My pearl escrita por laracansi


Capítulo 1
Capítulo I - You Don't Know About Tomorrow


Notas iniciais do capítulo

Essa é minha segunda fic postada (a primeira eu não acabei por uma imensa falta de criatividade, coisa que sempre me ocorre). Eu já havia escrito essa fic há um tempinho e acabei relendo ela várias vezes, por isso pensei em posta-la e termina-la devidamente (caso conseguir terminar, e espero conseguir, isso será uma ocasião digna de um prêmio). Bom, espero que gostem do primeiro capítulo e irei postar, provavelmente, um por dia ou mais. Aproveitem!!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/519162/chapter/1

Ainda deitada na cama, mas sem estar dormindo, sentia o sol batendo em meu corpo por entre as pequenas frestas da cortina. Sabendo ou prevendo o dia lindo que estava lá fora, não via mais vontade de estar deitada naquela cama cheia de cobertas, ou o que restava delas. Percebi que Bob já não estava mais ali e me apressei em por uma roupa e descer as escadas até a cozinha, onde encontrei ele e meu irmão, Ted, sentados confortavelmente no sofá.

- Bom dia maricas.

- Bom dia. – Eles responderam sem nem mesmo olharem para mim. Olhei de relance para a televisão e constatei o que já imaginava: jogo de futebol. Rolei os olhos.

- Só porque vocês são homens, não quer dizer que não podem cozinhar. – Eles, obviamente, não responderam e eu comecei a preparar meu café da manhã. Sentei-me ao lado deles assim que os ovos ficaram prontos.

Estávamos em férias havia alguns dias e, como de costume, sempre passávamos as férias no chalé da nossa família. Esse ano não foi diferente. Por mais que a Betty e o Carl não puderam vir, consegui arrastar meu irmão e meu namorado pra cá. Era ótimo passar as férias em um lugar tão calmo, longe de toda aquela energia incessante de Nova York. O contato com a natureza era o que me acalmava, por isso que nosso chalé era em meio a floresta, muito perto da areia e, consequentemente, do mar. A o mar. O meu ponto seguro talvez. Aprendi a aprecia-lo com o meu pai, Duncan. Eu e ele sempre viemos para o chalé quando podíamos e sempre saíamos para pescar, voltando muito tarde o que irritava minha mãe. Quando papai ficou doente, nossas idas ao chalé foram muito raras, mas papai fez questão de vir uma última vez para cá, um dia antes dele morrer. Minha mãe quase nunca vinha aqui, isso lhe trazia lembranças não muito boas, mas isso não nos impedia de vir sempre que podíamos. Ela até gostava, falava que era um ótimo lugar para nos lembrarmos das coisas boas que vivemos com nosso pai. Posso garantir que aqui, nesse chalé velho, é onde estão minhas melhores lembranças.

Sorrateiramente, plantando um beijo em minha cabeça, Bob me tirou dos meus devaneios sobre o meu pai, fazendo-me prestar atenção nele.

- Vamos pescar hoje então? – Assenti com a cabeça.

- Significaria muito pra mim se você pudesse ir.

- Eu nunca iria te deixar pescar sozinha, você sabe disso. – Ele sorriu e plantou um beijo nos meus lábios.

- Isso quer dizer que eu não sou boa o bastante para pescar sozinha? – Ergui uma sobrancelha e ele riu.

- Vá pegar suas coisas.

Desci até o pequeno porão do chalé, onde várias varas de pescas estavam expostas, assim como um velho barco que fora um dos primeiros do meu pai. Sorri ao vê-lo e peguei minha vara da sorte subindo as escadas em seguida.

- Estamos de saída.

Avisei a Ted, que nem mesmo se despediu. Andamos até a areia fofa da praia e entramos no nosso pequeno barco. Não era um barco propicio para tal ato, já que era um pouco pequeno e velho, mas ainda era possível pegar alguns bons peixes em alto mar. Subimos em cima do barco de madeira e Bob começou a remar lentamente, até estarmos em uma boa localização.

- Duvido que você consiga pescar mais peixes que eu. – Ele desafiou e eu sorri, aceitando a aposta.

- Vamos ver.

Bob não aguentou trinta minutos e logo desistiu, fazendo-me ganhar a aposta. Abriu um sanduíche de atum que havíamos preparado na noite passada e comeu tranquilamente enquanto eu tentava pescar alguma coisa. O tempo foi passando e fechando, até nuvens de várias tonalidades pintarem o céu que, antes, estava azulado.

- Acho que vai chover.

Dito isso a chuva começou a cair e Bob começou a remar lentamente até a praia. Não contávamos com as nuvens pretas e assustadoras que vinham mais ao fundo e, a cada distância quebrada, o mar se agitava mais. Bob logo avistou a tempestade que estava por vir, e tentou remar mais rápido em vão. A tempestade logo foi parar em cima da gente. O vento estava forte, o mar chacoalhava o barquinho com ódio, a chuva era forte e logo a água do mar começou a invadir nosso espaço. Por mais que Bob tentasse, os remos pareciam não querer cooperar e nos mandavam cada vez mais para trás. Bob perdeu um e em seguida o outro, já estávamos sem esperanças, à praia não estava mais a vista e a tempestade enfurecia-se cada vez mais. As ondas começaram a crescer, cresceram tanto que viraram nosso barco. Peguei um pouco de ar para encher meus pulmões e mergulhei, pulando um pouco longe do barco. Com os olhos queimando por causa da água salgada, eu tentava alcançar a mão de Bob que estava estendida em minha direção. Não consegui. Não consegui alcança-lo porque meu fôlego estava acabando. Não consegui alcança-lo porque o barco havia batido em sua nuca e ele agora estava morto. Subi para a superfície e agarrei um pedaço de madeira que flutuava. Meus gritos, por mais altos que podiam ser, não seriam ouvidos. Minhas lágrimas se misturavam com a chuva. Meu coração estava quebrado, mas continuava a bater rapidamente. Eu precisava sair dali. Comecei a nadar como pude em cima do pedaço de madeira, mas não consegui me mover mais do que três metros. Acabei perdendo madeira. Nadei o quanto pude, não sei quanto tempo fiquei no mar aberto, com frio. Chegou uma hora que minhas forças se esgotaram e eu comecei a boiar. Meus olhos se fecharam por um instante e, no outro, abriram-se quando minhas costas se chocavam com a areia. Eu estava em terra firme.

Rastejei-me até uma parte onde a água salgada não pudesse mais me tocar. Eu estava encharcada, com frio e tossindo, mas nada disso se comparava a dor em meu coração. Bob estava morto. Eu não podia acreditar nisso. Deitada em meio a chuva e a areia comecei a chorar, chorei até não ter mais nenhuma lágrima para expelir. Levantei-me vagarosamente e caminhei sem rumo. A chuva fina cortava a minha pele, minhas roupas faziam um barulho estranho quando eu caminhava. Eu estava fraca, mas um murmúrio me fez ter forças. Não consegui distinguir o que era, mas sabia que onde havia murmúrio, havia gente. Comecei há caminhar um pouco mais rápido até chegar a um vilarejo. As ruas estavam quase vazias, a não ser por algumas pessoas caminhando com alguns sacos e correndo para suas casas. Continuei a caminhar até chegar a um estabelecimento bastante cheio, desde o seu exterior até seu interior. Esbarrei em alguns caras até entrar no local, provavelmente um bar pela quantidade de gente bêbada. A bagunça daquele lugar era imensa, as pessoas brigavam, riam, choravam e tocavam músicas aleatórias. Não era diferente de alguns pubs, só a parte das garotas usarem vestidos longos e espartilhos. O tempo parecia ter parado. Arrastei-me até o bar onde me sentei e passei a observar as pessoas, respirando fundo.

- Vai querer alguma coisa? – Uma voz grave chamou a minha atenção. Virei-me e me assustei com o que vi. Uma mulher, feia, mas uma mulher. Com um pano na mão esquerda espalmada no balcão, ela me olhava fixamente.

Balancei a cabeça negativamente, eu não tinha dinheiro para nada. Parecendo saber pelo o que eu passava ou só por ver minha cara de cansaço, ela ofereceu.

- Lhe darei um copo da água de graça, mas não passa de hoje.

- Obrigada – Falei timidamente, enquanto ela ia pegar o tão precioso liquido. Ela voltou com o copo cheio e colocou na minha frente em cima do balcão. – Que horas são? – Perguntei, antes de tomar um gole.

- 14 horas, mais ou menos. – Olhei ao redor, aquele lugar era realmente muito movimentado.

Virei às costas para a mulher e comecei a observar o local, me lembrando de Bob em seguida. Ele gostaria muito de estar ali, estava cursando história há mais de um ano. Aquele lugar parecia mesmo ter sido tirado de um livro de história. Meus olhos marejaram quando pensei em Bob e não consegui conter a lágrima que caiu. Comecei a tremer, minha roupa estava molhada e, por mais quente que estivesse por causa das pessoas dançando, eu estava com frio. De repente a minha curiosidade foi se esvaindo e meu cansaço foi tomando conta do meu corpo. Caminhei devagar até a parte de fora o estabelecimento e acabei por encontrar um lugar onde vários pacotes de feno. Sem achar nenhum outro meio melhor para descansar, deitei-me em cima deles e dormi com a horrível lembrança daquele dia.

Acordei assustada, olhei em volta, a noite já havia caído. O céu estava escuro e a única iluminação naquele vilarejo eram lampiões presos em postes de luz. Sentei-me naquele monte de feno ainda nos plásticos, levando uma mão a cabeça e amassando os cabelos. Levantei-me e resolvi entrar no bar novamente, pedir por informação ou alguma solução de sair dali. As pessoas continuavam esbaforidas e loucas, algumas eu ainda me recordava de ter visto mais cedo. Sentei-me novamente no bar. A moça veio me atender, agora era uma diferente.

- Deseja alguma coisa?

- Onde eu estou? – Perguntei rapidamente. Ela soltou um risinho, colocando uma mão no meu ombro de me girando no banco, falando bem próximo ao meu ouvido.

- Tortuga! – Fiquei sem expressão, não por medo, mas por nunca ter ouvido falar daquela cidade! Olhei para ela novamente.

- Como eu posso sair daqui?

- A apenas um jeito.

- E qual é? – Comecei a ficar nervosa, eu precisava voltar para meu chalé, precisava falar com o Ted sobre o que acontecera. Eu precisava voltar.

- Um barco. – Ela sorriu.

- Um barco?

- De preferência um navio. É mais rápido.

- E como eu acho um barc... Navio?!

- Soube que tem gente procurando por uma tripulação, talvez você de sorte em entrar em uma.

- Tripulação?

- Ninguém vai aceita-la – Um cara sombrio sentou-se ao meu lado. Estremeci com a sua voz.

- Por que não iriam? – Perguntei, confusa.

- Olhe bem pra você.

- E o que tem de errado? – Agora eu estava virada pra ele.

- Você é uma mulher.

- E?

- Uma mulher não é bem vinda em um navio. – Olhei-o confusa. Ele pegou sua caneca e saiu, andando a passos firmes.

- O que eu faço? – Sussurrei só para mim.

Minha única saída daqui, pelo jeito, era achar alguém que estivesse montando uma tripulação e, para isso, eu teria que entrar na tripulação e para entrar na tripulação eu tinha que virar um homem. Eu não estava gostando nada disso. A última vez que eu navegara não fora nada muito boa. Eu havia perdido Bob. Pensando nele, eu precisava voltar para conversar com sua família. Na verdade, eu precisava voltar pra falar com a minha família. Eu tinha que sair dali, tinha que ir pra casa e não importava o que eu tinha que fazer para conseguir isso. Saí daquele estabelecimento, voltando ao lugar aonde eu havia passado as últimas horas. Eu precisava de roupas, precisava de alguém que pudesse me dar algumas roupas masculinas. Então uma ideia passou pela minha cabeça exatamente quando um homem passou em minha frente. Eu não tinha nada a perder. Abordei-o rapidamente, trazendo-o para as sobras enquanto meu braço fazia pressão em sua garganta. As várias vezes que brinquei de luta com meu irmão valeram para alguma coisa.

- SOCORRO, SOCO...

- Quieto! Eu quero uma informação sua.

- E qual seria bela donzela?

- Você sabe se alguém aqui está arranjando uma tripulação?

- Eu ouvi algumas pessoas comentando, perto da escada do bar... Mas por que você que...?

- Não lhe interessa. – Falei logo depois de chutar-lhe as bolas, fazendo-o se curvar e dando uma joelhada na cara do mesmo.

Despi-o, pegando suas roupas em seguida e as vestindo. Aquelas roupas estavam imundas e cheirava muito mal, eu gostaria de poder retira-las do meu corpo naquele exato instante. Na verdade, eu gostaria que nada disso tivesse acontecido. Entrei no bar e fui em direção às escadas arrumando o chapéu para ninguém ver meu rosto. Era hora de por minhas aulas de teatro em prática. Pedi informação para algumas pessoas que estavam sentadas no pé da escada. Elas apontaram o dedo para um lugar mais calmo. Desconfiada e com um pouco de medo, fui a passos calmos e leves até o local. Parei em frente à mesa. Um homem me encarou.

- É você que está montando uma tripulação? – Forcei uma voz de homem, mas não tenho certeza que ele acreditou.

- Sim.

- Ahn, eu quero me inscrever.

- Você já navegou?

- Não.

- Sabe içar velas?

- Não.

- Então por que está aqui?

- Por que eu amo o mar. – Ele deu um sorrisinho amarelo, não estava acreditando em mim. Muito menos eu.

- Bem vindo a bordo. Sairemos amanhã ao nascer do sol. – Assinei meu nome na lista e sai, incrédula, do local.

O céu tornava-se alaranjado com o nascer do sol e aquela visão me fez sorrir. Na noite passada eu havia ficado com um grupo de marinheiros para ter certeza de que eu não iria perder o navio. Agora estava a caminho de um grande barco, com grandes velas negras. Entramos no navio e ficamos aguardando ordens no convés. A porta da cabine do capitão se abriu e um homem robusto com um grande chapéu saiu de lá dentro.

- Mexam-se insetos vagabundos! – Ele gritou e todo mundo começou a andar apressadamente, cada um para um posto.

Sem saber o que fazer, segui algumas pessoas que me deram esfregões e me mandaram esfregar o chão. Passei a manhã ouvindo ordens de um homem grosso com um chapéu ridículo e um macaco que ficava o tempo todo em seu ombro. Além de aprender a içar velas. A parada para o almoço havia chegado, peguei as canecas velhas cheias de água e um sanduíche com uma aparência não muito boa e sentei-me nas escadas para comer. Eu precisava começar a me situar. Precisava criar um plano e pô-lo em ação. Enquanto as pessoas desciam para descansar em suas redes, subi as escadas para falar com o capitão.

- O que faz aqui marujo?

- Para onde estamos indo capitão? – Perguntei com a minha melhor voz de homem que podia, sem olha-lo. Ele não me respondeu, ao invés disso virou-se pra mim.

- Nós vamos para o continente! – Meu coração bateu mais rápido e borboletas vieram no estômago.

- P-pro continente? Terra firme?

- Sim marujo – Ele sorriu e logo deixou que o sorriso desabitasse o seu rosto – Agora VOLTE PARA O CONVES!

Era tudo o que eu precisava ouvir. Agora que sabia o nosso curso, seria fácil fugir daquele antro de sujeira. A noite caiu sobre nós e não havia mais nada pra fazer além de conversar com a tripulação. Geralmente quando caia a noite, saíamos da parte de baixo do convés só quando o capitão mandava. Ficávamos praticamente a noite inteira lá, jogando e bebendo. Muitas noites eu apenas deitava nas redes e tentava dormir, mas meus pensamentos não deixavam. Alguns vagavam sobre o passado, sobre o meu namorado e tudo que havia acontecido até agora e outros iam para futuro, pensando em como minha mãe e meu irmão estariam e em como eu dar-lhes-ia a noticia. Minha cabeça estava cheia de preocupações. Várias noites eu chorava de saudade e tristeza. Eu pensava muitas coisas enquanto estava deitada na rede.

- Hey, marinheiro, venha cá. – Levantei-me quando um homem velho de barba grisalha me chamou. Com receio, sentei-me ao seu lado ao redor de uma mesa improvisada. – Sabes jogar?

Balancei a cabeça negativamente: - Não.

- Gostarias de aprender? – Olhei para aquela mesa, aquilo parecia um jogo de pôquer. Havia baralhos jogados para os lados com símbolos estranhos. Fiz que sim com a cabeça, precisava de uma distração. Ajeitei-me enquanto o homem falava de como aquele jogo era divertido e poderia me fazer ganhar dinheiro pelos mares a fora. Prestei a atenção.

Daquela noite em diante eu consegui parar de pensar no que havia acontecido, ao menos enquanto eu jogava com os marinheiros. Era difícil não se divertir com eles, mas ao deitar a cabeça na rede meus tormentos logo voltavam. Passou-se um, dois, três dias até completar uma semana e meia sem ninguém descobrir que eu sou uma garota.

- MARUJOS, RATOS IMUNDOS, VENHAM AO CONVÉS! AGORA! – O capitão gritava e fomos todos correndo para o convés, esperando ordens. Ele esticou seu braço apontando para frente, nós olhamos naquela direção.

- O continente! – Sussurrei.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Esse primeiro capítulo ficou grandinho, na verdade todos os capítulos são grandes. Foi mais uma introdução (eu acho) e espero que vocês tenham gostado. Prometo muitas surpresas ainda por vir, espero que acompanhem essa aventura até o fim. Muito rum pra vocês, beijosss.

P.S: Vocês podem me encontrar no twitter -> liamsecrets e laraccansi. O primeiro sendo fc e o segundo meu pessoal. Perguntem o que quiserem que eu tentarei responder :).



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "My pearl" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.