O Regresso do Desespero escrita por Duchess Of Hearts


Capítulo 3
Welcome to Despair's Peak Academy - Parte II


Notas iniciais do capítulo

Mais 5 apresentações nesse capítulo. Espero que gostem!



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Depois de nos termos separado, decidi que estava na hora de dar mais uma volta ao hall de entrada e explorar as outras salas do local. Bem à saída do refeitório, encontrei uma porta em tons escarlate à minha esquerda. Uma placa ao lado dela dizia “Elevador”. Fiquei algum tempo à procura de um botão para chamá-lo ou algo assim, mas não encontrei. Tentei abrir a porta, mas estava trancada. Confuso, decidi simplesmente ignorar enquanto explorava o resto da escola. Ao lado do elevador estavam umas escadas que iam para o andar inferior. Talvez isso significasse que estávamos no último andar prédio? Ou aquilo descia para a cave? Em parte alguma eu encontrei uma referência de para onde levavam aquelas escadas ou em que andar estávamos, por isso desisti de perder o meu tempo.

Até porque, atrás de mim, uns passos eram ouvidos. Virei-me para encontrar uma garota de longuíssimos cabelos platinados. Não tenho a certeza se ela não me viu ou simplesmente me ignorou, mas parecia estar explorando o recinto como eu. Logo fui ter com ela.

— Hey! – Chamei. A garota se virou na minha direção, me encarando com uma expressão indiferente. Quando me aproximei, ela não falou. Parecia estar esperando que eu falasse, e então, de uma forma um tanto constrangedora, tomei a iniciativa. – Hmm… Oi…

— Olá. – Respondeu ela secamente. Não estava ajudando com a minha dificuldade para começar uma conversa normal.

— Err, você também é uma aluna daqui, certo? – Perguntei. De facto, ela parecia ter mais ou menos a minha idade, pelo que pude assumir que fosse mais uma colega. – Prazer em te conhecer, chamo-me Isao Kimoto… SHSL National Hero.

— Isao Kimoto. – Repetiu ela, como se estivesse tentando memorizar o meu nome. – Natsuri Kurama.

Natsuri Kurama – Super High School Level Genius

 

Natsuri Kurama era uma garota génio que sempre tirou a nota máxima em tudo na escola. Eu tinha ouvido falar dela. Os seus conhecimentos, apesar de estar no ensino médio, são dignos de um professor universitário. É basicamente tudo o que eu sei sobre ela, e mais uma vez apenas graças ao site da academia Hope’s Peak. Alguns amigos meus de Tóquio – onde Kurama vive – dizem que sempre que ela aparece na rua, está rodeada de guardas e é completamente intocável, isso quando ela realmente sai para a rua. Suponho que ela seja mais ou menos conhecida na cidade pelas suas habilidades. Como uma pequena celebridade apenas naquela zona.

— Ohh. Eu já ouvi falar de você, só não te reconheci.

— Hm. Por outro lado, eu te reconheci assim que te vi. – Respondeu ela com calma. Pareceu ter se apercebido que a minha intenção era que ela continuasse a falar. Relutante, explicou o porquê das suas palavras. – Eu estava na torre… Naquele dia. Com os meus pais.

— A-Ah! – Senti-me ficar vermelho ao compreender o significado das suas palavras. Ela estava lá no dia em que eu recebi o título de herói da nação? – E-Então… É, o q-que achou de m-mim? F-fui muito bacana, c-certo?

— Na verdade, eu só achei que você fosse estúpido. – Corrigiu Natsuri friamente, completamente pisando no meu delicado coração – Quando saímos, os meus pais até comentaram “Quem em seu perfeito juízo iria alguma vez ser suicida que nem aquele garoto”…

— A-Ah… – Fiquei muito, MUITO sem graça. Aquela conversa não estava indo da melhor forma para mim. E, naquele momento, eu provavelmente estava mais vermelho que um tomate.

— Mas, acho que, no final, você realmente salvou a nossa vida. Obrigada por sua estupidez. – Finalizou. Acho que notei um pequeno sorriso no seu rosto, mas logo ela estava com a sua expressão séria. Embaraçado demais para continuar conversando, eu apenas lhe expliquei que estávamos todos nos reunindo na sala comum e me afastei.

Após sentir o meu rosto arrefecer, fui dar uma olhada na sala ao lado direito do refeitório. A placa dizia “Anfiteatro”. Inseguro, levei a mão à porta e a abri.

Era um lugar muito grande, tão grande quanto o próprio refeitório. Centenas de cadeiras estavam posicionadas ao longo da sala, todas elas direcionadas para um único palco ao fundo. Estava tão preciosamente decorado que, em vez de um anfiteatro para uma escola, parecia mais uma casa de ópera. Ao fundo, em cima do palco de madeira, estavam umas enormes cortinas vermelhas de veludo que caíam desde o alto teto até ao chão. Um piano estava visível num dos cantos, parcialmente escondido pelas mesmas. Bem no seu centro, estava um microfone, e atrás do microfone, estava um boneco. Espera, aquilo não era um boneco – era uma pessoa.

Aquele lugar era tão imenso que, se eu não tivesse olhado duas vezes, não me aperceberia que estavam na verdade dois indivíduos ali. Um no palco e outro sentado numa cadeira da primeira fila. O que estava no palco usava roupas de cores tão extravagantes – vermelhos e azuis, principalmente – que eu pensei que era um boneco em tamanho real ao olhar pela primeira vez. Quanto mais eu olhava, mais me apercebia que era realmente um ser humano, mas mais estranho ele me parecia. Segurava umas cartas, e, ao jogá-las ao alto, elas explodiram numa pequena nuvem de fumaça e caíram como rosas.

Ao me aproximar, ele fez uma pequena vénia e me sorriu.

— Mais um espectador, presumo? – Inquiriu. Eu não tive tempo de responder, porque ele já me apontava para o assento ao lado do outro garoto. Decidi que talvez fosse melhor se eu fizesse como ele queria. Depois de me sentar, o outro garoto – um loiro, vestido principalmente de negro exceto pelas sapatilhas de marca vermelhas, que exalava um odor agradável a perfume percetível assim que eu me aproximei dele – grunhiu em descontentamento.

— Hey! Satoru! – Chamou num tom impaciente – Quanto tempo mais é que vamos ficar aqui? Você sabe, essa não é realmente a altura para andar fazendo shows de mágica!

— E quando que não é? – Inquiriu o outro, num tom que parecia estar chamando o loiro de louco pelo que acabara de dizer.

Kyoishi Satoru – Super High School Level Magician

 

Se eu percebi bem, aquele seria Kyoishi Satoru. Já vira os seus espetáculos algumas vezes na televisão, e eram fantásticos. Do tipo, realmente fantásticos. Satoru era capaz de fazer coisas que eu nunca na minha vida conseguiria sequer imaginar que eram possíveis, os seus truques são sempre, SEMPRE surpreendentes. Até porque ele é quem os inventa. Em um dos shows que eu vi, ele se trancou num incinerador sem quaisquer possibilidades de fuga e a sua assistente ligou-o. Depois, com um grito, o ar começou a arder, até que do meio das chamas saiu Satoru, intocado. Fiquei quebrando a minha cabeça o resto do dia inteiro para descobrir como que ele fizera aquilo, mas sem resultados.

Ele era conhecido a nível mundial. Não era incomum ver garotinhos de 7 anos dizendo que queriam crescer para se tornarem como ele. Se havia alguma prova de que a magia realmente existia, era ele.

— NESSE MOMENTO. – Repetiu o loiro, de uma forma um tanto irritada. – Estamos presos aqui, você não escutou o anúncio no seu quarto? Era nessa altura que deveríamos estar procurando mais pessoas para ver o que se passa!

De alguma forma, senti que ele não estava realmente querendo encontrar mais pessoas para descobrir o que estava acontecendo ali. Algo nas suas palavras me trazia desconfiança das suas verdadeiras intenções. Quando ele se virou para mim, lançou-me um sorriso de orelha a orelha.

— Isao! Um prazer estar finalmente com você para te conhecer. – Esticou a mão para me cumprimentar, a qual eu apertei… Espera, ele sabia o meu nome?

— Uh… Eu te conheço?

— Não! De todo! Mas eu sei tudo sobre você. Me diga, como está o seu irmão mais velho… Kenta, não era?

De alguma forma, ele tinha toda a noção da existência do meu irmão mais velho, até sabia do seu nome. Sentindo a minha privacidade ameaçada, tentei mudar de assunto.

— E você é…?

Eikichi Koji. – Explicou ele – Super High School Level…

— Paparazzo. – Interrompeu Satoru, que apesar de parecer estar demasiado ocupado analisando um baralho de cartas estava nos ouvindo.

Eikichi Koji – Super High School Level Paparazzo

 

— …Repórter investigativo, se não se importa. – Corrigiu Koji, num tom desagradado.

Eikichi Koji. Tentei buscar na minha mente o que eu sabia sobre ele, pelo que acabei por me lembrar. Como um paparazzo, ele era o tipo de pessoa que escrevia nas típicas revistas cor-de-rosa (apesar de também, muitas vezes, acabar escrevendo para jornais), muitas vezes com revelações chocantes que deixavam o país inteiro boquiaberto. Se bem me lembro, o último artigo que ele escreveu – que eu por curiosidade procurei ler – tinha algo a ver com a grande modelo, Junko Enoshima. Dizem que ele já escrevia reportagens desde os 8, apesar de tal nunca ser confirmado. De qualquer forma, isso era o que dizia no perfil dele no site da escola, e nada mais. Apesar dele mesmo ser uma pessoa que tem como emprego caçar segredos, ele mesmo deve ter os seus e com certeza que sabe esconde-los melhor que ninguém. Não era o tipo de pessoa com quem eu iria gostar de me dar, e o facto dele saber o meu nome e sobre a minha família só me dava arrepios. Além disso, ele me tirou uma fotografia com uma câmera aparentemente cara e começou a anotar coisas em um caderninho. Seria aquilo sobre mim?

— Isao. – De novo, ele me chamou pelo meu primeiro nome, o que era particularmente incómodo – Você pode me dizer… Se já viu mais alguém por aqui?

— Mais alguém…?

— Sim! Como por exemplo, uma das seguintes pessoas: Eufrat Tsubomi, Hiroko Ai, Teemu Fear Wichard, Kayo Mitsui, Nat…

— Não. Não vi nenhum deles. – Respondi em um tom seco. Pensei que tinha deixado claro que não queria falar sobre ninguém com ele, mas Koji apenas sorriu de uma forma divertida.

— Você tem a certeza? Não viu pelo menos Natsuri Kurama? - Insistiu - Queria tirar uma foto dela. Nunca consegui tirar nenhuma coisa de jeito, ela está sempre coberta por aqueles seguranças...

— Eu já disse que não. - Afirmei, com confiança

Ele ia abrir a boca para dizer mais qualquer coisa, mas subitamente Satoru estava à nossa frente, fora do palco, esticando um leque de cartas à minha frente.

— Já se perguntou porque é que os pinguins não voam? – Perguntou-me, num tom natural.

— Bom, se bem me lembro do que estudei em biologia, isso seria porque…

— …Sim, com certeza que tulipas assentam mais com um sobretudo roxo do que rosas. – Não olhava mais para mim, em vez disso, encarava um holofote que estava pendurado lá em cima, no teto – E, se aplicarmos sacarose na água, ela ficará melíflua… Escolha uma carta.

Sem entender uma palavra do que ele acabara de dizer, peguei numa carta aleatória. Saiu uma rainha de copas. Pelo canto do olho, vi Koji a rolar os olhos.

— Decore essa carta e a guarde sem eu ver. – Ordenou Satoru, me encarando nos olhos de uma forma um pouco constrangedora. Guardei a carta no bolso da camisa. Assim que o fiz, Satoru estalou os dedos e olhou em volta, como se procurasse alguma coisa. Após olhar para Koji, estalou os dedos de novo e pareceu bastante feliz.

Com um movimento brusco, Satoru meteu a mão dentro da blusa de Koji, procurando alguma coisa lá dentro. Koji barafustou e tentou se libertar, mas o mágico eventualmente conseguiu retirar de lá dentro uma carta de rainha de copas. Ele me mostrou a carta como se nada tivesse acontecido.

— Era essa a sua carta? – Perguntou, com calma.

Em um movimento instintivo, fui verificar a carta que estava no meu bolso… Mas ela não estava mais ali. Encarei Satoru com uma expressão parva.

— Como que você fez…?

— Mágica. – Explicou ele, com um sorriso. Dava para perceber que era para aquilo que vivia.

— Wow. Fantástico. – Disse, completamente absorto às reclamações de Koji ao meu lado. Depois, acordei do meu transe e me lembrei o que tinha vindo aqui fazer – Hmm, de qualquer forma… Estamos nos reunindo todos na sala comum. É para todos irem lá ter.

Não pareceram ter me ouvido, mas ambos fizeram menção de sair. Após ter me levantado para sair junto deles, Satoru explodiu numa nuvem de fumaça roxa e… Sumiu. Irritado, Koji começou a correr para a porta, resmungando alguma coisa sobre como ele ainda não tinha feito todas as perguntas que queria. Para mim, um mero desconhecido até míseros momentos atrás, dava para perceber que eles já tinham algum histórico, e que Satoru definitivamente mexia com o sério de Koji.

Saí do anfiteatro. Olhando para o corredor à minha esquerda, notei uma figura feminina ao fundo, que estava prestes a entrar na última porta. Corri até ela, chamando-a, e a garota logo se virou. Aquele rosto… Era-me familiar, mas não era como se eu conhecesse a garota pessoalmente. Eu só via o seu rosto muitas vezes.

— Olá. – Disse ela, com uma expressão sorridente – Que bom ver mais uma pessoa por aqui. Você também é um aluno?

— Ah, sim. – Logo me apresentei, cumprimentando-a como fizera com maior parte das pessoas que conhecera até ao momento. Ela fez o mesmo.

— Sinceramente? Estava com medo que todo o mundo aqui nessa escola fosse meio que maluquinho. Sabe, pessoas com talentos absurdamente bons COSTUMAM ter uma personalidade estranha… Bom ver que você é bastante normal, Isao. Meu nome é Kayo Mitsui.

Kayo Mitsui – Super High School Level Vlogger

 

Não era como se ela precisasse realmente de se apresentar. Eu via os seus vídeos todas as semanas.

Kayo Mitsui era a Vlogger com mais sucesso no mundo. Tem duas contas separadas, uma no YouTube e outra no Niconico, mas ambas batem o recorde de subscrições de ambos os sites, chegando aos 35 milhões em uma delas. Os vídeos dela também recebem, 1 hora após o seu upload, cerca de 20 milhões de visualizações. As razões para estes números exorbitantes são desconhecidas, havendo até suspeitas de que Kayo usava um programa de hackers para alterá-los. Obviamente, isso foi comprovado como falso.

Eu mesmo via os vídeos que ela postava semanalmente. São coisas normais e bobas, muitas vezes de comédia, que ela fazia de modo a entreter os visualizadores. Para mim, o principal segredo do seu sucesso é a sua aparência adorável: os cabelos loiros gigantescos, o rosto perfeito, as roupas engraçadas, mas o conteúdo não deixa de ser fundamental.

— Ah… O prazer é todo meu. – Corrigi, sorrindo de forma boba. De todas as pessoas que eu conhecera até agora, Kayo era provavelmente aquela que eu queria mais conhecer pessoalmente. A verdade é que não se sabe muito sobre ela além da sua vida virtual, nem sequer onde que ela vive. Não era estranho o facto de Koji ter perguntado pelo seu nome lá no anfiteatro. Ela deu uma risadinha leve.

— Você é muito fofo! – Comentou – Lembra o meu Chihuahua, parece que está sempre envergonhado demais para falar comigo. Boom, eu não sou realmente um monstro, então não tenha medo. Por enquanto.

Disse aquilo numa seriedade que quase me assustou. Depois de rir mais um pouco das minhas expressões, mudou de assunto, adquirindo um semblante mais sério.

— Então, Kimoto… Você por acaso encontrou alguma explicação do que está acontecendo? Porque eu, sinceramente, não encontrei nenhuma. Na verdade, quanto mais voltas dou a essa tão falada escola, menos pareço compreender…

— …É, também estou na mesma situação. – Respondi, suspirando. – Mas já encontrei muitas outras pessoas… Muitos alunos, e todos eles da nossa turma.

— Sério? Mas… E os professores? Isso não é uma escola? – Ela cruzou os braços, pensativa – Onde que estão eles? E porque é que essas janelas… Estão todas com essas placas as cobrindo na totalidade?

A sua expressão ficou um tanto assustada. Como se ela não tivesse a certeza se queria dizer o que queria dizer.

— N-Não me diga… Que aquele anúncio era… Real? – Perguntou após alguns minutos de silêncio, mordendo o lábio inferior com o nervosismo.

— Não sei. Mas isso é o que vamos descobrir, na reunião que estamos todos fazendo na sala comum. – Expliquei, tentando manter a calma. Não queria que ela entrasse em pânico, como aconteceu com Hayashi. – Com certeza deve de haver alguma explicação para tudo isso.

— É… Deve de haver, não é mesmo? Obrigada, Kimoto. – Ela sorriu novamente, parecendo mais descontraída – Vou dar um salto ao meu quarto e logo visito a sala comum, que eu ainda nem vi, por acaso. Até já.

Dito isto, ela saiu para a direção contrária ao corredor, deixando-me ali sozinho. Decidi entrar primeiro na porta em que ela ia entrar, que levava para a enfermaria.

Era um lugar límpido e elegante, principalmente em tons de branco. Duas camas estavam posicionadas lado a lado, cada uma com a sua própria mesa-de-cabeceira, de modo a que dois pacientes pudessem estar ali ao mesmo tempo. Do outro lado, um balcão ocupava quase toda a parede, e mais acima haviam alguns armários presos à parede, com portas de vidro, todos eles com medicamentos e utensílios para cuidar de alguém. Um refrigerador estava ao fundo, provavelmente com mais coisas ainda que precisassem de ser guardadas no frio. À frente do balcão, um corpo estava deitado no chão… Espera, um corpo!?

— H-Hey! – Chamei, mas não obtive resposta. – Você está bem? HEY!

Senti o coração batendo com tanta força que ele quase me saltava do peito. Corri para o garoto que estava caído no chão, me aproximando. Era um garoto com umas roupas um tanto deselegantes: camisa simples e um pouco suja, calças folgadas e chinelo. A sua pele era morena e os cabelos negros. Ele tinha pulsação, e respirava. Suspirei com alívio, ao menos ele estava vivo. Então porque é que ele estava ali caído no chão…?

— Hnng, bom dia Akira… Não, eu não quero panquecas de novo ao almoço, eu já disse…! – Após abrir os olhos e dizer algumas coisas sobre uma tal de Akira, ele me olhou. Deve ter percebido que o meu nome não era Akira, porque do nada ele se afastou com um salto.

— Hey, cara! Tipo, isso é MUUITO perto. Perto demais para o meu gosto! – Disse, subitamente muito desperto. – Não sou do tipo de me meter com um cara logo na primeira vez que eu o conheço e…

— Espera, você está falando do quê? Você estava deitado inconsciente no chão até agora! Só estava vendo se você estava bem!

— Inconsciente? Não, não eu só estava dormindo um pouco! – Ele disse, abanando a cabeça de uma forma reprovadora.

— …No meio do chão? – Perguntei, cético.

— Ah, eu não tive tempo de chegar à cama… Sabe, é que depois de ter acordado no meu quarto, eu meio que estava com dores de cabeça. Muitas dores de cabeça. Então, seguindo o mapa no meu ID de estudante, vim para aqui. Eu só queria alguma medicação para as dores de cabeça, mas eu não entendo nada dessas coisas… Então tomei uns comprimidos ao acaso.

Será que ele não tinha noção do quão perigoso aquilo era? Aquele garoto era louco!

— …Não faça isso de novo. E qual seria o seu nome? – Perguntei, optando por simplesmente mudar de assunto em vez de repreendê-lo.

— Oh, o meu nome é Atsuro Reiko. Prazer.

Atsuro Reiko – Super High School Level Fisherman

 

Segundo o que eu pesquisei, Reiko foi lentamente ganhando fama através de diversos concursos de pesca. Já bateu três vezes o recorde daquele que capturou o maior peixe, e já ajudou diversos oceanários ao pescar animais marinhos de difícil acesso. Muito provavelmente, ele já passara dias inteiros no meio do mar, à espera da “presa perfeita”. Ao lado dele, até um tubarão é um animal manso, pronto a ser capturado. Não parece tão fantástico quanto os outros talentos, mas não deixa de ser algo espetacular.

Contudo, não pude deixar de me sentir um pouco feliz por não ser o único sem um talento estonteante que dá inveja a todo o mundo. Repreendi-me mentalmente por essa sensação, mas não consegui realmente evitá-la. Depois de me apresentar, ele não perdeu tempo mudando de assunto.

— Ugh, você por acaso não viu um celular por aí? Uma coisa barata, muito maltratada. – Perguntou Reiko – Eu precisava de telefonar para a minha irmã.

— Ah, não. Na verdade, não sei onde está o meu próprio. – Expliquei – No meu quarto, eu só tinha algumas mudas de roupa, mas maior parte dos meus objetos pessoais desapareceram.

— Com você também? Raios... E agora? Como que vou telefonar para a minha irmã?

— Não sei. Sinceramente, isso só me deixa mais preocupado em relação ao que está acontecendo. Você deveria ir ter à sala comum, vai haver uma reunião de todos os alunos que estão na escola por lá.

— …Então, Kimoto, eu não acho que vou poder fazer isso. – Disse Reiko – Sabe… Aqueles comprimidos que eu tomei, eram realmente… Realmente fortes…

Ele bocejou, e era óbvio que o sono estava regressando. A um ritmo um tanto acelerado.

— Acho que acordei porque você me sobressaltou, mas agora… – Ele bocejou alto, se aproximando de uma das camas – Acho que não aguento por muito mais tempo…

E, dito isto, ele caiu como uma pedra na cama. Pelo menos dessa vez não foi no chão. Sabendo que ele não se ia mover dali por algum tempo, apenas saí da enfermaria e deixei-o descansar.


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Notas finais do capítulo

Próximo capítulo vai ter as 5 apresentações restantes. Ainda faltam, no total, 3 vagas femininas a ser preenchidas, e eu gostaria que caprichassem nelas. Eu recebi algumas, mas recusei-as porque ou elas eram muito semelhantes a personagens já existentes (parem de fazer personagens simpáticas, boas amigas e extrovertidas, sério) ou então simplesmente faltava informação.
Então, é isso! Até ao próximo :)