Rainha da Neve escrita por Lola Vésper


Capítulo 5
Nas Ilhas do Sul


Notas iniciais do capítulo

Primeiramente, eu gostaria de agradecer a recomendação da The Snow Queen. Poxa, não pensei que seria tão rápido! :D
E obrigada também ao Victor, por todo o carinho!



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As ilhas sulistas se concentravam em uma região dominada por um verão eterno. Ou, pelo menos, era o que diziam. Sim, o frio chegava até as ilhas, mas aquelas terras não conheciam neve. Ou, de novo, era o que diziam.

O Rei e a rainha das Ilhas do Sul eram pais de treze príncipes, todos já maiores de idade. Enquanto eles produziam meninos sem parar, como um casal de coelhos, na busca da garotinha com a qual sempre sonharam, eles não perceberam que estavam dando pouca atenção aos filhos que já tinham, que durante muitas vezes foram fadados ao esquecimento.

Esse foi o caso de Hans durante muito tempo. Era o mais novo e, portanto, a última decepção do casal e a mais fácil de lembrar. Assim, quando Hans se ofereceu para ir até a coroação da nova Rainha Elsa e ninguém mais fez oposição, o Rei apenas acenou sua mão para o filho, concordando.

Claro que eles não sabiam sobre as ideias de Hans para conquistar o trono de Arendelle. Se soubessem, acredito que teriam o impedido. Não porque dessem importância para o filho, mas porque não queriam desonrar o nome da Família. E, querendo ou não, Hans ainda era filho deles.

O pior, talvez, não tenha sido ser pego em seus planos, deixar as Ilhas do Verão como convidado de uma coroação e voltar como traidor, a humilhação perante os irmãos mais velhos. Talvez, no final de tudo, o pior tenha sido o que a rainha sua mãe lhe disse:

“Nós o enviamos como o representante do nosso reino! Você quase matou a Rainha e a princesa de Arendelle e a reputação das Ilhas foi arruinada. E VOCÊ fez isso! Você não é um príncipe. Não é meu filho. É uma desgraça”.

Uma desgraça. Hans provavelmente pensou nisso várias enquanto ficou preso nos subterrâneos do próprio castelo, tão perto de casa e ao mesmo tempo tão longe. Como sempre estivera tão perto do poder e ao mesmo tão longe.

Ele provavelmente perdeu a noção do tempo enquanto estava trancado em sua cela imunda, dividindo o lugar com pequenos animaizinhos nojentos e sua própria merda em um balde. As paredes úmidas com a infiltração da água do mar, o cheiro de mofo parecendo sempre mais forte, o ar parecendo sufocante e lhe faltando às vezes. E ouvindo sempre as provocações dos prisioneiros nas celas vizinhas que ele tentava ignorar.

Com certeza foram cinco anos dos quais ele não se esqueceu. Como ele também não deve ter se esquecido do que aconteceu naquela noite estranha.

O primeiro sinal de que algo estava errado na capital das Ilhas do Sul foi um floco de neve solitário que caiu perto da meia noite. Como já dito antes, as ilhas sulistas não conheciam a neve. Então, um evento que seria tão comum em qualquer outro lugar - como na congelada Arendelle naquela época do ano - se tornou um alerta de que algo estranho estava prestes a acontecer.

Claro, um floco solitário caído meia-noite em um bairro da periferia da capital das ilhas não foi tão importante assim. Mas encontrei um relado de um homem que era uma criança nessa época e que diz ter visto tal floco e que nunca se esqueceu da primeira vez que viu neve na vida. O que se passou a seguir foi o que realmente importou e que foi testemunhado por várias pessoas.

Ninguém soube dizer exatamente se ficara tão frio porque ela chegou ou se ela chegou porque ficou tão frio. Os ventos congelantes vieram primeiro, nisso todos concordam. Não eram particularmente fortes, mas fariam qualquer se aventurando pelas ruas em tão tardio horário um se arrepiar.

Então veio a neve.

A neve que cobriu a cidade toda e que a agasalhou com uma leve camada branca, tocando tudo que estava ao seu alcance. A maioria das pessoas já dormia quando tudo aconteceu então foram poucos que puderam testemunhar o acontecimento. De manhã todos veriam a neve recobrindo a cidade como um cobertor gelado, mas a maioria apenas saberia da garota que surgiu dos céus e voou até o castelo real pelas bocas uns dos outros.

A garota – ela – realmente chegou voando nas ilhas sulistas, mas não precisou de um par de asas, como alguns relatos mais fantásticos diriam. Na verdade, meus estudos me levam a crer que ela conseguiu chegar até lá envolta em uma nuvem de gelo e neve, impulsionada pelo vento. Foi uma viagem relativamente longe do norte de Arendelle até a capital sulista, mas ela já tinha certa pratica de seu poder, então deve ter sido relativamente fácil.

A garota, pequena e de curtos cabelos arrepiados – que levou a neve definitivamente para as Ilhas do Sul, e, desde sua aparição deveria nevar todos os anos naquela região –, passou pelos guardas reais sem grandes dificuldades, apenas estendendo a mão e deixando que o gelo fizesse seu trabalho. Do mesmo jeito congelou e gebrou todas as trancas que encontrou e apenas andou até seu destino, sem que ninguém pudesse impedir seu caminho e afastando todos os que tentaram.

Príncipe Hans, em sua cela subterrânea e isolado do resto do mundo, apenas percebeu o que acontecia quando as paredes dos calabouços começaram a congelar de repente.

Eu não seria capaz de dizer se ele se sentiu assustado quando viu as portas se abrindo repentinamente e a garota com a coroa de gelo na cabeça, com um sorrisinho no rosto, contente por tudo estar dando tão certo. Também saberia dizer o que ele sentiu quando ela esticou as mãos diretamente para ele, em meio a tantas outras celas.

– Afaste-se! – ela gritou.

Hans não ousou desobedecer. Talvez, se não estivesse tão chocado com a aparição, teria dito algo, mas não estava em condições de discutir. Não naquele momento.

As grades da cela foram congeladas tão rapidamente quanto as paredes antes. E, quando a garota cerrou o punho, elas estouraram e Hans se viu livre.

– Siga-me.

Foi tudo o que ela disse antes de virar de costas e começar a ir embora. Hans foi atrás dela, deixando os outros prisioneiros protestando em suas devidas celas, pedindo para serem libertados também.

Nenhum desses protestos recebeu qualquer atenção da garota desconhecida e tudo o que Hans fez foi ir atrás dela, lutando para acompanhar seus passos apressados com as pernas desacostumadas que não eram usadas para andar assim havia tanto tempo.

– Onde estamos indo? – ele perguntou quando se viu fora do castelo, sentindo o frio o acertando certeiro por sobre as roupas finas.

Mas a garota não respondeu. Ela apenas continuou a levantar os braços ocasionalmente, impedindo qualquer pessoa de se aproximar deles, ouvindo os gritos dos guardas que tentavam impedi-los de ir, as flechas e as espadas atiradas em direção a eles.

– Abaixe-se, – ela disse por baixo dos cabelos negros que lhe caiam nos olhos gélidos.

Hans fez o que lhe era pedido e viu quando a garota esticou a mão e um homem atrás dele foi envolvido por uma camada de gelo maciço e como ele gritou e fechou os olhos quando ela fechou a mão.

Ele está morto? – Hans gritou assustado.

Só conhecera aquele tipo de poder uma vez antes. Mas cinco anos tinham se passado desde que vira a Rainha Elsa pela última vez e na ocasião ela era tinha os cabelos platinados e longos. Além de não sair atacando todos por aí e não fazia seu estilo libertar Hans para levá-lo para algum lugar desconhecido.

– Fique parado – a menina disse mais uma vez, em sua voz fria e dura.

– O quê…?

Mas antes que ele pudesse fazer qualquer coisa, a garota já tinha se abaixado ligeiramente e rodado em volta de si mesma, fazendo uma nuvem gelada cercar os dois e de repente ele viu-se sendo içado sem que pudesse fazer mais do que proteger o rosto com as mãos enquanto os ventos que a garota criava faziam seus cabelos sujo baterem em no rosto.

De repente estava tão alto que os guardas em baixo deles poderiam ser bonecas que ele pegaria com as mãos. Todos eles gritavam e ainda tentavam impedi-los, atirando rajadas de flechas. A garota as repelia com não maior dificuldade que alguém afastaria alguns mosquitos chatos.

Hans olhos para ela, para seu semblante calmo e tentou imaginar o que estava acontecendo, sem realmente entender o que acontecia. Talvez ainda estivesse dormindo em sua cela, talvez estivesse apenas delirante. Mas o frio cortante que sentia o impedia de achar tal coisa. Aquela garota realmente estava ali, como uma deusa nevada, subjugando todos aqueles reles mortais.

– Segure-se, – ela disse por fim, antes de Hans sentir uma fisgada e descobrir que atravessada o oceano em alta velocidade, rumo ao norte.

Enquanto eles voavam, Hans apenas observou a garota, sem coragem de dizer qualquer coisa. Ela devia estar na casa dos vinte. Tinha um rosto bonito em vários aspectos, mas também orgulho e gelado e severo. Entretanto algumas vezes também sorria e, quando fazia, Hans achava que havia certa loucura pairando sobre ela, mas talvez fosse porque ainda não acreditava direito no que estava acontecendo.

Ele não soube quanto tempo ficaram voando sobre o mar até terra aparecer em baixo deles e nem quanto tempo até que eles finalmente voltassem para o chão. Não apenas isso, mas quando eles voltaram para o chão, parando no alto de uma montanha congelada, ele percebeu que conhecia aquele lugar. Estava de volta na montanha onde Elsa se isolara antes, de volta ao castelo de gelo daquela Rainha.
Olhou para a garota morena, tentando decifrá-la, entender sua ligação com a Rainha de Arendelle.

Mas não conseguia entender. Não conseguia pensar em uma explicação boa o bastante para aquilo.

– Chegamos – a garota disse enquanto seguia em frente, subindo as escadas que levam ao castelo de gelo, as mesmas escadas onde ele quase caíra para morte cinco antes, derrubado por um gigante de neve.

Com a respiração densa, Hans a seguiu para dentro do castelo, abraçando a si mesmo e tentando ignorar o frio que o fazia tremer. A porta de gelo se abriu para que eles passassem e fechou logo em seguida, como que por magia. O interior parecia exatamente igual antes, como que reconstruído depois de ele e seus homens o terem atacado, em busca, na época, da Princesa Anna.

– Ro-sa.

Ele ouviu a faz grave ao mesmo tempo em que o gigante de neve aparecia a sua frente. O mesmo gigante de neve que caíra da escada que levava ao castelo e que quase o levara junto.

A garota sorriu quando viu o gigante, abaixando levemente a cabeça em um cumprimento.

Rosa. Então era esse o nome de sua salvadora?

– Esse é o Príncipe Hans? – ela disse, e soou como uma pergunta. Só depois ele percebeu que talvez tenha sido mesmo, quando viu o gigante de neve afirmar com a cabeça. Ele não podia ver o rosto da garota parada um pouco a sua frente, mas sabia que ela sorria – Ótimo.

Ela se virou para Hans, encarando-o e parecendo analisa-lo. Quando percebeu que ele tremia tanto, agarrados as seus farrapos da prisão, os lábios arroxeando, ela pareceu surpresa.

– Ahu! – exclamou – Desculpe-me! Esqueci-me desse detalhe… Prontinho – disse, fazendo um movimento circular com a mão e a roupa antiga de Hans foi substituída por uma nova, toda azul e mais dignas de seu status como príncipe, mas ao mesmo tempo muito quentes e aconchegantes.

Devidamente agasalhado, Hans parara de tremer. A garota andou em direção a ele, dando uma volta completa ao seu redor, levantando seu queixo e mexendo em seus cabelos. Finalmente parou em frente a ele, parecendo contente.

– Vai servir impecavelmente. Você será perfeito.

– Me desculpe… Para quê, exatamente? – Hans perguntou finalmente, sentindo-se mais confiante.

A garota sorriu.

– Você verá, Príncipe Hans da Ilha do Sul. E vai ficar feliz em me ajudar, tenho certeza.

Ela virou-se de costas e deu alguns passos em direção à escada que levava ao andar de cima, mas Hans a fez parar.

– Você sabe quem eu sou. Parece justo que me diga quem é! – ele disse, irritado desta vez.

A garota riu, virando-se para ele e voltando a se aproximar. Assim tão de perto, Hans percebeu que ela tinha pequenas sardas perto dos olhos.

– Meu nome é Rosalya Glaciem. Mas pode me chamar de Rainha da Neve, se quiser. Afinal, imagino que logo todos me conheceram assim. E, você, Príncipe Hans, vai me ajudar.

E, deixando Hans atônito, ela virou-se de costas para ele mais uma vez, subindo as escadas, mas não sem antes dizer:

– Afinal, ouvi dizer que faria qualquer coisa para ser Rei.

A risada baixa dela ecoou pelos ouvidos de Hans durante algum tempo.


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Notas finais do capítulo

Bom, espero que tenham gostado. Reviews? *-*