A maga celestial foi colocada adormecida no futon pelo amigo. Já havia passado pelos cuidados do médico local.

Natsu observou o rosto sereno de Lucy por um tempo, e então inclinou-se, selando seus lábios. Ficou assim por um minuto.

– Desinfetado - sussurrou com a voz rouca, e então beijou sua testa.

[…]

A última coisa que viu foi o nakama chamando-a enquanto ela desmaiava em seus braços.

– Natsu! - gritou Lucy assustada, enquanto despertava de um pesadelo não tão fantasioso. Sonhara com alguns poucos flashs da noite passada.

Estava respirando pesadamente devido ao susto.

Dói… pensou consigo mesma enquanto fazia uma careta e levava a mão esquerda ao pescoço. Sentiu uma textura um tanto macia. Está enfaixado. Um suspiro. Ah é… Eu cortei meu pescoço… Outro suspiro. Dor.

Sentou-se no futon e olhou para os lados. Estava no quarto da pousada que hospedaram-se noite passada.

Vazio.

O quarto estava vazio. Ninguém fora si mesma e alguns móveis.

Seu estômago roncou em protesto.

Vazio.

Tão vazio quanto o quarto em que estava, em termos de pessoas. Quando fora a última vez que comera? Não lembrava. Que horas eram? Não sabia.

Mais um suspiro. Dor. Parece que agora vou ter que tomar cuidado até mesmo pra respirar.

Sentou-se com cuidado para não forçar nada. Sentiu dor em seu tronco. Lembrou-se dos socos que levou. Dois socos…

Olhou as mãos. Viu o pulso vermelho. Cordas. Voltou a atenção aos dedos que estavam esfoladas. Vários socos. Frist. Lembrou-se do beijo forçado que ele lhe deu. Beijo…Nojo. Estremeceu com a recordação. Meu primeiro beijo. Seu primeiro beijo é algo que ela quer esquecer para sempre, como se nunca tivesse existido.

Mesmo sendo uma garota de 18 anos, até a infeliz noite passada, ela nunca havia beijado ninguém. Quando pequena, imaginava seu primeiro beijo com um príncipe encantado. Quando cresceu, percebeu que isso nunca iria acontecer e passou a imaginar o tal momento com um cara legal que ela ame. Mas há algum tempo, quando pensava em seu primeiro beijo, um certo mago de cabelos rosa aparecia em sua mente.

Como eu vou encarar o Natsu agora? Abaixou a cabeça. Suspirou tristonha.

Com esse pensamento ainda em sua mente, ela pôs-se de pé com muito cuidado para não sentir mais dor do que já estava sentindo.

Foi até a porta, caminhando devagar e com dificuldade, e quando a abriu, deu de cara com Natsu,que estava prestes a girar a maçaneta com uma mão enquanto segurava uma bandeja com comida na outra.

– Luce! - exclamou ele quando a viu. - Que bom que acordou - e sorriu fraco mas caloroso, o que fez o coração da loira derreter.

Ela apenas o encarava um pouco atônita.

– Lucy? - continuou ele já que não respondeu nada - Tudo bem?

– Ah - voltou a si - T-tudo, tudo sim - e forçou um sorriso, tanto por estar com dor quanto pelos pensamentos em sua cabeça.

Ela não queria preocupar ele mas por alguma ironia do destino, nesse momento seu estômago deu uma pontada de dor tão forte que ela não pode fazer nada a não ser encolher-se numa tentativa obviamente frustrada de fazer a dor passar no mesmo momento.

– Lucy!

Tão rápido quanto a dor chegou, Natsu colocou a bandeja num móvel e pegou-a delicadamente no colo, levando-a calmamente de volta ao futon. Não deu tempo da loira reagir.

– Natsu… - foi o que ela conseguiu dizer, quando ele a sentava com cuidado.

– Por que você levantou se está com dor? - foi a vez dele de suspirar.

– Há quanto tempo eu estou apagada?

O Dragon Slayer ergueu-se e foi até a varanda abrir as cortinas que até então estavam fechadas.

– Uns dois dias mais ou menos…

Tudo isso?!

Ele andou pelo quarto e pegou a bandeja que estava no móvel, retornando novamente à nakama e sentando-se ao seu lado.

– Aqui - pondo a bandeja em frente à loira - Coma tudo ok? - e sorriu.

Ela pegou a pequena tigela de missô e tomou tudo.

– Obrigada. - disse por fim.

Ele a observava comer algumas bolachas agora. Ela o encarava em meio à algumas caretas que fazia ao engolir.

– As… as garotas, elas estão bem?

– Ah sim, todas já estão em suas devidas casas.

– Elas contaram o que aconteceu?

A expressão de Natsu mudou drasticamente.

– Sim. Você lutou muito bem Lucy - foi a vez dele forçar um sorriso, e afagou a cabeça da amiga.

As garotas foram bem precisas na descrição do que acontecera no porão. A ameaça, o beijo, a mão que quase a violou, o corte, os socos. Ele sabia tudo que os olhos das garotas viram. Se ele estava naquele estado em saber o que aconteceu naquele porão, imagine se soubesse o que fizeram ou falaram para sua Lucy antes disso - era o que passava pela cabeça dele.

Ficaram em silêncio o resto do tempo que ela comeu. Um silêncio arrasador.

– Eu… eu sinto muito Lucy- começou ele - Eu disse que iria sempre te proteger… mas eu não fui capaz… - e abaixou a cabeça - capaz de te proteger.

– Esta tudo bem Natsu - disse ela, levando a mão ao rosto do amigo e fazendo-o olhar em seus olhos - Eu estou bem.

– Não! Não está! - pegou a mão dela, o rosto mostrando sofrimento - Olha pra você. Você está toda machucada! - e acariciou o pescoço dela com leveza - E se você não tivesse conseguido reagir, sabe-se lá o que… - cerrou os punhos - sabe-se lá o que ele teria feito.

Na verdade ele sabia muito bem o que Frist teria feito à ela, mas recusava-se a imaginar tamanha atrocidade.

– Natsu, eu-

Mas ela não consegui terminar a frase, pois foi surpreendia por um abraço desesperado e aconchegante.

– Eu não quero que nada de ruim te aconteça Lucy - sussurrou o mago ao pé do ouvido. - Nada - e enterrou o rosto na curvatura do pescoço dela.

O coração da garota disparou com o gesto. Foi a vez dela de afagar os cabelos dele.

Natsu arrependia-se profundamente de não ter conseguido impedir que ela se machucasse daquele jeito. Seu coração doía. E enquanto o coração dele doía, o dela afundava-se em seu peito.

– Natsu - chamou mais uma vez, desfazendo o abraço e segurando o rosto dele com suas mãos - Eu estou bem agora, não estou?- disse com a voz mansa na tentativa de acalma-lo - Não fique assim - e sorriu

Eu não posso com esse sorriso pensou o mago de fogo.

– Mas Lucy…

– Sem mas, Natsu. Não fique assim, ok? Não gosto de vê-lo assim, ainda mais quando não há motivo.

Dito isso, ela rapidamente inclinou-se para frente e depositou um beijo nele. Mais precisamente na bochecha dele, e lá permaneceu por alguns muitos segundos.

Afastou-se e encararam-se. E só então se tocaram. Desnecessário dizer que ambos coraram violentamente.