Imagens do Inconsciente escrita por Marcela Melo


Capítulo 2
Capítulo 02




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/518573/chapter/2

Samantha pediu licença, após a sobremesa, dizendo que iria se retirar para seu quarto. Enquanto subia as escadas, ainda pôde ouvir o Sr. Carrara que iniciava um discurso para Leonardo ser mais gentil e amigável com ela. E ouviu ainda a sua tia Martha dando a ideia de fazer uma festa para apresentar a sobrinha aos vizinhos e amigos. Ela apressou os passos, apavorada, entrou em seu quarto e, enquanto desfazia as tranças observava o jardim lá embaixo.

Pensando na vida que ela deixou para trás, em suas amigas, no colégio que, apesar de rígido, fora sua casa por muitos anos, Samantha trocou-se e deitou-se na cama quente e macia. Seus tios são cordiais, fazem de tudo para que ela se sinta em casa, mas as diferenças culturais deste para seu país são enormes. Ela pôde ouvir seu primo subir as escadas com passos zangados e decidiu, daqui pra frente, evitar cruzar o caminho do garoto que pareceu muito insatisfeito com sua presença.

Antes de chegar ao Brasil, Samantha vivia na Alemanha e, desde os 6 anos de idade, via muito pouco seus pais, pois morava em um colégio interno só para garotas. Nunca teve contato algum com rapazes e, fora as vezes que passava uma semana em casa, na ocasião das festas de natal, ela nem os via. Apenas as revistas contrabandeadas por suas amigas para dentro do colégio é que lhe mostravam as nuances dos garotos, atores e modelos de todo mundo. Agora, ela não sabia como se comportar vivendo, na mesma casa, com um jovem de mais ou menos sua idade, tão perto de si. Estava apavorada. Pensou em sua melhor amiga, Amanda, e imaginou o que ela diria quando lhe contasse.

Amanda e Samantha cresceram juntas e eram muito amigas. Amanda visitava mais seus pais, as vezes tirava férias e conhecia outros países, por muitas vezes Samantha sentia uma pontinha de inveja quando a amiga voltava com presentes e histórias dos lugares que visitava. Apesar da rigidez do colégio, Amanda se aventurava fora dos portões de ferro e os grandes muros que as cercavam. Já Samantha vivia o tempo todo no colégio, seus pais eram muitos ocupados com os negócios e preferiam manter a garota, a maior parte do tempo, no controle das freiras. Samantha imaginava que eles queriam simplesmente abster-se da responsabilidade de educa-la, enquanto seu pai tentava ganhar mais e mais dinheiro para que sua mãe gastasse em festas e passeios inusitados. Ao pensar nisso, a garota sentia um pouco de raiva dos pais e, já que ao fazer 18 anos no próximo ano ela não poderia mais continuar no colégio, ela até achou melhor vindo morar com seus tios e não precisar participar da vida deles.

Samantha procurou onde a Sra. Lurdes guardou seus cadernos e livros e começou a escrever uma carta para sua amiga contando-lhe como foi a chegada na casa dos Carrara, como sua tia, irmã da sua mãe, era muito gentil e linda, apesar de trazer todos os traços da irmã, como o tio era elegante e correto e parecia ser muito ocupado. Contou da casa, descrevendo os cômodos, o jardim o quintal e a piscina. Deteve-se em falar pouco sobre o seu primo, Leonardo, apenas o mencionou brevemente, mas sabia que a amiga iria se apegar nesse detalhe.

***

— Era só o que faltava, meus pais querem que eu seja amigo e leve essa menina esquisita para onde quer que eu vá

— Leo, mas a menina é tão feiosa assim? A ponto de você não quere-la nem por perto?

— Ela não é feia, é estranha. Insiste em usar tranças como meninas e usa aquelas roupas do colégio que ela estudava o tempo todo. Meu pai disse que ela tem 17, mas parece ter uns 12 anos. Eu não quero uma sombra atrás de mim por onde quer que eu vá. Já estou até vendo vocês me zoarem por ter de ser babá dela.

— É, do jeito que você fala parece ser estranha mesmo, amanhã eu posso ir aí para conhecer a garota?

— Conhecer? Você pode até vir vê-la, mas ela não abre a boca, não diz nada. Acho que não podia falar no colégio que era interna, e ela não será da turma, ela que se vire e encontre a turma dela.

— Leo, você está radicalizando, talvez pode ser legal ter uma amiga, ela pode te ajudar a pegar as mina, nunca pensou nisso?

— Só que as mina, não irão querer amizade com uma pessoa estranha igual a Samantha.

— Tá bom, tá bom... amanhã vou ai na sua casa e vejo o monstro de que tanto fala agora... vamos deixar de papo e jogar?

— Ok.

Leonardo parou de conversar com o amigo, Pedro, mas não conseguia se concentrar no jogo. Ele não entendia as exigências de seus pais e isso o estava incomodando, não queria virar chacota entre seus amigos. Ele precisava de um plano para se livrar da menina, talvez se ele falasse com ela pessoalmente e pedisse para fingir para seus pais que não agradou dele e da sua turma, essa era uma boa ideia que ele podia pensar em pôr em prática.

Determinado em conversar com a prima no dia seguinte e pedir, inclusive, que ela falasse para sua mãe não fazer festa alguma, ele se sentiu mais aliviado e resolveu ir dormir, já que tinha saído do jogo com os amigos.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Revisado em 03/08/14



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Imagens do Inconsciente" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.