Abriu os olhos de repente, dando um pulo e encostando na janela logo em seguida, gritando:

– O que está fazendo aqui? Você me assustou! - encarando, corada, o garoto de cabelos rosa que a um segundo atrás estava agachado com o rosto próximo ao seu, e que agora encontrava-se de pé, com um gato azul voando ao seu lado .

– E ai Luce - disse Natsu, dando aquele sorriso inocente e alegre que só ele sabia dar - Desculpa, eu te acordei?

– É claro que você me acordou seu idiota! - exclamou, envergonhada.

– Foi mal, foi mal. Mas você tava muito fofa dormindo que eu quis olhar mais de perto, só para ter certeza que era você.

– Parecia até gente - disse Happy, fazendo o garoto segurar uma risada.

– Gato maldito - disse Lucy por fim.

Gostava dessa atmosfera que tinham. Mesmo que ela os xingasse , ou mesmo que eles zoassem ela, ainda era grande o apreço que tinham um pelo outro.

Lucy suspirou, acalmando-se.

– Vou tomar banho, já volto - levantou e foi em direção ao banheiro, mas parou no meio do caminho e encarou-os com um olhar mortal - Sem bagunça.

– S-s-sim! - bateram continência os dois. As vezes Lucy podia ser tão assustadora quanto Erza.

Eles nunca aprendem,a garota pensou consigo mesma. Na verdade, ela já estava acostumada, e até achava graça, mas, como dizem, velhos hábitos nunca mudam. E a loira estava mais do que habituada com isso.

Depois de feito sua higiene matinal, voltou para o quarto, onde encontrou o garoto sentado na escrivaninha da garota, com alguns papéis na mão, lendo-os, concentrado, junto com o gato.

– O que estão fazendo?? - segundo grito em menos de meia hora. Correu em direção ao garoto para recuperar os papeis. Em vão. Natsu esquivou-se sem tirar os olhos do que segurava. - Devolva!

Era o romance que tanto escrevia.

Aqueles papéis não deveriam nunca estar nas mãos de alguém, muito menos nas dele. O romance era baseado nas aventuras que ela e os nakamas viviam. Mas não era só isso. Lucy também colocava ali os sentimentos mais íntimos (sejam eles bons ou ruins) que não tinha coragem de contar para ninguém, nem mesmo à Levy. Embora os nomes dos personagens sejam diferentes,e ela tenha mudado algumas coisas ali e lá em relação aos acontecimentos, ela morria de medo que descobrissem.

– Uau Lucy! - exclamou Natsu, tirando-na de seu rápido devaneio. - Isso tá ótimo! - sorriu o rosado - Eu posso não ser nenhum expert em leitura, mas isso aqui tá muito maneiro

Para sorte de Lucy, Natsu era um completo tapado.

Suspirou aliviada, corando de leve com o elogio do amigo.

– O-obrigada... Mas é serio, devolva! Não era pra você estar lendo isso.

– Se você não quer que leiam, por que escreve? - indagou Happy

Ok, o gato disse algo com sentido.

– Escrever me ajuda a pensar e me acalma, tá legal. - Cruzou os braços abaixo do busto.

Mais um suspiro. Lembrou-se de uma pergunta importante que ainda não havia feito.

– Ah sim, por que estão aqui? O que vocês querem que não podiam esperar eu ir até a guilda?

– Nada - disseram juntos

– Como nada??!! -Exclamou denovo. Outro suspiro. Suspirar era algo bem comum que ela fazia. Já não ligava mais.

– Na verdade a gente queria ver como você estava. Ultimamente você tem andado muito pra baixo, e essa não é...nossa Lucy. - Tá certo, por alguns segundos, Natsu pensou em falar "minha Lucy", mas optou por usar "nossa" e ignorou o outro pensamento.

Isso pegou a loira de surpresa.

– Obrigada pessoal...- sorriu tímida e levemente corada, olhando para baixo. Mas então se lembrou de algo que tinha que fazer. - Mas agora larguem esses papéis e deem o fora daqui. Eu preciso fazer uma coisa e vocês não podem estar aqui.

– Por que não? Que coisa? - perguntou Natsu, colocando os papéis em cima da mesa, já que havia terminado a leitura.

– N-não é da conta de vocês - a loira virou o rosto. Nunca que ela diria essa insegurança que ela tinha para alguém, nem para Natsu, nem para Levy, nem para ninguém.

– Nee, Natsu, a Lucy estranha está nos expulsando de casa - choramingou Happy.

– E a gente veio aqui todo preocupado com ela - agora fora a vez do garoto de choramingar.

– Essa é minha casa que vocês invadiram! - Como sempre, completou em pensamento.

Os garotos - ou o garoto e o gato- suspiraram.

– Tá... - disseram em unisom abaixaram a cabeça e foram até a janela, dramaticamente. - Até mais Lucy - sorriram

O garoto subiu na janela.

– Saibam usar a porta! - disse Lucy. Tarde demais, eles já haviam partido

A loira sentiu-se culpada por expulsar os amigos daquela forma, sem ao menos agradecer apropriadamente a preocupação deles com ela. A verdade é que eles estavam certos. Lucy andava cabisbaixa esses tempos. Pensava muito, em tudo que aconteceu desde que entrou na Fairy Tail - o que já fazia demasiado tempo, para ser sincera. Repassava todas as batalhas que já vivera até ali, e logo percebeu que, mesmo estando no time mais forte da Fairy Tail, era uma das mais fracas de toda a guilda

Sempre sendo salva, sempre preocupando os outros, sempre precisando de reforço, e nunca conseguindo uma grande batalha sozinha. Tinha vergonha de si mesma, do quão fraca ela era, do quão dependente. Era angustiante. Muito angustiante

E claro, não poderia jamais contar aos amigos sobre isso. Afinal, sabia que discordariam, e também podeira preocupa-los e não era essa a intenção.

Lucy não pediria ajuda à ninguém, queria conseguir sua força sozinha. Uma força para ajudar os amigos, para poder salva-los

Mas não era força necessariamente mágica que ela precisava, sabia que era uma excelente maga celestial, conseguia abrir até mais de uma chave por vez - lembrando sempre que uma vez chegou até a abrir todos os portais juntos. Claro, iria aprimorar sua magia, mas ela queria força física, melhorar sua habilidade com seu chicote mágico, entre alguns outros quesitos.

Começou então, naquele dia, seu treinamento escondido.