Às vezes ouço passar o vento; e só de ouvir o vento passar, vale a pena ter nascido.

Fernando Pessoa

A prisão era um lugar desagradável, então eu agradeci a mim mesma por não ter feito nada de muito ruim, ou pelo menos, fui boa o suficiente para nunca ter ido parar na prisão, minha mãe segurava minha mãe enquanto avançávamos no corredor, minha tia tinha decidido que nós duas precisávamos ficar sozinhas um tempo, e então tinha ido passear na cidade com seu amigo piloto.

Parecia um corredor de morte, outras mulheres nos encaravam atrás das grades, algumas falavam algo, mais eu não ouvi, meu corpo estava em outro lugar.

Entramos na sala de visita, era um cubículo por trás das grades que me deixou um tanto apreensiva, a guarda fechou a porta atrás de mim e eu e minha mãe nos sentamos esperando a mulher.

Lolly apareceu logo depois, sendo conduzida por um guarda, seus cabelos estavam maiores, e seus olhos cinza pareciam cansados, no entanto, ela era a mesma que eu vira na reportagem.

O guarda trancou a porta atrás dela, e a mulher nos encarou com desconfiança, antes de vim se sentar na cadeira na nossa frente, seus olhos se focaram em mim, e ela me lançou um sorriso de escárnio.

–olá -ela falou nos encarando.

Percebi que a postura de minha mãe estava um pouco mais rígida, ela apertava os dentes de tal modo que seu maxilar ficava proeminente.

–e então não vão falar nada não?- ela perguntou- trouxeram pelo menos um cigarro?

–você deveria parar de fumar- falei- isso pode causar câncer nos pulmões.

Ela riu.

–preocupada com a mamãe?- falou ela erguendo a sobrancelha.

–não- falei- só trato assim todas as pessoas fulmantes.

Ela riu de novo divertida.

–bom, você não é a primeira que vem aqui- falou- depois que meu esquema de trafico ilegal de bebês foi descoberto, muitas crianças vem me visitar acreditando que eu trafiquei elas- ela riu de novo, estava começando a achar que eu estava vestida de palhaça- mais você- falou ela apontando para mim, ah de você eu nunca vou esquecer, minha única gravidez de gêmeas.

–g-gêmeas?- repeti embasbacada encarando minha mãe.

Ter uma irmã gêmea nunca esteve nos meus planos, mais acho que metade das confusões que aconteciam na minha vida não eram planejadas, e essas confusçoes sempre deixaram ela muito mais divertida.

Sem elas minha vida não teria graça e eu não teria conhecido pessoas maravilhosas como: Lysandre, Rosalya,Castiel e Armin.

–ah... Ela não te contou? Pois bem, você e outra garota nasceram de mim- falou ela apontando para a barriga- me lembro ate do desgraçado do teu pai, e olha que isso é raro, era um albino metida a besta, mais era gostoso- falou.

–era?- perguntei ainda olhando minha mãe que estava paralisada.

–ele morreu atropelado, quando você tinha oque?- ela ponderou um pouco- sei- lá dois meses?

Ok, isso era um avanço.

–agora xô- falou ela- não gosto desses tipos de visita, me deprimem.

–espera- falou minha mãe me surpreendendo- Clary quer conhecer mais você- falou- por favor.

Ela revirou os olhos para minha mãe.

–qual é seu nome mesmo?-perguntou ela para minha mãe- Lupa...Luva...Luna?

–Lucia- respondeu ela.

–pois bem Luna - falou Lolly- se eu quisesse me aproximar de meus filhos não tinha vendido nenhum dos dez.

–não eram oito?- perguntei.

–ah sim- falou ela ironicamente- uma mãe não sabe quantos filhos já teve.

Revirei os olhos a vinda a prisão tinha sido uma total perda de tempo, me levantei, aquele lugar já tinha começado a me dar uma agonia maior ainda.

–espera-ela falou e eu a encarei, ela não parecia arrependida- Clary não? Você deveria procurar sua irmã gêmea, ela já veio aqui comigo, parece que a mãe dela nunca escondeu que ela era fruto de uma adoção ilegal.

Lolly olhou para minha mãe acusadoramente.

–vamos mãe.

–é serio, você quer uma ajuda? O nome dela tem três letras se não me engano... Mai.

Olhei para minha mãe.

–e essa mulhe não é sua mãe- ela falou rindo e batendo na grade para sair- sou eu Clary nunca se esqueça disso você é uma Sakomoto, você é sangue do meu sangue.

–nunca- falei.

–como?- ela me perguntou só para me fazer repetir mesmo.

–nunca, never, jamais,Kesshite- falei indo embora e puxando minha mãe junto.

xXx

–filha você esta abalada não é?- perguntou minha mãe enquanto enviava uma mensagem para minha tia, não queríamos ficar naquela cidade nem mais por um minuto.

–eu tenho uma irmã!- falei sorrindo- gêmea! Isso é tão legal!

Ela riu,

–só você mesmo para ver uma coisa boa em momentos assim- falou ela.

–temos mais oque conversar- falei- sobre seu câncer e papai.

–filha eu e seu pai não nos separamos, não tem mais volta- ela falou.

–tem certeza mãe? Você ainda ama ele não é?

–amo loucamente desde que o conheci, mais oque ele me fez, e nesse momento!

–conheço o papai- falei- ele não faria algo assim, você não acredita nele.

–filha, sou uma das maiores acionistas de uma das maiores empresas do Brasil, não trabalho com talvez.

–mais e se ele não tiver feito isso?- perguntei.

–então eu pediria desculpas para ele.

Eu sorri.

–e seu câncer?Já começou a tratar?

–não- ela falou.

Quase cai para trás.

–como assim não?

–depois que você sumiu fiquei preocupada e não fui nas quimioterapias.

–mãe -ralhei.

–tenho que me estabelecer numa cidade para poder fazer o tratamento- ela falou.

–então faça isso!Câncer não é brincadeira!

–ta bom mãe-ela falou apertando meu nariz- farei isso okay?

Pensei no livro a culpa e das estrelas.

–você não vai morrer promete?

–filha câncer do colo do útero não é tão ruim assim.

–qualquer câncer e ruim mãe!

–ok,ok- falou.

Me levantei e fui em direção ao banheiro, La dentro disquei um numero conhecido.

–preciso de sua confissão- falei.

–como assim?- perguntou a pessoa do outro lado do celular.

–se você realmente fez uma coisa, e como reconquistar essa coisa.

Ele riu.

–Clary desde quando você virou padre para ouvir confissões?

–desde agora- falei.

Um suspiro.

–você acreditaria em mim