Eu estava confusa sobre aquela mansão em um lugar tão improvável, a existência de deuses egípcios e a descoberta de outras duas garotas que compartilhavam dessa múltipla descendência, sendo de ainda outro mundo desconhecido por mim. Mas fiquei em silêncio e apenas segui a mulher loira pela enorme mansão.

Observava o lugar intrigada. Ela me guiou até uma grande sala que reconheci como uma biblioteca. Obviamente não era uma biblioteca comum, afinal estátuas moviam-se por aí organizando estantes, que continham livros e pergaminhos, e levando objetos de um lugar a outro.

Voltei a me perder em pensamentos. O que mais me intrigava realmente era a história dos deuses egípcios. Eu convivo com com a realidade da mitologia grega desde pequena, estava acostumada a todo o tipo de acontecimentos estranhos, criaturas mágicas e deuses, mas como poderia imaginar que a mitologia egípcia também era real? E ainda por cima, que eu estava envolvida nela de alguma forma? Isso não fazia o menor sentido. Mas meu cérebro meio-sangue não ofereceu resistência a acreditar no que as garotas haviam dito.

"Afinal, por que não?", disse a mim mesma "Se divindades gregas e romanas existem, por que não as egípcias também? Só não consigo entender como eu me encaixo nisso..."

A mulher loira, como se lesse meus pensamentos, que eram mil por minuto, virou-se para mim.

–Olá, sou Sadie Kane. E imagino que muitas perguntas estejam passando pela sua cabeça agora. - ela adivinhou, mas acho que estava óbvio - Vou explicar algumas coisas a você. - ela disse e eu assenti com a cabeça - Seu nome é...?

–Kather... Kate. Kate O'Hare.

–Kate. Ok. - ela sorri - Enfim, vou direto ao ponto. Você tem o sangue dos faraós correndo em suas veias.

–Eu tenho.. Que?! - a pergunta saiu de minha boca automaticamente.

–Você, assim como outras crianças e jovens que vivem ou ao menos treinam aqui, são descendentes de faraós. - ela explicou, e pude perceber que ela pensava algo como "Se você não souber o que são faraós, eu não vou explicar".

–Oh - foi meu comentário inteligente.

–Vamos ver... Conhece mitologia egípcia? - ela perguntou, e sua voz demonstrava um óbvio tom de "por favor, por favor, diga sim!"

–Um pouco... - respondi, o que felizmente era verdade.

–Melhor que nada, já é um começo. - ela pareceu aliviada. - Aqui na Casa do Brooklyn, treinamos magia egípcia, canalizando poder dos deuses. Você pode escolher o caminho de um deus para seguir, e isso fará com que tenha determinadas habilidades mágicas.

"Isso parece incrível!", pensei admirada.

– Só uma pergunta... - comecei - Como é possível a co-existência de duas mitologias bem diferentes?

Sadie riu.

– É uma boa pergunta, que eu mesma já me perguntei e, sinceramente, não sei. Co-existem. - ela deu de ombros.

Assenti com a cabeça. Não que fizesse sentido, mas percebi que era melhor não tentar entender. Devia apenas lidar com esse fato e seguir minha vida, agora duplamente estranha e mitológica.

– Enfim - continuou Sadie, começando a andar e fazendo sinal para que eu a seguisse - Carter provavelmente vai te dar algumas aulas para você ter uma noção melhor de como funciona essa "coisa egípcia". Ele é legal, apesar do jeito.. "Carter" de ser - ela riu. Antes que eu pudesse perguntar, ela esclareceu - Carter é meu irmão.

– Ah. Sim. Aulas. Noção. Parece uma boa. - comentei idiotamente. Ficar surpresa e confusa realmente não faz bem para o processamento da minha mente.

Balancei a cabeça.

"Katherine, acorda!", me repreendi mentalmente, e me assustei um pouco comigo mesma por me chamar de Katherine.

Sadie me analisou e sorriu compreensiva, como se soubesse como era estar confusa assim.

– Kate, o que acha de descansar um pouco? Posso te mostrar onde ficam os quartos, depois continuamos essas explicações. - sugeriu.

Imediatamente concordei com a cabeça. Eu havia andado por horas, meu pés doíam, e eu precisava me deitar em algum lugar macio e encarar o vazio. Eu tinha o costume de ficar sozinha no acampamento, e gostava de ficar deitada na cama no bosque. Medo dos monstros? Não muito. Talvez eu tenha confiança excessiva, mas nunca tive motivos para não confiar em minha sorte.

Sadie me guiou escadas acima, até uma porta no fim de um corredor, e sinalizou para eu entrar. Abri a porta e assim que avistei a cama, corri até ela e me deitei com tudo, respirando fundo e sorrindo. Sadie deu uma risada e saiu.

Assim que me vi solitária, fechei os olhos e cai no sono, imaginando se teria um daqueles sonhos estranhos de semideus.