Vi o Miroku pela primeira vez de relance. Ele se mudara para o apartamento em frente ao meu. Moreno, alto, corpo bonito,  um olhar malicioso e com um sorriso safado. Geralmente esse tipo de homem não me chamava a atenção, pois era encrenca na certa. Vendo-o chegar com a mudança, acabei me sentindo atraída, sem entender direito o porquê. Imagine um cara carregar caixas vestindo apenas camiseta básica e bermuda que marcava bem suas pernas grossas. Sendo sincera? Não tinha como não me sentir imediatamente atraída!

Para aumentar a minha ansiosidade, e, porque não,a minha curiosidade, o cidadão era muito educado. "Tudo bem? Sou Houshi Miroku, acabei de mudar aqui para o apartamento da frente...", disse-me naquela manhã de sábado, ao me ver sair do elevador. Sorri. "Bem-vindo!", foi a primeira frase que pronuncei, sem conseguir tirar meus olhos dos dele. Ele lançou um sorriso fatal. Tremi. Seria amor à primeira vista, somente atração física ou o quê?

Entrei em casa com todas aquelas perguntas na cabeça. "Sango, você deve estar ficando maluca...", repetia como um mantra, para mim mesma. E estava mesmo. Passei o dia inteirinho grudada no olho mágico da minha porta. Acompanhava todos os lances da mudança. Vi-o carregando seus pertences, mas de uma maneira que me deixava atônita e cada vez mais curiosa. Ele coordenava os rapazes da transportadora com gentileza e firmeza ao mesmo tempo.

Notei que suava. Pequenas gotículas escorriam de seu rosto incrivelmente belo, descendo para o peito, deixando a camiseta molhada. Parecia que seu cheiro tinha inundado aquele hall, e senti um estranho desejo louco de estar perto dele. Sabia o quanto isso soava precipitado, mas algo nele que me tirava do sério, mexia realmente comigo. À espreita, pelo buraco do olho mágico, continuei observando meu novo vizinho durante todo o dia.

Quando chegou a noite, a mudança acabou. Ele deu uma caixinha aos ajudantes e, então, fechou a porta. Fiquei por mais alguns minutos espionando, num reality show particular. Esperava que, por alguma razão qualquer, Miroku saísse de novo para fazer algo. Isso não aconteceu. Tomei um banho bem gelado e me recompus.

Por volta das 23 h, ouvi a campainha dele tocar. Corri para o olho mágico. Uma morena lindíssima, com um macacão tão justo que mal a deixava respirar, o aguardava ansiosa. Não tardou para que ele abrisse. Apenas de roupão branco, sorriu e pediu que entrasse. Meu coração bateu forte: "Ah, ele tem namorada... Que pena!", pensei, desanimada. "Era bom demais para ser verdade... é bom que voce pára com essa obcessão boba, está até parecendo uma adolescente, Sango!", disse a mim mesma, na tentativa de me reconfortar.

Sentei-me no sofá e, instantes, depois, ouvi novamente a campainha de meu vizinho disparar. Corri para a porta, curiosa. Dessa vez, uma ruiva o esperava, numa minissaia muito, mas muito ousada. Dessa vez, quem abriu a porta foi a morena que piscou o olho para a moça e pediu que entrasse. Ele não tinha uma namorada. O meu novo vizinho era um mulherengo que gostava de farra com várias garotas. E eu virara uma moça confusa, diante de um grande dilema: tentar ser mais uma ou batalhar para me transformar na única da vida dele?