As paredes de alvenaria são cinza e empoeiradas. Eu vejo um lustre com cristais que refletem, nas lindas cores do arco-íris, a luz das velas acesas pelo meu pai, Gepetto. E as minhas tentativas de artes estão penduradas no lado mais claro da sala, nas melhores molduras que o meu pai consegue fazer. Os trabalhos de meu pai também estão na sala, mas ele as guarda num armário. Eu não sei por quê. Eu já disse para ele que os bonecos que ele faz são coisas que exigem muito trabalho, e que esse dom deveria ser exposto. Nunca vi marionetes como as dele.

Agora, o sol está nascendo e os raios solares entram pelas frestas da janela de madeira. Eles não estão iluminando somente a sala, mas também a minha mente.

Enquanto estou nessa sala com forte cheiro de tinta, com as mãos sujas e tendo uma inspiração para uma pintura, eu vejo uma fina fumaça sair da vela que eu havia deixado na mesa de canto mais próxima. Meu pai acordara e apagou a vela. Ele olhava minhas olheiras com seu habitual sorriso no canto da boca.

Meu pai acordava muito cedo, mesmo quando não era necessário, para trabalhar. Ele era responsável e comprometido com seu trabalho, e eu o tinha como modelo. Ele sempre me influenciou para seguir o caminho artístico, pois ele via que eu adorava desenhar, adorava música e a arte em suas outras manifestações.

Ao meu redor não havia nada, apenas o calor, a emoção e a verdade. O amor, a tristeza e um indestrutível elo entre mim e meu pai. Gepetto me abraçava com seus braços de pele flácida, e eu o retribuía da forma mais amável.