Que Seja Infinito Enquanto Dure escrita por Charbitch


Capítulo 4
A Outra Alicia


Notas iniciais do capítulo

Bom, como ninguém sabe realmente qual é a origem do Coringa, cada um dá a sua versão. E a minha versão está nesse capítulo. Aproveite!



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Muito bem, o serviço acabou. Hora do meu encontro com a felicidade (ou com a morte). Eu era mesmo uma maluca. Eu entrei no beco escuro onde ele provavelmente estaria. E lá estava o dito cujo, olhando-me maliciosamente. Ele estava como sempre: Com um terno roxo (só ele conseguia ficar bem num terno roxo) e aqueles cabelos verdes. E as cicatrizes... Aquelas cicatrizes me davam medo, mas eu gostava delas.

_Então você veio? – disse ele, com aquele sorriso de sempre - Você é mesmo uma garota de palavra!

_É... – essa foi a única coisa que eu conseguia dizer.

_O que você acha de visitar a minha casa de diversão?

_A sua... Como assim?

_Sim, eu tenho um esconderijo muito louco! Lá tem de tudo! Parece um circo, só que muito, muito, muito melhor!

_Hum... Tudo bem! Eu só espero que você não me torture lá! – falei, fazendo uma careta besta.

_Lá há instrumentos de tortura, mas eu não os usaria em você! – disse ele, sorrindo de um jeito meio tonto.

Ele me puxou pelo braço e me levou à sua casa de diversão – ou seria uma casa de horrores? Para que lugar bizarro aquele louco poderia estar me levando? Ah, dane-se, eu não queria uma aventura? Pois então eu teria uma aventura! Eu só rezava para que saísse viva dessa aventura!

_Aqui é o meu esconderijo, Alicia! Eu só fico surpreso como é que ninguém me encontrou aqui ainda... Eu estou sempre nesse lugar e ninguém nunca suspeita de nada... Como as pessoas são tontas!

_E... E o que há aqui dentro? – eu estava com medo.

_Ora, ora, ora... Parece que nós temos uma garota tremendo nas bases por aqui... Você está com medo de entrar aqui? Não se preocupe! Você vai gostar, eu juro que você vai!

Ele, então, pegou a minha mão e me levou para dentro daquele lugar sinistro que parecia mais uma casa mal assombrada.

_Você está vendo esses alvos? – disse ele, feliz da vida – Por que a gente não se diverte um pouco com eles? Eu gostaria de ver se você é uma garota com uma boa pontaria! Tente acertar as facas o mais perto possível do centro desses alvos. Você consegue?

_Eu... – eu nunca tinha feito isso – Eu posso tentar!

_É assim que se fala! – disse ele, gargalhando feito um maluco. Mas o que eu estou dizendo? Ele ERA um maluco!

Eu mirei a primeira faca num alvo. Eu me concentrei em mim mesma e pensei: A minha mãe tinha a mira excelente. Quem sabe eu também não tenho?

E lá foi a faca... Ela foi lançada numa velocidade impressionante. Eu não queria nem ver onde a danada ia parar. Provavelmente ela nem ao menos atingiria o alvo. Alguns segundos depois eu abri os olhos e...

_Mas o quê? – perguntei-me, com o olhar perplexo. A faca tinha acertado o centro do alvo! Certinho! Sem qualquer margem de erro! O Coringa também pareceu não acreditar no que estava vendo.

_Uau! – disse ele – A sua pontaria é melhor do que a minha!

_Mas isso foi sem querer!

_Ah, não deixe a modéstia nublar os seus talentos, mocinha! Ninguém acerta direitinho o centro do alvo com uma faca sem querer! Isso é quase impossível! Mas para tirar a sua cisma, tente acertar o próximo alvo. Você vai ver que nada disso aconteceu “sem querer”.

Eu, então, mirei a segunda faca num outro alvo qualquer. Eu a lancei e BAM! No centro do alvo também! Eu não pude acreditar!

_Você viu! Eu reconheço um talento quando eu o vejo! – disse ele, ainda mais feliz – Ah, se eu tivesse toda essa pontaria... Sabe, agora deu até vontade de te convidar como a minha parceira no mundo do crime, no entanto... Eu te conheço muito bem e eu sei que você jamais aceitaria essa minha proposta furada, correto?

Eu apenas assenti com a cabeça.

_Agora vamos conhecer um pouco mais as dependências da minha casa de diversão! - disse ele, muito entusiasmado.

E lá fomos nós... Que casa mais louca! Lá tinha armaduras de cavaleiro, caixas coloridas (eu que não ia querer saber o que tinha dentro delas), bonecos gigantes, faixas, quadros estranhos, espelhos malucos que distorciam a nossa imagem, objetos de mágica de palco e... E cartas de baralho espalhadas por toda a casa! Ele realmente gostava de baralho, não é a toa que o seu pseudônimo era Coringa... Contudo... Qual seria o verdadeiro nome dele, afinal?

_Qual o seu nome? – perguntei baixinho.

_Ora essa, o meu nome é Coringa!

_Não, não! Eu estou falando sério.

_Por que tão séria?

_Não mude de assunto. Eu só quero saber o seu nome verdadeiro!

_Eu posso ter o nome que você quiser. Como você quer que eu me chame, então?

_Aaron...

_Aaron?

_Aaron.

_Tudo bem... Agora o meu nome é Aaron!

Em uma hora eu já tinha visitado todos os cômodos da sua casa (e que casa grande; nossa!). Ele, assim, convidou-me para uma partida de truco. Nós nos sentamos no chão e começamos a jogar.

_Truco só com duas pessoas não tem muita graça, mas a gente pode tentar – disse ele.

Nós jogamos bastante. E no fim, obviamente ele ganhou todas as partidas. Claro, o cara devia ter anos de prática, pois era louco por baralho!

_Alicia... – ele deu uma risada – Ninguém nunca ganha de mim! Todo o mundo sabe mais do que ninguém que eu sou o melhor em qualquer jogo de baralho, seja truco, buraco, pôquer, trinca, burro, 21...

E ele foi falando o nome de vários outros jogos de baralho que eu mal conhecia... Esse aí era fanático mesmo! Quando ele já estava falando o quinquagésimo jogo de baralho em que ele era o melhor, cansei-me de ouvir tantos nomes estranhos e falei:

_Está bem, está bem, está bem! Eu já entendi! Você é o melhor!

_Hum, pelo jeito eu descobri uma coisa em que você não é párea para mim! Eu acho que a senhorita Alícia não é tão desafiadora quanto parece, ou só eu que acho isso?

_Eu não sou desafiadora – falei, séria – Você que cismou com isso.

_Acontece que sempre quando eu tento te confundir, você vira a mesa e acaba ME confundindo! Bom, então conseguir vencer você em alguma coisa é realmente um desafio e tanto. E eu te venci! Há, eu ganhei!

_Você e essa sua obsessão em vencer...

_Modéstia a parte, eu sou um invicto jogador de baralho. Ninguém nunca ganha de mim. E olha que eu já joguei com muita gente!

_Você é só um metido, isso sim! – falei, em tom de brincadeira.

_Um metido que ganhou de você, então cala a boca!

_Nossa... Eu só estava brincando!

_Eu também! – disse ele, com um sorriso malicioso.

_Você gosta mesmo de me confundir, não é?

_Eu adoro! Mas tem outra coisa que eu gosto muito mais de fazer com você... – disse ele, engatinhando na minha direção. Agora o seu olhar estava tão predatório que eu já me sentia uma verdadeira presa em suas mãos. Ele me deitou no chão mesmo e quando eu vi, ele estava em cima de mim. Eu fechei os olhos e apenas senti os seus lábios encostarem-se aos meus, num beijo que me enlouqueceu de um modo que eu não conseguia explicar. Ele podia ser um assassino. Ele podia ser um procurado pelo sanatório da cidade. Ele podia ser qualquer coisa. Porém ninguém jamais poderia negar que ele beijava como ninguém... Como... Como ele tinha a capacidade de me arrepiar toda e de anestesiar cada uma das minhas terminações nervosas com um simples toque? Ele só podia ser de outro mundo. Essa era a única explicação plausível.

Quando toda aquela loucura terminou, ele deslizou os seus dedos pelos meus cabelos negros e disse lentamente:

_Eu gosto de te confundir... Mas te beijar é bem melhor...

Eu apenas sorri.

Nós ficamos naquela posição por alguns minutos, somente olhando um para a cara do outro. Ele, então, cortou o silêncio, dizendo:

_Você sabe qual foi a última vez que eu beijei alguém, sem ser você? Foi há uns dez anos... Eu tinha mais ou menos a sua idade! E ela só tinha quinze anos... Sim, eu beijava uma garota dez anos mais nova do que eu. O engraçado é que a história está se repetindo agora... Eu estou beijando uma garota que é uns dez anos mais nova do que eu... Talvez eu realmente sinta uma atração por garotas mais novas...

_E por que você e essa garota não estão mais juntos?

_Eu gostava dela e a respeitava, mas obviamente os pais dela não permitiam o namoro... Eles pensavam que eu era algum tipo de pedófilo e que mais cedo ou mais tarde eu iria me aproveitar da inocência dela... E eu tive que deixá-la... – ele parecia estar com vontade de chorar.

_Que triste... Então você realmente já teve uma desilusão amorosa, como eu suspeitava! E foi por isso que ontem você falou tão mal do amor!

_Alicia, eu estou com medo...

_De quê?

_De me apaixonar de novo... Eu não quero me apaixonar por você, eu não quero... Eu não quero sentir aquela dor que eu senti quando perdi a... A Alicia...

_Ela também se chamava Alicia?

_Sim... Por isso que eu disse ontem que esse nome me fazia lembrar alguém... Mas vocês não são a mesma pessoa... Vocês têm muitas diferenças, apesar dos nomes serem iguais... Os seus cabelos são pretos e os seus olhos são um castanho meio verde... Já os cabelos dela eram loiros e os olhos dela eram azuis.

_Você a amava mais do que tudo, não é?

_Sim... Eu daria a minha vida por ela... Porém, quando nós tivemos que nos separar, enlouqueci. Eu tingi os meus cabelos castanhos de verde, criei essa maquiagem que você está vendo e me tornei o Coringa. No início eu fazia uns crimes bobos, depois eu passei a cometer assassinatos e em pouco tempo fui declarado insano. Trancaram-me no Asilo Arkham. Eu fugia várias vezes, no entanto após uns meses sempre me encontravam. Agora provavelmente não vai ser diferente. A minha vida tornou-se um ciclo: Matar, ser preso no Asilo Arkham, fugir, matar, ser preso no Asilo Arkham, fugir e assim por diante... Aquela desilusão amorosa destruiu a minha vida! E eu não quero outra para destruí-la ainda mais... Eu acho... Eu acho melhor você ir embora daqui...

_Tudo bem... – falei, quase chorando – Você tem razão... Eu não quero ver você sofrendo... Eu não quero... Adeus, Aaron...

E saí da casa de diversão, que já não me parecia tão divertida quanto antes...


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Notas finais do capítulo

Bom, eu acho que a história não vai ter muitos capítulos. No máximo uns 7. Acontece que desde o início eu não queria escrever algo muito elaborado. Eu só estava a fim de fazer uma história curtinha e interessante, sem muitas confusões, reviravoltas ou aventuras loucas. No próximo fanfic que eu postar, eu escrevo algo mais mirabolante, caso vocês desejem XD.



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