– O que será que a Lucy tem, em Natsu? - Perguntou Happy preocupado, assim que saíram da casa da nakama.

– Bem que eu gostaria de saber Happy...- respondeu o garoto, olhando para baixo, pensativo.

[...]

Lucy não dera as caras na guilda por duas semanas seguidas. Saia de casa de manhã cedinho para treinar numa floresta qualquer e voltava tarde da noite, apenas para tomar banho e dormir.

Os amigos? Bem, estavam todos se perguntando o que havia acontecido. Natsu ia todo dia na casa da nakama, com Happy, para ver se ela estava bem, mas encontravam o apartamento vazio. Chegaram a cogitar a possibilidade de Lucy ter abandonado todos, mas os pertences da garota ainda estavam lá, assim como seu cheiro - que por sinal era o preferido de Natsu: agridoce; limão, maça, açúcar com uma pitada de canela - que permanecia sempre vivo no local, o que significava que a maga ainda morava lá.

– Onde essa louca se meteu? - perguntou a si mesmo o garoto do cabelo rosa.

Já passava da meia noite, e Natsu - que como sempre entrou pela janela - estava na casa da maga, esperando-a. Bem, ele poderia ter feito isso todas as vezes anteriores que fora lá com o exeed, mas por algum motivo - e ele não sabia qual era - ficar lá nas outras vezes que entraram parecia muito errado da parte deles.

Entretanto, naquela noite, o garoto resolveu esperar até Lucy chegar. O que nos leva a um Natsu sozinho, sentado na poltrona esperando a loira - já que Happy resolveu ficar em casa.

Meia hora depois, Natsu, com sua audição digna de um Dragon Slayer, ouviu passos em direção ao apartamento, e o cheiro inconfundivelmente preferido do garoto alcançou seu faro, fazendo ele sorrir de forma boba.

Chave entrando na fechadura, maçaneta girando e.... Lucy estava em casa. Um longo suspiro ouviu-se do hall e Natsu correu para falar com a amiga, com um largo sorriso no rosto.

– Lu - começou o garoto animado, parando assim que viu o estado da loira à sua frente - ...cy? - O sorriso desapareceu.

Lucy estava acabada. Sua pele alva encontrava-se cheia de arranhões e hematomas, suas roupas estavam sujas e rasgadas em algumas partes, e do seu rosto machucado e cansado escorria suor.

– Natsu? - levantou os olhos ao amigo - Por que está aqui?

– O que houve com você? - disse, com uma preocupação evidente em sua face, ignorando a pergunta que a amiga fez.

Aproximou-se de garota, mas a mesma desviou e entrou no quarto.

– N-nada demais - forçou uma risada.

– Não me venha com essa! Olha seu estado Lucy! - exclamou o garoto. Vê-la daquele jeito era doloroso para ele.

– Já disse que não é nada demais! Agora, por favor, saia. - disse Lucy, friamente. Não que não quisesse o amigo lá, muito pelo contrário, sentia muita falta dele - os dois estiveram juntos desde que a maga entrou na guilda, e eles nunca ficaram tanto tempo separados desde então. Mas aquilo era necessário, se não ele iria continuar a fazer perguntas, e continuar a esconder seria sofrido para ela.

Natsu suspirou e andou até um armário do quarto, pegando um kit de primeiros socorros - o garoto sabia onde ficava tudo naquele apartamento, resultado de várias entradas "proibidas".

– O que você... - antes que a maga terminasse a frase, Natsu a empurrou delicadamente até a cama e a sentou ali.

– Não posso deixar você assim. - falou sério, ajoelhando-se ao lado da garota e pegando um frasco de remédio e alguns algodões. Lucy virou o rosto, corando.

O garoto, que vivia se metendo em confusão, consequentemente, sempre tinha um ou outro machucado pelo corpo - sem contar o fato de que morava sozinho -, então estava mais do que acostumado em fazer curativos e esse tipo de coisa.

Umedeceu o algodão com o remédio e encostou-o em um dos cortes de Lucy, que ia do tornozelo à metade da canela, arrancando um grunhido da garota, que agarrou fortemente os lençóis.

– D-desculpe - disse Natsu preocupado, mas sem tirar os olhos do machucado, muito menos parou de passar o remédio pela extensão do corte.

– T-tudo bem - tentou sorrir a garota, em meio a dor - E... Obrigada - disse finalmente, acariciando um pouco os cabelos rosados no amigo, que corou com o gesto.

O remédio ardia até a alma de Lucy, mas ela matia-se silenciosa - soltando algum som só quando não conseguia suporta-lo em sua garganta -, apenas mordendo os lábios e agarrando a roupa de cama com toda a força que podia. A verdade era que ela estava muito feliz do amigo estar sob os cuidados do amigo.

Concentrado e lentamente, o mago passava algodões pelos ferimentos, colocando alguns bandagens nos ferimentos mais graves. O coração de Lucy falhava uma batida e suas bochechas coravam de pouquinho e pouquinho cada vez que o mago subia suas mãos, na tentativa de facilitar seu trabalho de esterilização.

Natsu tratou das duas pernas enquanto estava sentado no chão, parando apenas quando chegou na barra do shorts curtos da amiga - que a essa altura do campeonato, já estava com as bochechas em chamas.

Pegou a caixa com as coisas e colocou-as em cima da cama, sentando ao lado de Lucy, de frente para seu braço, e começando a tratar os ombros nus da garota - que estremeceu internamente com o toque.

Lucy, calma! Se controla! O que esta acontecendo com você? É só o Natsu! Até parece que ele nunca encostou em você! - Ah, você acha que eu tô assim por que eu quero né?! Com certeza é por causa da ardência do remédio, e não por causa do Natsu, afinal, ele é ele! Discutia Lucy em sua mente - o que em geral, não era tão incomum de se acontecer. Suspirou.

A garota já não se contorcia ou mordia os lábios como antes - como eram vários ferimentos, estava começando a se acostumar com a dor - e agora estava imóvel apenas observando Natsu passar o algodão em um corte em seu antebraço. Sem os barulhos que Lucy emitia, o comodo encontrava-se em um silêncio um tanto constrangedor, com apenas a respiração dos dois.

O Dragons Slayer resolveu então quebrar o silêncio.