Realidade Imaginária escrita por Duda Mockingjay


Capítulo 23
Soltando os cachorros


Notas iniciais do capítulo

Hey pipous!
Estou de volta! E com um cap saindo direto da minha fértil imaginação hehe
Espero que me perdoem pela demora. O colégio e os cursos não me deixam escrever.
Mas eu lutei com eles, e aqui vai o sucesso de minha vitória!



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Somewhere over the rainbow, skies are blue

And the dreams that you dare to dream

Really do come true

Tum tum...

Tum tum...

Tum tum...

Meus pés tocavam o solo no ritmo das batidas do meu coração.

Sincronizado.

Harmonioso.

E eu acelerava cada vez mais. Sem parar. Sem descansar. Apenas deixando a adrenalina invadir meu corpo. Entrei na trilha sentindo o aroma das árvores me envolver. O alaranjado do céu estava cada vez mais intenso deixando feixes de luz entrar na floresta escura e densa. Segui sem rumo, meus pés trilhando o caminho enquanto minha mente viajava incessantemente.

Eu não queria pensar.

Mas eu tinha. Foi para isso que eu fui correr. Era isso que a corrida sempre fazia: clareava minha cabeça e me deixava mais leve. Era como se o suor que descia por mim levasse consigo cada peso que meu corpo carregava. E o peso daquele momento era enorme. Eram tantos tópicos a se pensar que tive de enumerá-los para não esquecer nenhum. O sonho caiu como uma bomba, deixando estilhaços de confusão em todos os pontos de minha mente.

– Como se já não bastasse minha dor de cabeça ter triplicado desde que cheguei ao acampamento! – murmurei comigo mesma – Acho que os queridos deuses deveriam marcar data, hora e lugar para as coisas acontecerem, saber quando minha vida vai girar trezentos e sessenta graus não seria nada ruim!

Então entra os tópicos.

Primeiro, a sombra estranha e assustadora que me atacara mesmo sem poder me tocar de verdade. Hera com certeza não havia criado aquilo, sua confissão foi bem sincera e ela não teria motivos para mentir. Na verdade pareceu até bem preocupada quando citou o assunto. Mas uma coisa era certa: Aquela sombra era bem real! Podia não ser no sonho, mas algo me dizia que ela existia no mundo real e que era tão perigosa quanto aparentava. Eu queria correr e falar para alguém sobre isso, qualquer um, mas a mesma “vozinha” dizia que era melhor manter segredo, pelo menos por enquanto. A sombra emanava perversidade e eu precisava descobrir mais sobre ela antes de envolver outras pessoas. Isso estava decidido.

Segundo tópico, a missão para resgatar O Sangue do Olimpo. Eu ainda achava que me mandar era um grandessíssimo erro, um daqueles suicidas, mas tinha que admitir que sair do acampamento em missão era algo que eu ansiava a muito tempo, antes mesmo de descobrir que era uma semideusa. Era um desejo oculto, mas que ainda estava lá. E eu não iria sozinha! Teria companhia, pessoa para me ajudar. Metade do problema já estava resolvido. E só faltava a outra parte: A tão almejada Profecia. Até porque toda missão precisa de uma profecia. Cedo ou tarde a da minha missão se revelaria. Era só esperar.

O que levava ao terceiro tópico, ser a “cola” entre os Sete. Eu não entendia que desunião era essa de que Hera falava, eles pareciam bem unidos para mim. E, de qualquer forma, como eu iria unir pessoas que eu mal conhecia e que mal conheciam a mim? Como eles iriam confiar em mim? E o mais fantástico: eu teria apenas uma missão, ou seja alguns dias, para fazer isso enquanto tentava sobreviver aos monstros e outros perigos que vinham no pacote. Bem animador!

E por fim o quarto e mais espetacularmente difícil dos tópicos, os meus poderes. Por parte do meu lado semideusa seria uma completa perda de tempo! Eu era indeterminada e a probabilidade de descobrir quem era meu pai era minimamente mínima assim como a de descobrir quais eram meus poderes. Mas o que mais me preocupava era a minha outra parte. Aquela chamada Língua Encantada. Esses poderes eu conhecia bem. Bem até demais. Havia prometido a mim mesma que nunca mais os usaria, até Hera aparecer e, praticamente, profetizar que mais cedo ou mais tarde eles seriam descobertos e que eu teria que fazer uma escolha. Controlar ou perder o controle.

Por quanto tempo mais eu poderia escondê-los?

E se eles se tornassem necessários?

Eu não poderia perder o controle de vez. Eles não poderiam machucar mais ninguém. Quebrando ou não minha promessa, eu teria que controla-los, mesmo que continuasse escondendo de todos. Quanto mais tarde eles soubessem, melhor.

E quando me dei conta estava na trilha que levava ao acampamento novamente. Decidida, mas um pouco temerosa, segui até o chalé de Hermes, sem cessar a corrida. Minha caminhada na floresta durara em torno de uma hora, o Sol já despontava no horizonte e algumas pessoas andavam pelo acampamento quando cheguei na área dos chalés. Abri a porta rápido e silenciosamente, a maior parte dos campistas de Hermes ainda dormia. Troquei o tênis por uma simples sandália e da minha mochila tirei o livro. O meu livro mais antigo, o meu primeiro livro. Aquele dado por minha avó quando me mostrou que nós éramos mais do que simples pessoas, que podíamos fazer mágica. Ri da ironia enquanto dedilhava as páginas de O Mágico de Oz.

Antigo, mas precioso.

Ótimo para trazer coisas à vida.

E eu sabia o lugar perfeito para isso. Calmo e escondido de todos. Saí do chalé com cuidado e me dirigi para a Casa Grande. Parei em frente a floresta, bem no limite, no caminho que eu e Leo tomamos para a praia. Lembrar dele me fez sorrir, me deu mais força para seguir com o plano. Se Leo podia controlar seu dom tão raro entre os filhos de Hefesto, porque eu não poderia controlar o meu? Respirei fundo, pensando pela milésima vez se essa era uma boa ideia, e adentrei a floresta. Sem hesitar, segui pela trilha não demarcada que Leo me guiara no dia anterior. Sorri, meu GPS mental ainda funcionava muito bem, memorizar caminhos era comigo mesmo.

E então cheguei.

O espaço aberto, com árvores rodeando a clareira e a rocha no centro, continuava o mesmo. Olhei ao redor. Silêncio. Até que me lembrei das ninfas, mas nenhuma árvore parecia “viva” naquele momento. Eu estava bem distante dos chalés, ou seja, de qualquer pessoa. Contei até três e gritei, esperando que alguma das ninfas aparecesse pra me fazer calar a boca. Mas nada aconteceu. Estranhei, mas imaginei que elas poderiam estar em outros lugares no momento ou que o sono delas fosse muito, muito pesado. Eu não era uma enciclopédia ambulante sobre as ninfas e sua vida na floresta, quem sabe aquilo não era comum para qualquer outro. O que importava é que nada nem ninguém poderia me ver ou ouvir. Parei de gritar e o silêncio retornou.

–Perfeito. Bem como eu precisava.

Sentei, encostada na rocha, e suspirei.

– Calminha, Eduarda, é apenas uma leitura em voz alta. Nada demais. É só lembrar dos passos. Lembre-se do treino. Mesmo que faça anos que você não o faz.

Abri os olhos, focando no livro e no trecho que escolhi. Ele descrevia a roupa de Dorothy e o pequeno sapato que ela usava para voltar para casa, algo fácil e rápido. Eu podia fazer isso! Soltei o ar e comecei. Li, em voz alta, as palavras com o máximo de clareza, desenhando o vestido em minha mente. Descrevi cada detalhe citado. Cada bolinha que enfeitava o vestido, a fita que rodeava a cintura e se encontrava em um belo laço nas costas, a sapatilha vermelha e brilhante. Simplesmente tudo.

E eu me senti em paz, como se soltasse algo que estava preso por muito tempo. Algo que não deveria estar preso, mas estava. Alívio e liberdade me dominaram. Naquele momento eu me senti infinita. Nunca sentira nada igual. Eu senti a magia acontecer. Eu vi a mágica acontecer. O show de luzes particular que explodiu ao meu redor, fazendo o vestido aparecer da forma como eu tinha imaginado. Exatamente igual.

Só que não no mesmo lugar.

– Oh, droga!

O vestido azul de bolinhas brancas, com a fita branca emoldurando a cintura, e o sapatinho mágico vermelho eram perfeitos, sem nenhuma falha. Só que não imaginei que eles fossem aparecer vestidos em mim. Minha roupa de ginástica fora substituída pelo lindo vestido, assim como minhas sandálias viraram as sapatilhas vermelhas. E eu deveria ao menos ter especificado o tamanho! Médio, e não pequeno com metade das minhas pernas a mostra.

– Ah, Dorothy, porque você não vestia uma boa e velha calça comprida e blusa de manga como qualquer outra garota do século vinte e um. Ah, já sei! Porque você não era do século vinte e um!

Crac!Crec!

Minha conversa particular foi interrompida por um barulho. Algo se movia entre as árvores, à minha direita. Levantei bruscamente, em um salto, e me virei para o local do som estranho à tempo de ver um vulto negro balançando as folhas e sumindo de vista rapidamente. Segundos se passaram enquanto eu me perguntava se aquilo era real. Criando uma coragem súbita, segui para onde havia visto a sombra. Olhei atrás de cada tronco, de cada moita, mas não havia nada. Mas eu havia visto alguma coisa.... não era?

– Ok, agora é oficial. Eu tenho que procurar um psicólogo, ou psiquiatra ou sei lá.

Respirei apressadamente enquanto meu coração voltava as batidas normais. Aquele sonho mexeu muito com a minha cabeça, via sombra onde não havia nada. E o barulho com certeza era apenas de algum animal que viu todas aquelas luzes ao meu redor e fugiu quando me viu nesse vestido ridiculamente curto. Era só isso, nada de perigoso ou assustador.

Voltei para a rocha, mas permaneci de pé. Era bom ter uma visão ampla, até porque eu estava sozinha no meio de uma floresta! Com o livro na mão, resolvi tentar mais uma vez, aperfeiçoar o que já tinha conseguido, mas agora tinha que sair do jeito que eu imaginava, senão eu ia acabar peluda e com orelha pontuda. Respirei fundo e acalmei meus batimentos.

Vovó dizia que que coração angustiado não faz mágica, o melhor era esquecer tudo quando estivesse com um livro em mãos.

Quem sou eu para duvidar de vovó?

Com o livro aberto, comecei mais uma vez a leitura. E o cachorrinho de Dorothy, Totó, era uma ótima escolha para descrição. Pequeno e peludo. O pelo negro e meio encaracolado se emaranhava em alguns pontos. As orelhas pontudas se agitavam a qualquer barulho, o focinho pequeno e molhado que farejava tudo e os olhos negros e vivos brilhavam ao ver sua dona. E, a cada palavra dita, luzes faiscavam e as partes do corpo dele iam surgindo como peças de um quebra cabeça. Até que todas se uniram, formando um ponto preto e barulhento na grama. O cão, pequeno e agitado, latia com as árvores furiosamente, com sua voz fina e decidida. Até que ele me viu e parou de latir, vindo em minha direção com o rabo abanando e a língua de fora, nem parecia o mesmo cão furioso de segundos atrás.

Ele era perfeito! Sem falhas ou partes faltando. Peguei-o no colo para observar melhor, mas rabo, patas, orelhas e focinho estavam todos no lugar.

E porque eu estava tão feliz por ele não ter nenhuma falha, já que realmente ele não deveria mesmo ter nenhuma falha, vocês devem se perguntar.

Bem, a verdade é que eu já tentara trazer Totó à vida antes, mas não deu muito certo. Algumas partes vieram trocadas, como o focinho no lugar do rabo e vice-versa, e ele acabou por se desintegrar completamente pelo mal funcionamento dos órgãos e do corpo. Ele não sofreu porque nem ao menos chegou a ser um cachorro de verdade, diferente do Totó 2.0 que eu acabara de criar. Trazer objetos e roupas era fácil, mas seres vivos com perfeição era outra história. E eu conseguira! Totó era perfeito. E quando ele prendeu seus olhos negros aos meus e lambeu a ponta do meu nariz, me fazendo rir, eu percebi o que havia feito, eu havia criado um cachorro! E não contive a felicidade.

– EU CONSEGUI! Não pode ser, Totó, eu consegui mesmo! Meus poderes.... eu.... eles funcionaram!- festejei com o nada enquanto pulava e rodava com Totó ainda nos braços. Ele parecia tão feliz quanto eu, mesmo que não entendesse nada do que eu dizia. – Eu realmente consegui! O que diria de mim agora, heim, vovó?

E, enquanto eu começava uma ‘dancinha da vitória’ ridícula e constrangedora, Totó latiu fervorosamente por sobre o meu ombro, mas estava tão feliz que nem percebi o que o latido poderia significar.

E eu deveria ter parado a dancinha naquele momento.

Totó tentava me avisar que algo estava atrás de mim.

Avisar que alguém estava bem nas minhas costas.

Mas, como disse, Totó não falava minha língua... uma pena, já que o alguém falava.

– Você é um deles. Você... é uma Língua Encantada!


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Notas finais do capítulo

Então, foi um bom cap? Um médio cap? Ou um péssimo cap? Comentem, jujubas e deixem uma escritora feliz :D Cap que vem será postado em breve! Bjs e até mais



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