Minha Queda escrita por Loren


Capítulo 2
Um




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Desconheço o meu verdadeiro nome.

As freiras me apelidaram de Clara, por conta da minha pele. Gostam de dizer que é tão branca quanto a neve. É uma porcaria. Toda vez que sai algum bendito sol no verão, tenho que me esconder, caso contrário, sofrerei muitos maus por conta da baixa melanina. Qualquer batida em um simples móvel me leva a uma mancha que toma uma coloração púrpura e demora dias para sair. Fora isso, tem lá suas vantagens. Por mais que digam que não, a verdade é esta: só adotam crianças bonitas. Tecnicamente, eu teria alguma sorte: pele branca, cabelos castanhos e olhos verdes escuros. Mas, diferente de muitos de outros colegas, eu era sempre a última a ser escolhida para uma entrevista. E isso quando havia alguma entrevista! Fui crescendo e o problema virou outro: quem iria querer adotar uma criança já crescida?

As freiras ensinavam o básico para os órfãos. Ler, quatro operações e escrever era o que todas sabiam até os doze anos. A maioria já havia sido adotada antes disso. Quando eu cheguei em meus treze, as freiras decidiram chamar uma sobrinha distante: a qual tinha doutorado em matemática, letras e geografia. História não era problema: passava horas lendo. Com quinze anos, eu já deixava de ser uma criança e ajudava nos afazeres: limpeza, cozinha, recreio com as crianças menores e colocar o lixo para fora.

Era um prédio modesto. Três andares. O primeiro era o refeitório, cozinha e sala da diretoria. O segundo eram os banheiros e as salas de aula. O terceiro eram os quartos. Infiltração adequada, luz e água quente sempre em dia e lareira nos dias mais frios. Se encontrava um pouco afastado da cidade mais próxima. Alguns vinte minutos de carro. Meia hora a pé. A pintura verde já descascava há anos, mas o nome do orfanato, janelas e chão sempre se encontravam limpos. As freiras começaram a se preocupar com meus dezesseis anos. Uma gostava de dizer que havia uma nuvem negra sobre minha cabeça, como se impossibilitasse que eu me mandasse dali. As outras bem que acreditaram, mas a diretora, uma mulher mais sensata, apenas abanou a mão e disse:

—-Talvez, aqui seja a sua casa.- ela me oferecia biscoitos e me mandava de volta para os estudos.

Eu pouco acreditava na hipótese de “nuvem negra”, mas a curiosidade me engolia. Todos aqueles que haviam sido meus amigos já haviam sido adotados, restando apenas eu. No fim, dei o braço a torcer e percebi que talvez o problema fosse comigo: sempre fui magra e mirradinha quando pequena e isso me acarretava a ter várias doenças. Duvidava muito que alguém iria querer ter uma criança que só dá trabalho, com ataques de pânico em missas e tende a desmaiar quando está baixo o sol.


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