Olho Grego escrita por Lucena


Capítulo 3
Capítulo 3




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O primeiro dia de trabalho pareceu um pouco confuso para Alice. Em alguns momentos ela não pôde contar com o auxílio de Beatriz e teve que se virar sozinha. E a gerente a observou durante todo o dia, o que a fez ficar um pouco nervosa.

Depois que seu expediente acabou, ela voltou pra casa. Alice pegou um taxi naquela tarde, pois estava muito cansada, mas sabia que não poderia fazer isso sempre ou gastaria metade de seu salário. Ela teria que se acostumar com o metrô. Quando saiu do taxi, viu um carro entrando em uma casa que ficava ao lado da dela. Estava à venda, mas ela não sabia que já tinha sido comprada.

O segundo dia no trabalho foi mais tranquilo, pois o movimento na loja foi menor. Alice já estava mais à vontade com as tarefas e não precisou pedir tanta ajuda a Beatriz. E assim foi o resto da semana. Na sexta, chegou em casa por volta das dezesseis horas, era verão e ainda estava claro.

Alice estava na cozinha quando o interfone tocou.

− Sim?

− Ah, oi! Meu nome é Ricardo. Nós não nos conhecemos, mas eu estou convidando os vizinhos para uma festa de inauguração na casa ao lado. Vai ser amanhã, sábado, a partir das dezenove horas. Gostaria de convidá-la e também a sua família.

− Então você é meu novo vizinho?

− Ah, não. Eu sou sócio do Jorge, ele é seu novo vizinho. Esta será uma festa surpresa, é claro que a mãe dele e a irmã sabem, mas ele não. Conto com a sua discrição!

− Pode contar com isso! Obrigada pelo convite!

− Não precisa agradecer, basta aparecer lá. Sabe, não vai ser uma festa se ninguém aparecer! Bem, vou indo. Tenho outros convites a fazer. Tchau.

Alice não pretendia ir àquela festa, trabalharia no dia seguinte e com certeza estaria cansada. E também, ela nem conhecia o tal vizinho, e ela tinha sido convidada por outra pessoa.

− Quem era filha?

− Um tal de Ricardo, nos convidando para uma festa na casa do nosso novo vizinho.

− Na casa ao lado? Bem que eu vi uma movimentação.

− Pois é!

...

No sábado, Alice teve o dobro do trabalho da semana. Era um cliente atrás do outro e ela não teve sequer tempo para almoçar. O dia parecia não acabar e ficou ainda pior quando Alice viu uma loira metida, que ela reconheceu imediatamente, entrando na loja.

− Eu quero um perfume amadeirado.

Ela mal olhou pra Alice, que não sabia o que fazer, só não queria atende-la.

− Um momento, por favor. Vou chamar outra funcionária para atende-la.

− Por quê? Por acaso você não quer me atender?

Alice percebeu a mulher parada ao seu lado. A gerente. Sentiu ela a puxar para o canto do balcão.

− O que está acontecendo aqui Alice?

− Nada, acho melhor outra funcionária atende-la. Ela parece... muito exigente.

Alice sabia que não poderia recusar-se a atender algum cliente por questões pessoais, por isso teve que mentir.

− Alice, todas as outras funcionárias estão ocupadas. Você terá que atende-la, e é bom que ela saia daqui satisfeita. Lembre-se que seu emprego está em jogo aqui.

− E então, alguém vai me atender ou eu vou ter que encontrar outra loja?

Alice respirou fundo e foi até a cliente, rezando para que ela não a reconhecesse.

− A senhorita quer um perfume amadeirado, certo? Vou pegar algumas opções para lhe mostrar.

A cliente não respondeu e nem sequer olhou para Alice, que estava apreensiva. Após ir até a seção dos perfumes amadeirados ela voltou com a cesta cheia deles, e a colocou em cima do balcão. A loira começou a sentir o cheiro de cada um dos perfumes, mas não gostava de nenhum. Alice estava começando a se irritar.

− Não gostei desse também.

− Talvez você não esteja procurando um amadeirado. Quem sabe...

− Você acha que eu não sei o que eu quero?

A loira a interrompeu secamente.

− Não, é que...

− Eu quero um perfume masculino, que seja marcante, pro meu namorado, e... Alice! Oh meu Deus, eu não a tinha reconhecido! Mas também, com esse uniforme, e atrás desse balcão, quem olharia pra você?!

O pesadelo de Alice tornara-se realidade. Sarah a reconheceu.

− Desde quando você... trabalha aqui?

Sarah fez um gesto com o dedo, indicando o ambiente da loja e fez cara de desdém.

− Há uma semana.

− Ah. Eu não te vi mais na faculdade desde... Bem, desde tudo o que aconteceu.

− Pois é.

Alice desejou que sua resposta encerrasse aquele assunto. As duas ficaram em silêncio, sem jeito. Alice sabia que sentia-se envergonhada por ter perdido tudo o que tinha antes e ter que rever as pessoas com as quais convivia, na mesma posição, com a mesma vida perfeita. Mas não entendeu porque Sarah estava sem graça também.

− Amor, você não vai acreditar quem eu encontrei...

− É, você também não!

E lá estava o motivo de desconforto de Sarah: André. Seu ex namorado era agora namorado de sua ex colega. Alice não conseguia olhar pra ele, que. por sua vez, parecia ter visto um fantasma. Ela tentou fingir que ele não estava ali, e continuou atendendo Sarah.

− Você não gostou de nenhum, Sarah?

Ela estava totalmente desconfortável. Alice nunca a viu daquele jeito. Sarah era uma das pessoas mais confiantes que ela já conhecera. E essa característica dela era tão forte que todo mundo a considerava esnobe. E foi assim que ela entrou na loja, mas naquele momento ela parecia querer desaparecer. Seu desconforto era palpável.

− Bem, eu precisaria ter mais tempo, e estou com um pouco de pressa. Obrigada Alice.

André não falou qualquer coisa com Alice, na verdade ele sequer teve coragem para olhá-la. Eles saíram, evitaram se abraçar ou mesmo dar as mãos.

− O que aconteceu Alice?

A gerente questionou Alice, que temeu por seu emprego.

− Nada. Na verdade ela estava indecisa, apesar deu lhe mostrar todos os nossos perfumes amadeirados, e lhe dar sugestões. Ela estava com pressa, e não queria comprar sem ter certeza de sua escolha.

A gerente ficou a olhando, com desconfiança.

− Certo. Tem outra cliente entrando, vá atende-la.

...

Já era noite quando Alice finalmente chegou em casa. Estava exausta, com mau humor, e um misto de sentimentos confusos. Sentia raiva da sua chefe, raiva de seu ex namorado que a trocara por sua colega rica, quando descobriu que Alice não era mais rica, e hoje mal a olhou, fingindo que nunca a viu antes, e sentia vergonha por ele e sua nova namorada tê-la visto em uma situação tão humilhante como aquela. Alice não menosprezava seu emprego, sabia que teria que trabalhar, e sem experiência, seria muito difícil encontrar algo de nível mais alto, mas não podia deixar de sentir vergonha e indignação por tudo o que perdeu.

Ao chegar em casa, Alice encontrou a última pessoa que queria ver na vida. Paulo.

− O que este homem está fazendo aqui?


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