Ela estava segurando sua Soul Gem, deitada sobre a água, arfando. Eu vi essa cena incansáveis vezes. Muito mais do que eu gostaria de ter visto.

Mas, agora pela vigésima vez, eu a vi chorando e me fitando, com suas últimas forças.

Peguei a pistola. Eu já sabia o que fazer, porque afinal, já havia feito isso tantas e tantas vezes... Porém, desta vez, ela não levantou sua Soul Gem, para que eu possa dar o tiro certeiro, e então livrá-la de toda a dor, e repetir tudo de novo, até em fim conseguir derrotar a noite de Walpurgis, e salvá-la. Ela simplesmente a largou boiando sobre a água rasa, e segurou minha mão, fazendo com que a arma também caísse na água. Ela entrelaçou nossos dedos, sorriu, e pediu para que eu a abraçasse.

Meu coração pesava, segurei as lágrimas.

Limpei seus olhos. Me deitei ao seu lado, ignorando qualquer pensamento negativo.

Madoka se virou em minha direção, encostou sua cabeça em meu peito. Me observava de soslaio, quando levantou sua cabeça, e nossos olhares se encontraram.

Nesse momento eu senti toda a dor que ela sentia. Senti toda a angústia. E senti toda a sua alegria também.

Alegria?

Apesar de todo o sofrimento, ela estava feliz.

Ao perceber, o esboço de um sorriso em seu rosto, eu a apertei nos meus braços, e me deixei levar pelas lágrimas. Lágrimas que escorriam como ácido pelo meu rosto.

Eu a vi fechar os olhos, e então perecer antes de sua Soul Gem virar um Grief Seed.

Suavemente passei meus dedos sobre seus lábios, e então, a beijei. A beijei intensamente, mesmo sabendo que aquela não era mais a Madoka que conheci na primeira vez. Era uma Madoka inventada. Uma Madoka fruto do meu desejo de salvá-la. Talvez um desejo egoísta.

Egoísta?

Sim, egoísta. Ao beijá-la, eu percebi, o quão egoísta eu era.

Todas as vezes que eu voltei no tempo. Eu não queria só salvá-la. Eu queria a ter de novo e de novo. Conhecê-la de novo e de novo. A proteger de novo e de novo.

Soltei-a e então atirei em sua Soul Gem.

- Eu te amo, Madoka.

Sussurrei ao vento, observando a face rosada desaparecer, e apenas um receptáculo vazio boiar.

Eu fiz tudo de novo.

Apenas para amá-la novamente.