ter encontrado sua presa. Ele se sacudiu para afastar os semideuses que continuavam insistindo e se virou vindo em minha direção. Suas patas tremiama o chão enquanto ele corria ferozmente e os semideuses pareceram se assustar com a mudança repentina do monstro. Pude ver Percy mudar de confuso para desesperado ao ver que a criatura tinha seu foco em mim e ele correu o mais rápido que pode com Annie em seu encalço. Eu estava me preparando para dar meia volta e correr para a floresta quando uma mão gelada e firme apertou meu pulso por trás.

— Mas o que..?

— Swan o que você pensa que está fazendo!!! - Nico berrou em meu ouvido me virando para encara-lo. E posso dizer que sua fúria faria fumaça sair por seus ouvidos. Quase perguntei como ele chegará tão rápido até mim, mas só tinha uma resposta. Droga de viagem nas sombras! Tentei me soltar de seu pulso quando vi o crocodilo atingir o ponto que queria para que eu começasse a correr. Mas a força de Nico era enorme. - O que houve com a minha regra de amizade sobre você parar de tentar se matar? Porque nunca me escuta?

— Primeiro, eu não esqueci da sua regra de ouro. Segundo, eu não tô tentando me matar, tô tentando salvar todos vocês desse monstro! - Gritei puxando meu pulso mais uma vez e Nico me olhou exasperado. Puxei mais forte e consegui me soltar e o empurrei para o lado. Ele não poderia ficar ali, era para eu ir sozinha, apenas eu e o zumbi pré-histórico, sem pôr mais ninguém em risco principalmente o filho de Hades que parecia plantado ao meu lado como uma rocha. Comecei a correr para a floresta quando vi que o réptil já estava mais próximo. - Isso inclui você. Então por favor sai daqui! Esse crocodilo quer a mim e não a vocês!

— Você tá louca se acha que vou deixar você tentar enfrentar um crocodilo indestrutível sozinha! - Ele começou a correr atrás de mim com a perna ainda mancando. Ouvi o réptil urrar mais uma vez e apressei ainda mais o passo e Nico não ficou para trás. - E que história é essa que ele quer você e não a nós?

— Bem, lembra do réptil que tentou me matar ontem no fundo do mar? - Olhei para trás e vi Nico acenar confuso. - Pois bem, você teve a honra de conhece-lo pessoalmente! Acho que ele voltou para terminar o trabalho já que correu para o chalé de Atena sem ligar para mais nada e é onde eu estava a minutos atrás! Ou seja virei presa de jacaré! Mais uma coisa para minha lista infinita de anomalias.

— Ok, faz sentido o fato de ele querar você. Mas isso não quer dizer que você possa dar uma de Supergirl e tentar salvar o acampamento sozinha! Não sei se sabe, mas as pessoas não fazem isso porque acabam morrendo no processo! - Ele gritou mais uma vez e ouvi um gemido escapar de seus lábios. Quando olhei para trás vi que sua perna sangrava. Mas ele não se importou e foi para o meu lado enquanto continuávamos correndo. - Você não entende o quanto inconsequente foi fazer isso! Você não tem..

— Treinamento nem habilidade.. - Completei revirando os olhos. - Sim, eu sei de tudo isso já que todo mundo faz questão de ficar repitindo todo tempo! Mas o que mais poderia fazer? Nada do que vocês fizeram adiantou, suas armas não fizeram nem cócegas no monstro e cada vez mais semideuses foram mandados para a enfermaria.. por minha causa!

— Não é por sua causa...

— Ah é sim. É a mim que ele quer e está destruindo o acampamento para me achar. Ao menos tenho uma vantagem sobre ele por saber seu objetivo. - Ouvi árvores sendo quebradas a alguns metros de onde estava e percebi que o crocodilo adentrará a floresta e até pude ouvir meu nome ser chamado por algumas pessoas ao longe, mas não parei. - Preciso usar isso contra ele de alguma forma.

— E como pretende fazer isso, senhorita suicida? - Nico estava irado ao meu lado, mas sorri com sua pergunta.

— Sou uma leitora, não sou? - Pisquei misteriosa para o filho de Hades, já sentindo a areia da praia entrar em meus sapatos.

Nico me olhou confuso e quando ergui o livro que segurava ele pareceu entender meu plano. Ao ouvirmos mais um urro da fera corremos para próximo da água olhando ansiosos para a floresta. O vento açoitava meu cabelo solto o que fez a fita amarrada nele se soltar e flutuar em direção ao mar e mordi os lábios de ansiedade, abrindo o livro na página marcada. Nico me olhava preocupado e pousou a mão em meu ombro.

— Você tem certeza que quer fazer isso? - Ele sorriu de lado tentando me passar confiança. - Todo o acampamento chegará aqui em menos de um minuto e verão o que você faz.

— Não tenho escolha. - Olhei para Nico com um sorriso triste no rosto e dei de ombros. - É nossa última chance. Preciso tentar salvar meu lar.

— Eu entendo. - Ele alisou meus cabelos e me olhou sério. - Mas se algo der errado eu te boto no ombro e entro na primeira sombra que encontrar, entendeu? E não quero ouvir reclamações!

— Ok, feito. Mas sinto que vai dar certo... - Sorri nervosa e voltei a olhar para a floresta quando as árvores se mexaram e uma pata gigantesca surgiu sobre a areia. - Tem que dar certo...

Dei mais um passo para trás sentindo o mar lamber meus pés enquanto observava a criatura surgir por entre as árvores. A pata com garras afiadíssimas deu lugar a uma cabeça verde e escamosa com olhos ferozes e perigosos e logo todo o crocodilo se encontrava em minha frente pronto para o ataque. Ali, cara a cara, eu via que tinha subestimado seu tamnho e senti minhas pernas fraquejarem. Meu corpo era do tamanho de sua cabeça e ao abrir a boca para farejar o ar vi as fileiras e fileiras de dentes pontiagudos. Seu rabo mexiasse freneticamente e seu corpo era tão grande quanto os dos dinossauros que vira no museu. E naquele momento eu percebi como meu plano era estúpido. Consegui tirar o monstro do centro do acampamento e de perto dos campistas, mas e depois? Eu realmente pensei que poderia ler livremente quase uma página inteira sem que o monstro me devorasse na primeira palavra? Gemi frustrada e a criatura pareceu sorrir com sua boca aberta. Ele se moveu como uma cobra e por instinto Nico tomou minha frente com a espada em mãos. Nessa hora ouvi passos vindos da floresta e Percy surgiu seguido de Annie, Leo e Jason. Pouco tempo vários campistas e até mesmo Quíron estavam na praia com suas armas em punho. Mas o crocodilo tinha sua atenção focada em mim e parecia uma parede separando eu e Nico do resto das pessoas. Ouvi Percy gritar.

— Duda sai daí agora mesmo! O que pensa que está fazendo? Nico, tira ela daí agora nem que tenha que pegar ela a força e entrar na primeira sombra que achar!

Nico me olhou e sorriu vitorioso por Percy ter a mesma ideia que ele, o que me assustou. Nico e Percy concordando em algo sobre mim, isso sim era estranho! Mas apenas neguei com a cabeça e Nico suspirou gritando de volta.

— Percy, se eu pudesse faria isso sem nem pestanejar. - Ele encarou o monstro que deu mais um passo em nossa direção. - Mas ela é nossa última esperança.

— Como assim..?

O monstro urrou como se a conversa interrompesse seu foco na presa, ou seja, eu. E mais uma vez ouvi-o falar em minha mente. Sua voz era rouca e parecia faminta o que fez um arrepio correr por meu corpo.

Finalmente nos reencontramos. Acho que dessa vez você não terá tanta sorte Língua Encantada.”

Isso é o que veremos seu lagarto nojento! - Murmurei e segurei o livro mais forte entre os dedos.

Puxei a blusa de Nico falando em seu ouvido. - Será que você poderia me dar uma ajudinha?

— Como faria isso Swan? - Ele foi interrompido quando o crcodilo avançou, mas Nico fez um arco com a espada. Não machucou a criatura, mas a fez recuar por segundos.

— Apenas deixei-a cega enquanto leio, tudo bem? O máximo de tempo que conseguir.

— Será um prazer. Tentei essa tática quando lutávamos entre os chalés e não pareceu adiantar muito já que ele continuou avançando. Usarei o máximo de meus poderes agora, mas se prepare pois pode durar apenas segundos.- Ele piscou para mim e começou a mexer a mão fazendo as sombras das árvores se deprenderem e flutuarem em nossa direção. - Quando estiver pronta.

— Ok. No três! - Respirei fundo e marquei com um dedo o trecho que leria. Ele era metade da página, algo que em dias normais leria em menos de um minuto. Mas com certeza aquele não era um dia normal e para que tudo desse certo teria que ler com calma e boa dicção para que as palavras saíssem claras. Era quase uma missão impossível, mas eu faria aquilo não por mim, mas por todos ali. Sim, se não funcionasse com certeza eu seria a primeira a morrer, mas percebi com um alívio que estava disposta a isso, a morrer lutando pelas pessoas que amava. E com o ânimo renovado gritei para as pessoas ali presentes. - Se protejam por que vai ficar quente aqui! - Apertei as mãos contra o livro e murmurei para que apenas Nico ouvisse. - Um..

— Dois... - Ele falou com determinação. Largou a espada e usou as duas mãos para controlar mais sombras. Elas já formavam uma grande esfera escura que escurecia o espaço a nosso redor e, aproveitando a distração momentânea da criatura que observava confusa o que Nico fazia, gritei.

— Três!

Naquele momento percebi que Nico lançou a bola de sombras na cara do crcodilo, mas nem ao menos desviei o olhar. Segurei firmemente o livro e comecei a ler em alto e bom som.

— “Era evidente que nos impelia uma força vulcânica, debaixo da jangada a água estava fervente e mais fundo haveria pasta de lava, um aglomerado de rochas que na boca da cratera seriam arremessadas em todas as direções.”

As palavras fluiam de mim como a correnteza em um rio. Naquele momento senti o poder invadir meu corpo, algo forte e arrebatador. Nunca me sentira assim antes e, mesmo enquanto lia, percebi que meu anel de íbis passou a brilhar quando comecei a recitar o trecho. As sombras de Nico realmente duraram segundos que fizeram o monstro urrar de ira, mas foi suficiente. As palavras saíram claras e perfeitas, atingindo o obejetivo que eu buscava. Terminei de ler na mesma hora que as sombras se dissiparam do rosto da criatura que agora estava ainda mais furiosa, se é que isso era possível. Naquele pequeno minuto quando o monstro abriu a boca e caminhou a passos fortes em minha direção senti o coração falhar. Meu plano não funcionara e morreria estraçalhada pelas garras daquele réptil. Fechei o livro e ao olhar para frente tudo pareceu estar em camera lenta, ou aconteceu rápido demais. De qualquer forma vi, em flashs rápidos, Percy gritar meu nome quando o monstro saltou em minha direção e Nico tentar me proteger porém se ajoelhar na areia pelo esgotamento de suas forças. E por último vi uma explosão de areia sobre as patas do monstro. Areia e água fervente. Foi num piscar de olhos. Num momento o bicho corria em minha direção e no outro era envolvido por um geiser que o fez gritar de dor. Mas meu erro foi não ter calculado bem até onde a explosão se alastraria e acabar ficando embaixo da chuva de água quente. Apertei o livro contra mim já imagindo a água queimando minha pele, porém ouvi as gotas se chocarem contra algo acima de minha cabeça. Quando abri os olhos percebi que uma barreira de água do mar protegia a mim e a Nico e se estendia até os semideuses. E ali Percy estava com as mãos erguidas e suspirou ao me ver sã e salva. Ele tentou correr em minha direção já começando a desfazer a barreira, mas gritei e me abaixei ao lado de Nico.

— Não Percy! Fique aí e mantenha a barreira ao nosso redor. - Ele parou onde estava e acenou concordando. Nico respirava com dificuldade ao meu lado e automaticamente alisei seus cabelos negros. Ele ergueu a cabeça e sussurrei. - Agora vem a pior parte.

Dito e feito. Quando a água voltou ao chão a criatura continuava em pé, mas parecia não conseguir se mover e as escamas estavam completamente queimadas. Ela urrou e se debateu, mas de nada adiantou. E no mesmo momento a areia molhada deu lugar a algo vermelho e pegajoso que crescia cada vez mais. Em pouco tempo toda a areia ao redor do monstro tinha se transformado em lava e começava a derreter as patas da criatura que gritava como nunca ouvi antes. Até eu me admirei com o que acontecia. Olhei para Nico e ele estava de boca aberta e olhos arregalados e ao virar para o grupo de semideuses eles tinham a mesma expressão. Até mesmo Quíron! Voltei a encarar o monstro que já tinha o rabo comido pelo magma. Ele gritava e me encarava tentando andar em minha direção, mas percebendo que não tinha mais patas para isso. E então o magma começou a borbulhar e a aumentar cada vez mais. Como em um vulcão prestes a explodir. Nico me segurava firmememente pelo braço e se aproximou falando baixo e fraco, porém assustado.

— Acho que isso não é nada bom...

— E você está coberto de razão! - Puxei-o pela camisa para que entrassemos mais ainda no mar que agora batia em nossa cintuda por estarmos sentados. Nico ainda não conseguia se erguer e olhei ansiosa para cima. Soltei o ar quando vi a barreira de água ainda me protegendo. Olhei para Percy e o resto dos semideuses que também perceberam a insconstancia da lava e começaram a recuar. Ele me encarou assutado e gritei. - Quando explodir envolva a todos nós com a barreira entendeu?

— Espera aí! - Nico arregalou os olhos e puxou ainda mais forte meus pulsos. Ele estava extremamanete fraco e cansado, sua palidez acentuada era uma das provas disso e sua voz falhando também. - Explosão? Swan tá dizendo que aquele bicho vai funcionar como um vulcão?

— Eu já disse, tudo o que leio se torna realidade. Tudo, sem exceção. - Olhei para ele que tirou um cacho de meus olhos e me puxou para ainda mais perto. - Ou você acha que “as rochas sendo arremessadas em todas as direções” era apenas uma figura de linguagem?

Suspirei e encarei a criatura que agora estava pronta para urrar ainda mais alto, mas foi impedida quando a lava chegou ao seu ápice de aquecimento e explodiu. Nunca vira um vulcão em erupção e naquele dia percebi que poderia ter morrido feliz sem ter visto um. A experiência foi amenizada pois no momento que a lava arremessou os pedaços do crocodilo para toda parte a barreira de água nos envolveu por todos os lados e impediu que víssemos a cena. Mas a água era cristalina e ainda assim pude observar a lava brilhante e perigosa subir em direção ao céu e depois se derramar para os lados levando consigo pedaços de patas, rabo e dentes que antes formavam o réptil. E ouvir aqueles pedaços se chocarem contra a barreira de água não foi melhor. Quase vomitei ao ver o que antes era a boca do crocodilo se chocar contra a água sobre minha cabeça e se misturar a lava formando um conjunto de cinzas negras. Nico olhava ao redor admirado vendo as gotas mortais de lava se encontrarem com a água e instantaneamente se transformarem em rochas negras e inofensivas. Quando a chuva de magma parou a barreira ao nosso redor se desfez lentamente e suspirei aliviada ao ver que onde antes havia um réptil pré histórico agora jazia apenas areia queimada e rochas negras de magma. Quase chorei de alívio e, sem pensar, abracei Nico ao meu lado com todas as minha forças. Minhas pernas tremiam e agradeci por estar sentada. Nico correspondeu ao abraço sem exitar e ouvi sua gargalhada fraca ao meu ouvido, um som que pareceu fazer meu coração voltar a bater no ritmo certo.

— Você conseguiu, Swan! - Ele finalizou o abraço, mas contiuou a segurar meus ombros com um sorriso no rosto. Seus olhos brilhavam de orgulho e quase o abracei novamente por isso. - Você destruiu aquele crocodilo. Sozinha! Você foi simplesmente fantástica!

— Sozinha não! Se não fosse por você cegar aquela coisa eu não conseguiria ter lido nem mesmo uma palavra. - Sorri com a respiração acelerada não apenas por ter acabado de quase morrer, mas por estar tão perto de Nico que centímetros separavam meu nariz do dele. Mexi no cabelo nervosa e me afastei um pouco com as bochechas coradas. - Aliás isso te esgotou! Como você se sente?

— Pronto para outra. - Ele piscou e mexeu no cabelo molhado o que fez gotas salpicarem em meu rosto. Joguei água nele com uma expressão de “vou fingir que acredito” e ele sorriu fracamente- Sério, estou bem! Só preciso descansar algumas horas e comer um bom Mc Lanche Feliz que estarei novinho em folha!

— Olha, Mc Lanche Feliz não é nada...

Mas não consegui terminar meu sermão pois braços fortes me puxaram pelas costas e me tiraram do chão rapidamente. Estava pronta para protestar quando esses braços me apertaram em um abraço de urso. Ou no caso de irmão. Percy me virou em seus braços e me apertou ainda mais forte fazendo minha cabeça repousar em seu ombro. Naquele momento me senti totalmente segura e protegida, meu irmão estava ali, tudo tinha dado certo e mais uma vez eu escapei de morte. Já estava começando a fazer uma lista na cabeça quando Percy se afastou e me colocou no chão lentamente, como se eu fosse feita de vidro ou a qualquer momento fosse desaparecer. Ele segurou meus ombros e em seus olhos vi uma mistura de sentimentos: raiva, preocupação, angústia, medo, mas principalmente orgulho. Seu sorriso se abriu tão grande que não tive como não corresponder. Seus olhos verdes pareciam brilhar ainda mais e ele me sacudiu freneticamente o que me deixou confusa e gritou.

— Você está de castigo pelo resto da sua vida! Não sei nem expressar o quanto estou irado nesse momento. O que aconteceu com a promessa de ficar no chalé de Atena como uma boa menina, heim? Você poderia ter morrido. E o pior é que também estou tão orgulhoso e feliz por você que não sei dizer o que tá acontecendo comigo nesse momento. - Ele me sacudiu mais uma vez e ri da sua indecisão. Annie estava atrás do namorado e também parecia indecisa sobre o que sentir em relação a mim naquele momento. Apenas deixei Percy extravasar e o ouvi pacientemente. - Não sei se te tranco no chalé agora mesmo ou te abraço e te beijo de alívio por estar viva!

— Certo, acabou? - Ele respirou fundo e cruzou os braços.

— Por enquanto sim, mas quando achar mais palavras para dizer sobre o quanto foi irresponsável e heróico o que você fez voltarei ao discurso. Então aproveite para se explicar mocinha.

— Tudo bem. Primeiro não sou um cachorro pra sentar e fazer o que vocês mandam. - Também cruzei os braços com uma carranca e Percy me encarou irredutível. - Poxa eu sei que não tenho treino nem habilidade nem nada, mas não poderia ver o acampamento inteiro morrer e ficar lá parada sem fazer nada! Até porque se eu tivesse ficado no chalé de Atena parada não estaria nem viva para contar a história! E nem venha me olhar com essa cara de reprovação porque você teria feito a mesma coisa. E muitas vezes fez. Não pode me julgar por colocar a sua vida e a dos campistas na frente da minha.

— Posso sim, já que perder você seria peder uma parte de mim! - Ele gritou e me calei por segundos. Ele me amava tanto assim? Senti lágrimas se acumularem em meus olhos e pulei nos braços de Percy que me abraçou carinhosamente. - Duda, você não entende como meu coração se partiu de preocupação ao ver que aquele monstro estava correndo em sua direção e eu não poderia fazer nada! Se algo tivesse acontecido..

— Mas não aconteceu! - Sorri e baguncei seu cabelo. Annie se aproximou do namorado e sorriu para mim me dando um abraço apertado. - Eu tinha uma carta na manga ou acha que correria assim em direção ao perigo sem ter ao menos um plano? Ok, saber se ele ia funcionar é outra história, mas eu sabia que aquele monstro queria a mim e usei isso a meu favor.

— E, odeio admitir Percy, mas ela se saiu muito bem! - Annie entrou na história encarando o namorado que ainda não sabia se me liberava do castigo hipotético pela minha bravura. Ela se inclinou em minha direção como se contasse um segredo. - E estou feliz por você não ter nos obedecido!

— Annabeth! - Percy reeprendeu e Annie deu de ombros com um sorriso. Ele suspirou e me encarou com um sorriso de lado. - Bem, como posso deixar de castigo a mais nova heroína do acampamento? Mas próxima vez eu ordeno que me inclua nos seus planos suícidas, entendeu?

— Sim, senhor! - Sorri e bati continência com o cabelo caindo sobre os olhos. Percy gargalhou e abraçou Annie de lado até que olhei para baixo e vi o livro ainda entre meus dedos. E suas páginas completamente enxarcadas. - Oh meus deuses Annie, olha o que eu fiz! Oh deuses como fui tão desastrada a ponto de molhar o livro! Você nunca vai me perdoar e..

— Duda relaxa! - Annie me reconfortou e pegou o livro de minha mão entregando a Percy que em menos de um minuto secou-o e ele voltou a ser como era antes. Suspirei aliviada e Annie sorriu. - Não sei se percebeu, mas meu namorado tem o domínio sobre qualquer tipo de água e pode muito bem tira-la de qualquer lugar.

— E essa garotinha aqui também. - Percy bagunçou meus cabelos e me afastei rapidamente tentando mante-los no lugar mesmo molhados. - Ou esqueceu que também sabe dominar a água, Pequena Sereia?

— Não é isso. É só que nesse momento não to pensando muito bem. - Cocei a nuca envergonhada por ter esquecido algo tão crucial como meus poderes sobre a água. Suspirei cansada- Poderes demais para uma garota só! Minha cabeça vai explodir assim.

— Isso é verdade, senhorita Língua Encantada... - Annie me olhou desafiadora, mas além disso vi admiração em seu olhar. Como se eu fosse aquele fóssil que ela procurará a anos e agora finalmente encontrara. No fim, para todo mundo, eu poderia ser considerado um fóssil já que, para todos, eu deveria estar extinta. Percy também me encarou com um olhar diferente e quase quis cavar um buraco e me enterrar dentro. Vi o modo pesquisadora de Annabeth vir a tona. - Como..? Porque.. porque você escondeu isso de nós? Porque nunca contou o que podia fazer? Porque...

— Annie, por favor eu...

Nesse momento vi Quíron surgir ao lado de Jason e Leo. Leo parecia aliviado em me ver sã e salva e Jason parecia admirado e me encarava como se fosse algo raro. Quíron estava sério com os braços cruzados e me encolhi só em ver sua expressão.

— Senhorita Swan, nós precisamos conversa. - E foi apenas isso que disse, mas fez meu coração acelerar. Eu sabia que aquela conversa deveria acontecer, mas por mim a adiaria o máximo que pudesse. Suspirei e baixei os olhos.

— Sim... sim Quíron. - Eu me sentia exposta e todos pareciam me olhar como se não vissem mais Eduarda a semideusa, mas Eduarda a Língua Encamtada e isso me incomodou pois essa era uma das coisas que eu temia. Apenas continuei olhando para o mar lambendo meus pés e falei baixo. - Eu vou...

— Ela vai falar quando estiver pronta para falar! - Uma voz grave e firme soou as minhas costas e sorri quando Nico me puxou pelos ombros e me abraçou de lado. Ele estava enxarcado, mas ainda sentia seu corpo quente contra o meu e ergui a cabeça vendo seu olhar firme encarar Quíron. - Não sei se percebeu, mas ela quase morreu hoje. Precisa descansar e...

Aos poucos ouvi a voz de Nico diminuir e de repente sumiu. Senti o calor de seu corpo sair de mim e quando olhei para o lado assutada vi o filho de Hades desmaiado na areia com a água do mar quase cobrindo seu corpo. Exasperada, me ajoelhei ao seu lado e ergui o rosto de Nico para que a água não entrasse por seu nariz e boca enquanto todos se aproximavam para ajudar. Ainda não sei explicar o que senti naquele momento, mas foi como se um vazio tomasse conta de meu ser. Naquele instante senti algo tão forte no peito que me fez perder o ar e lágrimas começaram a invadir meus olhos e embaçar minha visão. Porque eu estava daquele jeito? Nico tinha apenas desmaiado! Mas meu cérebro não aprecia entender isso e apenas quando Percy tocou meu ombro e sussurro “Ele vai ficar bem” foi que senti meu corpo voltar ao normal e minha respiração ficar calma novamente. Percy pegou Nico nos ombros e eu me ergui rapidamente me pondo ao seu lado. A maioria dos semideuses já havia voltado para o centro do acampamento, provavelmente por ordem de Quíron, e a praia voltara a ser silenciosa tomada apenas pelos passos do meu pequeno grupo. Para mim nada mais parecia importar naquele momento, apenas o garoto de cabelos negros desacordado no ombro do meu irmão. As gotas de água ainda pingavam de seu cabelo quando adentramos a floresta e eu engoli as lágrimas que ainda teimavam em descer. Eu não precisava chorar, Nico ficaria bem e eu sabia disso. Mas ve-lo daquela forma, frágil e fraco doeu meu coração. Ele era meu amigo, meu melhor amigo, e juntando-se a tudo que acontecera naquela fatídica manhã eu estava a flor da pele. O silencio dominava a floresta e eu cerrava os punhos ao lado do corpo, não entendia porque estava tão irada, mas eu sentia que precisava me sentir assim. Aquela indignação era um certo alívio. Pena que Quíron resolveu quebrar o silêncio no pior momento...

— Senhorita Swan, sei de tudo o que está acontecendo e de tudo o que passou, mas é de extrema importância que façamos uma reunião urgente e...

— Quíron eu sei da importância das suas reuniões! - Gritei furiosa e parei de andar encarando o centauro de frente. Todos pausaram a caminhada e me olharam surpresos, Acho que ninguém nunca falara com o líder do acampamento dessa forma. Bem, do jeito que eu estava falaria assim até mesmo com Zeus se ele aparecesse pra me encher o saco! Abri os braços e vociferei. - Eu sei da importância de falar sobre eu ser a última de um povo extinto que é odiada pela maioria dos semideuses e que ao mesmo tempo também é uma semideusa.Eu sei de tudo isso! E prometo contar tudo o que sei e tudo o que vi. Mas apenas me deixe cuidar de Nico! Até ele ficar melhor não participarei de reunião alguma e é melhor aceitar minha proposta. É assim ou nada feito, está de acordo?

— Totalmente senhorita Swan. - Ele falou sério e surpreso. Acenei dando fim ao assunto e voltei a caminhar ao lado de Percy. Ele ainda me encarava surpreso e apenas baixei os olhos. O que deu em mim? Não sou uma garota tão explosiva assim. Mas resolvi culpar tudo o que estava vivendo aqueles dias e a pressão de todo mundo para saber mais sobre a última Língua Encantada da face da Terra. Como sempre, me entenderia com as consequências no final. Mas naquele momento apenas tomei a mão gelada de Nico e sussurrei em seu ouvido.

— É melhor voltar logo para o Kansas, senhorita Dorothy de cabelos negros. - Suspirei e afastei seus cabelos aproximando-me mais. - Não sei o que fazer sem você aqui. Por favor, acorde logo Nico.

Voltei a caminhar com a cabeça baixa imaginando tudo o que teria de falar e colocando em uma lista mental. Aliás vinha fazendo muitas listas ultimamente. Olhei para o céu azul e suspirei pela centésima vez naquele dia.

— Seria mais fácil fazer um livro....

 


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Notas finais do capítulo

OMG então? Me digam o que acharam? Ficu grande demais? Cansativo? Falem a vdd, pq se quiserem diminuo mais no cap q vem!
Bem, e próximo cap teremos a tão esperada reunião onde todos os 'is" terão seus pingos colocados! Além de Duda començando seus treinos (finalmente).
Então xauzinho jujubas. See you soon



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