Rainha da Neve escrita por Lola Vésper


Capítulo 6
O Poder da Neve e do Gelo


Notas iniciais do capítulo

Mais um capítulo. Espero que gostem!



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Ser uma princesa em Arendelle não é fácil, mas é recompensador ao mesmo tempo. Provavelmente nisso que Anna pensava quando acordou naquela manhã, ciente do baile que teriam de noite. Era tão emocionante pensar em bailes todas as semanas quando cinco antes as pessoas nem mesmo podiam se aproximar do castelo real.

Mas agora as coisas pareciam perfeitamente bem. Ela tinha o namorado Kristoff morando no quarto ao lado, Sven ainda dormindo nos estábulos junto com seu próprio cavalo, Olaf andando pelo castelo como ele gostava de fazer. Os portões estavam abertos e ela podia ver pessoas todos os dias. Entretanto, o melhor de tudo isso era que ela tinha a irmã de volta.

A irmã que ela esperara tanto tempo para conhecer, a verdadeira Rainha da Neve, sem mais segredos, sem mais se esconder do mundo.

Queria, porém, fazer alguma coisa naquela amanhã. Ainda faltava muito para a noite e o baile, então, pulou de sua cama, colocou um vestido verde aconchegante, perfeito para mais aquele dia gelado de inverno, e saiu em disparada pelos corredores do castelo, contente.

Beijou Kristoff quando o viu tomando café da manhã junto com a irmã Elsa e a cumprimentou também. Depois avisou que pretendia sair e que ficaria fora o dia todo, mas prometeu voltar antes do pôr-do-sol.

Kristoff se ofereceu para ir junto, mas Anna recusou. Queria ficar um pouco sozinha. Elsa protestou que ela não comera nada. Então Anna enfiou alguns pedaços de pão na boca e disse que bastava.

Mas a irmã ainda não parecia satisfeita. Disse que ela não podia sair por aí sozinha. Avistando Olaf, então, foi o que bastou para Anna dizer que não estaria sozinha, estaria com o boneco de neve. Olaf pareceu surpreso, mas concordou, afinal, era de Anna que se tratava.

E, atendendo um último pedido do namorado, Anna também levou Sven com ela. Foi assim que uma princesa, um boneco de neve e uma rena saíram de Arendelle naquela manhã, em busca de um pouco de aventura.

Talvez devessem visitar os trolls. Fazia tempo não fazia uma visita à família do namorado. E Cliff e Bulda, os pais adotivos de Kristoff, eram sempre tão gentis com ela!

Ou então visitar o Armazém do Carvalho Errante e Sauna. Adorava visitar Oaken, apesar do que Kristoff achava sobre ele. No final, Anna e Oaken tinha se tornaram bons amigos e não foram poucas as vezes que Elsa e ela aproveitaram de sua sauna em o que elas chamam de Dias das Garotas.

Mas, talvez Anna estivesse se sentindo particularmente corajosa naquele dia, ou então um pouco nostálgica. Talvez Olaf tenha tentado impedi-la, talvez tenha concordado com ela, eu não saberia dizer quando se trata do boneco de neve. A questão é que acabou resolvendo ir até a Montanha do Norte, até o antigo castelo de gelo de Elsa para ver em que situação ele se encontrava. E esse provavelmente foi seu maior erro.

Anna conhecia o caminho e a luz do dia manteve os lobos distantes. Assim, ela, Sven e Olaf não tiveram grandes problemas em chegar até a Montanha do Norte e encontrar o castelo congelado preso a ela.

Ela devia ter percebido que havia algo estranho logo que encontrou o castelo intacto, como o encontrara da primeira vez e não como Elsa o deixara pela última. Mas Anna não estava atenta para esse detalhe enquanto deixava Sven do lado de fora, uma vez que seus cascos não conseguiam subir no gelo, e ela própria e Olaf subiam as escadas que passam por cima do abismo e levavam até a porta do castelo nevado.

Não bateu antes de abrir, sem esperar encontrar ninguém ali. E isso também não foi correto. Mas talvez o passo que levou a dar tudo tão errado foi quando ela começou a conversar alto e rir, brincando e gritando se havia alguém ali.

E, como eu e você, leitor, sabemos, havia. Mas Anna e Olaf certamente não sabiam disso, então não se importaram em ser barulhentos.

Contudo, eu estive tão focada em Anna e o que acontecia lá embaixo em Arendelle que nem contei o que se passava no castelo de neve enquanto isso, antes da princesa aparecer. Acontece que Hans, ao contrário do que Rosalya imaginara, não concordou tão facilmente com os planos dela.

– Da última vez que tentei tomar o trono não acabei muito bem. Sou grato por ter me libertado, mas não vou cometer o mesmo erro de novo.

– A diferença é que desta vez vai dar certo. Se fizer tudo o que eu falar, seremos Rei e Rainha mais rápido do que pode dizer “neve” – ela insistiu, não querendo se dar por vencida, mas já começando a se irritar.

– Além disso, seus planos tem uma pequena falha – Hans apontou, agora já não assustado pelos poderes da princesa. – A Rainha Elsa e a princesa Anna me odeiam. Jamais concordariam em me receber em Arendelle.

– Você não está me ouvindo direito! – Rosalya reclamou. – Se pudesse ficar quieto por um momento e me ouvir…

Porém, antes que ela pudesse terminar a frase, ouviu os risos e gritos de Anna, perguntando inocentemente se havia alguém no castelo. Rosalya olhou para Hans, um pouco surpresa, mas fez questão de sorrir para ele antes de lhe virar as costas e ir em direção ao salão principal, de onde vinham os risos da princesa mais nova.

– Tem alguém aí? – a garota com o cabelo loiro-morango no andar de baixo, rindo e vestida com roupas quentes e verdes, disse de novo e sorriu.

Rosalya não precisou de mais do que uma olhada para reconhecer a prima. Anna pode ter crescido mais de quinze anos desde que elas tinham se visto pela última vez, mas Rosalya se lembrava. Lembrava-se de como as brincadeiras ao lado das primas tinham sido os melhores momentos de sua vida e como o castelo real era tão melhor e mais acolhedor que o castelo de campo, onde seu falecido irmão mais velho e seu pai também falecido faziam questão de trata-la bem, diferente de como era no castelo real.

Anna era também a prima que a abandonara. Que, mesmo depois de tudo o que aconteceu, nunca procurou saber o que acontecera com Rosalya e de quem ela provavelmente havia se esquecido.

Rosalya sorriu. Hans estava bem atrás dela, mas ela que pediu permanecesse calado com um gesto de mão. Marshmallow ou Kai deviam estar em algum lugar lá também. Hans costumava se comportar bem na presença dos gigantes de gelo.

– Tem alguém aí? – Anna repetiu e as tranças bateram em seu rosto enquanto rodopiava.

Rosalya não conseguia entender onde estava tanta graça. Mas Anna sempre fora meio tonta e alegre mesmo.

– Anna? – Ela finalmente se pronunciou, saindo do escuro e deixando que a prima visse seu rosto.

A princesa parou de repente. Definitivamente não esperava encontrar ninguém por ali. Olhou para a desconhecida por um tempo, analisando-a, vasculhando sua mente e tentando de alguém jeito saber se a conhecia. Afinal, a mulher falara seu nome. A mulher com os cabelos negros e curtos, usando um vestido azul a bonito, sabia seu nome.

Anna deu alguns passos para trás, surpresa.

– Você… – disse baixinho.

Foi quando todos os dias passados na presença dos primos voltaram para ela. Rosalya tinha os mesmo olhos gélidos e o mesmo tom de cabelo, embora agora eles tivessem mais curtos. E tinha também as sardas perto dos olhos, que continuavam no mesmo lugar.

– Rosalya? – Anna chamou, surpresa e sorrindo, sem saber o que fazer diante da visão da prima que não via fazia tanto tempo.

Rosalya riu. Um daqueles risos que fariam Hans, parado atrás dela, se arrepiar toda a vez que ouvisse.

– Rosalya? Que rude da sua parte, priminha – ela disse, descendo as escadas devagar, se demorando nas palavras para que pudesse chegar até o andar de baixo, sem olhar diretamente para Anna, preferindo encarar o chão. Mas, quando voltou seu olhar para a prima mais uma vez, foi para dizer, por fim: – Devia me chamar de Rainha da Neve.

E, com um movimento rápido e circular com a mão, ela fez uma camada de neve cobrir Anna, envolvendo-a, até que não se pudesse mais vê-la. A nuvem de gelo foi se tornando cada vez menor, até que no lugar de Anna, apareceu um globo de neve com a miniatura viva da antes princesa de Arendelle.

Rosalya se abaixou para pegar o globo de neve, virando-o em sua mão e vendo uma Anna apavorada lutando para se manter em pé, batendo nas paredes de vidro e lutando para se libertar.

Sorriu.

Virou-se então para o boneco de neve que estava com a prima, ainda parado e encarando Rosalya. Não devia ter imaginado que existiam outras pessoas que podiam fazer a mesma coisa que Elsa. Ele parecia preocupado e surpreso e tudo o que Rosalya falou foi:

– Vá.

– Anna, ela…

– AGORA!

E o boneco de neve com vida saiu correndo, subiu na rena que se encontrava fora do castelo e os dois saíram em disparada, de volta para Arendelle.

Hans descia as escadas enquanto Rosalya ainda admirava o que fizera com a prima, a qual socava as paredes de vidro com toda a força que sua figura reduzida lhe permitia.

– Você enlouqueceu? – Hans perguntou, chocado. – Agora o boneco de neve vai contar tudo para Elsa, e eles virão atrás de nós!

– Deixe que venham – Rosalya disse, ainda com o globo de neve da prima em mãos, passando por Hans e subindo as escadas. – Isso não deve ser problema.

– Não deve ser problema? Você é louca? – Hans gritou para se fazer ouvir.

– Deixe que eles venham – Ela repetiu calmamente. – Eu passei cinco anos me preparando para isso, Príncipe Hans das Ilhas do Sul. Está tudo sobre controle.

Ao mesmo tempo em que Rosalya falava isso e se preparava para o que quer viesse depois, Olaf corria de volta para o castelo real. Ele não conseguia entender o que acontecera com Anna e nem quem era aquela estranha que a amiga chamara de Rosalya.

Levou mais tempo do que ele gostaria para chegarem até o castelo real, mas assim que o fizeram, Olaf correu rapidamente em direção a Elsa, contando tudo o que acontecera.

Claro que a Rainha precisou de algum tempo para entender tudo. Kristoff também estava lá e se colocou em pronto para ir atrás da namorada. Elsa queria ir também, mas Kristoff sugeriu que talvez fosse melhor que ela ficasse e reunir um exército. Afinal, não tinham certeza de que tipo de ameaça estavam lidando.

– Princesa Rosalya é minha prima. Ela nunca me machucaria.

– Como não machucaria Anna? – Kristoff rebateu. – Você pode tê-la conhecido um dia, mas não sabe o que ela é capaz agora.

Por fim, Elsa teve que ceder. Sabia que o rapaz estava certo e deixou que ele reunisse três homens para irem atrás da princesa Anna.

Olaf quis acompanha-los, mas tanto Elsa quanto Kristoff concordaram que seria melhor que ele ficasse em Arendelle. Afinal, podia ser um pouco… imprudente.
E, mais uma vez, eles partiram. Kristoff, Sven e seus homens alcançaram a Montanha do Norte logo depois do anoitecer. Mas, não foram eles que encontraram Rosalya. Rosalya os encontrou.

Uma estranha nevoa girava ao redor deles, deixando Sven e os cavalos agitados. E, foi do meio dessa névoa, que surgiu a figura da garota baixa, com olhos gélidos, e um vestido longo e elegante.

De repente, dois dos homens se viram sendo içados do chão e envoltos em uma camada congelada de uma neve que os circundava. Seus cavalos fugiram no instante que eles os abandonaram.

– Boa noite, cavalheiros! – Ela cumprimentou a todos os quatro homens, mesmo os que continuavam montados. – O que vocês estão fazendo na minha montanha?

– Fomos enviados para procurar pela Princesa Anna! – gritou um dos homens, loiro e forte, o único que estava montado em uma rena.

– Por quem? – a desconhecida perguntou, pretensiosamente.

– A Rainha Elsa – Respondeu um dos homens içados no ar.

A garota riu. Claro que riria. Não podia ter feito diferente.

– Encantador! – exclamou, jogando a cabeça para trás, antes de recuperar a postura séria. – Mas por que a Rainha Elsa não veio ela mesma? Já que ela ama tanto a irmã…

– Ela… Ela… – começou o mesmo homem que lhe falar antes.

Mas, enquanto Rosalya prestava atenção no homem içado no ar, o loiro desceu da rena e avançou em direção a ela com uma espada em mãos. A princesa não precisou de mais que um gesto para fazer com ele o mesmo que fizera com Anna antes. E ele se viu preso em um globo de neve.

Ela também fez uma camada de gelo subir do chão em direção ao último homem que sobrara montado, e ele se viu preso como os outros.

Os três que mantinham seu tamanho normal pareciam completamente apavorados.

Como se não tivesse sido interrompida, Rosalya continuou:

– A Rainha Elsa está ocupada reunindo um exército? – exigiu saber.

Quando não obteve respostas, percebeu que precisava mais do que isso. Começou a fechar as mãos devagar, mas o bastante para causar dor aos homens que estavam no ar.

– Sim, sim, ela está, Vossa Alteza! – Um deles exclamou.

Rosalya sorriu. Sabia que era isso o que sua priminha faria. E ficou feliz em não ter sido decepcionada.

– Que coincidência! – exclamou.

Nesse momento, o chão pareceu tremer. Tudo ficou ainda mais frio e, às costas de Rosalya, um exército inteiro de gigantes de neve apareceu. Os homens arregalaram os olhos, imaginando que aquele seria o seu fim.

– Nunca subestimem o poder da neve e do gelo – Rosalya disse, ainda sorrindo. E, um dos gigantes, Marshmallow, ela sabia, colocou Hans bem ao lado dela, desta vez devidamente convencido pelas ideias da menina e satisfeito pela mudança de planos que não o obrigavam a ir até Arendelle sozinho.

Eu disse, cara leitor, que haveria uma guerra desde o começo. Disse, também, que nada do que você já soubesse sobre Arendelle seria grande coisa comparada ao que eu estava para contar. E talvez agora você tenha uma ideia da magnitude do que aconteceu depois que Elsa desceu de sua montanha e seu isolamento. Talvez agora você tenha uma ideia de como Rosalya foi importante para a história de Arendelle e não apenas uma princesa esquecida pela história. Mas, se acha isso grande coisa, tenha paciência. Eu nem contei a melhor parte ainda.

E, Rosalya estava certa. Nunca subestimem o poder da neve e do gelo. Nem subestimem o poder de uma governante com um gélido coração.


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Notas finais do capítulo

Bom, eu estou viajando. Eu podia simplesmente programar todos os capítulos para serem postados depois, mas o problema é justamente que eu não tenho como escrevê-los! >.< Então, me desculpem se demorar muito!