Localidade Desconhecida, 2009

Um homem andava pela floresta, solitário. Murmurava uma canção cujas letras haviam há muito sido esquecidas pelo tempo, trajava roupas negras como a noite por baixo de um sobretudo cinza, e em suas costas vinha pendurado uma saca de linho grande, que se observasse de perto, qualquer um poderia jurar ver se mexer, mesmo que quase imperceptivelmente.

O homem terminou sua marcha diante de um corpo petrificado, e com uma mesma nota murmurada mais três vezes, ele largou a saca. Ouviu-se um barulho oco e a figura masculina tirou do saco no chão um corpo, não muito grande: era uma adolescente de no máximo 16 anos, não exatamente morta, mas claramente na beira do abismo.

O que quer que a tenha deixado naquele estado, não tinha piedade alguma: havia vários cortes em seu corpo, e seu sangue se espalhava por todo o lado.

Um sorriso insano brotou nos lábios da criatura – pois a figura que fez aquela brutalidade não poderia ser classificada como homem – enquanto ele levava a garota, que fracamente tentava lutar, pelo pescoço até a estátua e repousava sua clavícula nos lábios de pedra, deixando que o sangue de um dos cortes de seu corpo fluísse, a figura de calcário rapidamente se mexeu e enfiou seus dentes na artéria da mulher, até que com um sonoro crack, um pescoço estava quebrado e uma garota morta.

E a estatua abriu os olhos, e observando a figura que se alimentava do sangue da jovem, o homem solitário ria maniacamente: O fim estava próximo.

***

Casa de Elena, 2009

Depois do anúncio de Elizabeth não demorou muito, mesmo sendo 11:45 da noite, para que todos chegassem a casa dos Gilbert e apesar de Damon não estar a vista, Stefan apareceu junto com os outros: tinha uma sensação de que precisava saber a história que Lizzy tinha para contar.

Enquanto todos chegavam, Lizzy se mantinha quieta, mergulhada em seus próprios pensamentos. Refletia sobre as reações de todos que já souberam de sua história: Tony, Jack, Castiel, os Winchester, Emma... E agora ela se preparava para uma longa hora de falatório, mais uma vez.

No entanto, sabia que seria diferente, agora teria de contar tudo, até mesmo o que poupou seus velhos amigos tantos anos atrás.

Elizabeth emergiu do mergulho profundo em sua própria mente quando percebeu todos ao seu redor, aguardando a fala, e finalmente abriu sua boca começando do inicio:

–Guardiões são seres milenares e sua existência data do nascimento do próprio tempo... – Elizabeth se manteve sentada e serena ao continuar falando:

“A lua, mãe de todas as dimensões, nos criou para que - somente um a cada geração - pudéssemos trazer a paz e a harmonia.

Os Guardiões nascem e crescem em uma dimensão especial, na qual nenhum humano jamais entrou, cujo nome é impronunciável para qualquer um que não a conheça: o lar do Grande Espírito, a Dimensão da Lua.

É onde nasci.

Todo Guardião passa seu primeiro século lidando com a energia das dimensões proveniente daquele lugar, somos imersos nela desde o nascimento e ensinados pelo Grande Espírito da Mãe Lua a respeitar e prezar o poder que vem com essa sabedoria.

Aprendemos desde pequenos a prezar a paz e a bondade presente nos humanos e em todas as criaturas - de qualquer dimensão - ficamos em treinamento com o Grande Espírito até que Ela nos julga prontos para tomar o lugar do Guardião que veio antes de nós, e nos confia a nossa Sede: todos os Guardiões antes de mim tiveram uma, e todos depois mim também terão.

A Sede é um refúgio, é o único ponto de convergência de energia dimensional fora da dimensão em que nascemos. Ela é uma representação da força vital de cada Guardião. Onde todas as dimensões ficam acessíveis a nós. Existem muitas formas de Sede, elas variam de Guardião para Guardião e se mantém existindo até a morte de seu dono.

O equilíbrio é frágil como uma pena, e é dever do Guardião mantê-lo. As dimensões estão enfrentando um tempo de profunda paz desde que assumi, mas não foi sempre assim.

Há duas encarnações de Guardiões atrás houve a última Grande Guerra pelo Equilíbrio. Essa guerra devastou dimensões, separou famílias e multilou diversos Guardiões, nunca antes havia sido necessário que Guardiões se substituíssem tão rápido, e várias encarnações foram para a batalha sem o treinamento completo, foi genocídio.

As forças inimigas queriam a qualquer custo o Livro dos Guardiões, que conta toda a história da minha espécie, nossas fraquezas e dificuldades, nossos poderes... Tudo”

Elizabeth deu uma pausa para tomar um gole de seu chá, odiava falar na Guerra.

“Muitos perderam a vida para guardar o livro, até que um bravo Guardião, nomeado Eldor, se sacrificou para lacrar o livro numa dimensão especial, onde somente outro Guardião poderia encontra-lo, em tempos de extrema necessidade, e nessa dimensão o livro se perdeu para aqueles que não eram dignos de lerem-no.

Depois disso, os aliados da Lua finalmente venceram os agentes das Trevas, e os exilaram para a dimensão mais sombria, o universo caminhou para a paz em que vivemos hoje, e um século depois, eu assumi como Guardiã das dimensões, onde atendi Chamados em todo o universo conhecido, até em encontrar Mystic Falls.”

Elizabeth suspirou, sabia que deveria terminar a história, a parte do conto que não havia dito a ninguém, e com mais um gole de chá completou:

“Mas a verdade é que há algum tempo eu venho sentindo, e ignorando, oscilações na dimensão dos condenados, onde foram guardados as tropas remanescentes das Trevas, e foi há 102 anos atrás, algum tempo havia se passado desde que tinha me fixado aqui quando esta oscilação chegou ao seu ápice até então.“

Elizabeth se levantou e encarou a todos, serena, mas nostálgica. Seu olhar parou em outro par de olhos, negros e calmos, do lado de fora. Ela sabia que ele iria ouvi-la, ele sempre a ouvia, mesmo quando brigavam, ele nunca havia deixado de ouvi-la. Podia jurar que via uma pequena luz de entendimento, ou pelo menos perdão nos olhos de Damon, aumentou a intensidade de seu olhar ao finalmente terminar a história:

– A razão pela qual eu deixei este lugar foi para proteger aqueles que eu amava de algum dano, nunca havia sentido tanta energia emandada fora de minha casa, ou da minha biblioteca. – ela suspirou deixando a caneca de lado - Eu parti para tentar descobrir se qualquer um que sabia da guerra tinha notícias de algo, parti para tentar localizar o Livro dos Guardiões, dentro dele descobrir a localidade da Dimensão Sombria e destruí-la de uma vez por todas, parti porque não queria tornar meus amigos um alvo, mas meu século de procura foi em vão... – Lizzy terminou finalmente seu monólogo.

E mais uma vez encarou a todos explicando urgentemente o real motivo de sua vinda aquela dimensão:

– O fato é que há algo muito errado por aqui a dois dias atrás senti uma onda de energia, algo que fez minha Sede, a Biblioteca, me tirar de onde estava e me jogar naquelas ruínas, vocês precisam me ajudar a descobrir o que é. Todos vocês.