Um menino no espaço - 2ª parte escrita por Celso Innocente


Capítulo 15
Notícia triste.


Notas iniciais do capítulo

Amigos, já estamos quase no final desta aventura no espaço.
Temos apenas este e outros 6 capítulos.
Seria possível conquistar um pequeno comentário seu?



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Durante muitos dias, continuei naquele planeta, sempre brigando com todos, principalmente com Luecy. Sabia que eles me amavam e só queriam me ver feliz, mas ali, por mais e por tudo o que eles fizessem e me tolerassem, eu não conseguia ser feliz, embora fosse um local bonito e minhas vestes, muito ricas e confortáveis, de um colorido especial, que me deixava muitas vezes orgulhoso e até mesmo contente. Só que de repente, lembrando da Terra, que já ficara longe a muitos meses, a saudade e a tristeza, voltava ainda mais forte. Estava próximo a completar onze anos terráqueos e naquele planeta de seres imortais, já tinha dezessete. Todas as pessoas que me encontravam, gostavam de acariciar meus cabelos castanhos e meu rosto infantil. Era o amor que eles sentiam por mim e eu, embora tentasse, não conseguia retribuir igualmente. Eles me achavam um garoto muito bonito, mas já, não tão educado, quanto era antes. Os senhores Tony e Rud fazia tempo que não os via; Leandra me compreendia muito bem, às vezes, passando horas conversando comigo, no quarto, no jardim cheio de flores, na cozinha, piscina e em outros lugares, tentando me ajudar. Talvez ela fosse a única com quem eu não conseguia ser descortês. Luecy era meu companheiro de sempre, com sua memória, como ele diz, de programa armazenado e que tem respostas para tudo; sempre gozador comigo, em torno de qualquer situação. Na verdade, as pessoas do planeta Suster são humanas, muito mais desenvolvidas do que nós, os terráqueos; quer sejam homens ou mulheres, todos muito bonitos, sem apresentar um único fio de pelo branco, ou barba no rosto (não mencionara isto ainda); o que me fazia admirá-los, pois eu sempre achava papai muito bonito, quando fazia a barba e não gostava nada, quando ele deixava a barba por fazer e até mesmo eu, não queria me tornar adulto, só para não ter o rosto, braço ou perna, peludos. É claro que o planeta Suster, me traria esta vantagem. O que mais um ser humano, filhote de gente, como Luecy mencionara, poderia querer? Passar milhares de anos e continuar sendo criança, como eu, sem envelhecer, ou ter pelos no rosto, pernas, peito e regiões do púbis; sempre com uma vozinha infantil, amado por todos e imortal. É! Mas eu era de um outro mundo e não podia, pois tinha meus entes na Terra, a trilhões de quilômetros de distância e sentia muita falta deles.

Sempre achei que Suster, era um planeta ideal a meu amiguinho Erick; só que o senhor Frene, sem perceber que eu era a criança errada, para fazê-los felizes, não aceitava esta troca…

Contemplando as flores, daquele bonito jardim, sob a luz forte da estrela Kristall, cinco vezes maior do que o Sol, que às primeiras quatorze horas daquele dia, estava para se pôr e trazer em seu lugar, a outra gigante, Brina, quinze vezes maior do que o sol.

Em passos lentos, chegou o senhor Frene, que, em silêncio, sentou-se a meu lado e após alguns segundos, passou um braço sobre meus ombros, dizendo:

— Regis, tenho algo bastante triste, pra lhe contar.

Fingindo indiferença, perguntei-lhe triste:

— O que é?

— Hoje, para ver como se portava sua família, estive em contato com a Terra…

Meu coraçãozinho triste disparou desesperado.

— O que aconteceu? — Perguntei apavorado. — Mamãe!

— Não foi nada com sua mãe! Nem com seu pai!

— O que foi senhor Frene?

— Seu irmãozinho, Paulinho… Ele... Brincando... Foi atravessar à rua e foi atropelado por um carro.

— Mentira! — Gritei, tentando fugir.

— Não, não é mentira! — Negou ele, me segurando e me abraçando forte, sem que eu o retribuísse. — Eu pensei muito antes de contar-lhe; mas acho que não seria justo, esconder.

— Ele… Mor…reu? — Estava chorando.

— Está no hospital… Em estado de coma, irreversí-vel…

— O que é isso?

— Significa Regis… Que ele não vai… sarar!

— Ele vai morrer! É isso?

— Infelizmente!

— Senhor Frene: — O desespero tomou conta de meu ser. Correspondi o abraço apertado daquele homem. — Se o Paulinho morrer, mamãe morre também! Vai ser muito pra ela, depois de ter me perdido, perder o Paulinho também!

As lágrimas banhavam meu rosto infantil.

— O senhor poderia me mostrar ele? — Perguntei chorando.

— Claro! — Disse ele, se levantando. — Vamos!

Segui abraçado a ele, até a sala do computador, onde, sentamos e ele acionou algumas teclas, me mostrando a Terra, em momento atual, graças a um sistema de atalho inventado por eles, que era como se criasse um buraco virtual, alterando o tal espaço e fazendo com isto o tempo ser zero em relação aos dois mundos (não para viagens espaciais, mas para transmissão de voz e imagens) e assim, direcionou sua câmera para o hospital da Santa Casa, a UTI, o meu irmãozinho caçula, com seis anos de idade, todo coberto por um lençol branco, com um tubo de oxigênio no nariz, dormindo um sono profundo. Ele era um menino muito bonito. Eu nunca havia reparado nesse detalhe. Era meu irmãozinho favorito, pois ele gostava muito de mim e me acompanhava para todo lado; até atrapalhava minhas brincadeiras com os amigos, principalmente depois de eu ter voltado do espaço, da primeira vez. Agora ele iria morrer e eu jamais iria vê-lo ou conversar consigo. Como sempre, continuava chorando, então o senhor Frene desligou o computador e me abraçou dizendo:

— Tenho uma proposta pra lhe fazer, Regis.

— O que é?

— Não fui eu quem quis que seu irmãozinho se machucasse e não sou eu quem quer que ele morra. Isto é um fato e é o destino dele. Sei também, que é uma espécie de chantagem o que vou lhe propor. Mas eu preciso. Porque eu te amo e quero você comigo!

— Fala senhor Frene. Pode falar!

— Nós podemos salvar seu irmãozinho! Se fizermos isto, estaremos novamente interferindo no destino da Terra, alterando o livre arbítrio das pessoas. Mas nós podemos salvá-lo... com uma condição.

Esperou que eu dissesse algo, mas como me calei, já sabendo o que ele diria, ele continuou:

— Você me promete, nunca mais querer voltar à Terra e eu lhe prometo, em troca... Salvar Paulinho.

— Salve ele senhor Frene. Por favor!

— Você me promete... Regis?

— O senhor não me ama, senhor Frene?

— É por isto que eu quero você conosco, garoto!

— Não faça isso comigo, por favor! Eu não posso lhe prometer isso!

— É a vida de seu irmãozinho!

— Não acredito que o senhor, podendo salvá-lo, o deixará morrer sem fazer nada!

— Lembre-se: eu estarei interferindo no destino dele!

— Pouco me importa o destino dele! O que quero, é que o senhor salve ele da morte!

— Promete ficar aqui pra sempre, Regis?

— Não!

— Então eu não posso interferir no destino dele!

— E o senhor podia interferir em meu destino?

— Regis, eu o amo muito! Sei que é chantagem o que estou lhe propondo. Mas eu preciso!

— Deixa meu irmãozinho morrer! — Gritei, me levantando. — Também não me interessa seu amor! Só quero voltar pra minha casa! Vou ficar no lugar de Paulinho!

Saí correndo pelo corredor, fui até o campo de pouso, segui até a mesma espaçonave, que me trouxe àquele planeta, entrei, indo até a cabine de controle, sentei-me na poltrona principal e acionei a tecla que fazia o motor daquilo funcionar. Uma luzinha vermelha ascendeu no painel, indicando falta de componente.

Chorando, desci daquela nave e fui até outra, repetindo o mesmo ato e percebi que também, a luzinha vermelha se ascendeu. Lembrei-me do que o senhor Frene, havia me dito: as naves estavam sem o controle do computador. Desci e ainda chorando muito, em passos lentos, fui me esconder, atrás de um grande galpão, todo construído em chapas de níquel e metal.

De repente, senti meu estômago embrulhar e um gosto amargo na garganta, me fazendo ajoelhar no solo e vomitar muito líquido amarelado.

Durante uns quinze minutos, continuei chorando, com aquele gosto de fel na boca; depois, devagar as lágrimas foram diminuindo e os pensamentos me dominando: meu irmãozinho morrendo, o senhor Frene poderia salvá-lo, mas como me queria a qualquer preço, não perderia a oportunidade de me chantagear. Eu não acreditava que ele deixaria meu irmãozinho morrer. Mas e se deixasse? Então eu ficaria o resto de minha vida, com a consciência pesada, por, podendo ajudá-lo, nada ter feito. É claro que também odiaria o senhor Frene para o resto de minha “longa” vida! Na verdade, mamãe havia me perdido, mas deveria saber que eu estava vivo, perto de uma estrelinha, visto de longe, em algum lugar, perdido no Universo. Paulinho, se morresse, seria irreversível. Nunca mais retornaria. Sendo assim, mamãe e também papai, sofreriam muito mais.

Algum tempo depois, já sem lágrimas, em passos lentos, retornei à residência, atravessei o longo corredor e entrei na sala do computador, onde encontrei o senhor Frene no mesmo local. Aproximei-me em passos muito lentos, até chegar bem próximo da grande máquina.

— Pensou bem, Regis? — Perguntou-me ele.

— Como está Paulinho?

— Continua na mesma situação!

— Salve-o, por favor, senhor Frene!

— Você ficará com a gente?

— Quem me ama não me chan...chant... Não me explora! — Lhe disse corajosamente, porem com lágrimas sentidas.

— Você já me disse isso! Não precisa continuar repetindo!

— Prove que o senhor me ama, senhor Frene! Salve meu irmãozinho, sem exigir nada em troca!

— Os médicos curam as pessoas sem cobrar consulta? — Ironizou ele.

— Em caso de emergência, primeiro eles salvam a vida, como está em seu juramento, depois eles cobram o trabalho!

— Entendi! Salvo Paulinho, depois lhe cobro por isso?

— Não!

Chorando muito, me retirei, voltando a meu quarto, onde me deitei de bruços e desesperado, sem poder fazer nada, permaneci pensando milhões de bobagens a respeito de tudo e de todos. Achava até que o próprio senhor Frene, houvesse jogado meu irmãozinho debaixo do carro, para ter esse trunfo a seu favor. Ele não era nada ignorante e sabia com certeza, que sua proposta era imoral, mas creio que ele pensava que eu era um menininho ingênuo e acabaria cedendo a esse trunfo em me prender para sempre. Tinha certeza de que sua proposta, não fôra analisada pelos demais susterianos, que talvez nem soubessem do terrível acidente na Terra, pois sendo assim, com certeza, todos seriam contra aquela chantagem emocional.

Depois de muito tempo sozinho, já sem lágrimas, me levantei e voltei à sala do computador, como o senhor Frene não se encontrava, saí novamente, fui até um banheiro, onde lavei e enxuguei o rosto manchado de tanto chorar e me observei no grande espelho. Meus olhos estavam vermelhos.

Com Paulinho no hospital e eu desaparecido a mais de seis meses, meus pais e demais irmãos, deviam estar sofrendo muito. Não podia deixar isto continuar assim. Pelo menos, tentaria ajudar a salvar o caçulinha. Retornei ao corredor e fui até a copa, onde o senhor Frene estava sentado, tomando um suco de cor azul. Leandra a me ver ofereceu:

— Quer um suco, Regis?

Neguei com a cabeça e ela se retirou. Aproximei-me do todo-poderoso e pedi:

— Senhor Frene, salve meu irmãozinho.

Ele me olhou, querendo dizer algo, enquanto eu baixei a cabeça e continuei dizendo:

— Lhe prometo nunca mais querer ir embora! Ficarei aqui pra sempre!

Leandra retornou com um copo de suco, a tempo de me ouvir completar a frase e então rindo, perguntou-me:

— Você está falando sério, Regis? Você resolveu ficar conosco pra sempre?

Acenei que sim e ela me deu um beijo. Com certeza ela não sabia que minha decisão, era o preço que pagava por algo muito cruel; que meu irmão estava em estado de coma profundo, em uma triste UTI, a trilhões de quilômetros de nós.

— Tome o suco! — Pediu-me ela.

— Não quero, obrigado!

— Muito bem, garoto! — Insinuou o homem. — Acredite: tudo é por amor a você!

Levantou-se e antes de sair, disse:

— Me dão licença, pois não posso perder um minuto sequer!

E saiu quase correndo, para a sala do computador.

— O que deu nele, Regis? — Perguntou-me Leandra.

— Vai salvar meu irmãozinho, Paulinho!

— Salvá-lo de que?

— Da morte, Leandra! — Articulei soluçando. — Eu preciso ir! Dá licença!

— Regis… Espere!

Não a esperei e segui, praticamente correndo, até a sala do computador, onde o senhor Frene, observava pelo monitor, Paulinho, acompanhado por duas enfermeiras.

— Veja Regis: — Disse-me ele. — Seu irmão já está bem melhor!

— Já? — Admirei com sorriso triste.

— Claro! Eu conheço seu coraçãozinho e sabia que você não o deixaria morrer, sabendo que poderia salvar-lhe a vida. Ele vai sarar e voltará a ser como antes. Você tem um grande coração, garoto!

— Eu o agradeço muito, senhor Frene!

— Não me agradeça Regis! Meu preço é muito alto e você sabe disso!

— Sei sim senhor! — Confirmei abatido.

— Nunca irá se arrepender! Não é mesmo?

— Não senhor! Pelo menos, viverei pra sempre!

— E será sempre um menino bonito! Como é agora!

— Olhe pra mim!

Ele levantou os olhos, me observando dos pés à cabeça:

— Acha que estou bonito?

Continuava abatido, com os olhos vermelhos, cheio de lágrimas e o coração despedaçado.

— É o menino mais lindo do Universo! — Riu ele.

— Só tem um problema! Eu sinto muitas saudades de casa! Nunca conseguirei ser feliz!

— Nós faremos com que você se esqueça de lá!

— Não! — Neguei assustado. — Não concordei em fazer aquela cirurgia!

— Só faremos, se você quiser!

— Nunca vou querer!

— Muito bem! O importante agora é cuidarmos de seu maninho.


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