O Regresso do Desespero escrita por Duchess Of Hearts


Capítulo 33
The Beauty of a Goodbye


Notas iniciais do capítulo

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Segurava o tubo com todas as forças em minhas mãos. A criança que havia destruído a minha vida – ou o pouco que restava dela – me encarava numa expressão suplicante, aterrorizada. Bastava terminar aquele gesto. Naoto não parecia ter coragem de mover um único músculo. Eu não devia estar hesitando. Mais de metade de meus amigos morrera devido a essa criança. Ela causara assassinatos horríveis e obrigou-me a passar por eles. As visões passavam-me todas na memória ao mesmo tempo, me obrigando a revisita-las contra a minha vontade.

 

Natasha caída no meio dos cacos de vidro na sala comum.

Evan suspenso numa cruz após ter morrido por afogamento.

Eikichi no laboratório com uma faca nas costas.

Ichiro sentado contra a parede com duas lanças no peito.

Kayo dilacerada por monokumas.

Kurama com um tiro na nuca na frente do palco.

Chiyeko no meio de chamas, ardendo.

Ai com uma corda ao pescoço no quarto de fotografia.

Eufrat premindo o gatilho para a própria morte.

Seiko num estado indescritível após o que lhe fizeram ao corpo.

Reiko devorado por um monte de peixes.

 

Decerto, nem todos eles eram meus amigos. Alguns não eram o que pareciam ser. Alguns nunca falaram direito comigo. Mas havia uma semelhança entre todos eles: eram pessoas. E tudo o que aconteceu ali foi feito porque Monokuma os enganou e guiou até à própria morte. Em outras palavras, era tudo culpa de Naoto.

Sendo assim, porque é que eu não conseguia vingá-los?

Deixei o tubo cair no chão, soluçando. O rapazinho pareceu ainda mais surpreso com a minha súbita desistência, levantando-se ao se sentir livre. A expressão dele logo virou raiva quando se apercebeu que o que ele queria não estava resultando.

— Você… PORQUE É QUE NÃO ME MATA? – Inquiriu, irritado – ME MATE LOGO! VOCÊ TEM… DE TOMAR O LUGAR DE JUNKO-NEE-CHAN!

Correu para mim, retirando uma faca que aparentemente tinha guardada no bolso. Me afastei, assustado, mas algo surpreendente aconteceu. Quando ele pisou dois fios, eles subitamente deram uma descarga elétrica tão forte que fizeram a criança cair no chão, sem vida. Aquilo deveria ser a coincidência mais sortuda de toda a minha vida. Mas seria, realmente, uma coincidência…?

No canto do meu olho, apercebo-me que havia um televisor de uma parede que caíra ainda aceso por algum milagre. Funcionava mal, e estava claramente prestes a parar de funcionar de vez. Contudo, um rosto conhecido surgiu.

— Nã…o de…sis…ta… – Suplicou Natasha, a estática cortando as suas palavras. Aquela… era o último legado que os nossos amigos nos deixavam. O desespero pelo qual tanto lutámos contra. A razão pela qual nos tornámos “zero”…

Sorri, me aproximando da tela. A imagem da primeira vítima dos feitos de Naoto sorriu de volta. Pousei a mão na tela, suspirando.

— Obrigado a todos. – Agradeci finalmente. Como se tivesse finalmente permissão para sair, a tela finalmente perdeu a energia e Natasha desapareceu. Agora deveriam aproveitar o seu merecido descanso. Longe do desespero e de todas essas coisas lá onde quer que eles estejam.

Após mais algum tempo, caminhei até encontrar os outros. Estavam num pequeno descampado, sentados no chão numa expressão confusa. Quando Connor me viu, ele logo se levantou e correu até mim, preocupado.

— Isao! – Murmurou, tocando no meu ombro – Você… Você está bem?

Acenei afirmativamente. Era difícil continuar sorrindo naquela situação, mas forcei-me a fazê-lo mesmo assim para acalmar o rapaz. Pareceu ter resultado. Connor voltou a olhar para o resto do grupo antes de me dizer alguma coisa.

— A gente estava se perguntando… Se já tinha acabado e o que vamos fazer agora. – Comentou, soltando um suspiro desapontado.

— E eu, bem… – Começou Akatsuki numa expressão envergonhada, mas logo a interrompi.

— Não se preocupe. – Falei, caminhando até ela e a ajudando a se levantar. – A culpa não foi sua. Isso tudo… Incluindo sua reação até agora, fazia parte do plano do Naoto.

Não sei bem se os outros compreenderam a onde eu queria chegar, mas pareciam demasiado cansados para sequer questionar as minhas palavras. De facto, bastava eu dizer as palavras erradas… Que eu poderia enganá-los a todos eles. Se as circunstâncias tivessem sido diferentes, muito provavelmente cairíamos no desespero. Nos tornaríamos os novos Super High School Level Despair.

— Então… O que fazemos? – Inquiriu Kurama. Tentou sorrir, contudo, os seus músculos da face semiparalisados levaram a que esta apenas fizesse uma careta. Após tentar várias vezes fazê-lo, acabou por desistir. – Agora… Não temos para onde ir…

— Nossa família já não está mais presente para nos acolher. – Comentou Teemu pesadamente.

— Nossos amigos… Nesse momento, eles são só a gente mesmo. – Acrescentou Riya – Todos os outros provavelmente odeiam nós ou simplesmente… morreram.

— O mundo está todo estranho… Olhem o céu, é normal ele ter essa cor? E esse ar… Esse ar é tão difícil de respirar! – Gemeu Connor, falhando a esconder o seu medo.

— …Nossos colegas não voltarão mais, também. – Desanimou-se Kyoishi.

Fez-se silêncio por um tempo enquanto cada um dos presentes baixava a cabeça, desapontado. Apesar de tudo, apesar da energia que tinham para viver até então… Toda ela dissipara-se em poucos momentos. Agora, era como se tivesse acabado o propósito de todos eles… E assim sendo, não havia mais nada a fazer. Mas eu não acreditava nisso.

— Não é bem assim. – Comentei distraidamente, surpreendendo o grupo. – Nós ainda temos algo pelo qual lutar… As nossas vidas.

— Não sei se se esqueceu, Kin… Digo, Isao Kimoto. – Comentou Kurama, numa expressão séria – Mas a Future Foundation agora irá nos ver como Remnants of Despair. Seremos perseguidos até à morte.

— Sim, é verdade. – Concordei, dando uma volta enquanto pensava para mim mesmo – Mas… Será que desistir é a melhor solução? Desistir de lutar? Pelo nosso futuro?

— Nós… Nós prometemos lutar. – Concordou Kyoishi, se levantando também. – É isso… Que nós vamos fazer, não é? Por um futuro melhor.

— Isso é uma loucura. – Cortou Kurama, levando a mão à cabeça – Não iremos sobreviver nem um segundo à frente da Future Foundation.

— Nós… arranjaremos um jeito. – Falou Kyoishi, pegando num pequeno caderno do seu bolso e o encarando. Lágrimas saíram dos seus olhos, e o rapaz forçou um sorriso. – Era… Era o que ele quereria, também.

— Nã’ sei muito bem o ca gente pode fazer, nem s’a gente vai se dar bem co’isso. – Começou Akatsuki, encarando o chão numa expressão pensativa. – Mas… se é o co Isao quer, depois do qu’eu fiz…

A garota também sorriu, uma pequena lágrima surgindo no canto do seu rosto.

— Q-Quem sou eu pra contrariar, né mesmo? – Deu uma risada envergonhada.

— O mundo está destruído. Nossas famílias, amigos, casas, e até mesmo os nossos ideais… Todos eles foram jogados ao lixo. – Explicou-se Teemu, passando a mão na cabeça como se ela lhe doesse. – A Future Foundation não acredita em nós, e o futuro que eles querem provavelmente não nos inclui, mas…

Nos seus olhos, eu conseguia ver a sua dor. A dor que ele passara, a dor que ele relembrara. As inúmeras vezes em que ele morreu e voltou à vida, ao ponto da sua mente ficar vazia… O sofrimento que ele passou ao ver as pessoas morrendo à sua frente, incapaz de as salvar.

— Eu… Não quero me tornar como eles. – Disse o rapaz, fechando o punho com força. – Eu não quero me tornar Despair. Toda aquela dor sem significado… Não quero que mais ninguém passe por ela.

Levantou a cara, me encarando nos olhos enquanto se levantava. Fiz questão de também lhe mandar um olhar forte, que lhe garantisse segurança.

— Assim sendo, Isao – Começou, pousando a mão no meu ombro – Vamos lutar para que isso nunca mais aconteça.

Nos voltámos para a única pessoa que faltava – Kurama. Ela continuava sentada no seu canto, pensativa. O seu estado era horrível – pior do que eu alguma vez desejava que alguém ficasse na vida. A certa altura, ela suspirou.

— Vocês são minha esperança e desespero. – Comentou. Não estava muito satisfeita, mas logo os seus lábios semi-paralisados se torceram no que eu pensei ser uma tentativa de sorriso. – Eu nunca vos abandonaria… Seja como “Zero” ou como qualquer outra coisa. Sempre vos seguirei, independente do que aconteça. Assim, sendo, por favor…

Fez uma respeitosa vénia, como se fossemos superiores a ela.

— Aceitem a minha presença ao vosso lado. – Pediu. Dei uma risada alegre.

— Você sempre esteve convidada, Kurama. – Afirmei, surpreendendo a outra.

— Se você decidisse ir embora, eu JURO QUE TE ESPANCAVA ATÉ DECIDIR FICAR COM A GENTE! – Resmungou o Connor, indignado com sequer ter de ponderar essa possibilidade. A ex-Super High School Level Genius não conseguiu conter a sua surpresa, até acenar afirmativamente.

— …Suponho que tenham razão. Perdoem-me, pelo que nunca mais me acharei inferior a vocês.

Demos todos uma risada alegre com a situação. Não era definitivamente a altura para rir – e era exatamente por isso que nos sentíamos tão bem ao fazê-lo. Era isso que vocês queriam, não é verdade?

Natasha, Evan, Ichiro e Kayo, Eikichi, Shizue, Ai, Eufrat, Reiko, e todos os nossos familiares que partiram…

Nós estamos fazendo isso por vocês. Por isso fiquem nos observando. Nós vamos conseguir alterar o nosso futuro.

 

A certa altura, Kyoishi falou.

— A gente devia de sair daqui, mas… Eu tive uma ideia. – Comentou. Com uns gestos simples, fez surgir um marcador nas suas mãos que eu não fazia ideia de onde ele viera. – Aqui temos muitas pedras, por isso… Que tal fazermos um memorial aos nossos colegas?

É verdade. Nenhum deles alguma vez teve a oportunidade de ter um funeral. Os seus corpos foram descartados por Naoto em algum lugar que desconhecíamos… Não era minimamente digno.

— É uma excelente ideia! – Concordou Connor, que retornara ao seu tom entusiasmado de antes. Logo ele começou a correr, pegando numa pedra grande e tentando empurrá-la para o centro. Com muito esforço, conseguiu. – Então, gente? Vamos logo! Eu não vou conseguir fazê-lo sozinho!

— …Suponho que tenhamos de ajudar Connor Fukusaku. – Comentou Kurama, caminhando para outro lugar para também trazer pedras. Acenei afirmativamente, e logo me juntei à ajuda. Em pouco tempo estávamos os cinco a trabalhar no duro para acabar esse trabalho o mais cedo possível.

Quando acabámos, tínhamos exatamente dez pedras com uma face lisa em linha a fazer de túmulos. Kyoishi, com um estalo, fez mais quatro marcadores saírem da sua manga.

— Porque porra cê tem ‘sa merda aí? – Inquiriu Akatsuki, surpresa.

— Um bom mágico está sempre preparado com a bênção celestina. – Ninguém realmente teve coragem de perguntar o que raios ele queria dizer com isso. – Agora, escrevam o nome dos nossos colegas… E o título, também. Eles merecem ser reconhecidos pelos seus talentos fantásticos.

Acenei afirmativamente, chegando ao pé de um dos túmulos… “Eufrat Tsubomi, Super High School Level Businesswoman”. “Hiroko Ai, Super High School Level Activist”. “Ichiro Suzuki/Kayo Mitsui, Super High School Level Racer/Vlogger”. Também não podia me esquecer de fazer o mesmo para minha mãe e irmão, mas isso não seria ali.

Quando demos por nós, todos os nomes haviam sido escritos. Ficámos um momento em silêncio em honra dos nossos colegas. Após algum tempo, foi Teemu quem quebrou o silêncio.

— Não foram funerais requintados, mas… Tenho a certeza que eles estão felizes, no lugar onde estão. – Comentou, sorrindo perante o ato.

— Hey, Natsuri… – Comentou o Connor, olhando para uma campa a mais que ela havia escrito – “Yui Kurama”… isso é…?

— Minha irmã mais nova. – Explicou-se Kurama, com um suspiro. – Ou como vocês a conheceram… minha sósia.

— Você tinha uma irmã? – Inquiri, chocado. A outra fechou os olhos, suspirando.

— É… Uma história difícil de contar. – Explicou. – Se não se importam, a incluí aqui porque ela foi, de facto, vossa colega por uns tempos… Mesmo que míseros. Achei que ela merecia estar incluída.

Ninguém protestou contra. Após algum tempo, ouvimos passos. Com certeza eram os guardas da Future Foundation que vinham investigar o acontecido.

— Temos de ir. – Comentou Teemu, num tom um tanto triste. De certa forma, aquele lugar onde havíamos passado tanta coisa agora nos trazia um sentimento nostálgico. Ali fora onde passáramos bons tempos, também. No meio de todo o desespero que Naoto nos trouxera, haviam boas memórias.

Nossas conversas divertidas, nossas pausas para o chá, nossas reuniões diárias na sala comum… Eu sentiria falta disso. Mas agora tinha de caminhar em frente. Quando dei por mim, já todos estavam indo embora.

— Hey, Isao! – Chamou Kyoishi, numa expressão um tanto confusa – Vai ficar aí?

— Oh, eu já vou! – Disse, correndo para eles.

— Hey gente… Alguém sabe onde está a KT?

— Ela tava co a gente no início, mas ouvi ela reclamando ca gente era chatos e “nada kawaiis” e foi embora.

— Será que… Ela vai nos trazer problemas?

— Sinceramente, duvido. Acho que nem ela tem mais paciência para essa história de esperança e desespero… Provavelmente ela vai ficar fazendo o que lhe der na cabeça, mesmo.

Assim sendo, continuámos correndo. Para o nosso futuro. O futuro que nós e os nossos falecidos colegas nos ajudaram a construir.

 

Por aqueles sorrisos.


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Notas finais do capítulo

Então, AGORA SIM, é o fim da história.

Esse ending é o que eu chamaria de good ending. Agora, qual é o mais canon? Eu deixo que cada um escolha o que prefere e acha mais lógico. Eu certamente sei qual é o meu. c:

Queria agradecer a todos os que leram isso até aqui. Vocês são fantásticos, vos amo muito s2 Espero que tenham gostado dessa fic tanto quanto eu.

Ufa, devo dizer: estou orgulhosa de mim mesma. Nunca pensei que ia acabar essa fic! Ah, e eu logo respondo aos comentários. Não respondi a nenhum ainda porque não queria dar indicações de que IA TER NOVO CAPÍTULO, daí que me contive. Agora tenho um monte de walltexts para responder... Ai que sofrimento ;-;

Enfim, dessa vez não tem "até ao próximo!" e sim um "obrigada por acompanhar"! Aqueles que quiserem recomendar a história - ficaria extremamente agradecida.

Adeus e até uma próxima!



PS: Caso vocês não tenham notado, agora existe um spin off chamado Despairingly Hopeful Moments: https://fanfiction.com.br/historia/703257/Despairingly_Hopeful_Moments/
O nome ainda é meio... wip, assim como o facto de não ter capa. Enfim, lá vou escrever todas as randomisses que achar interessantes para vocês!

PPS: Estou pensando em fazer um capítulo de FAQ para responder a vossas dúvidas da história e de todo o tipo de curiosidades que eu achar que vocês deveriam saber. Mas não sei se isso vale tendo em conta as regras do Nyah. De qualquer jeito, podem fazer as perguntas que quiserem nos comentários que eu responderei!

Agora sim, beijos e um grande MUITO OBRIGADA!