Imagens do Inconsciente escrita por Marcela Melo


Capítulo 24
Capítulo 24




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Samantha levantou sonolenta, pela manhã, para ir à faculdade, tomou um banho rápido e juntou os cabelos em um rabo de cavalo desarrumado. Saiu sem tomar café da manhã, devido ao atraso, e seu estômago vazio fazia questão de não deixa-la esquecer disso. Comprou um suco para disfarçar a fome e entrou na sala de anatomia já atrasada e com o copo na mão.

— Não permito atrasos em minha aula, senhorita Carrara.

— Me desculpe professor, não acontecerá novamente.

— Ainda assim insisto para que se retire, está atrapalhando seus colegas.

Samantha deu meia volta sem dizer qualquer palavra e se retirou da sala, dirigindo-se ao refeitório para lanchar, já que não teria essa aula. Não perdeu seu tempo ficando indignada com o professor, concentrava toda sua raiva em Leonardo e em si mesma por tê-lo beijado.

Para completar os desastres de sua manhã, sua tia, Martha, lhe enviara uma mensagem de texto no celular informando o horário de sua consulta e que a pegaria em casa para levá-la. Não sabia como poderia convencer sua tia a desistir dessa ideia, tentaria dar um jeito de não ser examinada na tal consulta.

Samantha permaneceu no refeitório durante toda aula do doutor Paulo e somente quando terminou o horário que retornou à sala, a fim de não perder mais nenhuma matéria. Sentou-se em uma cadeira qualquer no fundo da sala ouvindo seus colegas conversarem antes da próxima aula. Sam fazia todo esforço para se concentrar no que quer que fosse, mas o beijo e o toque de Leonardo dominavam sua mente de uma maneira cativa e imprudente.

Ao final da aula, Samantha resolveu mudar seu caminho, passando pelo campus de direito da faculdade. Se tivesse sorte poderia encontrar " por acaso" sua nova amiga Laura.

Samantha caminhava cabisbaixa, ouvindo uma canção qualquer em seus fones e com os pensamentos brincando com sua memória. Próximo ao campus andou devagar, tentando visualizar Laura para se aproximar, mas não viu a garota. Depois de alguns minutos, desistiu e rumou para casa, frustrada.

Antes de almoçar, Sam tomou um banho, vestiu um vestido florido e leve. Deixou os cabelos soltos, ainda molhados e destacou os olhos com um lápis preto. Samantha almoçava no jardim quando Leonardo chegou. Ele parecia apressado e não a viu, mas isso a deixou chateada. Sua mente praticamente implorava pela atenção dele e ela odiava se sentir cativa desse sentimento.

Pouco tempo depois Martha chegara em casa para levar Samantha à consulta. Samantha estava visivelmente nervosa, temia que pudessem descobrir que fora violentada.

— Está muito nervosa Sam, procure se acalmar. Provavelmente a doutora Fernanda só irá conversar com você e solicitar alguns exames. — Martha tentava acalmar Samantha durante a viagem.

— Estou um pouquinho sim, tia. Mas é só ansiedade da primeira consulta, logo me sentirei mais à vontade. — Samantha tranquilizava a tia, para que pudesse parar de ser interrogada.

A doutora Fernanda era uma mulher madura, com um sorriso fácil e olhos escuros combinando com o cabelo Chanel. A sala de consulta estava impecavelmente limpa e foi iluminada para trazer conforto. Da cadeira onde estava, Samantha observa o mar da Barra da Tijuca ao longe e entrava uma brisa suave pela janela semi aberta. Atrás da mesa da médica existia um retrato de Fernanda com sua família. Um homem de belo porte e um casal de crianças, sentados em um belo jardim. Samantha percebeu que uma das crianças era portadora da Síndrome de Down e ficou um tempo lembrando das várias crianças que visitara no natal passado. Parecia uma realidade tão distante.

Após organizar alguns papéis em sua mesa, Fernanda se dirigiu à Samantha:

— Boa tarde, senhorita Carrara. Você é uma jovem muito bonita.

— Obrigada. Por favor, me chame de Samantha.

— Está tudo bem. Vou lhe fazer algumas perguntas e depois irei lhe examinar. Tente relaxar um pouco, estou aqui para te ajudar e absolutamente ninguém ficará sabendo de nada que conversarmos, ok? Sigilo médico.

Samantha se sentiu um pouco mais segura, mas ainda assim não sabia até que ponto poderia confiar na doutora, não poderia contar tudo a ela, não como as coisas aconteceram.

— Tudo bem. — Samantha falou sorrindo. — Vamos às perguntas então.

Samantha ficou quase uma hora conversando com a médica, tirou algumas dúvidas e contou algumas coisas. No fim até gostou da consulta por esclarecer muita coisa que vinha mudando em seu corpo. Ela fora examinada, porém a médica solicitou uma série de exames complementares para poder dar um diagnóstico preciso.

— Nos vemos daqui a quinze dias Samantha, quando os resultados dos seus exames estarão comigo. Espero que por hora não tenha ficado nenhuma dúvida.

— Não ficou. Está tudo bem. Até mais e obrigada. — Samantha saiu fechando a porta atrás de si e indo ao encontro da tia. — Podemos ir tia Martha.

Ambas saíram do consultório e foram conversando no caminho de volta para casa. Martha não abordava assuntos importantes, apenas falavam de coisas triviais, de um lado, por não se achar no direito de repreender a garota, de outro, por perceber que cada dia mais Samantha estava se fechando em um mundo pessoal e inalcançável, deixando até mesmo seus tios do lado de fora.

— Tem falado com seus pais Sam?

— Não! — A resposta de Samantha foi fria e direta. — Depois que vim para o Brasil falei com eles apenas uma vez.

— Minha irmã sempre foi uma irresponsável, mas não pensei que chegaria a tanto. — Martha desabafou com a menina, mantendo os olhos fixos no trânsito.

— Estou sendo um fardo para vocês, não é tia?

— Oh! Não pense isso, Sam. Não foi o que eu quis dizer. Me perdoe se soei mal. Tanto seu tio quanto eu amamos você como nossa filha. Nós estamos pensando em... — Martha olhou para Samantha e deu uma pausa. — deixa pra lá. Depois conversamos sobre isso. Só queremos seu bem e garantir seu futuro, assim como o de Leonardo.

— Eu não quero atrapalhar... Se preferirem eu volto pra Alemanha e me viro por lá.

— Não Samantha! Você não irá voltar. Agora pare de pensar nisso.

Samantha desceu do carro e foi direto para seu quarto quando chegaram em casa, quase derrubando Leonardo na escada quando se cruzaram.

— Está tudo bem? — Leonardo perguntou, segundos antes de Samantha fechar a porta do quarto. — Sam?

— Saia daqui Leonardo, me deixe em paz! — Samantha falou enquanto Leonardo batia insistente, a chamando.

— Abre a porta, Samantha.

— Vai embora!

— Samantha, por favor, abra essa porta. —Leonardo girou a maçaneta, mas, dessa vez, a porta estava trancada.

— Conversamos mais tarde, agora preciso fazer algumas coisas da faculdade.

A rapidez com que Samantha mudara de voz e aparentou estar tranquila o surpreendeu. Em um minuto ela estava totalmente desolada, no outro, ela estava perfeitamente normal.

— Você está bem? — Leonardo perguntou meio duvidoso.

— Sim, Leo. Me deixe estudar, por favor.

Leonardo não teve escolha a não ser deixá-la. Samantha não abriria a porta. Ainda ficou alguns minutos parado, tentando entender tanta variação de humor, que vinha ocorrendo sempre, mas não chegava a nenhuma conclusão.

Do outro lado da porta, Samantha vasculhava o perfil dos irmãos Villefort. Anotava os lugares que frequentavam, as pessoas que conheciam, as coisas que gostavam. Era fundamental se tornar amiga de Laura para colocar seu plano em ação. Precisava alimentar sua sede de vingança pois sua mente já se perdia no limbo do engano e desespero novamente.

Quando caiu a noite, estava quase insuportável ficar em seu quarto fingindo estudar. Vestiu-se como quem pretendia conquistar e saiu, tentando não fazer nenhum barulho. Seus passos, mesmo que ela quisesse negar já tinham destino certo. Caminhou até a Avenida América, sentindo a brisa gélida de uma noite de outono e chamou um taxi.

— Hospital St. Henrique Montreal, por favor. — Samantha informou ao motorista indiferente.


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