Olho Grego escrita por Lucena


Capítulo 4
Capítulo 4




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Mabel ficou surpresa pela reação da filha, o que deixou Alice ainda mais irritada. Como ela achou que Alice reagiria àquilo?

− Mãe!

− Alice, controle-se! Paulo veio até aqui para saber como estamos, se precisamos de ajuda...

Alice olhou aquele homem que ela tanto odiava. Queria gritar com ele, queria lhe dizer o que pensava a seu respeito

− Eu quero você fora da minha casa agora!

− Alice, eu sinto muito mesmo por tudo o que aconteceu. Eu só queria saber que vocês estão bem, e se...

− Se estamos bem? Bem, nós sobrevivemos muito bem até agora. SEM VOCÊ! Agora vá embora e nunca mais se atreva a pôr os pés de novo nessa casa!

Ele olhou para Mabel, depois abaixou a cabeça e saiu.

− Filha, o que deu em você?

Mabel saiu logo atrás dele. Alice foi correndo pro seu quarto. Agora ela estava com muita raiva. Se não bastasse o dia cansativo no trabalho, e as surpresas desagradáveis, ela teve que ver a cara daquele cretino. O que sua mãe tinha na cabeça quando deixou aquele homem entrar? Será que ela tinha esquecido tudo o que ele fizera com o seu marido?

Um ano atrás tudo estava tranquilo, normal, até que Marta, irmã do pai de Alice, decidiu vender as ações que possuía da empresa do irmão. Algum tempo depois, ela afirmou que o irmão a estava enganando, ficando com quase todo o lucro da empresa. Marta não deu qualquer explicação sobre sua acusação, mas todos sabiam que aquilo só poderia vir de uma pessoa: Paulo. Era ele quem a representava na empresa. Se ela “descobriu” isso só poderia ter sido através dele. Foi então que Carlos entrou na empresa do pai de Alice.

Após comprar as ações de Marta, Carlos tornou-se o segundo maior acionista da empresa. Estava presente em tudo, e tornou-se o braço direito do pai de Alice. Mas depois, aconteceu o que ninguém esperava. Carlos deu um desfalque na empresa, fazendo com o pai de Alice ficasse em uma situação crítica.

Era por isso que Alice não gostava de Paulo, e sentia-se decepcionada com sua tia por ter acreditado que o próprio irmão seria capaz de roubá-la. O seu pai tinha se suicidado, mas, indiretamente, eles contribuíram para a morte dele. Se Paulo não tivesse colocado Marta contra o irmão, ela não teria vendido suas ações e Carlos não teria entrado na empresa e roubado seu pai.

Alice foi até a varanda do seu quarto e de lá viu sua mãe conversando com Paulo. “Por que ele ainda não foi embora?”, pensava. Teve vontade de gritar com ele, expulsá-lo novamente. Decidiu tomar um banho, certamente a água gelada a acalmaria e relaxaria seu corpo. Ao sair do banheiro, Alice ouviu uma balada tocando, imaginou se seria na casa de seu novo vizinho. Ela havia sido convidada mas não tinha a intenção de ir. Vestiu uma calça jeans e uma bata estampada. Desceu até a sala e viu a mãe sentada no sofá. Decidiu conversar sobre o que acontecera naquela noite.

− Mãe.

Mabel a olhou, e Alice sentiu que ela não estava satisfeita.

− O quê? Como você queria que eu o tratasse? Queria que eu o abraçasse, e depois servisse um cafezinho pra ele?

− Sem ironias, Alice.

Alice irritou-se.

− Você sabe o que aquele homem fez! Se não fosse ele o papai não teria morrido! Ele quem causou tudo isso! Foi ele quem destruiu as nossas vidas!

Alice soltou aquele desabafo como se fosse dar seu último suspiro. Percebeu que começava a chorar, e seu corpo estava trêmulo. Mas Mabel a surpreendeu.

− Seu pai suicidou-se Alice! Tirou a própria vida porque foi um fraco! Não teve coragem para enfrentar uma situação como aquela. Nem sequer pensou em nós! Portanto, não culpe os outros pela fraqueza dele!

Alice estava pasma. Não acreditava no que a mãe acabara de dizer. Virou-se e saiu da casa. Passou pelo jardim, chorando, e acabou parando na calçada. Começou a andar sem se dar conta do tempo, até que percebeu que estava ficando cada vez mais longe de casa, quase 2 quarteirões de distância. Decidiu voltar. Secou as lágrimas, e fez o trajeto de volta.

Ao chegar na frente da sua casa, a movimentação na casa vizinha atraiu sua atenção. Havia vários carros parados ali por perto, pessoas elegantes chegando, outra vestidas mais casualmente, mas ainda assim muito bem vestidas. Alice perguntou-se quem seria esse novo vizinho. Aquele era um bairro de classe alta, mas ela nunca tinha visto uma festa como aquela, pelo menos na sua rua. Não tinha certeza se os ricos não gostam de festas, ou se os seus vizinhos não eram muito animados.

Alice foi em direção à casa, mas não pretendia entrar pois não estava vestida adequadamente, queria apenas dar uma espiada no ambiente. Parou na frente do portão da garagem, que estava aberto para que as pessoas entrassem. Lá ela viu alguns garçons servindo as pessoas com champanhe e aperitivos, um DJ tocando uma balada dançante, e várias pessoas, conversando, rindo, divertindo-se... Alice perguntou-se porque não poderia voltar a ter aquela vida, e a resposta veio instantaneamente: ela não era mais rica. Uma mulher a olhou, analisando-a, depois cochichou com o homem com quem conversava, e ele olhou para Alice com a mesma cara de interrogação da mulher ao seu lado. Alice olhou-se e acreditava que eles estavam criticando sua roupa, pois certamente não era adequada para aquela confraternização. Ela sentiu-se envergonhada e virou-se para ir embora. Alguns passos dados...

− Está indo embora? Não me diga que também achou a festa caída.

Alice virou-se e viu um dos homens mais lindos que ela e todas as mulheres do país já tinham visto: Vítor Castrinni. Ele era a nova sensação da tv brasileira. Em apenas cinco anos construiu uma carreira cheia de elogios, grandes papéis e muitos fãs. E agora ele estava ali, na frente de Alice. Ela se perguntou o que ele dissera, mas não lembrava, seu cérebro havia se focado apenas naquela beleza e o resto já não existia.

− Então?

Ele ergueu uma sobrancelha, claramente estava esperando uma resposta. “O que ele perguntou? O que ele perguntou?” Alice pensava. Mas não teve jeito, ela não lembrou.

− Ah, me desculpe, o que foi mesmo que você perguntou?

Alice sentia-se envergonhada. Certamente ele percebeu que ela estava encantada com ele, como se fosse seu presente de natal. Ele riu.

− Eu perguntei se você já estava indo embora, se achou a festa ruim...

− Ah, não, eu não estava... quero dizer, eu estava, mas não deveria... Poderia, mas não queria estar...

− Mas você estava.

Ele pareceu confuso.

− Pois é.

Alice não se arriscou a falar qualquer coisa a mais. Sentiu-se uma estupida, gaguejando pelo nervosismo.

− Entendi. A festa está um saco! Não deveria ter perdido meu tempo vindo até aqui.

− Ah, jura? É que, pelo que eu vi, as pessoas estavam se divertindo.

− Você chegou a entrar na casa?

− Ah, não.

− Por isso. Não sei se é a festa, ou se sou eu... As pessoas ficam em cima de mim, me bajulam, mal me deixam respirar... Até riem das minhas piadas, e eu não sei contar piadas!

Alice riu. Sabia bem do que ele estava falando. Houve um tempo, quando ela era rica, que as pessoas faziam de tudo pra chamar sua atenção.

− Eu imagino.

− Pois é.

− Você ainda não me disse seu nome.

− Alice. E o seu?

Ele a olhou, achando sua pergunta engraçada. Alice sabia o nome dele, mas não queria que ele achasse que ela era uma dessas fãs enlouquecidas que ele tanto tinha.

− Meu nome é Vítor.

− Prazer, Vítor.

Um homem alto, esguio, aproximou-se e chamou Vítor. Ela reconheceu a voz dele.

− Ah, me desculpe. Eu não sabia que você estava ocupado.

Ele falou “ocupado” de um jeito estranho e Alice não gostou.

− Ricardo, essa é Alice.

− Tudo bom, Alice?

− Tudo ótimo. Por acaso, foi você quem fez os convites para a festa?

− Ahmm, sim. Eu te convidei, não foi?

− É, eu moro na casa ao lado. Obrigada, mais uma vez.

− Por nada. Está se divertindo?

− Bem, na verdade...

− Ela está sim! – Vítor a interrompeu. – Ela está comigo. Você acha que existe alguém mais divertido que eu?

− Ah, entendi. Bem, eu só vim mesmo porque me disseram que você estava indo embora.

− Pois é, eu estava, mas aí eu encontrei a Alice, que também já estava indo embora e nós decidimos ficar. Legal, não é?

Ricardo olhou para Alice, depois sorriu.

− Claro! Divirtam-se!

Ele virou-se e voltou para a festa.

− O que foi isso?

Alice achou aquela situação muito estranha.

− Nem adianta tentar entender. Vamos pra festa?


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