Kingdom Falls escrita por Marina Schinger


Capítulo 1
Ένα




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/518613/chapter/1

Diante de um grande e luxuoso espelho, eu encarava a mim mesma com uma expressão impassível, pensando em todos os motivos nada egoístas que me levaram até onde eu me encontrava no momento.

Pelo menos quatro das várias serviçais que havia no castelo estavam ali, todas ao meu redor, cada uma concentrada em um dever. Uma delas usava as mãos habilidosas para trançar meu longo cabelo em um penteado delicado e sofisticado; outras duas ajeitavam o vestido branco e longo que cobria meu corpo, todo rendado e com detalhes mínimos de brilho; a última fazia de meu rosto uma obra de arte, maquiando-me suavemente, delineando meus olhos e meus lábios e dando-me um ar mais adulto, como se eu fosse uma mulher com grandes posses na vida. Bem, talvez, a partir daquele momento, eu fosse.

– Srta. Bertolazzo - Uma das mulheres me chamou, tirando-me de meu devaneio.

Eu a olhei, incentivando-a a continuar, o que quer que tivesse para me dizer.

– A senhorita está pronta. - Ela completou com um sorriso alegre.

Olhei-me fixamente no espelho e as serviçais se afastaram para que pudessem me dar uma visão melhor. Não me reconheci, por um momento, perguntando-me, então, quem era a pessoa que se mantinha de pé em minha frente, olhando-me severamente.

Engoli em seco, nervosa quanto ao que vinha a seguir uma vez que eu já estava pronta para todo o evento.

– Você é a noiva mais linda que já vi em toda a minha vida, Srta. Bertolazzo. - A mais velha das mulheres, e a única que eu conhecia desde que eu era apenas uma criança, disse em um tom emocionado, olhando-me ternamente.

– Betta, por favor, você sabe que pode me chamar pelo nome. - Reclamei enquanto me virava de lado para ter uma visão melhor do vestido. - Vocês fizeram um ótimo trabalho. - Elogiei as duas mulheres que fizeram-no especialmente para mim.

– É um dia especial, a senhorita merece. Esperamos que seja muito feliz. - Uma delas, a baixinha de cabelos cacheados e dourados, disse com um sorriso doce nos lábios, tão carinhoso que foi capaz de refletir em meu rosto, e eu tive de reprimir uma vontade repentina de chorar. Não de felicidade, entretanto, e sim por medo.

Eu estava aterrorizada. O que eu estava prestes a fazer era, de longe, tudo o que eu menos queria.

Não havia como encontrar felicidade em algo que eu simplesmente, por assim se dizer, abominava. Como eu seria capaz de conviver com tal infelicidade? Era tudo culpa dos meus pais. Principalmente o meu pai, o todo poderoso da Itália, talvez apenas um degrau a menos poderoso do que o rei. Eu me sentia vendida, como se eu fosse um objeto qualquer para juntas uma peça na outra. Talvez essa fosse a minha importância, afinal.

O infeliz do Rei Icaro Pellegrino não fora capaz de reproduzir um herdeiro do sexo feminino com sua rainha, Delfina, e então, obviamente, não havia como casar seu filho, Federico, com o herdeiro de outra província. Sendo assim, meu pai, muito próximo do rei (talvez, por assim se dizer, melhor amigo) propôs um acordo sendo que, neste, ele me ofereceria para casar com o herdeiro do país que quisesse juntar-se ao nosso e, em troca, nossa família seria sempre protegida e muito bem sustentada caso algum dia viéssemos à falência. Primeiramente eu quase fora obrigada a me casar com Federico, o herdeiro do rei, mas então vossa e querida Alteza mudou de ideia (não posso decidir se para minha feliz ou infelicidade), e então eu deveria me casar com o herdeiro da Grécia, Matteo Amairani, filho do rei Dimitri com a rainha Sofia.

E então ali estava eu, pronta para me casar com um completo desconhecido que eu vira apenas uma vez em toda a minha vida, dois dias antes do casamento, apenas para aliar meu país ao dele e assim uma aliança de exércitos fosse constituída.

– Senhorita - Betta chamou minha atenção, tocando, suavemente, meu braço coberto apenas por uma manga transparente de seda. - Está tudo bem?

Concordei levemente com a cabeça, descendo do pequeno pódio que me sustentava e calçando os sapatos brancos e de um salto consideravelmente alto que me aguardavam.

– Está preparada? - Ela perguntou em um sussurro, talvez sabendo exatamente o que se passava pela minha cabeça.

Encarei-a com os olhos arregalados, querendo imensamente que ela pudesse me tirar dali o mais rápido possível.

– Apenas respire fundo e deixe tudo acontecer do jeito que deve ser feito. - Sua voz soou calma, quase em um sussurro, e eu concordei com a cabeça. - Não se esqueça de colocar o seu sorriso mais lindo neste seu belo rosto.

– Tudo bem. - Falei enquanto balançava a cabeça freneticamente, querendo convencer mais a mim mesma do que a Betta. - Eu consigo.

Betta sorriu, assim como as outras três serviçais também sorriram, e então elas me guiaram até uma grande porta que daria para o salão principal de todo o castelo. Elas me desejaram boa sorte após colocarem um buquê de lírios brancos em minhas mãos e se afastaram, postando-se cada uma em um canto. A porta, que havia alguns detalhes dourados por toda sua extensão, abriu-se e então uma melodia suave e calma se apossou de todo o local e, todas as pessoas presentes levantaram-se para que pudessem me receber. Algumas sorriam, outras cochichavam e outras mantinham apenas uma expressão impassível. Em um canto próximo ao pessoal da banda, pude ver o rosto que eu mais temia ver. Ou talvez o rosto que eu mais queria ver.

Ali estava Dante, encarando-me com uma expressão fria e ao mesmo tempo triste, segurando uma bandeja prateada, seu corpo vestido em um terno preto e sofisticado e uma gravata borboleta branca amenizava a cor escura que predominava. Eu nunca o havia visto tão bem vestido daquela forma, já que sua família não tinha condição alguma de pagar por uma vestimenta daquela.

Dante era filho dos cozinheiros do castelo na Itália, e também era o amor de minha vida.

Vê-lo ali era, certamente, confuso. Talvez estivesse ganhando um pouco de dinheiro extra sendo um garçom da realeza por uma noite.

Pisquei os olhos rapidamente, lembrando-me do que eu realmente deveria fazer e comecei a andar lentamente, tentando sorrir convincentemente.

Bem à minha frente estava o príncipe Matteo, com um terno de uma cor meio acinzentada, diferenciando-se de todos os homens do local, e abotoaduras douradas destacavam-se em seus pulsos, assim como sua gravata preta e seus vários broches oficiais da realeza também destacavam-se sobre seu terno. Seus cabelos levementes cacheados e castanhos caíam suavemente sobre sua testa, dando-lhe um ar tão jovem quanto ele realmente era. Seus olhos, também castanhos, observavam-me como uma águia prestes a atacar sua presa. E, antes que eu pudesse evitar, um tremor percorreu todo o meu corpo.

Bom, agora sim eu estava com medo.

Eu mal sabia quais eram as verdadeiras intenções do príncipe. Como eu deveria me portar assim que eu me tornasse oficialmente sua esposa e herdeira, ao seu lado, da Grécia e Itália?

Assim que próxima o suficiente, ele segurou uma de minhas mãos e levou até os lábios, beijando-a delicadamente, nunca deixando de me olhar.

– Senhoras e senhores - Disse o Bispo em um tom de voz alto, olhando para mim e para Matteo em seguida. -, estamos aqui hoje para que duas almas e dois corações sejam unidos pela força de duas províncias igualmente fortes.

Arrisquei a olhar para Matteo pelo canto dos olhos. Ele permanecia agora imóvel e impassível, olhando o senhor Bispo com toda a seriedade que ele poderia ter. Suas mãos estavam postadas atrás de seu corpo, uma segurando a outra, em uma posição de extrema auto-confiança, como se nada pudesse detê-lo e, por um momento, quis me sentir daquela forma. Como se nada pudesse me derrubar. Quis ter uma potência que, de fato, uma princesa e futura rainha deveria ter.

Ajeitei minha postura, tentando dar-me um ar mais rico, e prestei atenção ao que o Bispo dizia.

– O que conhecemos, a partir de nossa Divindade, é que devemos nos unir para que a força seja o suficiente para sobrevivermos. Uma mão ajuda a outra e então a união faz a força. O Senhor, assim como nossos Deuses, proclama a compaixão, compreensão e altruísmo e, hoje, estamos aqui por todas estas coisas. Portanto, em nome Dele e de nossas Províncias, declamo a união de nossos futuros Rei e Rainha da Grécia e Itália.

Engoli em seco, temendo cada uma de suas palavras. Apertei o buquê com força em minhas mãos, a fim de reprimir o grito que queria escapar por entre meus lábios.

– Matteo Amairani, príncipe da Grécia, o senhor aceita Flora Beatrice Bertolazzo, diante de Deus e todos os outros Deuses, como sua legítima esposa e futura Rainha, para amá-la e respeitá-la; protegê-la e atender todas as suas necessidades quanto ao seu posto, na saúde e na doença, na alegria e na tristeza, dentre a guerra e a paz, e até que a morte os separe?

Fechei os olhos e respirei fundo. Eu sabia que, uma vez que a resposta fosse positiva, não teria mais volta. Seríamos marido e mulher pelo restos de nossos dias, mesmo que infelizes e por obrigação. Eu seria dele e dele apenas.

Uma vontade louca de chorar se apossou de mim mais uma vez e então, antes que eu pudesse evitar, uma lágrima solitária escorreu pelo meu rosto até meus lábios.

– Sim. - Matteo respondeu com convicção e firmeza, a voz soando grossa e, ao mesmo tempo, suave e delicada. - Eu aceito.

Dei uma olhada breve em sua direção e o flagrei encarando-me fixamente, os lábios rígidos em uma linha. Eu sabia que aquilo também era apenas uma obrigação para ele. Bem, pena que não tínhamos escolha alguma.

– Flora Beatrice Bertolazzo, filha do grande e nobre Conde Bertolazzo da Itália, a senhorita aceita Matteo Amairani, diante de Deus e todos os outros Deuses, como seu legítimo esposo e futuro Rei, para amá-lo e respeitá-lo; aceitar suas decisões e ajudá-lo de forma a governar suas Províncias; atender suas necessidades quanto ao seu posto, na saúde e na doença, na alegria e na tristeza, dentre a guerra e a paz, e até que a morte os separe?

Respirei fundo e fechei os olhos, querendo que, quando eu os abrisse novamente, tudo não passasse de um sonho ruim.

– Sim. - Eu disse com a voz falha. - Sim, eu aceito. - E então falei com tanta convicção quanto o príncipe.

E, assim, estava feito. Eu agora era princesa e futura rainha da Grécia e Itália, mulher do príncipe e futuro rei, Matteo Amairani. Eu apenas não sabia o quanto aquilo mudaria minha vida daquele momento em diante, eu sabia somente que eu não seria mais a mesma a partir que me deitasse em uma cama completamente desconhecida.

Eu não saberia dizer se algum dia eu havia estado em uma festa tão luxuosa quanto a do meu casamento. Era estranho, na verdade. Uma festa tão sofisticada apenas para mim e para uma outra pessoa tão mais poderosa do que eu e que eu ao menos conhecia o suficiente para dizer se ele havia algum primo.

Várias pessoas dançavam a música não tão animada assim que a banda tocava, inclusive Matteo e eu, no centro do salão. Eu estaria mentindo se dissesse que sabia dançar mas, naquele momento, era como se eu realmente soubesse. Matteo me conduzia de uma forma tão natural que fiquei surpresa por não ter pisado em seus pés nenhuma vez.

– Nervosa? - Ele sussurrou em meu ouvido de repente e eu senti-me ainda mais tensa por ele ter descoberto meu nervosismo.

Quero dizer, achei que eu estivesse disfarçando bem mas, pelo jeito, eu estava enganada.

– Hesitante - Respondi, também em um sussurro.
Pude ouvi-lo rir suavemente, fazendo com que o ar quente de seus lábios acariciassem minha orelha, arrepiando-me.

– Não há mais espaço para hesitação, Srta. Bertolazzo. - Disse ele após me apertar ainda mais contra seu corpo, surpreendendo-me.

– Creio que não sou mais Srta. Bertolazzo e sim Senhora Amairani, futura rainha da Grécia e Itália. - Respondi em um tom sarcástico, olhando-o.

Ele riu um pouco mais alto, conduzindo-me suavemente pelo espaço que tínhamos para dançar.

– É sempre bom se lembrar, Sra. Amairani.

Não pude deixar de notar seu tom irônico, mas eu não tinha certeza se era dessa forma que ele queria ter soado. Eu não o conhecia para saber. Talvez aquela fosse a primeira "conversa" que tínhamos de verdade.

– Alteza - Ele murmurou e sorriu, olhando em meus olhos em seguida -, perdoe-me a sinceridade, mas você é uma péssima dançarina.

– Você é que é muito bom no que faz. - Falei em um tom de descrença e reclamão, mas logo me arrependi, ao lembrar-me de quem se tratava.

Matteo arqueou as sobrancelhas e deu um sorriso ladino, rodopiando-me em seguida.

– Eu sou mesmo, Sra. Amairani. - Sussurrou assim que me teve olhando em seus olhos novamente, nossos rostos próximos.

Eu não soube o que responder, então apenas desviei os olhos, mas talvez não tenha sido a decisão certa a se fazer, já que no momento em que os desviei, encontrei Dante novamente, desta vez servindo as pessoas disperçadas pelo salão. Ele estava absorto em pensamento até que percebeu que estava sendo observado e direcionou seus olhos até mim, piscando-os lentamente, como se tentasse entender alguma coisa. E, de fato, ele tentava. Talvez aquele casamento fosse tão dificil para ele quanto era para mim. Eu tinha um conhecimento profundo sobre seus sentimentos por mim, assim como ele também sabia sobre os meus sentimentos por ele. Era uma situação complexa e constrangedora.

– Você já havia viajado de avião alguma vez, Flora? - Matteo perguntou e, assim que pronunciou meu nome, um arrepio estranho percorreu meu corpo.

Era quase como se meu nome fosse outro quando dito por seus lábios.

– Desculpe. Posso te chamar pelo nome, certo?

Pisquei rapidamente e engoli em seco, concordando com a cabeça em seguida.

– Algum problema? - Ele me olhou confuso, sem parar de dançar.

– Não. Não. Eu só estava pensando. - Falei rapidamente, segurando sua mão com um pouco mais de força, fazendo com que um sorriso divertido surgisse em seus lábios. - Seu sotaque é engraçado. É o que eu estava pensando. Seu sotaque.

– Meu sotaque? - Matteo inclinou a cabeça para o lado, certamente divertindo-se com meu desconforto. - Não acho que meu sotaque seja engraçado. Diferente do seu, certamente.

Rolei os olhos antes que eu pudesse controlar e me contive para que não soltasse um resmungo entediado.

– Não há nada de errado com meu sotaque. O seu que é estranho. Quase não entendo nada do que fala.

Matteo arqueou as sobrancelhas e um risinho escapou por entre seus lábios.

– Não entende o que eu falo? Ora essa, Flora, eu podia jurar que eu é quem estava tendo um pouco de dificuldade para entendê-la. - Ele debochou, rodopiando-me mais uma vez. - A questão não é essa, afinal. Você ainda não me respondeu.

– O quê?

Ele riu mais uma vez, acelerando o rítimo dos passos para acompanhar o rítimo da nova música que tocava, mais animada.

– Você se distrai muito fácil, não é mesmo? - Suas mãos agarraram minha cintura e ele me ergueu rapidamente, assutando-me. Dei uma risada estranha diante de sua espontaneidade e segurei em seus ombros assim que ele me colocou no chão novamente. - Você já havia viajado de avião alguma vez?

– Ah. Não. Nunca. - Balancei a cabeça negativamente, tentando acompanhar seus passos.

– Nunca? - Repetiu ele, surpreso.

– É, nunca. Não sou muito fã das alturas.

– Isso quer dizer que você tem medo de altura? - Ele perguntou, tentando reprimir um sorriso divertido.

– Na verdade, não acredito muito que uma coisa gigantesca como um avião possa simplesmente voar por aí. Não tem nada de seguro naquela coisa. Morri mil vezes durante o caminho para cá.

– Flora, você não sabe o que está falando. Talvez antigamente os aviões não fossem tão seguros, mas nos dias de hoje, são ainda mais seguros do que um carro de última geração. Não há chances de um avião cair nem de haver alguma sabotagem. O funcionamento de um avião depende de códigos que apenas o piloto do mesmo sabe. Ou seja, para um avião cair, é preciso que o piloto tenha errado alguns dos códigos necessários para que funcione. Assim como que para que alguém tente sabotar o funcionamento, é preciso saber os mesmos códigos.

Cerrei os olhos em sua direção, tentando digerir e entender cada uma de suas palavras.

– Alteza, desculpe-me a sinceridade, mas o senhor fala demais. - Eu disse em um tom debochado, esperando que ele notasse a brincadeira.

Sua risada fez com que um suspiro de alívio escapasse de meus lábios.

– Acredito que o senhor goste muito de aviões.

– Aprecio bastante a inteligência humana, Alteza. - Sorriu e desacelerou os passos até que estivéssemos parados.

Matteo se afastou genuinamente, cruzando as mãos atrás do corpo.

– Eu peço perdão por tudo isso. - Ele olhou ao redor do salão, indicando o que queria dizer.

Eu o olhei com uma expressão confusa e então ele suspirou profundamente para logo em seguida se explicar.

– Sei que nada disso é de sua vontade, assim como você também sabe que não é da minha. Sei como é horrível ser obrigado a fazer algo que não queremos, mas isso é muito mais profundo do que qualquer coisinha que somos obrigados a fazer. Por isso peço desculpas por toda essa situação. Eu quero estar aqui tanto quanto você.

Pisquei lenta e debilmente, e eu tinha certeza de que minha expressão estava mais para uma careta do que qualquer outra coisa.

– Mas eu acredito que possamos nos dar bem em toda essa situação constrangedora em que nossos pais nos colocaram. Não temos escolha a não ser isso, você concorda? Podemos ser uma boa dupla.

Balancei a cabeça lenta e positivamente, ainda olhando-o com a mesma expressão estranha.

– Eu só quero que você saiba de mais uma coisa: eu posso ser bem explosivo. Tenho um pavio muito curto e acabo sendo rude quando não devo. Então eu só te peço um pouco de paciência. Posso ser bem chato.

– Foi o que ouvi dizer. - Eu comentei antes que eu pudesse me controlar, arregalando os olhos em seguida.

– É mesmo, Flora? - Ele cruzou os braços sobre o peito e deu um sorriso irônico.

– Não! Não, não. De modo algum. Não foi...

– Também ouvi dizer que você pode ser bem mimada. - Matteo me interrompeu, arqueando uma das sobrancelhas.

Fiz uma expressão de surpresa e balancei a cabeça negativamente em seguida, uma risada fraca saindo involuntariamente de meus lábios.

– As pessoas acreditam no que elas querem acreditar, Alteza. - Falei baixo e arqueei uma das sobrancelhas, assim como ele.

Um sorriso divertido e satisfeito se abriu em seu rosto enquanto ele balançava a cabeça lenta e positivamente, como se concordasse com o que eu dissera.

– Bom argumento, Flora. O mesmo cabe a você.

Um silêncio estranho preencheu o pequeno espaço que havia entre nós dois e os olhos de Matteo pareciam estudar meu rosto, cada pequeno e mínimo detalhe, talvez esperando uma reação minha à sua resposta, ou talvez apenas pensando. Na verdade eu não sabia o que responder e, quanto a isso, eu já sentia minhas bochechas queimarem por não ter palavras e por estar sendo observada tão de perto e descaradamente por ele.

– O que você acha de irmos fazer um social? - Ele perguntou de repente e sem tirar os olhos de mim, finalmente quebrando o silêncio.

– Um social?

– Sim. Passar de mesa em mesa agradecendo a presença de cada um, principalmente aquelas pessoas daquele canto ali - Apontou discretamente com a cabeça para um canto próximo ao lugar que a banda tocava, o mesmo canto que Dante estivera me observando há uma hora. - São os alemães. Apesar de serem um bando de carrancudos e mau humorados, precisamos ser extremamente simpáticos. Nós queremos nos aliar a eles também.

Eu o olhei, piscando os olhos.

– Nós?

– Sim, nós. De fato, agora você está inclusa. Você e toda a realeza da Itália. Somos um só agora, Flora.

Engoli em seco e concordei com a cabeça. Eu esperava um príncipe um pouco menos comunicativo e sincero; um príncipe cheio de arrogância e superioridade. No entanto, eu encontrara exatamente o oposto do que eu esperava. Talvez havia nele alguns vestígios do que eu imaginava que encontraria, mas nada do que me fizesse querer sair correndo mais do que eu já queria desde o início de toda a situação.

Matteo estava tão desconfortável quanto eu e, ainda assim, estava tentando ao máximo me deixar confortável em relação ao que, daquele momento em diante, seria nossa vida. Nossa. Teríamos uma vida juntos. Eu teria de dividir minha própria vida com uma pessoa que eu apenas sabia ser bem mais rica e poderosa do que eu.

– Tudo bem - Eu concordei com a voz falha, segurando as laterais de meu longo vestido com força. - Podemos fazer um social.

– Ótimo. - Matteo sorriu, oferecendo-me o braço que eu não hesitei em segurar. - Você pode sorrir quantas vezes achar necessário, por favor. Com esse sorriso você ganha qualquer um.

Pisquei rapidamente e o olhei, tendo que erguer um pouco a cabeça por ele ser alguns bons centímetros mais alto que eu. Mas Matteo não me olhava de volta, ele apenas olhava para a frente, sorrindo e cumprimentando para quem passasse por nós.

Respirei fundo e guardei suas palavras bem dentro de mim, a fim de me lembrar delas sempre que necessário e, antes que eu pudesse perceber, um sorriso tímido e aliviado surgiu em meus lábios.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Kingdom Falls" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.