É irônico o ciclo de uma folha.

Uma pequena folha. Simples. Destas que se encontram nas macieiras ou limoeiros.

Na primavera, ela nasce. Pequena e forte.

No verão, ela floresce. Viva e verde.

No outono, ela desgasta. Grande, porém, quebradiça.

E no inverno, ela cai. Uma única queda. A tão esperada queda. É preparada desde o princípio para ela. Em suma, o seu fim.

Se as folhas pudessem demonstrar sentimentos ou pensamentos como humanos, poderia se declarar que tal ciclo é cruel. No entanto, pode-se dizer que o ciclo destes é um parente distante dos das folhas.

Eles nascem.

E se preparam, mas não para uma única queda. Nem mesmo queda alguma.

Apenas para voar em mil e uma direções. Capazes de seguirem caminhos até então desconhecidos e descobrirem segredos que a natureza acreditava ter ocultado bem.

Capazes de irem além do céu.

Exceto eu.

Meu ciclo se acaba no chão. Como o de uma folha.

Não fui preparada para coisa alguma, apenas para sobreviver. Trancafiada em um orfanato por dezoito anos não se pode aprender muita coisa, além do que se vê nos livros. Não me incomodo com a ideia de ter uma (e única) queda. Mas sei que até chegar ao chão, existe um meio tempo. No qual a folha rodopia e esbanja toda sua graça e vivacida já esquecida.

O mesmo ocorrerá comigo.

Porém, nesse meio tempo, acredito que muita coisa pode acontecer.

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